O Eminence voltou a São Paulo com um show matador no SESC Belenzinho. Todos nós sabemos que o chamado “metal moderno” nunca emplacou muito por aqui em terras tupiniquins, com o nosso público sempre preferindo os sons mais “dinossáuricos” do Heavy Metal clássico, Hard/Glam, com essa preferência transparecendo até nas vertentes mais extremas, evidente pelo tanto de banda de qualidade que temos de Thrash Old School, Black Metal de primeira onda, coisas do tipo. Isso fez com que apesar da diversidade gigantesca da cena nacional, bandas com um som mais voltado ao Nu Metal, Metalcore e até ao industrial não aparecessem com tanta frequência, mas poucas, como os mineiros do Eminence vem quebrando esse padrão há 30 anos. Seu último lançamento foi o brilhante Dark Echoes em 2023, e agora, já preparando seu próximo álbum, trouxeram exatamente essa turnê para a comedoria do SESC Belenzinho.

Sexta-feira à noite, em São Paulo, fazia um frio diferenciado até para o padrão da terra da garoa – o que, convenhamos, foi um alívio para os metaleiros que usam preto dos pés à cabeça, já que em dias de quase 40 graus vivem um inferno particular. Chegando à ampla comedoria do SESC, com capacidade para umas 600 cabeças, já dava pra ver um grande palco montado no fundo, de frente pra entrada, algumas mesas dispersas e um vão livre considerável entre tudo isso – a pista. Com o relógio cada vez mais próximo das 20:30, horário marcado do show, o público ainda não era dos maiores. Mesmo assim, os caras subiram no palco, e o estalar das baquetas que dá início à Burn it Again tomou conta do PA. Em seguida, baixo e bateria entraram sincronizados, e o vocalista Bruno Paraguay soltou um grito absurdo que já deixou toda e qualquer pessoa presente grudada no palco.

O que veio logo depois foi uma sequência absurda de faixas do The God of All Mistakes (2008), começando pela própria faixa-título – agressividade pura, cortada por uma ponte com cheirinho de nu metal e um refrão limpa que lembra bastante o Fear Factory, claramente uma grande inspiração deles. Written in Dust manteve os riffs groovados no centro, e vale mencionar o trabalho de bateria do Alexandre Oliveira, equilíbrio perfeito entre técnica e porrada pura, enquanto Enemy Inside ia mais para o lado extremo, riffs buzzsaw, bumbo duplo vertiginoso, já sabemos bem o que esperar. O público não era dos maiores, então não rolou aquele mosh violento típico, mas um fã em particular parecia estar possuído no meio da pista, girando capoeira como se fosse o Eddy Gordo reencarnado – completamente sozinho – ninguém precisa de companhia para abrir uma roda.
Antes de continuar, o vocalista deu aquela força para o público, dizendo que é sempre “do caralho, foda” tocar em São Paulo, porque se sentem em casa. Reconheceu algumas caras conhecidas e anunciou que focariam mais em material recente a partir dali, começando com B.Y.O.G. (justamente do último disco, Dark Echoes), que acabou atrasando um pouco por conta de uns problemas técnicos com o baixo do Davidson Mainart. Enquanto isso, Bruno segurou as pontas com algumas piadinhas, trocando ideia com o público. O baixo voltou e voltou com força: Inner Suffering já chega com o pé na porta com uma intro absurda. A calmaria inicial é só pra te iludir, porque quando os riffs do Allan entram, é a mesma sensação de ser atropelado por um trem da CPTM.

Algumas faixas do último disco deixaram os famigerados “tiozões” com uma coceira absurda, como foi o caso da Dark Echoes, que não esconde por nem um segundo seu posicionamento político, e o Bruno falou exatamente disso antes de tocar a música: “Muita gente LGBTQIA+, muita gente preta sai da nossa cena porque não se sente representada, mas a gente não pode largar a bola. A gente não pode dar conforto pra quem é contra vocês.” Além da mensagem, a faixa ainda conta com participação do lendário Bjorn Strid, vocalista sueco que de acordo com a banda se perdeu na estação da Sé na hora da baldeação e não conseguiu chegar a tempo de participar do show.
Seguiram com The Vanishing, deixando tudo pronto para a hora de para soltar os cachorros com The Hologram, que contou com um latido tão agressivo do vocalista que deve ter atiçado todos os pitbulls num raio de 3km, e muito provavelmente deixou o Bryan Garris (Knocked Loose) morrendo de inveja. Depois, uma dobradinha de 145 (que, honestamente, não achei em nenhuma plataforma de streaming, pode ser inédita ou eu que sou ruim de busca mesmo) e Obey, faixa que abre o subestimadíssimo EP Minds Apart (2018).

Para continuar com a energia lá em cima, a banda decidiu fazer uma viagem no tempo, puxando do fundo do baú a clássica Humanology, única representante do disco homônimo – claramente o ponto alto da noite para uma galera mais das antigas. Quando parecia que o show ia começar a desacelerar (até porque já tinha passado mais de uma hora de puro caos), Devil’s Boulevard veio com tudo, dando aquele gás final na plateia e permitindo ao fã dançarino solo, o querido beyblade humano, mais uma chance de abrir a roda antes das luzes baixarem.
Com a banda só levemente afastada pra acertar as afinações antes do bis, a instrumental N3Mbers (sim, com 3 mesmo, não, não é no E) ecoou pelo sistema de PA, dando espaço para a explosiva Wake Up the Blind, faixa que te faz pular com os riffs e querer derrubar um governo com as letras. Unfold foi daquelas para ter certeza que não tinha uma alma parada naquele SESC, no segundo refrão, Bruno avistou Alessandro Bob (vocalista, Kill4Nothing) na plateia e desceu do palco para entregar o microfone pra ele, simplesmente uma dupla com duas das melhores vozes do nu metal nacional.

Depois de 1h15 de pedradas, o encerramento veio com a Day 7, fechando a apresentação de forma impecável. Qualquer um que já viu show de banda nacional entende rápido por que tantos artistas se apaixonam pela região. Mesmo numa sexta gelada, em um mês saturado de shows gringos gigantescos, o espírito inquebrável do metal prevaleceu, levando centenas de camisas pretas até a comedoria do SESC para ver quatro caras de outro estado destruírem tudo com um som de peso. Eminence no SESC Belenzinho provou mais uma vez porque é uma das maiores bandas do metal nacional, acompanhe mais da banda em seu Instagram Oficial.
Fotos: Ana Dall’Ovo
Setlist:
- Burn it Again
- The God of all Mistakes
- Written in Dust
- Enemy Inside
- B.Y.O.G.
- Inner Suffering
- Dark Echoes
- The Vanishing
- The Hologram
- 145
- Obey
- Humanology
- Devil’s Boulevard
- N3mbers*
- Wake Up the Blind
- Unfold
- Day 7
* – pelo PA