No último dia 14 de outubro, o Jokers Pub, em Curitiba, recebeu uma das bandas mais emblemáticas do Deathgrind: Brujería. Confesso que era um show que me emocionava cobrir desde o início, não sabia exatamente o que esperar, já que se tratava da minha primeira vez vendo ao vivo essa verdadeira lenda nascida em Tijuana, formada por músicos norte-americanos de origem latina.
A primeira surpresa da noite veio antes mesmo das luzes do palco acenderem. Ao entrar na casa de shows, descobri uma porta ao fundo que levava a um espaço muito maior, com um enorme palco, algo que jamais havia explorado em minhas visitas anteriores ao Jokers. A sensação foi quase mágica, como atravessar um portal para Nárnia. Também conheci outras áreas do local até então desconhecidas, como os andares superiores e a aconchegante área de fumantes no terraço, onde encontrei uma simpática mexicana que aguardava ansiosa pelos músicos de sua terra natal. O ambiente pulsava expectativa e curiosidade, um prelúdio perfeito para o que estava por vir.
Antes do início do show, o clima foi perfeitamente preparado com uma homenagem à cultura mexicana: El Rey, de Don Vicente Fernández, ecoou pelos alto-falantes. A escolha da música foi certeira, uniu todos os presentes em um coro emocionado, provando que até os corações mais pesados do Metal também batem forte por suas raízes latinas.
Quando as cortinas se abriram e Brujería apareceu no palco, a pancadaria sonora começou de imediato. O público respondeu com energia brutal: mosh pits se formavam em sequência, e tentar filmar qualquer trecho para as redes sociais tornou-se uma missão quase impossível. Cada vez que eu levantava o celular, era arremessada pelo empurra-empurra do público ensandecido. Mas a adrenalina era tamanha que qualquer dificuldade se transformava em parte da experiência. Como bem diria meu grande amigo Maykon: “Brujería, né minha fia.”
O som do Brujería é uma parede de força. No Jokers, essa potência foi traduzida em uma execução cirúrgica: guitarras densas, com timbres cortantes e graves bem definidos; baixo pulsante, preenchendo cada espaço com a agressividade necessária; e uma bateria que alternava entre blast beats insanos e passagens rítmicas precisas. O vocal de Sánchez, embora diferente do timbre característico de Juan Brujo, manteve a ferocidade e a presença de palco, conduzindo o público com gritos guturais e gestos teatrais.
O show foi ainda mais especial por carregar o peso da homenagem aos fundadores Brujo e Peach, falecidos recentemente, Brujo em 18 de setembro e Peach em 18 de julho de 2024. Com o filho de Juan Brujo na bateria e Henry “El Sangron” Sánchez assumindo os vocais, a banda preparou um repertório que passeou por toda a sua carreira, relembrando os clássicos que moldaram a identidade feroz do grupo. Entre as músicas tocadas, estiveram Matando Güeros, Ley de Plomo e Consejos Narcos, recebidas com euforia e devoção por parte dos fãs.
Ao final, os integrantes jogaram o setlist para o público e, em meio a uma multidão de machos alfa disputando o papel, consegui me jogar no meio e agarrar o precioso troféu jornalístico. Entre risadas, cervejas e a sensação de ter presenciado um show de outro planeta, eu e o Chris, nos preparávamos para continuar o rolê, “Em busca dos perigos noturnos” como nós gostamos de falar, quando fomos surpreendidos na porta por um dos músicos, que colocou o crachá oficial do evento no pescoço do Chris. Um gesto simples, mas que encerrou a noite com um toque de gentileza e cumplicidade.
Claro, “encerrar” é modo de dizer, afinal, quando se trata de música, estrada e underground, para este casalzinho d’O SubSolo, o rolê nunca termina. 😉
Agradecimento
A noite no Jokers Pub ficará registrada como uma das apresentações mais intensas e significativas do ano. Um agradecimento especial à equipe do Jokers, pela estrutura impecável e receptividade, e à Estética Torta Produções, pela curadoria ousada e pelo compromisso contínuo com o fortalecimento da cena underground curitibana. Foi um belo show, um tributo à cultura latina, à memória dos que se foram e à força inquebrável do Metal Extremo.
























































