Gosto de separar os álbuns em atos, pelas coesões de temas, nesse álbum eu vejo o primeiro ato começando na faixa um (Autonomy Lost) e se encerrando na faixa seis (Entrapment). Esse ato tem uma coesão instrumental bem forte, com faixas curtas que se emendam uma na outra, num ritmo quase robótico, a segunda guitarra faz passagens estranhas no fundo, semelhantes a um zumbido, vejo esses elementos em conjunção com a letra como se fosse uma pessoa enlouquecendo no dia a dia, não é especificada a causa, mas pela grande semelhança a sons mecânicos na prograssão do álbum, parece ser algo que envolve uma rotina enlouquecedora, que causa desassociação à realidade nesse personagem, a própria existência passa a se tornar uma dor. Nesse ato o personagem tenta confrontar essa dor e se vê num estado pior do que o inicial, entrando na loucura por ter confrontado ela, como a própria letra cita: “The struggle to free myself of restraints, becomes my very shackles” ou “A luta pra me livrar das prisões, torna-se minha própria algema” (Faixa três, Disenchantment).
O Segundo ato, que vai da faixa 7 (Mind’s Mirrors) à faixa 10 (Shed) trata de temas ainda mais abstratos que o primeiro. É iniciado com um poema citado por uma voz robótica que expressa o paradoxo causado por termos várias partes da nossa personalidade no nosso subconsciente que influenciam uma a outra, num ciclo eterno de mudança e absorção, misturando o conceito da Ouroboros com as teorias de Freud e Jung, inclusive o poema cita indiretamente os conceitos de Sombra e Superego. O ato avança com mudanças bruscas na questão instrumental, com interlúdios tensos dominados por silêncio, o que em combinação com as letras, parece representar o conceito de Morte do ego, que na psicanalise representa a perca total de identidade própria e de individualismo, esse processo culmina em Shed (Faixa 10), cujo título é a palavra em inglês para a troca de pele das cobras, o “eu interior” substituindo o “eu exterior”.
O terceiro ato é um tanto mais difícil de analisar, pois o álbum chega num nível de abstração muito mais alto, representando o enlouquecimento, ou talvez iluminação do personagem, que a esse ponto tem pensamentos totalmente contraditórios e abstratos, grande parte desse ato é tomado por gritos, músicas com tempos que deixam o ouvinte totalmente desorientado, mas ao mesmo tempo dão conclusão as progressões do álbum, alguns elementos sonoros do primeiro ato voltam, mas reinterpretados de uma forma que reflete o dano na mente caótica do personagem, no final da última faixa o álbum adquire uma beleza extremamente desconfortável, as guitarras extremamente graves ficam presas num novo ciclo que vai ficando cada vez mais harmônico, em contraste com o padrão dissonante do álbum, mas os gritos de horror no fundo nos transmitem a ideia de que o ciclo não acabou, não há como explicar o paradoxo.
Definitivamente Catch Thirtythree não é um álbum que vai agradar os ouvidos de todos, mas aos que se aventurarem, o álbum é bem serivido quando ouvido com atenção do início ao fim em sequência e com o mínimo de interrupções, de preferência num aparelho que acentue seus graves perturbadores, mas mesmo aos que não se apetecerem pelo som, acredito que o conceito do álbum é de genialidade observável, e suas raízes profundas na psicanálise podem chamar atenção aos entusiastas do assunto, tenha em vista que as análises desse álbum são as interpretações do autor, cada um é livre pra ter sua própria interpretação, principalmente num trabalho tão abstrato.
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