De malas praticamente prontas para a nova turnê europeia (veja mais aqui) o querido André Nadler arrumou um tempinho e nos concedeu uma baita entrevista, onde ele fala acerca do sucesso do Jackdevil, das dificuldades que já passaram e da alegria e satisfação dos caras em fazer aquele bom e velho Thrash Metal. Saca só:

Primeiramente, O SubSolo gostaria de agradecer pelo tempo cedido e lhe dizer que é uma satisfação entrar em contato contigo hoje. Para começarmos, gostaria que me respondesse uma dúvida pessoal: de onde surgiu o nome da banda? Por que Jackdevil?
André Nadler: O termo JACKDEVIL acaba sendo associado ao Jack Daniel’s por muita gente, mas na verdade a proximidade do nome vem para a literatura brasileira. Numa tradução singela para o português teríamos “Zeca Diabo” como resultado, que é um personagem criado pelo escritor Dias Gomes, em 1942, para uma peça teatral de mesmo nome. Era um cangaceiro, matador temido pelo povo de Sucupira e ficou eternizado na novela “O Bem Amado”. A referência com o cangaço e nossa essência nordestina é a principal associação da figura com o nome da banda. 
A literatura e o cinema, principalmente no ambiente do terror, é nossa matéria-prima na construção das letras e nada melhor do que ter um nome associado ao nicho para representar o que somos; verdadeiros cangaceiros musicais saindo do Nordeste para onde mais pudermos alcançar. (risos)

O Jackdevil é uma banda relativamente nova e já tem seu nome reconhecido dentro do metal nacional. Pra você, qual o segredo desse sucesso estrondoso?
André Nadler: Este ano iremos completar seis anos desde que decidimos levar o JACKDEVIL adiante e para o mercado da música pop e mais midiática, por exemplo, acredito que uma banda com essa idade já daria tempo até de fazer sucesso e sumir dos holofotes, mas para uma banda se afirmar como uma realidade no metal nacional é necessário ter estrada e tempo de carreira para se desfrutar de algum reconhecimento. Trabalho árduo, encarando nossos principais medos e dificuldades de frente; acho que foi o ponto alto do nosso grupo até aqui. 
Quando você se envolve com a vida musical dentro da música pesada aqui no Brasil já precisa estar disposto a reconhecer a derrota como aliada. Afinal de contas, nesta estrada você perde tanto que quando vai ganhar, já não faz mais nem tanta diferença, sabe? É como o Rocky Balboa dizia: “… Não se trata de quão forte pode bater, se trata de quão forte pode ser atingido e continuar seguindo em frente. É assim que a vitória é conquistada.” Em resumo, o segredo é até onde o seu amor pelo metal pode te levar sem desistir.

Para muitos fãs, vocês são tidos como “o novo Sepultura”. Como é lidar com tal reconhecimento e tamanha responsabilidade?
André Nadler: O começo do Sepultura nos inspira demais, tanto com sua música quanto com sua história. Não deixa de ser uma responsabilidade enorme ter o nome de uma das maiores bandas de Thrash Metal do país atrelada ao nosso trabalho, mas não há como negar que existe um orgulho enorme também.

O Jackdevil tem como forte característica o estilo tradicional de se fazer thrash metal. Por quê?
André Nadler: Temos uma veia de influência muito forte do New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM) e tentamos somar essa paixão pelo metal tradicional inglês ao Thrash Metal de bandas que também serviram de inspiração para criarmos o JACKDEVIL como o Slayer, Metallica e Sepultura. Acredito que essa mistura resultou nessa pegada mais “tradicional” que a banda desenvolve. 

Como é a cena no nordeste? Quais as maiores dificuldades que o Jackdevil encontrou até hoje dentro do metal?
André Nadler: A distância de uma cidade para a outra é um inimigo desleal no Nordeste, um dos principais problemas que dificultam o fortalecimento de um circuito mais consistente. Outro problema seria uma quantidade relevante de desunião e inveja disseminada por diversos formadores de opinião que atuam no meio, isso dificulta que o trabalho de muita gente persevere, entende? As conquistas de um produtor ou banda mais parecem incomodar do que encher seus conterrâneos de orgulho, mas também imagino que esse mesmo problema ocorra em diversos outros lugares, que não seja algo restrito da nossa região.
Já enfrentamos várias dificuldades e momentos críticos desde 2011 até o atual momento. Hoje as coisas estão mais tranquilas, nosso trabalho mais sólido e um dos nossos principais objetivos se torna cada vez mais real: servir de inspiração para outros grupos que venham após o JACKDEVIL. Falando por mim, penso em desistir todo dia, cada vez que surge uma adversidade que não sei como solucionar, mas minha dedicação e paixão pelo projeto me mantem firme. Produtores já roubaram cachês da gente, uma companhia aérea já quebrou uma guitarra da banda durante a turnê na América Latina e até fome já passamos na estrada, mas nada disso foi capaz de parar a nossa vontade de fazer o JACKDEVIL chegar mais longe. Hoje estamos com as malas sendo preparadas para a Europa.



O “Unholy Sacrifice” (2014) foi um álbum baseado nos livros e filmes de Stephen King. Vocês têm pretensão de fazer mais álbuns conceituais?
André Nadler: Quando olho pra trás só consigo pensar que somos loucos mesmo (risos). Apostamos em fazer um álbum conceitual no primeiro full-lenght da banda e até hoje não sei como conseguimos transformar isso em algo realmente rentável. O próximo disco sairá no começo do segundo semestre deste ano, após a turnê europeia, mas também não será conceitual. Quem sabe no quarto disco a gente repita a dose de desenrolar um trampo mais temático…

Há um tempo atrás, você postou em suas redes sociais um desabafo acerca de uma situação ocorrida em uma turnê no exterior, onde sua guitarra foi quebrada. Conta pra gente como foi esse lance e se você recebeu alguma espécie de retorno/reembolso da empresa aérea. 
Andre Nadler: Exatamente! Esse caso reforça o poder das mídias sociais como nunca. Num voo de Buenos Aires (Argentina) para Santiago (Chile) tive minha guitarra quebrada pela companhia aérea LATAM e ainda no saguão do aeroporto chegamos a comunicar os responsáveis pela empresa, que nos prometeram o tal reembolso. Seis meses de e-mails e negociações para nada ser resolvido, mas já havia comprado outra guitarra com o dinheiro dos cachês dos shows, para repor aquela que havia perdido. Fui “forçado” a colocar o assunto na internet e acabou que a postagem viralizou. O resultado do viral foi a empresa entrando em contato comigo e pagando a dívida que tinha.

Tempo atrás, vocês estiveram em Santa Catarina e tocaram juntos ao Onslaught (Reino Unido) e Red Razor (Florianópolis/SC). O que você pensa sobre essas parcerias entre as bandas e como foi a receptividade do público catarinense? 
André Nadler: Santa Catarina nos tratou tão bem que um dos principais planos da banda era retornar ao Estado. Por coincidência, este ano retornaremos no final do ano para uma apresentação especial no Maniacs Metal Meeting 2017. Sobre as parcerias, elas são essenciais para que o alcance dos envolvidos cresça e as possibilidades – principalmente em relação a quantidade de shows – seja estendida. Espero que em breve o JACKDEVIL possa dividir palco mais uma vez com a Red Razor, uma das melhores bandas que já conhecemos durante os corres da estrada.

André, muito obrigada por essa entrevista extremamente proveitosa. Para encerrarmos, algumas palavras aos leitores d’O SubSolo e aos fãs de Jackdevil?
André Nadler: Espero que o público do blog e do circuito do metal catarinense cresça cada vez mais e que se mantenha firme no amor pelo metal. Mesmo em tempos de crise acredito na força que o nosso estilo carrega consigo e no potencial dos headbangers em deixarem a chama sempre acesa. Nós do JACKDEVIL precisamos sempre agradecer aos que caminham conosco e apoiam o nosso trabalho também. Obrigado!
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