A banda Choque foi formada em Rio do Sul em Santa Catarina, trazendo um som que mescla o Thrash e o Groove Metal. A formação atual conta com os vocais de Rafhael Jorge (100 Dogmas, Fractal, Mathagal), Rodrigo Mazera na guitarra e Adriano Souza (Balboa’s Punch) no baixo, contando com o baterista Erik Correa como convidado para o projeto.
Idealizada pelo excelente guitarrista Rodrigo Mazera, a banda passou por várias formações até consolidar esse trio que lançou junto, grandes músicas. A sonoridade pode ser facilmente comparada com sons de Down, Pantera, Machine Head e Soulfly e todas tem um acréscimo que admiramos, elas são cantadas em português.
Tivemos o prazer de conversar um pouco com o idealizador sobre todo o trabalho e você pode ler na íntegra a seguir:
Queria deixar registrado, o quanto sou fã do artista e da pessoa do Rafhael Jorge, um irmão que a música me deu. Obrigado por tirarem um tempo para responder nossa entrevista. Bom, vamos lá, a banda Choque traz um som pesado e abrasileirado com forte influência do Thrash Groove Metal. Como vocês equilibram essas referências internacionais com a identidade nacional nas composições e arranjos?
Rodrigo Mazera: Valeu demais pelo reconhecimento, e eu retribuo as palavras o trabalho de de vocês também é incrível! O Rafha é um monstro no vocal e um irmãozão que a música me deu, super feliz por ter aceitado o desafio de gravar essas tracks. Sobre a Choque, nossa intenção sempre foi misturar o peso e a pegada do Thrash e Groove Metal com uma identidade própria, trazendo um tempero brasileiro no jeito de compor, no groove das levadas e até nas temáticas das letras. O metal nacional tem uma riqueza absurda, de Sarcófago a Sepultura, passando por Raimundos e até o Manguebeat, e a gente bebê dessa fonte pra criar algo que soe verdadeiro, claro com as influências gringas como Pantera e Machine head.
Muitas músicas da banda abordam temas de protesto e histórias locais, como “Nego da Beira” e “Cobrador de Contas”. Como vocês escolhem os temas que vão transformar em música? Há alguma história que ainda não virou canção, mas que vocês gostariam de explorar?
Rodrigo Mazera: A escolha dos temas vem muito do que nos inquieta e do que sentimos que precisa ser falado. “Nego da Beira”, por exemplo, surgiu de uma história real que me marcou, e transformá-la em música foi quase uma missão. “Cobrador de Contas” é uma lenda urbana aqui da nossa cidade Rio do Sul que me marcou desde que sou moleque. A gente sempre busca trazer narrativas que conectam com a realidade de quem ouve. E sim, tem muitas histórias que ainda queremos contar. Uma delas é sobre figuras que resistiram à opressão aqui no Brasil, algo que mistura história e denúncia social.
“Ninho de Cobra” foi descrita como um manifesto de resistência contra injustiças sociais. De que forma a agressividade do instrumental reflete essa mensagem e qual a importância de traduzir essas críticas para o público por meio do metal?
Rodrigo Mazera: O metal sempre foi uma forma de expressão poderosa para contestação. Em “Ninho de Cobra”, usamos guitarras bem cortantes, um groove pesado e uma pegada quase sufocante para traduzir essa revolta. A música tem que ser sentida no corpo, tem que incomodar, provocar e fazer o cara que tá ouvindo refletir. O metal não é só barulho – é atitude e consciência, o Rafha captou também muito a essência da mensagem dela, quando ele deu vida para ela.
O groove é uma característica forte do som da banda, algo evidente em faixas como “Terra do Não” e “Revolução”. Como vocês trabalham a construção rítmica para que o peso e a cadência soem orgânicos e impactantes ao mesmo tempo?
Rodrigo Mazera: O groove precisa respirar dentro da música. A gente trabalha muito a dinâmica entre riffs marcantes e uma bateria que cria essa cadência pulsante. Em “Terra do Não”, por exemplo, buscamos um riff hipnótico que te prende e te faz balançar a cabeça sem perceber. Em “Revolução”, o groove vem com mais agressividade, trazendo aquela sensação de urgência e desespero. É um equilíbrio entre peso e fluidez.
Vocês destacam o primeiro trabalho dos Raimundos como uma influência. De que maneira essa referência se manifesta na música da Choque, seja na sonoridade ou na abordagem das letras?
Rodrigo Mazera: Os Raimundos mostraram que dava para misturar irreverência, peso e identidade brasileira sem perder a essência do rock pesado. A gente traz essa influência na forma de encaixar o ritmo das palavras, na energia que imprimimos nas músicas e no jeito de contar histórias. No caso de “Nego da Beira”, por exemplo, tem uma pegada quase narrativa, algo que lembra esse espírito de contar causos, mas com a nossa pegada mais densa e agressiva.
“Dr. Cuzão” traz uma crítica sarcástica ao materialismo e ao falso moralismo. Como vocês veem o papel do humor ácido dentro do metal, especialmente em faixas que abordam temas sociais?
Rodrigo Mazera: O humor é uma arma poderosa. Ele pode ser usado para escancarar absurdos e fazer a crítica chegar mais rápido no ouvinte. “Dr. Cuzão” tem essa ironia misturada com agressividade, porque a gente queria ridicularizar essa figura do homem arrogante, ganancioso e hipócrita que infelizmente está em todo lugar. O metal é pesado, mas não precisa ser sisudo o tempo todo – dá pra ser brutal e sarcástico ao mesmo tempo.
O Thrash e o Groove Metal dos anos 90 moldam a sonoridade da banda, mas há também uma energia contemporânea nas composições. Como vocês lidam com a evolução do gênero e incorporam elementos modernos sem perder a essência do estilo?
Rodrigo Mazera: A gente respeita as raízes, mas não se prende ao passado. O Thrash e o Groove Metal têm uma base muito sólida, mas a produção de hoje permite explorar novas camadas sonoras. A gente busca um som mais direto, sem enrolação, mas com uma produção que valoriza o peso e a clareza. Elementos como mudanças dinâmicas e variações rítmicas trazem essa cara mais atual, sem perder a agressividade do gênero.
A produção e mixagem das músicas têm um peso e uma clareza muito bem equilibrados. Como foi o processo de gravação e qual foi o maior desafio técnico na construção da identidade sonora da banda?
Rodrigo Mazera: A gente grava com muito cuidado para captar o peso natural dos instrumentos, sem precisar exagerar na compressão ou efeitos digitais. O maior desafio é fazer o som soar vivo e autêntico, sem perder impacto. Como eu cuido da produção, sempre tento trazer um equilíbrio entre a sujeira orgânica do metal e a clareza necessária pra cada elemento da música bater forte.
O metal sempre teve uma relação forte com o espírito de resistência. Na visão de vocês, qual é a principal mensagem que a banda Choque quer passar para seu público e como esperam que essa música impacte quem ouve?
Rodrigo Mazera: A principal mensagem da Choque é que ninguém está sozinho nessa luta. Nossa música é um reflexo da realidade e um chamado pra não aceitar as coisas do jeito que estão. Queremos que as pessoas sintam essa energia e se identifiquem, seja na raiva, na frustração ou na vontade de mudar algo. O metal sempre foi a voz dos insatisfeitos, e a gente carrega essa tocha.
O cenário do metal nacional tem suas dificuldades, mas também um público fiel e engajado. Como vocês enxergam a recepção da banda até agora e quais os próximos passos para consolidar a Choque na cena?
Rodrigo Mazera: A recepção tem sido incrível! O público do metal é apaixonado, e ver as pessoas se conectando com nosso som só nos dá mais gás. O próximo passo é lançar o álbum “Terra do Não” que está quase no fim e começarmos os ensaios, para em breve nos apresentar por aí e expandir nosso alcance digital e de público. Queremos que mais gente conheça a Choque e sinta essa energia. E teremos novidades na bateria, estamos com um peso pesado aqui da nossa região, que aceitou o desafio de fazer parte desse projeto, que é praticamente um filho para mim.
Muito obrigado pela entrevista, certeza de que os leitores vão gostar de conhecer mais um pouco de vocês, satisfação total. Podem deixar uma mensagem para os leitores?
Rodrigo Mazera: Lisonjeado de estarmos presente aqui nessa entrevista “O subsolo” é referência em termos de notícia de qualidade e sobre o rock e metal, muito obrigado pelo prestigio Valeu demais pelo espaço! Se você chegou até aqui, sinta-se parte da nossa revolução sonora. O metal nacional precisa de apoio, e cada play, cada comentário, cada compartilhamento faz a diferença. Continuem valorizando as bandas independentes e mantendo essa cena viva. Nos vemos nos palcos – e preparem-se pro “Terra do Não”!