O underground curitibano viveu uma noite memorável no Belvedere, reunindo bandas de diferentes origens e propostas em uma noite de peso, resistência e união em quatro atos. Entre o Black Metal Punk, o Hardcore mineiro, o Death Hardcore curitibano e toda a energia catártica da cena, o evento foi uma verdadeira demonstração da força que pulsa fora do mainstream.
Agradecimentos ao Matheus Jacques do Bruxa Verde Produções.
Visione Obscura | Black Metal Punk | Curitiba/PR
A noite começou com a Visione Obscura, duo que carrega a essência crua e direta do Black Metal Punk. Mesmo com apenas dois integrantes, a banda mostrou presença e impacto suficientes para conquistar o público já nos primeiros acordes.
A sonoridade agressiva e despojada, típica da fusão entre o Punk e o Black Metal, encontrou no espaço intimista da minha nova querida casa de shows, o terreno perfeito para ecoar sua intensidade. O som ríspido, aliado a uma performance intensa, aqueceu o terreno para uma catarse coletiva que viria em seguida, sustentando uma performance marcada pela simplicidade no formato, mas complexa em energia e entrega.
Como primeira atração da noite, a Visione Obscura não apenas aqueceu a plateia, mas estabeleceu o clima para servir de guia para o restante do evento. Um começo poderoso que reforça a importância das bandas independentes na cena underground e a força que um duo pode carregar quando entrega música com autenticidade e paixão.
Formação: Felipe Barbugiani (Voz, guitarra), Thiago Padilha (bateria)
Setlist: Monolito, Ritual da Pedra, Kvlto (A) Pedra, Espírito da Pedra, Kurupira, V.S.O.B, JÃO, Brazilian liver, Lobo da Estepe, Black Metal Punk.
Fotografia: Chris Alfredo.
Pachorra | Crossover/Punk/Hardcore | Florianópolis/SC
Se a noite já havia começado com a intensidade da Visione Obscura, a entrada da Pachorra elevou o clima a um novo patamar. Segundo a se apresentar no Belvedere, a banda trouxe não apenas música, mas também um discurso carregado de resistência, união e crítica social. A Pachorra se apresentou como a voz dos que costumam ser ignorados: os marginalizados, os que vivem nas ruas, os que a sociedade prefere fingir que não existem. Cada música era um chamado à união contra as opressões, reforçando a ideia de que “o coletivo é sempre mais forte que o individual”.
Durante a performance, os integrantes foram apresentados um a um, reforçando a identidade de cada peça desse organismo reativo e pulsante. No público, a resposta foi imediata: mosh acima de mosh, uma mistura de suor, euforia e entrega total.
Um dos pontos altos aconteceu quando o vocalista, caracterizado de palhaço, provocou: “Espero que aqui ninguém tenha medo de palhaço” e desceu do palco para se jogar na roda, dissolvendo barreiras entre banda e plateia. A Pachorra não fez apenas um show. Fez um ato de resistência, um espetáculo que vai além do som e deixa claro: no underground, a musica e a luta caminham lado a lado.
Formação: Pogo Fonseca (vocal), Lelo Molinos (guitarra), Marcelo Menna (baixo), Bernardo Coelho (bateria).
Fotografia: Chris Alfredo.
Uganga | Crossover | Triângulo Mineiro/MG
Por volta das 21h, o clima já era de efervescência no Belvedere quando Mateus, da Bruxa Verde Produções, subiu ao palco para dar um salve as bandas de abertura e anunciar com satisfação a entrada dos mestres do Hardcore: Uganga. Vindos diretamente do Triângulo Satânico Mineiro, a banda é um dos grupos mais expressivos e relevantes do Rock pesado brasileiro, carregando décadas de história e resistência na cena.
O Uganga mostrou porque segue sendo referência quando o assunto é peso, energia e autenticidade. Já de início, Manu fez questão de agradecer à produção da Bruxa Verde, fez menção a Pachorra, e apresentou ao público seu novo álbum: Ganeshu, já disponível em todas as plataformas. O vocalista também reforçou a importância de apoiar a banda através da merch, num discurso que refletia o verdadeiro espírito do underground.
Manu, em um gesto que simboliza a conexão visceral do Uganga com sua base, não se conteve: deixou o palco e mergulhou direto na roda, tornando a experiência ainda mais catártica.
A saideira veio em clima nostálgico, com uma faixa do primitivo Fronteiras da Tolerância, lembrando as raízes da banda e reafirmando sua trajetória como um marco do crossover brasileiro. Entre novos rostos que surgem e os velhos que resistem, a mensagem foi contundente: “Minas Gerais é Satanás, e o cheiro do underground continua vivo”.
Para coroar a noite, eu e o Chris tivemos a honra de receber das mãos do próprio Manu um cartaz da banda, gesto que selou ainda mais a conexão com essa lenda viva do underground nacional. O Uganga, em plena turnê do álbum: Ganeshu, reafirmou sua relevância histórica tanto como atual.
Formação: Manu Joker (voz), Vinícius Luz (guitarra), Igor Wallace (baixo), Joey Silva (bateria)
Setlist: A profecia, Retrovisor, Servus, Confesso, Tem Fogo!, O campo,Aos pés, Exu não passa pano, Nas entranhas, Fronteiras.
Fotografia: Chris Alfredo.
Suffer | Death/Hardcore | Curitiba/PR
Às 22h15, o encerramento da noite no Belvedere ficou a cargo da curitibana Suffer, trazendo todo o peso de seu Death Hardcore para fechar o evento em alto nível. Desde a primeira música, a banda deixou claro que sua mensagem carrega um tom humano e direto. O Suffer se destaca por abraçar uma vertente moderna do Death Metal, evocando nomes como Gatecreeper, Creeping Death e 200 Stab Wounds, mas com a intensidade Hardcore que marca sua identidade.
A combinação resultou em um espetáculo avassalador, onde a agressividade converge em uma mensagem de união e propósito. O público respondeu positivamente, alimentando um clima de entrega total até os últimos instantes da noite.
Como fechamento, a Suffer não apenas concluiu o evento: deixou uma marca de reflexão, mostrando que peso e humanidade podem caminhar juntos quando a música é feita com verdade. A banda deixou sua mensagem: “Tudo que começa tem o fim, e o amor é o melhor da vida. A gente tem que fazer o que ama e com quem ama”. O discurso sincero e humano, aliado à brutalidade sonora, conquistou a plateia, e com esse discurso, os músicos agradeceram a todos que compareceram e mostraram que sua proposta vai além da sonoridade extrema.
Formação: Tythuz (voz), Caetano Mitczuk (baixo), Giovani Cheron (guitarra) e Johan Wodzynski (bateria)
Fotografia: Chris Alfredo.
Com quatro apresentações intensas e complementares, a noite no Belvedere provou mais uma vez que o underground é resistência, união e verdade. Do Black Metal Punk ao Crossover mineiro do Uganga, passando pela fúria catarinense da Pachorra e o fechamento brutal do Suffer, ficou claro que a cena segue viva e pulsante.
Como disse Manu Joker em sua fala durante o show do Uganga, “O cheiro do underground” está mais forte do que nunca, e noites como essa são a prova de que, quando o coletivo se une, a chama jamais se apaga. Tem Fogo!