No décimo primeiro dia do segundo mês de 2025, finalmente, Curitiba foi escolhida para receber a visita de um dos grandes nomes do Black Metal mundial novamente. Apesar de ter uma presença quase cativa no Brasil, fazia 20 anos que os gregos do Rotting Christ não se apresentavam na terra dos Pinheirais. E para uma visita tão esperada não poderia haver outro local escolhido senão o aclamado Tork’n’Roll. Acredito que por ser uma terça-feira de temperatura recorde na capital paranaense, o público foi chegando aos poucos, após o sol já ter se posto, dando lugar a uma noite perfeita para tomar algo gelado e cultuar uma boa heresia.
Com o horário da abertura dos portões marcado para as 19h, o público foi chegando aos poucos, adentrando o recinto com calma e sem filas ou tumultos, o que ocasionou também uma grande chance para quem é fã de ficar na grade, uma boa oportunidade para escolher o lugar que mais lhe agrada, uma vez que o destino da maioria que entrava era o grande balcão circular do bar que separa a pista e a espaçosa praça de alimentação da casa. Com a refrigeração em sua potência máxima e cerveja extremamente gelada, foi fácil esquecer o calor infernal que estava lá fora, pelo menos por uns minutos… No palco, viam-se púlpitos com livros que pareciam bíblias e bandeiras com símbolos associados a cultos pagãos, visão que anunciava que a noite seria exatamente isso, uma noite de grande blasfêmia.
Torchs of Nero
Pontualmente às 19h30, subiram ao palco três figuras peculiarmente caracterizadas, com vestes que lembram executores da Idade Média, ou ainda cultistas de missa obscura, seguindo a estética dos já citados adornos vistos no palco. Era a ótima banda Torchs of Nero, fundada no Rio Grande do Sul em 2021 e na ativa desde então com a mesma formação. Demonstraram logo nos primeiros acordes o porquê de terem sido escolhidos para abrir os trabalhos para a banda grega. Elogiada pelo próprio Sakis Tolis pelo EP intitulado MOKK de 2023, a banda que busca em sua essência honrar o Metal Extremo dos anos 80 e início dos 90, de mestres como Venom, Hellhammer e Celtic Frost, faz isso com louvor. Com um setlist curto, o trio executou algumas músicas que ainda não estão presentes na discografia da banda, destaque para a excelente Hosana Iscariot, tocada após a promessa de um álbum gravado ainda este ano.
Formação:
Antimater (Bateria)
Baal Seth Penitent (Vocais e Guitarra)
Blackpest (Baixo)
Setlist:
- Intro
- Hate Mokking Abrahamaggedon
- The Key of Denial
- Kleronomia Kai Skotos
- Hosana Iscariot
- HVHY
Rotting Christ
Após um rápido intervalo, e exatamente no horário marcado, subiu ao palco o Rotting Christ, liderado por Sakis Tolis (voz e guitarra) e seu irmão Themis Tolis (bateria). Atualmente contam com o apoio dos carismáticos Kostis Foukarakis (guitarra) e Kostas Heliotis (baixo). A música escolhida para abrir a apresentação foi Aealo, faixa que também abre o álbum de mesmo nome lançado em 2010. Apesar de a turnê se chamar Pro Xristou Over Brazil, em alusão ao último álbum lançado pelos gregos em 2024, o setlist foi extremamente variado, tendo apenas 2 músicas deste último trabalho, Pretty World, Pretty Dies e a empolgante Like Father Like Son, que foi cantada a plenos pulmões pelos fãs presentes em grande número, porém não o suficiente para encher a casa, de forma que estava razoavelmente fácil transitar entre as pessoas e até possível descolar um cantinho apertado na grade para os mais descarados.
E por falar em empolgação, destaque para o carisma apresentado por todos os integrantes, que o tempo todo incentivaram a participação do público, ora puxando o coro de um refrão, ora pedindo para que uma roda de mosh se formasse e até puxando palmas ao ar, diferente do que se espera de um show de Black Metal, onde o clima é mais soturno e melancólico. Ali a atmosfera era mais parecida com o de uma horda de guerreiros das profundezas se preparando para destruir um mosteiro católico e sua hipocrisia cristã.
Apesar de ter ouvido críticas de alguns fãs mais fervorosos a esta pegada mais energética do recente trabalho da banda, acredito que a versatilidade sem se apegar a rótulos ou estéticas é o que mantém a banda figurando entre os maiores nomes do Metal Extremo desde os primeiros trabalhos. E com um anúncio do vocalista, a segunda parte do show foi exatamente para esses fãs dos trabalhos mais antigos da banda, com sucessos como The Sign of Evil Existence, King of Stellar War, Grandis Spiritus Diavolos e a aclamada Non Servian, que também intitula o livro biográfico da banda que foi distribuído para os sortudos que compraram uma versão promocional do ingresso. Sortudos estes que, após a execução do encore com Noctis Era, e um rápido agradecimento da banda e o tradicional lançamento de palhetas e baquetas, formaram uma fila ao lado do palco esperando uma oportunidade de ter seu exemplar assinado por todos os integrantes, uma vez que a banda se dispôs a esse encontro em todos os shows por essa passagem pelo Brasil.
Mas nesse encontro sim faltou um pouco de paciência de alguns membros da banda, o que também é completamente entendível, uma vez que o número de shows na turnê deixaria o tempo entre as apresentações bem escasso, e a quantidade de itens que alguns fãs trouxeram para serem assinados deve tê-los surpreendido. Eu mesmo contei pelo menos 3 pessoas com os encartes de toda a discografia da banda, um grande número de livros também foi notado. Infelizmente ainda estou em busca da minha cópia, pois os exemplares disponíveis durante os shows eram apenas para quem havia comprado o ingresso promocional, e não sobrou nenhum ao fim do evento, sold out total.
Ao fim, na noite de 11 de fevereiro, formos agraciados com o carisma e competência das bandas, a noite em Curitiba foi um verdadeiro presente para os fãs do Black Metal. O evento reforçou a conexão entre os artistas e seu público, mostrando que, mesmo após duas décadas, a paixão pela banda continua viva e vibrante. O encontro com Rotting Christ e Torchs of Nero foi mais do que um simples show; foi uma celebração do Metal Extremo e de sua capacidade de unir almas dedicadas a essa forma de expressão musical. Saímos do Tork’n’Roll não apenas com a alma renovada pelo som, mas também com a certeza de que o espírito do Black Metal seguirá ressoando fortemente em Curitiba e em todo o Brasil.
Setlist Rotting Christ:
- Aealo
- Pretty World, Pretty Dies
- Demonon Vrosis
- Kata Ton Daimona Eaytoy
- Like Father, Like Son
- Elthe Kyrie
- King of a Stellar War
- The Sign of Evil Existence
- Non Serviam
- Societas Satanas (Thou Art Lord cover)
- In Yumen-Xibalba
- Grandis Spiritus Diavolos
- The Raven
- Encore:
- Noctis Era