Muito se ouve falar sobre “a cena”, como se fosse algo divino, que ou surge do nada, ou apenas, sempre esteve lá. Vez ou outra alguém é catapultado ao sucesso, usando de apoio, a famigerada cena, apenas para depois a relegar, acreditando que “fez por merecer”, ou que “não deve nada a ninguém”. Mas independente das polêmicas, a cena underground do metal de Florianópolis sempre se renovou, sobreviveu a cada baixa que teve, e continua viva e bem. Prova disso foi a segunda edição do Jingle Hell, realizada no sábado, 21 de dezembro, e contou com Cemitério (Death Metal SP), Brutal Butchery (Death metal, Florianópolis) e Cruciate (Death metal, Florianópolis). Esse evento foi um verdadeiro exemplo de como um movimento é extremamente influenciado por seus pares, e uma cena forte se faz com diversas bandas se apoiando e se influenciando.
Cruciate
Em seu primeiro show, a estreante Cruciate parecia uma banda que contava com a experiência de anos de estrada, mas com o sangue no olho típico de quem ainda tem muita lenha pra queimar. Após uma curta introdução que parecia extraída de um filme de terror, a pesadíssima Thirsty for Violence, já mostra que a banda não está pra brincadeira. As influências de bandas como Autopsy, Dismember, Morbid Angel e Sepülcro (também de Florianópolis) ficam bem claras à medida que seu (infelizmente) curto set list é percorrido. Dirty war e Sacrifice lembram um pouco os primeiros discos do Bloodbath, bem direto ao ponto, sem rodeios ou excessos. A conexão com o público é instantânea, e fica óbvio que não vem de hoje, é uma banda de amigos, tocando para amigos.
Outro ponto interessante é o fato de a banda não ter um vocalista principal, pois todos os três cantam em momentos diferentes, com vocais diferentes, criando uma dinâmica muito legal, trabalhando o foco do expectador. Finalizada a última faixa, Ninfomaníaca (eu sou capaz de jurar que havia uma menina lendo a letra em um papel, e cantando aos berros do começo ao fim) o público exigiu mais, forçando a banda a repetir duas músicas do começo do show.
A Cruciate é uma ótima adição a já pesada cena florianopolitana de metal, e com certeza irá contribuir muito com o movimento que se iniciou após a pandemia.
Brutal Butchery
Após 20 anos de seu fim, a Brutal Butchery tem seu retorno aos palcos em um dos melhores momentos da cena, demonstra que seu som não ficou nada datado. Contando com ex membros de medalhões da cena como Khrophus, Anartria e Vulkro, a banda executa um Death Metal com fortes influências de Grindcore/Splatter de forma extremamente profissional.
A construção das músicas, em sua maioria curtas, lembra, em certos aspectos as já citadas, Khrophus e Anartria, essa última, homenageada na faixa Fear.
Além de Lethal Weapon, Mask of hate, Welcome to war e Putrid Glory, do demo de 2004, a banda ainda executou, entre muitas risadas e descontração, outros dois covers: Um trecho de Territory do Sepultura, e Scum do Napalm Death.
O destaque da banda é, com certeza, o baterista Carlos Fernandes, que além de segurar todas as passagens de forma tranquila e criativa, ainda executa blast beats em velocidade altíssima e bumbos duplos insanos. Mais uma vez, o público pediu por mais músicas, e foi atendido com mais Death Metal extremo, e logicamente, brutal! Que showzasso!
Cemitério
A grande estrela da noite, Cemitério, retorna a capital com seu Death Metal Old School, recheado de histórias de filmes de terror clássicos e refrões grudentos. Começando pela já tradicional: A casa do cemitério/ A volta dos mortos vivos, o trio levou o público a loucura, iniciando rodas e cantando junto do início ao fim.
É muito interessante notar que a cada show deles na ilha, o público parece conhecer melhor a banda, interagir melhor, e é claro, cantar as letras junto em todos os momentos. Em especial: Quadrilha de sádicos, Holocausto Canibal e Pague para entrar, Reze pra sair. Mas com certeza, o grande momento da noite foi em Natal Sangrento, pela proximidade da data, quando se abriu a maior e mais divertida roda de pogo da noite.
O público pediu, e a banda mandou mais dois Bis, Damien (Taurus) e Massacre no Texas. Se dependesse dos presentes no Haoma no dia 21 de dezembro de 2024, a banda tocaria até de manhã.
Mais um evento da produtora Bruxa Verde, que tem nos brindado com ótimos shows, fomentando a cultura underground e a música pesada de todas as formas e estilos. No aguardo do Jingle Hell 3.