A lacuna deixada pelo Rock no cenário da música nacional dos anos 90 com a virada de século foi um baque considerável para a popularidade do estilo, ainda que o mainstream sempre tenha sido um lugar para poucos no cenário brasileiro. Com a dissolução parcial dos Raimundos em 2001 e do Charlie Brown Jr em 2005, e com outras bandas em evidência, ainda que sem atingir a popularidade dessas duas, o Rock vivia um momento de profunda baixa e o público carecia de uma banda que os identificasse popularmente. Foi nessa lacuna que surgiu o Matanza, liderado pela icônica figura de Jimmy London.

Ainda que flertasse muito mais com o underground com sua sonoridade mais suja e agressiva e que nunca tenha buscado uma postura mais comercial como outras bandas, o Matanza acabou de tornando uma das maiores referências no cenário do Rock Nacional do início dos anos 2000, lançando álbuns icônicos como Música Para Beber e Brigar, A Arte do Insulto e Santa Madre Cassino.

Desde então Jimmy London se tornou uma das figuras mais emblemáticas e carismáticas do Rock brasileiro, mesmo que sua persona na música indique um caminho completamente oposto desse.

A partir daí o Matanza de dissolveu, retornou com duas novas formações distintas e Jimmy também tornou-se um representante do rock e do underground em aparições memoráveis na televisão comentando grandes eventos do rock nacional, como o Rock in Rio, por exemplo.

Tivemos a honra de conversar com Jimmy, que revisitou toda a sua trajetória e compartilhou conosco seus planos para o futuro em um bate papo muito franco e amistoso com o músico.

Jimmy, primeiramente, obrigado por ceder um pouco do seu tempo para conversar conosco e com o público d’O Subsolo. Você já está na música desde a primeira metade dos anos 90, como você observa todas as mudanças na sua carreira e no cenário musical nesses quase 30 anos em atividade?

Essa resposta exigiria que eu tivesse uma memória melhor do que a que disponho.

Na verdade, o meu jeito de trabalhar sempre foi um pouco problemático, porque eu nunca comemorei muito as vitórias e sempre me preparei pra batalha de amanhã, e isso acabou não me permitindo criar uns marcos pra deixar claro as grandes mudanças da minha vida.

Sua trajetória com o Matanza começou em 1996 e, entre idas, vindas e novos recomeços, você está com a banda até hoje. Onde você mais acertou e mais errou com o Matanza?

Como eu disse acima, sem dúvida alguma meu maior erro também foi meu maior acerto: eu sempre fui muito resiliente, só que também aproveitei pouco as vitórias. Acho que agora, um pouco mais velho, tô começando a saber lidar um pouco melhor com isso. 

E agora vocês estão de volta como Matanza Ritual e você reuniu um dream team para te acompanhar – Antonio Araújo (guitarra, Korzus), Felipe Andreoli (baixo, Angra) e Amilcar Christófaro (Torture Squad). Como foi a escolha desses músicos, uma vez que as carreiras deles estão mais voltadas para o Metal, cada um em uma vertente diferente?

Sem dúvidas a gente queria uns caras que tocassem muito, mas também queríamos pessoas que tivessem, reconhecidamente, carreiras estabelecidas, que fossem pessoas boas pra lidar no dia a dia e que soubessem onde querem chegar. Juntando todos esses fatores, não foi preciso pensar muito pra escolher os 3.

E você pretende voltar a compor músicas inéditas com essa formação ou o Matanza Ritual foi feito apenas para os palcos?

Esse processo já começou tem algum tempo. Ta sendo um parto doloroso e divertido.

Como tem sido a experiência com o Matanza Ritual?

Incrível. Primeiro porque meus parceiros de banda e equipe são foda e a gente tá se divertindo pra caralho, mas principalmente porque o publico do Matanza é fooooda!

Só indo num show pra entender a festa que essa gente faz. Nós só fazemos a trilha sonora. 

Existe alguma música do Matanza que você não pretende mais cantar ao vivo por que a letra da música envelheceu mal e não cabe mais para os dias de hoje?

Tem uma que nunca cantei, nem quando foi lançada, e tem a ver com isso. Nas outras eu não enxergo problemas, mas se alguém me indicar algo eu vou parar, ouvir e pensar.

E se você pudesse apresentar o Matanza para um possível novo fã com apenas uma música. Qual música você escolheria que melhor representa a trajetória da banda?

Ahh, aí não vale. Até porque o meu disco preferido da banda é o que tem as músicas do Johnny Cash.

Quais são seus planos em relação ao Jimmy & Rats? Tem algum outro projeto paralelo a essas duas bandas também?

Agora eu acredito que eu tirei a tampa dessa garrafa e o demônio tá solto. Acabei de fazer um som com o Farol Negro, de Londrina, e vamos lançar o clipe em breve.

Com o Jimmy & Rats, tamos planejando algo pro início deste ano bem legal.

Você também vem criando há muitos anos, paralelamente a sua carreira de músico, uma sólida trajetória na televisão, como ator e apresentador. Isso aconteceu de uma maneira natural? Você gosta de desempenhar essas funções?

Atuar é tão legal quanto fazer um show, e essa frase é muito pesada mesmo. O lance é fantástico!

Apresentar é muito mais complicado, porque envolve inúmeros fatores além do seu controle e eu também tenho feito pouco, então toda vez que vai rolar eu me sinto fora de forma e enferrujado. 

Quem acompanha sua carreira bem sabe que a figura ranzinza e agressiva que você criou a frente do Matanza não condiz com sua personalidade no dia-a-dia. Como é o Jimmy, ou melhor, o Bruno Munk London no cotidiano e, especialmente, como pai?

Não existe uma separação entre Bruno e Jimmy, assim como não existe uma separação entre o comportamento de quem vai num show de rock e depois vai no restaurante. São somente coisas que a gente faz naquele momento e que cabem ali, mas nada é criado pra ser um personagem. Talvez minhas piadas não sejam muito boas e nem todo mundo entenda o que quero dizer com elas, mas eu sou um cara bastante emotivo e acho que bem gentil, e não escondo de ninguém. Mas cada um vê o que quer no show, né? Canso de ouvir gente dizendo que me viu bêbado segurando uma garrafa de uísque num show e eu não bebo já tem uns 15 anos.

Ah, sim. Depois que eu parei de beber algumas coisas mudaram também, claro… 

Como você observa o atual momento do Rock e suas vertentes (Metal, HC, etc) no Brasil e no mundo? Tem acompanhado alguma banda mais nova? Se sim, quais?

Eu sou ruim de banda nova. Ainda tem muita coisa velha pra eu ouvir, acho que não terminei nem os discos dos anos 50 que quero conhecer bem. Mas vejo que o rock tá perdendo feio na criatividade pros outros estilos musicais e isso tá diminuindo seu alcance.

Jimmy, muito obrigado pela sua disponibilidade e gentileza em atender O SubSolo. O espaço está aberto para deixar uma mensagem aos nossos leitores.

Eu que agradeço e quero ver a rapaziada toda nos shows por aí, certo?

PUTAQUIUPARIU, SUBSOLO!!!

Saiba mais sobre Jimmy London e todos seus projetos através do Instagram @jimmylondonoficial

A Hell Yeah Music Company surgiu em 2020 a partir do sonho de dois amigos, Luis Fernando Ribeiro e Leandro Abrantes, que se conheceram há 15 anos por meio do Heavy Metal e tomaram-no como trilha sonora de suas vidas e matéria prima de sua arte. Respeito, valorização, criatividade e amor pelo que fazemos são nossos pilares. A #HYMC nasceu para quebrar padrões, ignorar estereótipos e dar suporte às bandas brasileiras que compartilham do mesmo sonho que nós. Baseada em Florianópolis, SC, a Hell Yeah atende bandas de todo o Brasil e de Portugal. Hell Yeah Music Company, música como experiência.