Após a comemoração do aniversário do meu fotógrafo estrela, Chris, na noite anterior, o rolê não podia parar, e a energia seguiu em alta para mais uma noite inesquecível. No sábado, 18 de outubro, mesmo sob uma chuva persistente que caía desde as primeiras horas da tarde, Curitiba recebeu o tão aguardado show do The Dead South. A água não foi capaz de desanimar o público, que se manteve firme em longas filas ao redor do Tork N’ Roll, tomado pela expectativa da abertura das portas.
No caminho até o local, o motorista de aplicativo que me levava demonstrava curiosidade: “Quem vai tocar hoje no Tork?”, perguntou. Contou que já havia feito diversas corridas com destino ao mesmo ponto, todas com passageiros vestidos a caráter, chapéus, suspensórios e camisas brancas, o uniforme não oficial dos fãs do quarteto canadense, conhecido por misturar Bluegrass, Folk e Rock Alternativo, em uma estética inspirada no Velho Oeste.
Hillbilly Rawhide | Country Rock | Curitiba/PR
A noite começou em grande estilo com a apresentação da Hillbilly Rawhide, banda curitibana de Country Rock que há mais de duas décadas carrega a bandeira do som caipira com atitude roqueira. Com um repertório regado a humor, histórias de estrada e celebração da vida boêmia, o grupo transformou o Tork em um verdadeiro saloon moderno, onde cerveja, botas e riffs se misturavam.
Logo na entrada, o estande de merchandising da banda já chamava atenção dos fãs, e assim que as portas do local se abriram, o público correu para garantir um bom lugar em frente ao palco. Pontualmente às 20h, o Hillbilly Rawhide subiu ao palco com a casa praticamente cheia, recebendo aplausos calorosos.
O setlist incluiu clássicos como Uma Cerveja, Uma Cachaça e Um Remedinho, A Balada do Homem Morto, Whiskey, Cachaça e Rock’n’Roll e Velho Cowboy. Cada canção era acompanhada em coro pelo público, que brindava com copos erguidos e dançava sem se importar com o frio ou a chuva lá fora.
Com 23 anos de estrada, a Hillbilly Rawhide reafirmou seu papel como uma das bandas mais autênticas e queridas do cenário curitibano, um nome que transcende gêneros e fronteiras, mesclando Country, Rockabilly, Outlaw e pitadas de Punk. A performance carismática e cheia de energia dos músicos, somada à sua identidade visual marcante e à interação com o público, fez jus à reputação que conquistaram ao longo dos anos.
Não havia dúvidas: eles foram a escolha perfeita para abrir a noite. A banda não apenas aqueceu o público, mas também criou o clima ideal para o show dos canadenses do The Dead South, que subiriam ao palco em seguida para consolidar uma noite que prometia, e aliás entregou, um espetáculo impecável.
Fotografia: Chris Alfredo
The Dead South | Bluegrass, Folk, Country | Canadá
Após a marcante abertura da Hillbilly Rawhide, o público já estava devidamente aquecido e o Tork N’ Roll tomado por uma atmosfera de euforia e expectativa. Quando as luzes se apagaram e os primeiros acordes ecoaram, uma ovação tomou conta do local. Era chegada a hora dos canadenses do The Dead South, em sua aguardada estreia na capital paranaense.
Com seus característicos trajes de inspiração faroeste, chapéus, camisas brancas, coletes e suspensórios, os quatro músicos surgiram no palco sob aplausos ensurdecedores. Desde o primeiro instante, mostraram o porquê de serem considerados uma das bandas mais originais e cativantes da cena Folk contemporânea.
Com uma presença de palco magnética, o grupo demonstrou total domínio técnico e entrosamento. O banjo e o violoncelo se entrelaçavam em harmonia, criando uma sonoridade que oscilava entre o melancólico e o festivo. A energia era contagiante, havia algo quase ritualístico na maneira como os músicos se movimentavam, dançando e trocando olhares cúmplices enquanto conduziam o público por uma viagem sonora entre o Bluegrass tradicional e o Folk moderno.
Faixas como Honey You, Banjo Odyssey, That Bastard Son e The Recap fizeram o público vibrar, enquanto momentos mais introspectivos, como Broken Cowboy, trouxeram uma pausa poética à intensidade da apresentação.
Entre uma música e outra, a banda interagia com simpatia, agradecendo o carinho da plateia e demonstrando surpresa com o calor do público curitibano, mesmo sob chuva e frio. “We didn’t expect such a wild crowd in the rain, thank you, Curitiba!”, disse o vocalista, recebendo aplausos e gritos de “We love you!”.
O setlist, que mesclou faixas de seus álbuns Good Company (2014), Sugar & Joy (2019) e Chains & Stakes (2024), revelou a maturidade artística do grupo e sua habilidade de renovar o Folk com autenticidade e humor.
Fotografia: Chris Alfredo
No encerramento, o Tork vibrou com People Are Strange, cover do The Doors que a banda transformou em uma versão singular, seguida de um bis arrebatador com Travellin’ Man e The Dead South, que colocou todos para cantar e dançar até o último acorde.
Mesmo após o fim, poucos deixaram o local de imediato, muitos permaneciam em frente ao palco, em êxtase, tirando fotos e comentando o que acabavam de presenciar. O público curitibano testemunhou um show com música, identidade e resistência cultural, conduzida por uma banda que tem feito o mundo inteiro redescobrir o poder das cordas e da sinceridade musical.
O evento foi uma realização impecável, resultado do trabalho conjunto entre Powerline Music & Books, Sellout Tours, Áldea Produções, a equipe do Tork N’ Roll e todos os profissionais envolvidos na produção técnica, segurança, som e iluminação. A estrutura oferecida garantiu uma experiência confortável e segura ao público, mesmo diante das condições climáticas adversas.
Fica aqui o agradecimento especial a todos que tornaram possível essa noite inesquecível, uma verdadeira amostra de música, dedicação e profissionalismo, que reafirma Curitiba como uma das capitais mais pulsantes da cena musical alternativa no Brasil.
E, para encerrar a noite, como já virou tradição para nós, eu e o Chris fomos fechar o rolê do melhor jeito possível: comendo rollmops e tomando cerveja em barzinhos duvidosos, daqueles que sempre rendem boas histórias.















































































