Para nós, brasileiros, olhar para a história do rock e do metal sempre foi sinônimo de orgulho. Grandes nomes como Sepultura, Krisiun, Sarcófago e Torture Squad marcam nossa memória, mas foi em São Paulo que aconteceu um encontro histórico: Edu Falaschi, Roy Khan, Noturnall e Auro Control em São Paulo, reunindo gerações do Metal em uma noite única.
Formado em 1991, o Angra fez barulho logo de cara com o atemporal e instantâneo clássico Angel’s Cry, ao demonstrar tamanha polidez e qualidade de composição e melodia através de sua primeira formação e dos sucessores de igual renome, Holy Land e Fireworks. Mesmo passando por mudanças significativas na época, a banda prosperou entre novos momentos e novas eras que continuaram rendendo músicas e álbuns que fizeram a banda alcançar patamares ainda mais altos, como com Rebirth e Temple of Shadows. A banda veio a produzir outros trabalhos de destaque, Aurora Consurgens e Aqua, até sofrer mais modificações em uma era que rendeu ainda Secret Garden, Omni e o mais recente, Cycles of Pain.
Mas para além do passado e de toda a trajetória vivida por esta banda, seus antigos membros provaram ao longo dos anos que a proficiência musical superava logos, ao criarem trabalhos e projetos de sucesso, onde um, em particular, segue se destacando: Edu Falaschi.
Após deixar seu legado no Angra através de Rebirth, Temple of Shadows, Aurora Consurgens e Aqua, o vocalista fundou, inicialmente, seu projeto solo, o Almah, até que, após seu primeiro álbum autointitulado receber forte atenção, evoluiu para uma banda fixa que produziu ao longo dos 10 anos seguintes outros quatro trabalhos em estúdio, diversas turnês e reconhecimento global, até um hiato iniciado em 2016 que perdura até os dias de hoje.
Porém, mostrando-se sempre como uma pessoa criativa, Edu logo começou o que seria, inicialmente, um projeto entre compilados de seus maiores trabalhos em versões acústicas e orquestrais (Moonlight, 2016), até coletâneas das maiores (e não foram poucas) baladas (Ballads, 2017) criadas ao longo de sua vasta carreira. Mas foi com The Glory of the Sacred Truth em 2018 que o vocalista começou a materializar com um maior direcionamento e objetivo o que tomaria forma como seu projeto solo, resultando na atual trilogia Vera Cruz (2021) e El Dorado (2023).
E se composição, produção e shows pelo Brasil e mundo, com direito a todo um palco grandioso, já não fossem o bastante, entre uma agenda cheia o músico ainda realiza projetos comemorativos e sazonais que servem como um grande aceno ao passado em noites de celebração e cantoria. Esse foi o caso com a comemoração de 20 anos do Temple of Shadows, que, assim como o Angra, Edu decidiu saudar em celebração a este marco histórico, porém, fazendo-o de seu modo e com visão única para torná-lo o mais célebre e memorável possível.
Para isso, ele articulou uma longa turnê por todo o Brasil (e mundo), onde para alguns locais em específico decidiu ir além e trazer uma proposta diferente: shows com uma orquestra sinfônica para dar ainda mais vida a um dos álbuns mais marcantes da história do metal nacional, além de convidados excepcionais para fazer deste um momento a ser eternizado. Este foi o caso do show marcado para ocorrer dia 05/07 em São Paulo, no Tokio Marine Hall, contando ainda com nomes como Kai Hansen, Roy Khan, Adrienne Cowan e Bill Hudson como grandes personalidades para performarem ao lado de Falaschi. Somado a isso, um show de estreia da carreira solo de Roy Khan, que aproveitou o momento para também celebrar outro grande álbum do metal melódico, o The Black Halo, de sua fase no Kamelot.
A noite contaria ainda com a banda veterana e amiga, Noturnall, e seu potente prog power, assim como a crescente banda de mesmo gênero, os baianos da Auro Control. Tudo parecia tranquilo, ainda que os gélidos ventos paulistas tentassem dissuadir a fila de pessoas que se colocava desde cedo no Tokio Marine, que, em completa ansiedade, aguardavam animados pela abertura da casa. Após um leve atraso para a abertura das portas, o espaço interno aguardava as pessoas com os stands de merch das bandas e suas mais diferentes peças, acessórios e afins, visados por uns e ignorados (momentaneamente) por outros, que já se colocavam apoiados com o peito na barra de metal do gradil, com sorrisos nos rostos e olhos brilhando, valseando pela extensão do palco em comemoração ao local garantido.
Agora, era tudo uma questão de uma pequena espera.
Um acalorado início, cortesia nordestina
O Tokio Marine Hall estava pouco a pouco se preenchendo quando o quarteto do Auro Control adentrou o palco. Com Lucas Barney na guitarra, Thiago Baumgarten no baixo, Lucas de Ouro nos vocais e Thiago Bagues na bateria, esta recém-formada banda de 2021 abraçava com um sorriso a missão de iniciar os trabalhos de uma noite de grande responsabilidade para a cena prog power brasileira.
O repertório, ainda que apertado pelo tempo, foi forte o suficiente para os nordestinos brilharem através das notas de seu primeiro álbum, The Harp, lançado em 2024 e que conta com músicas encorpadas, rápidas e cheias de melodia como em Feel the Fire e Rise of the Fenix, esta última que contou ainda com a participação de Aquiles Priester em sua gravação.
Tempo à parte, era claro que o grupo soube fazer bom proveito, ainda que Lucas tenha encontrado alguns problemas técnicos com sua guitarra, rapidamente corrigidos, não deixando a peteca cair. Longe disso, diga-se de passagem, através de cada solo e momento de destaque de Lucas, transparecia em seu rosto a grande satisfação daquele momento, fosse através do sorriso para o público, ou a cada solo, onde se via uma mistura de concentração e prazer de quem está intimamente conectado com seu instrumento.
Ainda neste departamento, impossível não reparar nas destacadas linhas de baixo, extremamente aparentes e que deram peso e um agradável ritmo diferente ao que normalmente se percebe dentro do power metal. Somada à bateria altamente precisa de Thiago e à potente e calorosa voz de Lucas, o entrosamento e a fluidez do Auro Control refletiam as muitas horas de dedicação que provavelmente a banda depositou, pelo alto nível performado ao público.
Público este que parecia totalmente cativado pela sonoridade da banda, fosse jogando os “chifrinhos” ao ar, gritando ou simplesmente tentando acompanhar os refrãos para já cantar junto na sequência. Atmosfera essa que se consolidou em um público cativo e feliz, ao pedido de Lucas para que todos ligassem as lanternas, ação prontamente acatada pelos presentes que balançavam os braços na típica balada épica, com derradeiros momentos de emoção e impacto.
Com direito a brincadeiras e convite para o público “tomar uma” depois do show, os jovens músicos se despediam do palco de uma noite que estava apenas começando, mas já mostrando um grande potencial pela frente.
Setlist Auro Control
- Not Alone
- Feel the Fire
- Rise of the Phoenix
- The Harp
- Head Up High
Crédito
Foto: Anderson Hildebrando @andersonh_fotografia
Assessoria de Imprensa: Thiago Rahal Mauro @trmpress
Desafios ao cair da noite
Não demorou para o palco ser preparado, junto ao alien na bateria e ao pedestal branco, marcas clássicas do Noturnall. Liderado por Thiago Bianchi (vocal) e com Henrique Pucci, o “Alien” (bateria), Saulo Xakol (baixo) e o recém-chegado Guilherme Torres (guitarra), o Noturnall é outra banda de grande reconhecimento internacional que há mais de uma década se dedica à criação de potentes melodias e complexos arranjos, equilibrados pela potente voz de Bianchi e com um toque artístico de ousadia e muito bom humor.
Logo no início, com Try Harder, fomos apresentados a um dos maiores vilões da noite para o Noturnall: contínuos problemas técnicos. Resolvido este, a banda chegou a recomeçar sua apresentação, tocando Try Harder novamente, seguida de No Turn at All, mostrando que estava com tudo para desempenhar mais um grande show eletrizante, muito reforçado nos poderosos drives e no vocal de Thiago Bianchi, que preenchia a casa com seu carisma e energia ímpares. Nem precisa dizer, a resposta positiva da plateia que vibrava junto à apresentação. Foi aí, no entanto, que os músicos tiveram que mostrar um extremo jogo de cintura, com o retorno do vilão à medida que falhas técnicas começaram a se sobressair ao show: de problemas de microfonia a falhas de microfone e, mais grave, problemas contínuos na guitarra que afetaram amplamente a performance.
Grande parte das demais músicas acabou apresentando dificuldades parciais ou completas, e a aflição visível por parte dos integrantes, com os fãs fazendo seu melhor para vibrar em retorno e apoiar continuamente este show que desde o primeiro momento se mostrou um verdadeiro desafio.
Foi aí que Thiago usou toda sua experiência e já conhecido carisma para arrancar risadas da plateia, fosse fazendo algumas piadas, fosse tirando o tempo também para apresentar a banda e contar boas histórias, como foi o caso da entrada de Saulo na banda, promovido de fã que sabia tocar e levantou a mão em um dia de show para o posto oficial de baixista, ou o novo guitarrista, Guilherme, por sua pouca idade, assim como o antigo guitarrista, Victor Franco, que havia sido “roubado” por Edu Falaschi, segundo o próprio, em tom de brincadeira.
Por mais que houveram os momentos bons e o público continuamente seguiu mostrando seu apoio, ovacionando e torcendo pela banda, a sucessão de problemas pareceu aos poucos atingir cada vez mais os músicos, chegando até a penetrar o bom humor do frontman, que foi se abatendo e se chateando com a situação contínua. Sempre agradecido e alegre pela força do público, fez questão de apontar sua insatisfação pelo resultado do show, por não ter conseguido entregar o que, em suas palavras, sabia que poderia e deveria ter sido entregue.
Encerrando com Nocturnal Human Side em um show encurtado devido à recorrência de problemas técnicos, apesar da frustração, não havia melhor música para representar que na vida, há dessas: coisas que fogem ao controle e vão para um lado não esperado, e que, desde que o lado humano, sincero e vulnerável se sobressaia, sempre poderá haver um novo amanhã.
Setlist Noturnall
- Try Harder
- No Turn at All
- Reset the Game
- Shadows
- Sugar Pill
- Nocturnal Human Side
Crédito
Foto: Anderson Hildebrando @andersonh_fotografia
Assessoria de Imprensa: Thiago Rahal Mauro @trmpress
O Khan dos Khans
Desde que deixou os vocais do Kamelot em 2011, Roy Khan, uma das mais prolíficas vozes do power metal melódico, deixou uma legião de fãs com um sentimento agridoce, porque a posição foi ocupada com maestria por Tommy Karevik e o trabalho que Roy veio a desenvolver com sua nova banda, o Conception, foi algo longe de ser visto como ruim, ainda que tendo suas boas diferenças.
Ainda assim, nunca havia passado por sua cabeça um tipo diferente de projeto no qual pudesse revisitar suas letras do passado e transformar isso em uma saudação à própria história e nova fonte de energia (e renda), até que, ninguém menos que o próprio Edu Falaschi, passou a encorajá-lo a seguir um projeto solo, tomando como exemplo o próprio caminho que havia trilhado. Após breve consideração, nasceu o projeto Roy Khan, que ainda em sua fase inicial (este show em São Paulo foi apenas sua segunda apresentação), visa repassar a era Kamelot do músico, dando destaque especial aos 20 anos de Black Halo, um dos mais aclamados álbuns do acervo do Kamelot.
E para tal momento, Roy foi convidado para co-estrelar a noite, com um set especial contando ainda com a célebre Maestrick — uma das grandes potências nacionais do prog metal como banda de apoio — e a Orquestra Sinfônica Jovem de Artur Nogueira para potencializar ainda mais a atmosfera, ao trazer todo o drama dos instrumentos clássicos.
Desde a fila, era visível que o público se dividia entre aqueles que vieram para ver apenas Roy e aqueles que vieram para ver Edu e Roy, ressaltando o grande acerto de se trazer esse fenômeno global à apresentação. Quando as luzes tornaram a cair e, pouco a pouco, os membros da orquestra passaram a assumir suas posições, a animação e a ansiedade começaram a crescer entre cabeças inquietas. Foi somente quando os músicos do Maestrick, acompanhados também pela voz de Juliana Rossi e as primeiras batidas de When The Lights Are Down começaram a soar, que bateu aquela sensação de “puta merda, isso realmente está acontecendo”. Mas foi quando a reluzente careca do músico norueguês brilhou por entre a cortina de fumaça de gelo seco que a música foi abafada pelos gritos da plateia.
Com esse começo de dois pés na porta, seguiu com Moonlight, com o coro de “hey, hey, hey’s” e chifres para o ar, enquanto Roy ia de um lado para o outro animando o público, impressionando com sua potência vocal tão passional, melódica, de difícil descrição pela profundidade arrebatadora que parece penetrar a alma. Soul Society seguiu o mesmo compasso, onde não faltaram elogios para o Maestrick e a orquestra, que desempenharam papel fenomenal para elevar a produção musical ao nível merecido, algo que não passou despercebido por Roy, que a cada oportunidade fazia questão de agradecer e destacar os colaboradores que estavam tornando aquele momento possível.
Chegando em The Haunting (Somewhere in Time), célebre música gravada junto de Simone Simons em estúdio, para somar com a voz já brilhante de Juliana, emergiu a potência estelar de Adrienne Cowan, uma figura intensa que mescla perfeitamente delicadeza melodiosa com brutalidade voraz. Certamente, mesmo sendo música onde não precisou demonstrar toda a força de seus guturais, ainda assim o público foi à loucura com o dueto, que certamente virou um dos pontos altos da noite.
E, para surpresa de muitos, entre idas e vindas por trás da coxia, Adrienne foi figura fixa no show, passando por Abandoned, Memento Mori e March of Mephisto, duas últimas onde foi possível contemplar os ferozes guturais da cantora ao desempenhar o papel originalmente feito pelo lendário Shagrath do Dimmu Borgir em estúdio.
É claro que a dualidade de vozes trouxe um equilíbrio novo para a apresentação, mas vale ressaltar que poderia ter sido apenas o próprio Roy Khan, a capella naquele espaço, que nitidamente já seria um show de grandes proporções, tamanho os suspiros arrancados a cada nota.
E a atenção não ficou só na performance, mas também no carisma: fosse contando ao público suas desventuras — como a ida a uma quermesse junina em Mirassol —, fosse declarando o amor e carinho pelo acolhimento sempre encontrado no Brasil, e principalmente pela amizade com os integrantes do Maestrick. Fez questão de que Fábio Caldeira, o vocalista, tomasse o microfone por um breve momento, para não só expressar sua emoção pela realização do sonho de tocar junto com uma de suas maiores influências, mas também para anunciar o show de lançamento do álbum Espresso Della Vita: Lunare, que ocorreria na semana seguinte.
Provando já ser um sucesso com possibilidade de data de retorno, a carreira solo de Roy Khan, revivendo seus grandes sucessos, ainda que breve, trouxe enorme satisfação tanto para os conhecedores quanto aqueles impactados pela primeira vez por sua voz. Coisa doida de se pensar que até então estávamos “apenas” no aquecimento para a sequência espetacular que viria a seguir.
Setlist Roy Khan
- When the Lights Are Down
- Moonlight
- Soul Society
- The Haunting (Somewhere in Time)
- Abandoned
- Memento Mori
- March of Mephisto
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Foto: Anderson Hildebrando @andersonh_fotografia
Assessoria de Imprensa: Thiago Rahal Mauro @trmpress
20 anos de Temple of Shadows
Com a orquestra a postos, a lotação do Tokio Marine parecia ter chegado ao seu máximo, enquanto as gigantes estátuas infláveis dos templários da ordem de Vera Cruz cresciam até o topo da casa de shows, além de outras cenografias próprias e já características dos shows de Edu Falaschi sendo instaladas. Parecia, em meio ao corre-corre da produção e dos roadies, que cada detalhe era milimetricamente pensado para utilizar todo o espaço disponível e complementar ainda mais o espetáculo que se aproximava.
A antecipação ia crescendo, assim como a ansiedade no ar, por uma espera que não demorou a ser quebrada pelas primeiras batidas de Deus Le Volt!, já nesta intro instrumental de menos de um minuto, que ofereceu uma amostra da diferença que uma orquestra faz: não só pelo peso dramático visual, mas pela sutileza sonora que se encaixa tão bem no metal, que ouso dizer que até aquele goregrind brutal ganharia uma beleza única ao som de violoncelos ao fundo.
À medida que entravam Jean Gardinalli na bateria, Fábio Laguna nos teclados, Diogo Mafra e Victor Franco nas guitarras e Raphael Dafras no baixo, o público já gritava em alto e bom som, até que, com a chegada de Spread Your Fire, emergia também a figura de Edu Falaschi, que, com muita energia e carisma, já embalava o refrão à frente dos efeitos pirotécnicos que traziam a sensação de “fogo”, mesmo em local fechado.
Daquele jeitão bem Edu Falaschi de ser, com seus maneirismos, brincadeiras, sorrisos e acenos, o músico corria de um lado a outro, engatando as primeiras músicas do ToS que seriam tocadas na íntegra. Entre Angels and Demons, Waiting Silence e a apoteótica balada Wishing Well, chega a ser curioso pensar, por um segundo, na maestria composicional de um enredo capaz de sair do Brasil para contar, de forma tão sensível, uma história a muitas léguas do nosso país. Mas ali estava Edu materializando não apenas isso, mas também comemorando vinte anos dessa materialização: uma das maiores obras do prog power mundial.
Era evidente o quanto aquele era um momento marcante e pessoal para o músico, que fazia questão de agradecer em todo momento ao público, principalmente pelo carinho, confiança e crença em seus sonhos e projetos. Era um tipo de honestidade crua e sincera que emanava do coração. Entre acenos de surpresa a pessoas que reconhecia na plateia e idas aos extremos do palco para saudar os fãs na área PCD, o carisma de Falaschi transbordava, mostrando o porquê de ser uma figura amada por tantos.
E não era só Edu que roubava a cena; os demais músicos mostravam também muita maestria e proficiência, cada um em seu departamento, onde impossível não destacar Victor Franco, jovem entre gigantes, assumindo com competência a tarefa de substituir Roberto Barros, e o fazia com rápidos riffs e destreza impressionante.
Kai Hansen se juntou à este showzaço: https://osubsolo.com/lenda-do-metal-kai-hansen-se-junta-a-edu-falaschi-em-noite-comemorativa-no-tokio-marine-hall-em-sao-paulo/
Se até ali já era difícil saber onde repousar o olhar, foi em Temple of Hate, com o anúncio de Edu para que o público recebesse um estimado amigo, que os ânimos foram além do teto, com a entrada de simplesmente um dos responsáveis pelo power metal mundial: Kai Hansen, numa participação especial na música em que ajudara a gravar. Impossível não se emocionar com sua presença, mesmo no seu jeito despojado, acompanhando as letras no prompter para não errar, o que certamente era o menor dos problemas para quem estava totalmente absorto no momento, um dos pontos altos da noite.
Assim como entrou, Kai Hansen se despediu, e com a sequência de The Shadow Hunter — marcada por tons latinos e flamenquistas das castanholas da orquestra e violões conduzidos por Victor — a mágica envolvia ainda mais. Em No Pain for the Dead e Winds of Destination, tivemos novamente a participação magnética de Adrienne Cowan, vestindo à altura toda a melodia e potência dessas duas faixas, sendo Winds of Destination gravada originalmente ainda com a poderosa voz de Hansi Kürsch, do Blind Guardian. Uma química e dinâmica recente, que ia se formando pela primeira vez em palco, que com a versatilidade de Cowan brilhando e marcando mais um ponto alto do show.
Após Sprouts of Time e Morning Star, foi a vez de outro momento marcante com Late Redemption. Talvez a música que mais se destoa do álbum, pelo toque único de Milton Nascimento nas estrofes em português; o convidado para dar vida a esse papel foi o próprio público, em decisão sábia de Falaschi, criando uma ambiência única, profunda e catártica em meio ao coro ecoando pelo Tokio Marine.
Encerrando o bloco do Temple of Shadows e já próximo das badaladas que transformam qualquer usuário da CPTM em abóbora, inocente quem achava que o fim estava próximo. Longe disso: o show avançou para uma sequência de grandes hits da carreira de Edu, começando por The Ancestry (Vera Cruz), recebida com entusiasmo, demonstrando o respeito à sua carreira solo. Em seguida, talvez um dos maiores momentos da música brasileira: Bleeding Heart, que rompeu barreiras, ganhou vida nas mãos de vários músicos e grupos como o Calcinha Preta e foi cantada por todos, tanto em inglês quanto português.
Entrou então o clima de festa: Pegasus Fantasy, eterna abertura dos Cavaleiros do Zodíaco, tomou conta, em avalanche de vozes elevando seu cosmo até o sétimo sentido. E se não bastasse, vieram logo depois Rebirth e Nova Era: músicas atemporais, que faziam mesmo as vozes já roucas encontrarem forças para ecoar com a banda, que, sorrindo, percebia o quanto a plateia se regozijava diante de uma apresentação perfeita.
Como toda festa, uma hora ela precisa acabar, mas não sem estilo. Antes do grand finale, Edu ainda agradeceu mais uma vez a todos, da banda ao público, incluindo quem veio de longe (Chile, Argentina, até Japão!) provando que o peso do músico superava fronteiras e continentes. Aproveitou também para anunciar sua próxima empreitada: um evento no Manifesto Bar em outubro, tocando o Ballads, coletânea com as maiores baladas, com banda elétrica e todo o peso necessário para já colocar na agenda dos fãs o próximo grande acontecimento.
Porém, naquela noite, ainda restava fôlego para uma última homenagem: a Kai Hansen e o Helloween, tocando I Want Out junto a todos os convidados que iam emergindo aos poucos, de Adrienne, Roy a entrada de Bill Hudson (Doro, Morbid Angel) acelerando na guitarra e, claro, Edu e Kai, numa explosão de coros, disputas de vozes entre a platéia com o refrão e aquela algazarra gostosa que só um fim de festa pode propiciar. O auge foi ver o senhor de 62 anos, Kai Hansen, usando uma das caixas do PA como apoio para um salto final, daqueles de bater os dois pés juntos, para uma mistura de surpresa e susto.
Festas e celebrações à parte, ficou claro que, no que tange a uma grande apresentação, confiar em Edu Falaschi é certeza de festa das boas, tipicamente brasileira, mas repleta de convidados dos mais distantes cantos do mundo. A celebração dos 20 anos de Temple of Shadows foi justamente assim, em uma empreitada ambiciosa que chegou ao fim em São Paulo, mas que ainda segue pelo Brasil e pelo mundo ao longo do ano.
Essa cobertura de Edu Falaschi, Roy Khan, Noturnall e Auro Control em São Paulo reforça a importância do público em quaisquer eventos, te convocamos a comparecer em peso, sempre.
Setlist Edu Falaschi
Intro – Deus Le Volt!
- Spread Your Fire
- Angels and Demons
- Waiting Silence
- Wishing Well
- The Temple of Hate
- The Shadow Hunter
- No Pain for the Dead
- Winds of Destination
- Sprouts of Time
- Morning Star
- Late Redemption
- The Ancestry
- Bleeding Heart
- Pegasus Fantasy
- Rebirth
- Nova Era
- I Want Out
Crédito
Foto: Anderson Hildebrando @andersonh_fotografia
Assessoria de Imprensa: Thiago Rahal Mauro @trmpress