Que o Black Metal em si
sempre foi polemico, isso não podemos negar, pois tudo que já aconteceu no
estilo em todos esses anos sempre chamou a atenção. E atualmente não seria
diferente, pois para muitos não é apenas música, mas sim um estilo de vida.
Para falar abertamente
sobre polemicas, ser um estilo de vida dentre outras coisas, falamos com o
vocalista/guitarrista Tormento do BRUTAL MORTICÍNIO, confira:
Porque o Black Metal é
definido como um estilo de vida? Qual sentimento leva a essa denominação
?
Tenho ouvido muita
baboseira por aí entre as pessoas que curtem Black Metal. Isso é algo que era
desconhecido por mim, os caras querem se intitular “elite”. 
Sinceramente, quem tem
uma percepção um pouco mais apurada sobre o Metal, sabe que devemos fugir
dessas limitações ligadas ao status quo.  Estamos à parte dessa sociedade,
ou seja, o underground deveria ser o local onde estaríamos fora destas
determinações, local onde edificaríamos um grupo intelectual, cultural e
político a parte, onde construiríamos uma sociedade paralela a esta construída
pelos cristãos e pelo mercado, onde os valores seriam outros. A molecada não
consegue compreender isso. Intitulam-se elite, supondo que os outros são o que?
 Normalmente estes
caras que se acham a elite, ainda reproduzem os mesmos valores da sociedade
cristã e de mercado. São sexistas, racistas e reproduzem valores tipicamente
cristãos na sua fala. Já vi cara do Metal compartilhando frase do Marco
Feliciano, por mais estúpido que isso possa parecer!!
Ultimamente o que tenho
percebido é o pessoal confundindo as coisas. Confundem as idéias de libertação
do Metal com idéias totalitárias de certos tipos cristãos, ou seja, que tem uma
ideologia abertamente incompatível ao Metal Extremo. É imprescindível que saibamos
quem são os inimigos da libertação, quem são inimigos do underground. O
discurso e os seres ultraconservadores são sem dúvida alguma nossos maiores
inimigos, pois é neste meio que militam os fascistas, igrejeiros e totalitários
de toda a espécie. Por isso quem apóia este tipo de discurso está na realidade
apoiando a dominação cristã
.
Muitos não consideram só
música, mas sim arte, gostaria que você comentasse a respeito.
Black Metal certamente
não é apenas música. É uma maneira, uma perspectiva, uma concepção de mundo.
Defendemos o underground e não integramos de maneira alguma a sociedade
cristã/capitalista
. Embora tenhamos que coexistir, temos que aos poucos construir
uma alternativa ao estilo de sociedade tão incoerente como é a
cristã/capitalista. Esta sociedade é inconsequente e incoerente tanto do ponto
de vista ambiental, quanto do ponto de vista social. Para isso temos que ter a
mínima noção de onde estamos inseridos, de quem somos, e quais são os nossos
ideais, ou seja, o que defendemos e o que somos contra. 
Bradar anticristaníssimo
e defender os princípios e discursos cristãos é um exercício de poseragem
.
É de vital importância para que nós do Black Metal tenhamos um
mínimo de conhecimento sobre os grandes clássicos literários, assim como as grandes
obras da arte
.  Posso citar no campo da literatura além de Allan Poe e
Nietsche, outros clássicos altamente subversivos como Augusto dos Anjos,
Friedrich Engels, Mariategui, Eduardo Galeano, Hobsbanw, entre outros. Nas
artes acredito que é muito importante conhecermos a arte moderna, como de
Picasso, Malfatti, Frida, Rivera entre outros.  Diria inclusive para
subvertermos a própria hierarquia dentro do Metal underground e não escutarmos
simplesmente as bandas consagradas. Existem muitas bandas legais no oriente
como o Aras, 1000 Funerals, Taarma, Kanashimi, ou mesmo bandas da América
Latina, como o Yana Raymi, que estão tão próximas, mas que ouvimos falar muito
pouco. Ao contrário ouvimos cada vez mais álbuns novos de bandas da Europa que
apenas repetem velhos jargões e velhos preconceitos que acabam sendo absorvidos
sem nenhuma resistência por alguns bangers daqui. É importante conhecermos os
clássicos, mas é muito mais importante expandir isso, ouvir outras bandas de
Metal Extremo, de outras partes do planeta, enfim. O Black Metal não deve estar
preso a nenhuma amarra ou ranços regionais. 
A polêmica sempre esteve
em volta do Metal negro, desde queima de igrejas, assassinatos, inner circles e
etc… Isso de alguma forma ajudou ou manchou o Black Metal?
Temos que analisar isso
com certa cautela, mas acredito que isso tenha ajudado mais que tenha
propiciado atrasos. Acredito que isso tudo é apenas a prova de que falamos de
algo que transpassa as barreiras da música, por ir muito além disso. As tragédias,
os assassinatos, as queimas de patrimônios culturais e religiosos, os
suicídios, atentados, são um lado extremo e que sinceramente, em determinados
momentos têm de ser vistos com cuidado e com respeito
.
Acredito que todos estes
atos sejam o diferencial, por colocar-se justamente como um estilo de vida e
não apenas mais uma música para o entretenimento
. Tem relação direta com
uma maneira de ver o mundo, uma perspectiva que busca justamente fugir dos
padrões impostos pela sociedade cristã e de mercado e também fugir das
armadilhas pseudo culturais impostas para a juventude. É claro que somos
prisioneiros de nosso tempo, pensamos conforme a época em que estamos
inseridos, mas tendemos a fugir ao máximo nessa perspectiva e por isso é
importante a clareza de quem somos. Não sou absolutamente favorável a
violência, principalmente quando ela é indiscriminada, mas muitas vezes a
“elite” (termo usado corretamente) só entende este tipo de linguagem. 
Temos, justamente, de
construir e enriquecer (culturalmente) o underground torná-lo uma alternativa
viável e não simplesmente nos tornarmos um mini mainstream, ou nos rendermos
aos princípios do cristianismo e capitalismo
.
Outra polemica que
permeia o estilo é a associação de grupos racistas ao Black Metal. Há alguma
explicação para essas associações?
Este tipo de degeneração
como nazis, racistas, Whites são próprios de pessoas com sérios problemas
psicológicos e que não estão prontos para ouvir Metal
. Como falei
anteriormente estas ideologias ridículas tem origem no meio do Black Metal por
eventos midiáticos e da imprensa sensacionalista. Associar Metal ao racismo ou
ao nazismo é de uma imbecilidade sem tamanho. Vejamos o seguinte, por exemplo,
o regime nazista era abertamente cristão. O III Reich era o prolongamento do
Sacro Império Romano Germânico (I Reich), isto é, um império edificado pela
igreja católica. Hitler faz inúmeras referências a Deus no Mein Kampf, além disso,
os soldados da Wehrmacht usavam nos seus cintos Gott mit uns, além de várias
outras referencias cristãs ao regime.
A pessoa que realmente
aprecia Black Metal e defende um regime ou uma ideologia de princípios cristãos
ou é muito inocento ou falta um mínimo conhecimento sobre o assunto.
Ultimamente pela internet se proliferam estes tipos de pensamentos cretinos.
Pessoas ligadas ao Metal defendendo a volta da ditadura militar no Brasil, um
regime que tem como respaldo “popular” a marcha com Deus pela liberdade ou
defendendo políticos ultraconservadores que tem na ordem do dia a defesa da
família tradicional cristã. Estamos infelizmente permeados no underground de
tipos que não fazem a mínima idéia do que seja a luta pelo underground. 
Portanto quem apoia estas ideias é apenas mais um cristão enrustido!


FONTE: HEAVY AND HELL PRESS