Uma noite de lavar a alma! Foi isso que aconteceu no Célula showcase, na noite de sexta feira, primeiro de agosto. Red Razor, Eskröta, Surra e Black pantera levantaram o público com show sensacionais, posicionamento político e muitas rodas.
Eventos como este, tem sido cada vez mais frequente por todo o país e isso é incrível, poder acompanhar diversas bandas que você ouve passando o mais perto de você possível, uma dica valiosa: aproveitem!
Red Razor | Thrash Metal | Floripa/SC
Frequentadores assíduos da nossa cena Underground já sabem que a banda de abertura tem algumas responsabilidades. A primeira é de aquecer o público, deixando a galera animada para o que vem pela frente, e mostrar que a noite já começou. Outra habilidade que a banda de abertura precisa ter, é a de fazer “uma ponte” entre o público da casa, com as demais bandas. É imprescindível que a banda da casa tenha alguma afinidade com as de fora, ao passo que, tocar para os amigos sempre deixa todos mais confortáveis.
A Red Razor é uma das bandas da cena de Florianópolis, que mais se aproxima do tipo de militância que Black Pantera, Surra e Eskröta apresentam. É até curioso pensar que os caras foram chamados em cima da hora, para substituir outra lenda da nossa cena, a Eutha (ex Eutanásia).
Após uma interessante introdução, a banda entra rasgando com Wish You Were Beer, que representa muito bem o Thrash Metal do trio. Born in South e America e Malignat Cell já preparam o terreno do moshpit, que explode mesmo com o inesperado cover de Crucificados pelo Sistema, do Ratos de Porão.
Annihilation, fala sobre o massacre do povo palestino, e foi composta por volta de 2014. Posthuman Society, é outra novidades no set, enquanto a já clássica Violent Times reforça o ecleticismo dos talentosos músicos. Para finalizar, Red Razor (a música), que pôs todo mundo pra cantar o refrão. Finalizado o set, dever cumprido, galera pronta para tudo o que vinha pela frente. Parabéns Red Razor, longa vida ao seu Thrash Metal politizado e bem tocado.
Texto: Gregor Turowczuk
Fotos: Alice Rodrigues
Eskröta | Crossover/Thrash Metal | São Paulo/SP
Sabe aquele show completo? Aquela banda que tem tudo? Carisma, posicionamento, atitude, som, profissionalismo? A Eskröta tem tudo isso, e muito mais. Formada em 2017, o trio de maioria feminina, apresenta um Thrash Metal/Crossover, flertando com diversos gêneros, e trazendo uma sonoridade única. Com letras sobre feminismo, protesto e filmes de terror (porque todo mundo merece uma pausa na militância), a banda se posiciona como feminista e antifascista.
Abrindo o show com A Bruxa, a banda entra com túnicas e chapéus de bruxa, e imediatamente, uma roda se abre logo a frente do palco. Esbanjando carisma e simpatia, a dupla de frontwomans conversa com a plateia, pedindo cuidado com as meninas no mosh, e expressando a felicidade de estar de volta no Brasil após uma turnê pela Europa.
Grita, Playbosta e Não entre em pânico, levam o público à loucura, mas o grande ponto alto da apresentação é sem dúvida, Mosh Feminista; a pedido da vocalista Yasmin Amaral, todas as meninas (as mais corajosas, pelo menos) se encontram no mosh para uma roda exclusivamente de mulheres, e ao final, a explosão de um canhão de confete cria uma cena inesquecível. Além de tudo isso, enormes bolas de borracha foram jogadas ao público, o que deixou tudo ainda mais divertido e engraçado, pois volta e meia uma acertava a banda, que ria da situação.
A já clássica da banda Filha do Satanás, que homenageia Carrie, a estranha deu um gás no público, que já apresentava um certo cansaço, e o final com Mulheres, tocada duas vezes, sendo a segunda em tempo dobrado, finalizou o show de forma apoteótica. As meninas se despedem do público, pedindo aquela foto tradicional (pode me procurar que eu estou lá), e seguem para a barraquinha do merch, onde tiraram fotos e conversaram com o público, sempre muito solícitas. A Eskröta é uma banda que desponta cada vez mais na cena, e com certeza ainda vai ser uma grande potência no Brasil e no mundo, nos enchendo, ainda mais, de orgulho.
Texto: Gregor Turowczuk
Fotos: Alice Rodrigues
Surra | Thrash Punk | Santos/SP
A terceira banda a subir no palco naquela noite foi a Surra. Direto de Santos, com Leo Mesquita (vocal e guitarra), Victor Miranda (bateria) e Guilherme Elias (baixo e backing vocal). Digamos que começaram o show de forma “humilde”, só se apresentaram rapidão, falaram que iam “passar o som” e, sem mais conversa, detonaram Bom Dia Senhor. Foi como se o Célula tivesse desmoronando, a galera respondeu no nível que esse som merece.
Não era a primeira vez que eu via o Surra ao vivo, já tinha conferido a banda há alguns anos, e esse último show teve a energia diferenciada, eles têm esse jeito de tocar sem parar, uma música atrás da outra, quase sem respiro, e isso faz o show ter uma intensidade única. Só deram uma pausa curta no meio pra recuperar o fôlego, dava pra ver as veias do pescoço do Leo saltando e o rosto dele ficando vermelho, carregando a agressividade que a voz dele transmite.
Um detalhe que sempre acho massa no Surra é essa sensação de que o show nunca falta nada. As músicas são rápidas, diretas, e nessa sequência implacável eles conseguem enfiar uma quantidade enorme de sons dentro do set, agradando desde o fã mais “mainstream” até o mais íntimo. Entre os pontos altos, com certeza a abertura com Bom Dia Senhor, a clássica Ultraviolência, Escorrendo pelo Ralo e O Mal que Habita a Terra (essa me marcou realmente pois pulei do palco e fui seco no chão). Valeu cada segundo,
foi um baita show, daqueles que saí suado sem saber o que é suor teu ou o que é suor dos outros, dolorido e com a sensação de que aproveitou a noite. Foi uma surra musical do começo ao fim.
Texto: João Kock Rodrigues
Fotos: Alice Rodrigues
Black Pantera | Crossover Hardcore/Thrash | Uberaba/MG
Posicionamento. Essa é a palavra que ecoa na mente de quem vai em um show do Black Pantera. Mas só com posicionamento não se faz um espetáculo, um show completo, em todos os sentidos da palavra, como somente essa banda é capaz de fazer. Analisando friamente, agora que o corpo parou de doer, e os hematomas das rodas se esvaíram, é possível puxar pela memória três coisas: Uma banda extremamente bem ensaiada, uma presença de palco absurda, e músicas de arrasar quarteirão. Isso sem chover no molhado e comentar a qualidade dos músicos, ou os figurinos de Rock Star dos caras.
Começar o show com uma música cheia de Groove, e uma balada é, não só corajoso, mas também inédito em minha vivência de eventos de Rock e Metal. Candeia e Provérbios são lindíssimas, cada uma de sua forma, e serviram de aquecimento para a destruição sonora que viria: Seleção natural, Padrão é o caralho, Ratatata e Mosha deixaram a galera ensandecida, mesmo após três shows extremamente pesados como os que presenciamos.
É curioso para quem ouve falar sobre o “discurso do Black Pantera”, pois não tem discurso. Cada música fala por si, e a mensagem antirracista, está lá. Até porque, estariam pregando para convertidos, pois o que se via era um pessoal bastante engajado em temas progressistas, a julgar pelas camisetas com temáticas feministas e de bandas como as já citadas Red Razor, Surra e Eskröta.
Quebrado um pouco a velocidade das músicas mais Hardcore da banda, tradução que contou com um lindo solo de baixo de Chaene da Gama. Ainda quebrando nossas expectativas, um curto momento de dança (sim, dança) onde os integrantes nos recebem no “baile do Black Pantera”, e ao som de September, do Earth Wind & Fire, que se mesclou perfeitamente com a pesada e groovada Fudeu. Mas o grande momento do show, claro, é Fogo nos Racistas, quando a banda pede aos presentes que se abaixem e cantem o refrão, criando o já clássico mosh pulando e cantando até o fim. Há quem esperasse por esse momento com apreensão; por questões de joelhos, deixei as dores pro outro dia e curti como se não houvesse amanhã.
Sem anistia, Revolução é o caos e Boto pra fuder, finalizam o show, deixando a todos já com saudades, e a sensação de quero mais. Black Pantera já é uma das grandes bandas do Brasil, e tem se apresentado fora a algum tempo, chamando atenção de mídias especializadas por onde passa. Nessa fria noite de agosto, pudemos nos aquecer um pouco, usando a metafórica fogueira feita com vidas racistas.
Finalizada a noite, todos os presentes saíram com a sensação de terem se divertido, apoiado a cena e ainda desenvolvido um pouco mais de empatia, após uma verdadeira aula sobre, feminismo, comunismo, consciência de classe e antirracismo.
Texto: Gregor Turowczuk
Fotos: Alice Rodrigues