

Deixando este tópico para depois, vamos a Florianópolis, onde muitos podiam jurar que seria uma furada: show numa noite de tempestades, em plena terça-feira. Quem seriam os loucos que iriam se dispor a perder horas de sono e chegar “virado” no seu trabalho no dia seguinte? Lhe respondo que foram muitos. Próximo as 23h40, “In Excelsis”, faixa instrumental que marca o início do disco Rebirth, começou a ser reproduzida na aparelhagem sonora da casa. Como de costume, foi seguida da clássica “Nova Era”. No entanto, se para o público tudo estava bem, para o vocalista dono da festa não estava. Aproveitando algumas brechas de instrumentais durante a música, Edu mandou recados para o responsável pelo som da casa que seu retorno no palco estava ruim. A reclamação persistiu após o término da música e ainda no meio de “Acid Rain”. Falaschi chegou a dizer, ao fim da segunda faixa apresentada, que persistindo o retorno naquela qualidade seria inviável prosseguir com o show. Após muita dialogação do vocalista com o técnico de som, e com o publico no meio, o vocalista considerou que o retorno enfim havia sido ajustado de forma aceitável para seguir com a apresentação. Espectadores diante disso tudo, a platéia reagiu em apoio ao vocalista ao longo da conversa, que enfim se direcionou aos presentes para agradece-los pela presença e anunciar a execução de uma faixa que o Angra nunca havia tocado ao vivo: “Eyes of Christ”. Seria mais uma prova de que a banda ali presente era “mais Angra que o Angra”?
O destaque da noite veio com “Late Redemption”. A música por si só já é de arrepiar, mas com o pedido de Edu Falaschi para o público ficar responsável pelas partes cantadas pelo grande Milton Nascimento, ela se tornou realmente emocionante. Ver todo o público entoando os versos cantados em português foi memorável e por si só pagou a noite. Momentos como este, na verdade, foram rotineiros no show, que contou com um público que sabia o valor daqueles instantes. Reparei no rosto de muitas pessoas a fixação pelo ícone que Edu Falaschi representa, vi expressões de emoção e felicidade ao longo do show. Vi pessoas que, assim como eu, não hesitaram em cantar cada música e aproveitar cada segundo que tivemos para sentir como se estivéssemos de volta em alguma turnê de 2004 ou 2005.
A banda que compôs os shows desta turnê é merecedora de todos os elogios. Aquiles Priester dispensa apresentações, é simplesmente, como Falaschi o apresentou, “o maior baterista de Power Metal do mundo”. Fábio Laguna é uma figura que muitos não conhecem, mas quem prestou atenção no homem por trás dos teclados, ali, no canto do palco, viu que ele é peça fundamental para a excelência nas apresentações. As guitarras que tanto chamam atenção nas crias de Kiko Loureiro e Rafael Bittencourt são conduzidas por uma dupla que enche os olhos: enquanto Diogo Mafra, que era da casa, nascido na Ilha da Magia, mostrava uma energia e explosão contagiante em palco, misturando expressões faciais e corporais que encarnavam cada música com uma habilidade vistosa na guitarra, seu companheiro de seis cordas Roberto Barros é mais contido, na dele, mas chamando muita atenção mesmo assim, pois contém sua agitação em suas mãos, que reproduzem, como ele gosta de dizer, “nota por nota” (e ele não mente, realmente, cada nota original, de cada riff ou solo, estão lá, ao vivo, bem na sua frente). Como baixista, sei das dificuldades que um baixista passa para tocar músicas do Angra, então toda minha admiração fica com Raphael Dafras, que é dono de uma habilidade impressionante em cima das seis cordas de seu instrumento e mostra maestria nos graves exigentes das composições de Felipe Andreolli. Todos são músicos impressionantes e perfeccionistas, que executam em palco com uma fidelidade inacreditável aquilo que nossos ouvidos já tanto escutaram ao longo dos anos nos álbuns.Com “Gate XIII” ao fundo, após a triunfante apresentação de “Spread Your Fire”, a instrumental que encerra a obra Temple of Shadows era o sinal de que o espetáculo havia alcançado seu fim. Foram quase duas horas de show, e cada minuto nele valeu a pena. Valeu a pena a viagem até a capital catarinense, valeu a pena enfrentar toda a chuva e transtornos causados por ela e sim, valeu a pena ir totalmente virado para o trabalho depois. Não nego, Edu Falaschi é meu ídolo na música, não só por simplesmente ter gravado meus álbuns favoritos, mas por sua história de superação após seu pior momento e por ter superado coisas que teriam feito muitos desistirem. Essa turnê é para aqueles que sabem o valor disso e sabem que o Angra está em cada um que passou pela história da banda, inclusive em nós. Então, é mais Angra que o Angra? Não, o Angra é uma banda enorme e que merece respeito, e a maor prova desse respeito é que Rebirth of Shadows é um pedaço do Angra que quer prestar tributo à essa fase que sem dúvidas foi marcante para o Heavy Metal nacional.
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| “Glorious, don’t be afraid to lead the way with thy sword. You are the chosen one. Go, spread your fire!” |













