Início Cobertura de Eventos Cobertura: Night of Steel (São Paulo/SP)

Cobertura: Night of Steel (São Paulo/SP)

Os finais de semana estão cada vez mais lotados de eventos e apresentações vindas de todos os cantos do mundo. A cena nunca antes esteve tão em alta, com várias opções de rolês e shows para satisfazer cada subgênero do rock e metal. Mas se engana quem pensa que o foco e a atenção do público estão somente voltados ao exterior, com uma cena nacional extremamente ativa, seja ela em um caráter mais mainstream ou underground.

A qualidade daquilo que é produzido internamente não deixa a desejar em comparação a ninguém, e um bom exemplo disso se deu na última noite do dia 29 de março no Night of Steel: evento organizado pela própria cena que trouxe quatro bandas de diferentes momentos de carreira para celebrar uma noite com muito metal, velocidade e bate-cabeça.

Tomando o Hangar 110 como local dessa viagem no tempo para as raízes do metal dos anos 80, ainda com uma casa tímida em público, tivemos a abertura do Sacrifix, banda de Thrash paulista formada em 2019 que vem ativamente produzindo um material de qualidade e totalmente alinhado com a essência do Thrash metal da velha guarda: aquele soco no peito rápido, caótico e sem enrolação.

Créditos: Pedro Delgado

Baixo marcante, guitarras velozes e que a cada batida do bumbo pareciam aumentar a velocidade, somados a uma voz mais grave (mas que transita ao agudo em alguns momentos), agressiva e que parece sair queimando do fundo da alma – o Sacrifix parece beber bastante de águas como as do Destruction, com ritmos marcantes que te fisgam rápido e refrões que grudam na cabeça.

Com um set curto, mas que certamente deixou sua marca, a banda trouxe uma leva de seus principais títulos, como o autointitulado Sacrifix, March to Kill, Trash Again e o single responsável pelas belas bandeirolas da banda, Let’s Trash. Com Filipe Tonini no baixo, Fábio Moisés na bateria, Diego Domingos na guitarra e Frank Gasparotto nos vocais e guitarra – este último tendo uma breve passagem pelo Anthares, outra lenda do Thrash metal nacional –, foi motivo mais que o bastante para a banda ainda performar No Limite da Força como uma homenagem aos titãs do aço brasileiro, causando um ótimo impacto para aqueles não familiarizados com seu trabalho e dando um ótimo gosto do que ainda estaria por vir.

Créditos: Pedro Delgado

Na sequência, tivemos a apresentação de lançamento do álbum autointitulado da banda Blades of Steel, única representante do heavy metal da noite, que, na forma de Yara Hagg – a nossa Red Sonja brasileira que, brandindo sua espada, apesar de sua imagem delicada, mostrou toda a força e potência vocal –, incendiando a casa em uma apresentação chamativa e cativante.

Créditos: Pedro Delgado

E não é só a presença da vocalista que rendeu as atenções, com linhas de guitarras expressivas– assim como as cores das guitarras de Rafael Romanelli e Jonas Soares, cheias de vida –, acompanhadas das linhas e rápidas dedilhadas de Filippe Tonini no baixo que, ritmadas pelas batidas de Bruno Carbonato, deixaram sua marca através de faixas como Into the War, Vengeance Is Mine e Blades of Steel (sim, aquela tríade autointitulada de respeito).

Trazendo uma energia lá em cima, com direito a peças de cota de malha, espada e um som metalizado que te leva ao medieval, o som da Blades of Steel não fica apoiado em cenografia – com esses itens elevando uma performance que conta com bastante substância sonora. Qualidade de uma banda que, mesmo estando chegando agora, já começa a cativar e construir uma base sólida de apoiadores que aguardam ansiosamente pelas guerras e histórias que a banda ainda os levará.

Créditos: Pedro Delgado

Na sequência, retornamos à velocidade e pancadaria do bom e velho Thrash metal, com a comemoração de 20 anos do Leather Faces, banda que, como o nome já indica, entrava ao som de cenas do Massacre da Serra Elétrica, com muita atitude e peso. Após uma pequena falha logo na primeira música, recomeçaram o show justamente porque aquele momento seria um de comemoração do começo ao fim.

Power trio formado por Diego Armando no baixo, Rafael Romanello nos vocais e guitarra – fazendo uma jornada dupla – e Jack na bateria, eles entregaram intensidade do começo ao fim, no que foi também o maior pico de endorfina do público, que inaugurou com vontade as rodas da noite, cerceando e girando entre jovens, adultos, homens e mulheres.

Créditos: Pedro Delgado

Tocando faixas como seu autointitulado Leatherfaces, Stand Up and Rise, Satan Is Coming e The Eye of the Wizard, a banda não poupou esforços para impressionar os presentes através de toda a pancadaria proporcionada – fosse na intensidade dos riffs e voz de Rafael, nas linhas de baixo aparentes e marcantes de Giovanni, ou nas porradas sequenciais de Cave na bateria –, invocando toda a energia guardada até então pelo público do Hangar, que passou a manifestar o espírito de uma festa Thrash na noite.

A banda convidou ainda Victor Rodrigues, da Native Blood, para a saideira com Black Metal, finalizando com excelência sua participação naquela noite festiva que ainda estava longe de acabar. E isso porque restava ainda uma última banda aniversariante a subir no palco, para sua também comemoração de 20 anos.

Créditos: Pedro Delgado

Falo do Selvageria, outro expoente nacional do bate-cabeça agressivo que, também atuando como um power trio, subiu aos palcos com os gritos da galera ao fundo, que aguardavam ansiosamente para assoprar as velinhas. Com César Capi nas guitarras, Tomás Toloza no baixo e Danilo Toloza na bateria e vocal, a dinâmica do Selvageria no palco não é outra senão selvagem. Isso porque, com muita atitude – seja nas linhas de harmonia e nas poses entregues por César e Tomás –, certamente o grande diferencial se dá na forma de Danilo, manejando tão habilmente a velocidade da bateria entre as batidas do bumbo e o controle vocal em músicas cantadas em português, cheias de ritmo, que grudam na cabeça, quando este não mandava um de seus agudos, onde o público logo o acompanhava.

Tudo sobre a banda grita o clássico Thrash oitentista. Da roupa ao som, as letras que, em nossa língua materna, ganham um charme – como em Na Lâmina da Foice, Cinzas da Inquisição, Trovão de Aço ou Garra Selvagem –, fomos levados a uma intensa apresentação que remonta ao legado da banda e sua trajetória, ao som do melhor que o Thrash pode oferecer.

Créditos: Pedro Delgado

O público, por sua vez, igualmente parecia não mostrar sinais de cansaço, continuamente girando e batendo cabeça na mesma intensidade desde o Leather Faces, entre “hey, hey, hey’s” e chifres no ar. Muitos ali cantavam a plenos pulmões, mostrando todo o carinho e suporte pelos aniversariantes.

E que aniversário! Com direito até a stage diving do público em Hino do Mal, a noite, que fechava com uma chave selvagem de aço, vinha não só para se provar um sucesso, mas também para mostrar o apoio à cena em uma noite onde rolavam shows internacionais a torto e a direito por São Paulo.

Créditos: Pedro Delgado

Com nomes como o Selvageria e o Leather Faces, que resistem às areias do tempo em um país em que a realidade da cena independente é bem real e cruel, poder celebrar momentos como este ao lado de outras bandas que estão construindo sua história se faz como um significativo e memorável momento que se tomou na forma do Night of Steel.

SETLIST SACRIFIX
.Intro
.Sacrifix
.Raped Democracy
.March to Kill
.Trash Again
.Let’s Trash
.No Limite da Força (Cover Anthares)

SETLIST BLADES OF STEEL
.Intro
.Ruler of the Waves
.Into the War
.Vengeance is Mine
. Unholly Scrolls
.Shadow Huntress
.Blades of Steel

SETLIST LEATHER FACES
.Intro
.Leatherfaces
.Death of Dreams
.Stand Up and Rise
.Slaves of the Lost Time
.Without Hope
. Satan is Coming
.The Eye of the Wizard
.Intro Desert Plains
.Black Metal (Com Victor Rodrigues)

SETLIST SELVAGERIA
.Metal invasor
.Selvageria
.A Maldição
.Na Lâmina da Foice
.Cinzas da Inquisição
.Águias Assassinas
.Trovão de Aço
.Garra do Cão
.Ataque Selvagem
.Legião Invencível
.Hino do Mal