No dia 22 de abril de 2025, a Finlândia recebeu a turnê Unholy Trinity dos gigantes poloneses do Behemoth, com a participação dos gregos do Rotting Christ e da lenda norueguesa Satyricon. A equipe do Subsolo esteve presente para prestigiar essa grande noite de culto ao Black Metal, organizada pela produtora All Things Live.
Rotting Christ | Black Metal | Grécia
Mais uma vez, visitamos o Ringue de Gelo de Helsinki (Helsingin Jäähalli), palco de grandes eventos de rock e metal. A banda que abriu a noite de puro Black Metal foi o Rotting Christ, banda grega que se destaca por fazer um som de qualidade, além de ser uma das primeiras do gênero na região dos Bálcãs. Fundada em 1984 sob o nome de Black Church, a banda inicialmente tinha um som próximo ao grindcore. O nome foi alterado para Rotting Christ em 1987, e foi somente em 1989, com o lançamento da demo intitulada Satanas Tedeum, que a sonoridade da banda se aproximou do Black Metal.
A energia da banda no palco era contagiante, e foi claramente o momento em que o público mais pulou e fez headbanging. O vocalista Sakis Tolis interagia frequentemente com os presentes, incentivando-os a participar ativamente no coro de “hail” em apoio à banda. O setlist foi curto, com apenas 9 canções, incluindo Societas Satanas, cover da banda grega de Black Metal Thou Art Lord, além da clássica 666.
Setlist:
666
P’unchaw Kachun – Tuta Kachun
Fire, God and Fear
Kata Ton Daimona Eaytoy
Like Father, Like Son
Elthe Kyrie
Non Serviam
Societas Satanas (cover de Thou Art Lord)
Grandis Spiritus Diavolos
Fotos: Michelle Koukkula
Fotos: Michelle Koukkula
Satyricon | Black Metal | Noruega
Após um breve intervalo, subiu ao palco a lenda norueguesa Satyricon, que, na minha opinião, foi o verdadeiro headliner da noite. Uma multidão se aproximou para ver os reis do Black Metal norueguês, que, como sempre, não decepcionaram. O show foi repleto de tudo o que o Black Metal tem de melhor: o mais puro Black Metal! Sem grandes encenações ou performances dramáticas, o Satyricon entregou uma apresentação de altíssima qualidade, com um setlist que, na minha opinião, foi um dos melhores que já montaram.
A empolgação do público era palpável, enquanto Satyr mostrava seu poder vocal e distribuía palavras sempre interessantes. Em um dos momentos, ele agradeceu o engajamento do público, lembrando que o melhor fã é aquele que participa e interage, e não aquele “truezao mala” que fica parado, olhando para a banda sem mover um músculo, com aquela atitude de “me entretenha”. Achei incrível quando ele comentou isso, pois sempre fui julgada em shows de metal extremo por “sentir demais” as músicas, enquanto o “certo” parecia ser ficar parada, com cara de malvada, sem sequer balançar minimamente a cabeca.
Frost deu seu toque técnico, sem deixar de lado a típica atmosfera macabra e bela de suas intensas performances. O cara parecia uma máquina e fez com que até os mais “true” presentes, que estavam relutantes em banguear, ao menos batessem o pé no ritmo da música. Outro momento memorável da apresentação foi quando a clássica Mother North foi tocada, sendo considerada por muitos um hino do Black Metal norueguês. O coro do público, de todo o estádio, foi algo inesquecível, o que fez a banda entregar uma apresentação ainda mais incrível. Que show, meus amigos, que show!
Setlist:
Now, Diabolical
Our World, It Rumbles Tonight
Black Crow on a Tombstone
To Your Brethren in the Dark
Nemesis Divina
The Pentagram Burns
To the Mountains
Fuel for Hatred
Mother North
K.I.N.G.
Fotos: Michelle Koukkula
Behemoth | Black Metal | Polônia
Logo após a apresentação dos noruegueses, foi a vez de o headliner da noite, Behemoth, subir ao palco. Algo que chamou a atenção foi, sem dúvida, o quanto o local “esvaziou” após a apresentação do Satyricon. Era nítido que muitas pessoas haviam deixado a pista, o que não é comum na Finlândia, onde a pista normalmente se esvazia nos intervalos, já que quase todos correm para o bar para comprar mais cerveja e dar uma olhadinha no merch. Dessa vez, a galera foi e não voltou, ou ficou olhando de longe, da área do bar.
Quando o Behemoth iniciou o show, parecia que estávamos assistindo a uma missa satânica começar. Muitos efeitos visuais, maquiagem e efeitos pirotécnicos fizeram parte da apresentação. Não vou aqui ficar floreando e reforçando os pontos positivos (que foram poucos) da apresentação dos gigantes poloneses. Em alguns momentos, era claro que o som não era a prioridade da performance. Claro que Nergal, Orion, Inferno e Seth jamais deixariam de lado a técnica, mas com tanta coisa acontecendo no palco, era difícil se concentrar na qualidade musical. Em dado momento, Nergal perguntou quem ali havia nascido após 1993, e, para a surpresa da banda, a maioria levantou a mão. Era óbvio que a maior parte do público que estava na frente do palco era bem jovem. Sinceramente, não é surpresa nenhuma, considerando que o lançamento da banda pode ser traduzido livremente como “Nós somos a merd@ de Deus”, com estrofes que mais se parecem com o nível de profundidade de um adolescente metaleiro de 13 anos, profanadas e blasfemadas ao som de muito barulho.
O setlist foi longo, com 15 músicas que misturavam canções de álbuns recentes com faixas de 1993. Sinceramente, a apresentação do Behemoth foi bem decepcionante. Quando os vi em 2008, em São Paulo, o show foi um soco no estômago, com uma pegada de extremo e puro metal feito “na raça”, sem frescuras, porrada na orelha, mas com muita técnica, apesar das limitações de qualidade sonora do Hangar 110 na época. Este ano, a apresentação do Behemoth parecia mais uma peça teatral: muita pirotecnia, maquiagem, caras e bocas dignas de uma novela, efeitos visuais, Jesus Cristo de cabeça para baixo no palco, e Nergal com trocas de figurino mais intensas que as da Beyoncé.
Apesar da apresentação decepcionante, é sempre um evento ver bandas lendárias e ouvir um show de metal bem feito, mesmo que a memória que fique não seja das mais positivas.
Sem a menor dúvida, a melhor performance da noite foi a do Satyricon, que, junto com a apresentação incrível dos gregos do Rotting Christ e o espetáculo estilo Broadway do Behemoth, deixou pra sempre na memória dos fãs de Black Metal. Para encerrar, deixo aqui as palavras do próprio Nergal, com as quais concordo bastante: “O Black Metal está mais vivo do que nunca.”
Setlist:
The Shadow Elite
Ora Pro Nobis Lucifer
Demigod
The Shit ov God
Conquer All
Blow Your Trumpets Gabriel
Ov Fire and the Void
Lvciferaeon
Bartzabel
Solve
Wolves ov Siberia
Once Upon a Pale Horse
Christians to the Lions
Cursed Angel of Doom
Chant for Eschaton 2000
Encore:
O Father O Satan O Sun!
Fotos: Michelle Koukkula
Agradecemos à produtora All Things Live pelo credenciamento e pelo evento de sucesso.