Curitiba presenciou mais um capítulo memorável de sua longa história com o Heavy Metal. No palco do Tork n’ Roll, a lenda alemã Grave Digger e os suecos do Ambush, dois nomes de gerações distintas, mas igualmente representativos, entregaram uma noite que já nasce clássica para os fãs do estilo. Com uma abertura enérgica da banda mineira Hellway Train, o evento reuniu tradição, potência e uma demonstração rara de profissionalismo.
Hellway Train
A locomotiva brasileira que abriu a noite em alta rotação, responsável por aquecer o público, a Hellway Train mostrou por que é considerada uma das grandes forças do Metal nacional. Com sua proposta de “viagem eufórica e maníaca pela montanha-russa dos sentimentos humanos”, a banda mineira entregou um show intenso, teatral e tecnicamente impecável. Os vocais rasgados, o instrumental afiado e a presença de palco insana capturaram a plateia desde a primeira música, estabelecendo o clima perfeito para o que seria a sequência da noite.
Fotografia: Chris Alfredo
Ambush
A nova geração do Heavy Metal vence até o escuro. A segunda atração da noite foi o Ambush, uma das bandas mais promissoras do Heavy Metal tradicional da atualidade. Formada em 2013, na cidade sueca de Växjö, a banda carrega forte influência do Metal oitentista, misturando vocais agudos, riffs dilacerantes e letras que abordam guerra, resistência e caos. Seus primeiros discos, Firestorm (2014), Desecrator (2015) e Infidel (2020), já haviam solidificado seu nome na cena, e Curitiba tem acompanhado essa ascensão de perto, desde as apresentações de 2017 e 2022.
O show no Tork n’ Roll, no entanto, ficará marcado por um momento inesperado: uma queda de energia elétrica interrompeu a iluminação e deixou o palco no escuro. Mas, ao invés de parar, o Ambush mostrou porque é considerado um dos nomes mais respeitados da nova geração. Os músicos simplesmente continuaram tocando, guiados apenas pela vibração do público e pela memória muscular das músicas. O público respondeu à altura: gritos, aplausos e lanternas de celulares iluminando os músicos, criando um clima épico digno das melhores histórias do Metal.
Essa postura profissional e apaixonada não só salvou o momento como elevou ainda mais o respeito do público curitibano pelo grupo. Ao final, a banda provou que Heavy Metal se faz com alma, mesmo sem luz.
O Ambush também apresentou faixas do seu próximo álbum, Evil in All Dimensions, com lançamento marcado para 5 de setembro pela Napalm Records. Singles já divulgados, como Come Angel of Night, Maskirovka e a faixa-título, confirmam que o disco mergulha fundo no Metal clássico, com produção moderna e riffs poderosos.
Fotografia: Chris Alfredo
Grave Digger
Com quatro décadas de história honradas em uma performance épica, encerrando a noite, o Grave Digger subiu ao palco como apenas uma lenda viva do Heavy Metal poderia: com autoridade, entrega e uma conexão imediata com o público. Formada em 1980, na cidade alemã de Gladbeck, a banda é uma das principais representantes da First Wave of German Heavy Metal (FWOGHM), ao lado de nomes como Rage e Running Wild.
Liderados pelo inconfundível Chris Boltendahl, dono de uma das vozes mais características do Metal europeu, o Grave Digger construiu, ao longo de mais de quarenta anos, um legado marcado por álbuns conceituais como Tunes of War, Knights of the Cross e Excalibur, todos repletos de temáticas históricas, batalhas épicas e mitologia.
A relação com Curitiba também tem sua própria história: esta foi a sétima visita da banda à cidade desde 2003, incluindo a mais recente em 2023, no próprio Tork n’ Roll.
No palco, a formação atual, com Jens Becker (baixo), Marcus Kniep (bateria) e Tobias Kersting (guitarra, integrante desde 2023), mostrou porque o Grave Digger continua relevante. Kersting, em especial, trouxe um frescor técnico e criativo perceptível, ecoando a energia renovada que marcou o mais recente álbum, Bone Collector, aclamado por fãs e crítica por resgatar a ferocidade dos anos clássicos. O setlist misturou décadas de história, indo dos clássicos eternos aos momentos mais recentes da discografia. Cada refrão era cantado em uníssono pelo Tork n’ Roll, reforçando o elo duradouro entre a banda e seu público brasileiro.
Fotografia: Chris Alfredo
A união de Grave Digger e Ambush, tradição e renovação em um mesmo palco, entregou aos fãs aquilo que o Heavy Metal tem de mais precioso: autenticidade, intensidade e paixão. A participação enérgica da Hellway Train completou um line-up que soube valorizar tanto as raízes quanto o futuro do gênero.
Entre quedas de energia, shows impecáveis e um público em êxtase, o Tork n’ Roll recebeu um daqueles eventos que permanecem vivos na memória coletiva da cena local.
Uma noite onde o Metal não apenas soou alto, ele brilhou, mesmo no escuro.
























































