Texto por Alan Cardoso e fotos de Thales Silva
Encerrando a passagem pelo sul do Brasil em 6 de julho, o Bar Opinião, em Porto Alegre, foi palco de uma noite marcada por intensidade e técnica. A turnê do álbum Shades of Sorrow, da banda Crypta, trouxe um dos eventos mais pesados do ano para o público gaúcho, visto que passou anteriormente por Floripa (SC) e Curitiba (PR). Mais do que uma sequência de apresentações, o que se viu foi um encontro de diferentes vertentes do Metal, todas com algo em comum: entrega total no palco.
A noite começou com a Allen Key, banda de São Paulo que tem ganhado destaque pela mistura bem dosada de Metal Alternativo com elementos de Prog Metal Moderno. Liderada por Karina Menascé, que alterna com segurança entre vocais melódicos e mais agressivos, o grupo mostrou um setlist coeso e envolvente. A vocalista tem presença forte e comanda o palco com naturalidade, sustentada por uma banda tecnicamente afiada. A resposta do público foi calorosa, com muitos já familiarizados com o trabalho da banda. A química entre os integrantes e o equilíbrio entre peso e melodia deixaram claro que o Allen Key está em ascensão.
Logo após, foi a vez da Paradise In Flames, que trouxe um contraste sombrio e brutal à noite. Com origens em Minas Gerais, o grupo aposta em uma fusão entre Death Metal, Black Metal e passagens sinfônicas. A sonoridade densa, os vocais guturais profundos e os riffs imponentes transformaram o ambiente do Opinião, criando uma atmosfera quase litúrgica. O domínio técnico da banda, aliado a uma postura firme no palco, impressionou o público, que respondeu com entusiasmo mesmo nas passagens mais pesadas. Foi uma apresentação que reforçou a maturidade artística da Paradise In Flames e seu lugar de respeito no cenário extremo.
Com a plateia aquecida e completamente envolvida, a Crypta subiu ao palco já sob gritos ansiosos. Desde os primeiros segundos de The Other Side of Anger, a energia tomou conta do espaço. O repertório mesclava faixas do novo disco com músicas marcantes de Echoes of the Soul, e a escolha mostrou-se certeira ao provocar reações imediatas. Fernanda Lira conduziu o show com a força de quem domina o palco com naturalidade. Os vocais intensos, a presença firme e a interação constante com o público deram à apresentação um caráter de celebração, especialmente com a recepção calorosa dos fãs sulistas.
Em meio a uma performance coletiva impressionante, um nome se destacou com força: Luana Dametto. A baterista foi ovacionada em diversos momentos, com gritos de “Luana! Luana! Luana!” se espalhando pelo Opinião como um mantra. A resposta veio à altura: uma execução precisa, potente, que sustentou cada faixa com segurança e intensidade. Natural de Porto Alegre, Luana teve um reencontro especial com sua terra natal, sendo recebida como uma referência viva do Metal Nacional. A formação com Tainá Bergamaschi e Helena Nagagata completou o espetáculo com solos entrelaçados e riffs pesados, mostrando maturidade e evolução musical.
Sem grandes cenografias ou efeitos, o show confiou apenas na potência da música e em uma iluminação bem aplicada. Foi o suficiente. O impacto do som preenchia cada canto da casa, e a atenção estava onde deveria estar: nas músicas, nos músicos, no momento. Ao fim do show, a banda saiu de cena sob aplausos longos e sinceros. Ficou a sensação de que o metal, ali, tinha encontrado mais do que um palco, tinha encontrado comunhão. E o Opinião, mais uma vez, fez jus ao seu histórico de noites memoráveis.