Existe estilos musicais que atravessam gerações. Vindo lá dos anos 1980, o Death Metal é um deles. Mas pra além dos quarenta e poucos anos de evolução, existem os puristas, os saudosistas, e aqueles que se apegam de coração à raiz do que viria a ser uma árvore com milhares de galhos e ramificações que nem o mais nerd de nós conseguiria nomear. O Death Metal Old School, é o objetivo do álbum de estreia do Sepülcro, mas a banda vai muito além disso.
Formada em 2022 em Florianópolis, a Sepülcro tem chamado atenção por onde toca, por seu instrumental extremamente coeso, vocais cavernosos, e inesperados grooves que antecipam pancadarias muito bem coordenadas. O disco foi gravado em casa, e mixado e masterizado por Wellington Oliveira, que fez um ótimo trabalho deixando o som com a cara da banda ao vivo.
A capa, desenhada pelo vocalista Guilherme Schulte, representa muito bem o que o disco entrega. A crueza do som, mas com diversos detalhes que valem a atenção despendida. Predetor’s Evisceration começa com uma virada de bateria, e entra direto na correia. Alternando entre partes lentas e rápidas, a música apresenta uma influência de um Grindgore/Splatter que se mescla perfeitamente com o pesado Death Metal da banda.
Além de tudo isso, um rápido dueto de guitarras estilo Death (a banda) e uma pausa para o vocal de Guilherme Schulte brilhar. Vale ressaltar que estamos apenas na primeira música! Cut começa com uma sinistra introdução de guitarra, mas logo passa para um Riff extremamente “bangueável”, no estilo Cannibal Corpse. A pancadaria volta a comer solta, e temos uma bateria extremamente interessante, que une cada parte da música com destreza e bom gosto.
Na terceira faixa, temos um curto descanso para os ouvidos e pescoço. Justified Imprudence começa com um belo dedilhado de guitarra, introduzindo o interessante riff que se sucede, referenciando novamente o Death de Chuck Schuldiner. Aqui, um inusitado momento Black Metal evidencia ainda mais a multiplicidade de influências da Sepülcro, dando contornos ainda mais interessantes ao disco. Mas com certeza, o grande destaque da faixa é o complexo e desconfortável solo de guitarra de Pedro Vargas, que passeia por escalas diversas com uma fluência e complexidade. Uma das melhores faixas do disco.
Sobre a faixa Creed of Pain, desafio você leitor a ouvir essa pedrada e manter a cabeça parada. Logo após uma curta introdução que lembra a época mais Death Metal do Gojira, somos brindados com um dos grandes momentos do disco, um verdadeiro breakdown arrasa quarteirão. Aqui, se você não der uma mexidinha de cabeça, é porque o metal não está no se sangue.
Carnivores é a faixa mais direta, novamente lembrando novamente o Cannibal Corpse, mas sem perder a essência da banda. A bateria está particularmente criativa, com viradas múltiplas e interessantes. O solo, mais uma vez se destaca pela melodia sinistra, e empolga em meio ao peso absurdo da faixa.
Anguish é o momento mais Old School do disco, começando por uma introdução arrastada e extremamente pesada aonde os vocais preenchem frequências totalmente opostas, a música evolui para a tradicional desgraceira Death Metal que se espera de um representante no nível da Sepülcro. Até aí já estaria ótimo, mas essa música ainda reserva a cereja do bolo, e talvez um dos momentos mais insanos do disco. O riff que já é clássico da banda, e sempre causa as rodas mais violentas. Espere chegar no minuto 2:30, e confira.
Quem acompanha os shows da Sepülcro conhece bem a faixa Napalm Third-Degree Burn, a famosa “saideira”. Aqui não é diferente. Uma paulada que parece ter sido composta com o intuito de fazer a galera se matar no mosh. Como frequentador assíduo das apresentações da banda, reafirmo que funciona muito bem, não só pra isso, mas também para cantar junto o grudento refrão.
Em seu debut, a banda já apresenta um norte muito bem definido, com um som maduro e coeso. Obviamente se trata de músicos qualificados e experientes, mas que ainda tem muita lenha pra queimar. O disco é recheado de riffs legais, momentos inesperados e músicas bem construídas. É Até difícil eleger destaque quando o nível está tão alto. Ficamos todos à espera de novos lançamentos dessa promissora banda.
TRACKLIST
01) Predetor’s Evisceration
02) Cut
03) Justified Imprudence
04) Creed of Pain
05) Anguish
06) Napalm Third-Degree Burn
FORMAÇÃO
Guilherme Schulte – vocal e baixo
Lucas Medeiros – guitarras
Pedro Vargas Halfen – guitarras
Theo Luna Marques de Melo – bateria