Hoje em dia quando falamos do cenário do Rock ou do Metal, vermos um evento atingir sua décima edição é um feito raro que requer muitas coisas por trás de tudo, sendo os principais: uma equipe dedicada e muito amor pelo o que faz.

Tivemos um tempo em uma conversa de backstage com o principal organizador, Danniel Bala no qual o mesmo contou com muito entusiasmo o que tudo significava na vida dele e de ver o festival lotado era uma realização, no fim, um evento que sempre tem essa combinação de amigos, boa conversa, bandas e cerveja gelada, não pode ter erro né?

Fiquem com o segundo (e último) dia de décimo Laguna Metal Fest.

Abyss | Tributo Sepultura | Santa Catarina

A Abyss abriu o domingo, com Antonio nos vocais, João na guitarra, Artur na bateria e Renato no baixo. Depois da intensidade da noite anterior, o café da manhã ainda estava tentando fazer efeito, e foi o som deles que realmente tirou todo mundo da sonolência. Começaram com a intro The Curse, do Bestial Devastation, que vem com aquele clima sombrio do álbum que pertence, mas que não teve muita conexão com a música seguinte, Nomad, que é do álbum Chaos AD. Essa escolha acabou criando um contraste curioso, mas Nomad já se tornou a faixa que eles costumam usar para abrir os shows e chamar quem ainda está disperso.
Nessa apresentação reparei algo diferente na execução. As músicas do Sepultura não estavam sendo reproduzidas de forma idêntica, mas com pequenas variações que deixavam claro um tempero próprio da banda. Essa escolha deu outra vida aos clássicos e mostrou personalidade, sem perder a essência. O público, ainda meio sonolento, foi “se aprumando” a cada som que a banda tocava, com aquela energia que o Trash Metal do sepultura tem.
No set, vieram pedradas como Roots Bloody Roots, Arise, Refuse/Resist e outros clássicos que dispensam apresentação. Mesmo “cedo” e o clima pós-festa, a Abyss conseguiu servir de bomba energética e abrir o dia com um peso que fez todo mundo esquecer o cansaço. Foi um começo de domingo que acordou até quem jurava que não ia sair do canto.

Formação:

  • Antônio (voz)
  • João (guitarra)
  • Artur (bateria)
  • Renato (baixo)

Por: João Kock

Fotos: Sidney Oss Emer

Ereboros | Death Metal | Rio de Janeiro/RJ

Ereboros subiu ao palco as 11:35 da manhã de domingo e surpreendeu com o número de pessoas que atraiu para seu show, considerando que era de manhã e muita gente ainda estava dormindo ou de ressaca nesse segundo dia de fest. Ereboros passou recentemente por uma mudança em sua formação e essa foi a primeira apresentação em SC com os novos membros. Eu já havia visto a banda ao vivo 2 vezes e confesso que esse foi ainda melhor que os anteriores e é muito nítido que os novos músicos agregaram e contribuíram muito pra isso também!

O vocalista Thiago teve bastante troca de energia com o público, sempre agradecendo pelo apoio de todos e demonstrando gratidão por estar tocando em SC, de forma genuína.
O novo guitarrista Juan, surpreendeu com sua performance e técnica, assim como Thiago que também assumiu a guitarra nessa nova formação, entregando além do gutural monstruoso, uma habilidade fantástica como guitarrista. O novo baixista Paulo, também surpreendeu nas 5 cordas, fazendo total diferença durante o show. O baterista Victor. Bom, o que falar desse menino que senta atrás da bateria e parece que Simplesmente liga um motor que não falha e nem pausa? Veloz, preciso, técnico e bruto. Um dos melhores bateristas que já vi ao vivo ( inclusive dentre os grandes nomes gringos do Metal Extremo). O show foi brutal, energético e visceral. A banda toda é muita técnica e não abre margem pra erros ao vivo. Um show impecável, Death Metal de qualidade e de altíssimo nível. Com certeza uma das melhores apresentações do festival. Inclusive foi uma surpresa pra muita gente que não conhecia Ereboros! Os feedbacks foram bem positivos no geral.

Setlist:

1 – Corruptio Signum
2 – Dubium Sapientia Est
3 – Path of Solomon
4 – Salute to Disorder
5 – Blasphemous Era
6 – The Depths of Misery (musica nova)
7 – Ereboros

Formação:

  • Thiago (voz, guitarra)
  • Victor (bateria)
  • Paulo (baixo)
  • Juan (guitarra)

Por: Luana Ouriques

Fotos: Sidney Oss Emer

Darktower | Death Metal | Rio de Janeiro/RJ

Uma das coisas mais legais de cobrir eventos como o Laguna Metal Fest é a curadoria de bandas. Conhecer diferentes estilos é muito legal, e mesmo estando com a expectativa lá no alto, ainda nos surpreendemos com uma banda incrível como a Darktower. Formada em 2008 na cidade do Rio de Janeiro, a Darktower apresenta um Black/ Death Metal com momentos melódicos, flertando um pouco com Heavy Metal mais tradicional. Ao vivo essa mistura se mostra muito eficaz, pois a mescla brutal do Death e Black Metal encontra um contraponto na melodia de guitarras dobradas de Nono Pirozzi e Rafael Morais a lá Judas Priest, mas com aquele tempero de maldade que o estilo exige.

The Carnal Splendor, Eight Spears, Obedientia e God above Nothing são quatro pauladas com influências de Behemoth e Belphegor, que levaram a galera a loucura com os Blast beats de Gabriel Bastos, mosh comendo solto e muito headbanging. O Blackned Death Metal dos caras é muito bem recebido pelo público de Laguna, mas mesmo com o “jogo ganho”, a banda ainda tem uma carta na manga. Partindo para os sons finais, somos brindados com a atual fase da banda, que apresenta um material ainda mais interessante e intenso.

1823 e Serpente Ígnea apresentam letras em português, pois falam de temas nacionais. Contando ainda mais com os interessantíssimos vocais do baixista Rodolfo Ferreira. É muito legal ver como uma banda pode se transformar durante uma mesma apresentação, e no palco, com aquela intensidade, apegada continua a mesma, os agressivos vocais de Flávio Gonçalves ganham contornos regionais à medida que a banda passa a demonstrar influências regionais e, arrisco dizer, temas raciais e históricos. Darktower é uma banda muito mais profunda do que parece, e vale uma audição bem atenta, pois essa jóia do nosso Undergroud, com certeza, tem muito a oferecer em seu próximo disco.

Formação:

  • Flavio (voz)
  • Rodolfo (baixo, voz)
  • Rafael (guitarra)
  • Nonu (guitarra)
  • Gabriel (bateria)

Por: Gregor Holmes

Fotos: Nathaly Julian

Vulture | Death Metal | Itapetininga/SP

Um dos pontos mais altos do evento, em especial para os fãs de Death Metal, foi com certeza a apresentação do Vulture. Com 30 anos de estrada, a banda de Itapetininga/ SP apresenta um Death Metal extremamente bem executado, com algumas pitadas de Thrash Metal e até Heavy Metal. Começando por Mórbido Poder, single de 2002 que cutuca a ferida do autoritarismo militar e religião no poder. Além de ser uma paulada ao vivo, a faixa incentivou algumas rodas, o que naquele momento de um festival de dois dias, é um feito impressionante.

A essa altura era nítido que a banda possui uma conexão imensa com seu público que não vem de hoje. Esse nível de desenvoltura e carisma só se desenvolve com muito tempo de estrada, trabalho duro e respeito ao fã. Impossível não destacar Joel, figurinha carimbada da cena de Laguna, que agitava em todas as músicas, cantando as letras de forma emocionada, puxando rodas sempre que alguém esbarrada nele, mesmo que de forma acidental. É dessas figuras que o Underground é feito, e tenho certeza que ele ficou na memória dos simpáticos integrantes da Vulture.

Logo ao fim da ótima Omniscient Ignorance, outro fã grita: “Abençoado!”. Foi a introdução perfeita para o maior clássico da banda: Abençoado seja o homem ateu, do disco Through the eyes of Vulture, de 2007, que finalizou a apresentação com chave de ouro. Vulture é uma banda incrível, com uma bela história, e que vale a pena demais a audição, não apenas pela qualidade de seus músicos, mas também pelas letras muito bem escritas e firmemente posicionadas. BANDAÇA

Formação:

  • Mateus (baixo)
  • Adauto (guitarra)
  • Yuri (guitarra, voz)
  • Fabio (bateria)

Por: Gregor Holmes

Fotos: Nathaly Julian

Orthostat | Death Metal | Jaraguá do Sul/SC

Orthostat sobe no palco as 14:15 de domingo e abre o show com a música Heat Death. A banda como sempre, abre de forma energética e brutal, cativando o público e trazendo muita gente pro mosh. Orthostat já é uma banda muito conhecida na cena catarinense e que nunca decepciona em sua performance!

A linha de frente guitarras, vocal e baixo, se complementam de forma totalmente orgânica, performando de maneira imponente e técnica. Não podemos deixar de destacar o baterista, que chama atenção com sua linha veloz e bruta, trazendo também toda a potência pra sonoridade da banda. O vocalista que também é guitarrista, é uma figura muita carismática e bem humorada, onde sempre procura falar com o público entre uma música e outra. Em uma dessas trocas, ele soltou: “tem algum terraplanista aqui, hoje?”. O silêncio permaneceu entre as pessoas (ainda bem) e logo depois as gargalhadas predominaram. O show no geral foi muito divertido, além de toda a qualidade sonora que o Orthostat sempre entrega, com técnica, brutalidade, irreverência e qualidade.

Setlist:

  • Heat Death
  • Nothingness
  • Qetesh
  • Hydrogen
  • Gravity
  • Chemistry
  • Entropy
  • Ambaxtoi

Formação:

  • David Lago (voz e guitarra)
  • Rudolph Hille (guitarra)
  • Eduardo Arbigaus (baixo)
  • Igor Thomaz (bateria)

Por: Luana Ouriques

Fotos: Nathaly Julian

Rebaelliun | Death Metal | Porto Alegre/RS

Quando anunciado em qualquer evento ou festival, o Rebaelliun é sempre muito esperado pelo público e em Laguna não seria diferente. Mesmo que uma parte do público já levantava acampamento, o salão do Laguna Metal Fest estava lotado para ver o power trio gaúcho em ação.

Com uma pequena intro que chamou atenção, logo seu Death Metal era expurgado para todos se deliciarem com explosão de tímpanos em um som intenso e arrebatador, como o Death Metal tem que ser. Linhas de batera que exalavam raiva e com muita pressão que até os microfones da bateria se assustavam, o power trio consegue fazer muitas vezes o que um quinteto não oferece, casando técnica, peso e agressividade no seu som. O single recém lançado de Ignite estava no repertório, sendo executada com muita fúria, a pressão normal do seu novo single por si só. A execução do setlist é bem apresentado, poucas pausas entre as músicas e com boas execuções, o som saia com muita pressão e destruição e os técnicos do Bravado conseguiram ter uma regulagem muito boa de tudo, o que contribuiu para o som ficar ainda mais pesado.

Os vocais eram intensos e o baixo era massacrante, tudo perfeitamente conectado e entrosado. Não por menos estávamos naquele momento a frente de um dos maiores nomes do Metal Extremo do sul do Brasil, foi uma exibição de como o Death Metal deve ser na sua pura essência.

Formação:

  • Sandro (bateria)
  • Evandro (guitarra)
  • Bruno (voz, baixo)

Por: Rubia Domeciano

Fotos: Nathaly Julian

Bruno Sutter | Rio de Janeiro/RJ
Made in Iron | Tributo Iron Maiden | Santa Catarina

Bruno Sutter subiu ao palco com a Made in Iron para um especial que celebrou os 50 anos do Iron Maiden. Trazendo a essência da banda britânica, com performances características, sem perder a pegada única que faz o som deles ser tão marcante. O show abriu com Somewhere in Time, uma música que só começava a sequência de grandes nomes bandas que estavam por vir. Bruno durante o show não deixa de lado a sua profissão de humorista e sempre soltava uma piada ou trocadilho aqui ou ali durante o set, como “que horas são?” antes de 2 minutes to midnight, ou a referência ao filme tropa de elite com a frase “sabe voar estudante?” para introduzir flight of icarus. Essas sacadas deixaram o show com um tom mais descontraído, mais próximo do público.

O setlist foi bem equilibrado, misturando músicas para os fãs mais dedicados com clássicos que até quem não acompanha o estilo conhece bem, como The Trooper. Durante o show, Bruno dividiu o microfone com Daniel Locatelli, vocalista original da Made in Iron. Em determinado momento, Bruno foi para a bateria e mostrou que não canta só bem, mas também manda bem nas baquetas. Um fator que me impressionou foi saber que eles não ensaiaram juntos antes do show, tudo rolou ali na sintonia natural da banda e no talento do Bruno, que é versátil pra caramba. Isso deu uma vibe mais espontânea, como se fosse uma grande jam.

Um dos momentos mais marcantes do show foi quando a banda fez uma homenagem de última hora para Ozzy Osbourne, que havia falecido recentemente. Tocaram Crazy Train de improviso e mandaram muito bem, entregando um momento que mexeu com todo mundo. O show foi finalizado com uma sequência de parte dos sons mais conhecidos da banda, Fear of the Dark, Hallowed Be Thy Name e Run to the Hills. O domingo e este grande evento foi finalizado com mais do que sucesso, foi tudo demais, ficam meus parabéns a todas as bandas e a produção.

Formação (banda Made in Iron):

  • Daniel Carrara (voz)
  • Conrado Faust (bateria)
  • Eduardo Faust (guitarra)
  • Felipe Olivo (guitarra)
  • Jean Geremias (baixo)

Por: João Kock

Fotos: Nathaly Julian

ANÁLISE TÉCNICA

Estrutura: Mais uma vez, os eventos do Agosto Negro Produções contou com a estrutura completa de uma empresa que vem se consolidando no cenário. a Bravado. Com som, iluminação e palco excelente, a troca de palco foi rápido graças à equipe por trás de todo o trabalho que se empenhou e buscou resolver qualquer empecilho com maestria e pontualidade, não temos nada à apontar.

Som e Luz: Sonorização impecável, mesmo que o galpão muitas vezes seja um local que conte com muito reverb e eco, tudo foi muito bem controlado e regulado. Iluminação completa que contribuíram para as fotografias e sonorização que deu ênfase a cada detalhe de cada banda, com muita atenção às bandas. Obs: O som eletrônico na troca das bandas do lado de fora, foi uma sacada genial da organização.

Horários: Os horários foram impecavelmente respeitados, minutos de atraso que nem pode sequer ser citado como atraso. Muita responsabilidade das bandas na execução de seus repertórios. Único problema de horário relevante, foi no início do evento no sábado na qual as bandas iniciais se ajustaram e conseguiram se readequar acertando todos os horários e ambos os dias acabando com poucos minutos após o previsto, impecável.

Cast: É notório como a produtora gosta de apostar em nomes locais que seguram as pontas sempre que necessário, mas é importante tentar fazer um revezamento de bandas pelos diversos eventos na qual apresentam, isso seria bom até para as bandas em si. Tem nomes no cenário catarinense pedindo passagem e como a produtora carrega o peso de ser a única que sustenta o Metal na região da Amurel catarinense, esse rodízio uma hora ou outra terá que ser feito.

Bar e Cozinha: A cerveja dos eventos são sempre muito geladas, o que é importante. Preço acessível e com a opção do excelente chopp da Bender Beer, que é um chopp robusto e muito saboroso, combinando perfeitamente com a sonoridade do evento e ao momento em si. Alimentação que contou com o trailer da Rota Hamburgueria, que é um parceiro d’O SubSolo e um lanche maravilhoso, também contribui bastante, mas ainda falta alguma opção mais vegana e vegetariana segundo alguns leitores relataram.

Para concluir, o camping estava lotado novamente e o galpão estava amarrotado de headbangers. Muitas caras novas e as já carimbadas de todos os eventos se fizeram presentes. É fácil acreditar que a produtora do Agosto Negro fazem parte da vida de muitos que estavam presentes, não por menos, foi em um evento deles que O SubSolo nasceu e nos sentimos em casa sempre que há eventos.

Uma vida longa ao Laguna Metal Fest, esperamos ansiosos pela décima primeira edição!

Especialista em cybersegurança, acordeonista e tecladista. Fotógrafo e redator no Virus Rock, Opus Creat e O SubSolo. Não limitado a um subgênero do metal, tem como preferências: folk metal, doom, sinfônico, death, black metal e heavy metal. Gaúcho de coração, valoriza a cultura tradicionalista gaudéria, a qual inspira suas composições nas bandas em que toca. Interesses globais: Música, ciência, tecnologia, história, carteado e pão de alho.