Cheguei no Mister Rock cedo, já com aquele friozinho de expectativa no ar, energia pesada, cartazes, camisetas pretas, fumaceiro leve, aquele cheiro de couro e cerveja misturados no ar abafado. Tinha fila, tinha abraço, tinha papo de quem não via há muito tempo, o metal une mesmo, não tem jeito.
Quando o Nidhogg começou, eu ainda estava meio atento, meio acordado no sentido de “vamos ver o que essa abertura vai entregar pra aquecer o que vinha pela frente”. E entregou. A banda (projeto polonês solo ampliado) veio com uma pegada de Black Metal cru, sujo, mas técnico, aquela combinação de riffs gelados, vocais soturnos, coisa ritualística, mas não enfadonha. O entrosamento não é de show subterrâneo amador, dão conta do recado com presença. O líder sai do personagem, interage, dá uns sorrisos tortos, parece que sente o peso da noite. Ali já se via: esse foi o tipo de show que quem veio queria.
Depois rolou Deicide, pra mim, momento-chave. Eles não vieram pra brincar. A entrada já veio cortante, brutal. Se Behemoth é teatrão, luzes, símbolos, ritual, Deicide é mais crueza, visceralidade, aquela agressividade sonora que te pega no estômago. Os clássicos matavam: riffs rápidos, solos cortantes, bateria explodindo. E o público? Eu, pessoalmente, senti uma gratidão visceral, de ver veteranos que já fizeram tanto, ainda em plena forma pra bater o metal no peito. Tive momentos que queria gritar junto, pular junto, deixar tudo voar. Alguns problemas técnicos aqui e ali, umas distorções menos claras, voz que sumia um pouco, mas nada que quebrasse o encanto. Era Deicide, e o que eles fazem de melhor: pegar quem tá de pé.
Então veio Behemoth. Rapaz, Behemoth é outro patamar, show que mistura música, imagem, misticismo, espetáculo. Quando aquele palco escuro se acendeu, com fogos, luzes vermelhas, projeções, o peso das novas músicas de The Shit Ov God se misturou à nostalgia dos clássicos. Vi rosto de pessoas emocionadas nas primeiras fileiras, fitas rolando no pulso, mãos abertas. Nergal comandava como quem professa algo antigo, mas vive no agora, respeitado, quase sacro. As transições entre música nova e old school fizeram o público viajar: um momento você tá absorvendo algo que nunca ouviu ao vivo, logo em seguida algo que te marcou há décadas.
Musicalmente, pra mim, foi impecável: a guitarra cortante, o baixo pesado como trovão, a bateria quase frenética, tudo isso embalado numa mix de som que dava pra sentir no corpo. A iluminação, os efeitos visuais, tudo colaborou praquela sensação de que você não tava só num show, mas participando de um ritual sonoro. E o final? Não sei descrever direito, foi quase sublime, quando Behemoth solta as últimas notas, quando você sente que tudo valeu a pena: viagem de som, de alma.
Agradecimentos à Liberation e em especial ao Erick Tedesco pela parceria de sempre e pelo seu trabalho impecável de sempre.