Ainda sobre a noite do último sábado em Florianópolis/SC, O SubSolo conseguiu uma entrevista exclusiva com Max Kolesne, que assume a metralhadora que é a bateria do Krisiun. Acompanhamos a passagem de som da banda e, logo após, trocamos uma ideia muito legal com o Max. Aproveitamos a oportunidade pra entregar um exemplar da primeira Coletânea O SubSolo em mãos para a banda. Confere aí como foi a nossa conversa:


Inicialmente,
agradecemos a disponibilidade do Krisiun em nos conceder essa entrevista. O
show de hoje está sendo muito aguardado pelo público, sabemos que muitas
pessoas de outras cidades se deslocaram até Florianópolis só para curtir o show
do Krisiun, junto às duas bandas de abertura. Qual a expectativa para
esta noite, em relação ao público e às outras bandas?
Max:
A expectativa é a melhor possível. Sempre que a gente toca aqui, a galera comparece.
A gente tem amigos e fãs de longa data também. Então, acredito que vai ser um
show bem legal, vai ser bem brutal e a galera vai curtir.

No final do
ano passado, vocês viveram uma experiência que, sem dúvida, deve ter sido única: abrir o show da
turnê de despedida do Black Sabbath em Porto Alegre. A turnê “The End” mexeu com
headbangers de todas as idades, de todos os lugares do mundo; participar disso
tudo deve ter sido demais. Conte pra nós um pouco sobre isso.
Max:
Pô, pra nós foi um sonho realizado. O Black Sabbath, pra mim, é o
verdadeiro criador do Metal. Obviamente que houve outras bandas que
influenciaram muito, desde Jimi Hendrix, desde o Blues, e também Led Zeppelin, Deep
Purple… Mas o Black Sabbath dinamizou e criou o Heavy Metal verdadeiro. Então
pra nós, pô, participar, ter a chance de abrir pra eles foi um sonho realizado. Acho que toda a estrada, toda essa luta de tantos anos que a
gente têm vivido aí… Um momento desse aí já vale tudo isso, tá entendendo?
Foi espetacular! A gente tinha um certo receio por tá abrindo um show de uma
banda de Metal, que tem fãs de todos os tipos, todas as vertentes do Rock e
muitos não estão familiarizados com o Death Metal Brutal. A gente ficou
surpreso que a recepção lá em Porto Alegre foi muito legal, terminamos o
show e a galera gritou o nome da banda. Então foi espetacular!

Voltando
quase 3 décadas no tempo: vocês contaram n’uma outra oportunidade sobre seus 25
anos, que o primeiro vocalista era bem melódico e vocês se tornaram mais pesados
e velozes quando o Alex assumiu os vocais. Você acha que o Krisiun, hoje, seria
uma banda de Heavy se o vocalista tivesse continuado, ou a vontade de tocar algo
mais visceral faria com que vocês dispensassem o cara?
Max:
Independente de ele ficar ou sair da banda, a gente ia seguir essa trilha aí,
já era uma coisa natural no Krisiun. Na verdade, ele não era um vocalista
melódico, ele tinha aquela influência de Heavy Metal tradicional, de Dio e Eric
Adams, aquela vertente mais Heavy Metal clássico. Só que a gente começou a
tocar aprendendo a tocar junto, era eu, o Alex e o Moyses tentando fazer umas
músicas. A gente fez uma instrumental, que seguia aquela linha meio Heavy
Metal, meio Thrash, porque a gente tava aprendendo a tocar, então nem tinha
condição de querer tocar um lance mais rápido, mais agressivo. Só que aí com o
tempo a gente foi ensaiando muito e essa vontade de tocar coisas velozes, mais
rápidas, mais pesadas foi um processo natural. A gente ensaiava num estúdio que
era do Flávio do Leviaethan. Ele tinha um bumbo na bateria, eu tinha um bumbo
velho de lata, comecei a levar nos ensaios e comprei outro pedal. Aí a gente
começou a fazer o uso de dois bumbos, isso aí foi uma grande mudança na música
do Krisiun: começou a ficar mais rápido naturalmente. A gente também sempre foi
muito fã das bandas que surgiram ali depois do Heavy Metal clássico, como
Slayer, Destruction, Possessed, o próprio Sepultura, na época do Schizophrenia,
Beneath the Remains, um pouco mais tarde aí veio Morbid Angel, Deicide, que
também foi influência pra nós, Sarcófago… Todas essas bandas. Então a gente
já curtia essas bandas e com o tempo a influência delas foi ficando mais forte
no som do Krisiun. E a questão do vocalista era bem isso, ele faltava muito os
ensaios, ele morava em Ijuí e a gente tava em Porto Alegre, aí ele sempre dava
uma desculpa “ah, não vai dar pra ir pro ensaio”. O Alex começou a criar as
linhas de vocais, a gente fazia uma música e o Alex quebrava um galho. Fomos ensaiando
tanto com ele que a gente começou a perceber que o vocal dele já era
naturalmente mais agressivo, mais brutal e se encaixava muito melhor ao som da
banda e aí a gente demitiu o cara e falou que o Alex ia ser o vocalista
oficial. Inclusive ele que fazia as letras, fazia as linhas de vocais pra
passar pro cara… Olha a moleza que ele tinha! E foi isso, a gente demitiu
ele, continuou como trio e a coisa foi ficando cada vez mais Death Metal, cada
vez mais brutal.

O “Forged in
Fury” foi lançado em 2015. Quais os projetos futuros para o Krisiun? Estão
trabalhando em material novo no momento? Podemos esperar algo logo?
Max:
Ah, não muito logo. A gente já tá focado, já tá com a cabeça no próximo disco,
mas ainda tem todo um processo de composição, a gente tira um tempo pra se
focar nas músicas novas. Ainda temos uma agenda bem extensa pra cumprir:
a gente vai pra Ásia mês que vem com o NervoChaos, depois vamos fazer duas turnês consecutivas na Europa, em junho e julho. Aí a gente tá pensando
em, a partir de agosto, focar 100% e dar uma paradinha nas turnês por um tempo,
pra conseguir se concentrar legal. Mas a gente já tá bem focado, já temos umas ideias. Com certeza vai ser um disco diferente do Forged in Fury, acho
que naturalmente vai seguir uma linha mais agressiva, mais veloz, buscando um
pouco aquela raiz dos discos antigos.

Vocês são uma
das bandas que mais toca no exterior. Poderia contar um pouco para nós sobre os aspectos da cena que são diferentes em outros países? Talvez coisas que chamaram
atenção por confirmar ou não suas expectativas.
Max:
O público do Metal é muito parecido no mundo inteiro, é incrível essa semelhança,
essa cultura e esse sentimento que o headbanger tem. É incrível, sabe? Você
toca no Brasil, de Norte a Sul, a galera tem sotaque diferente, come umas
comidas diferentes, mas o headbanger é muito parecido, muito respeitador quando
recebe a banda, são orgulhosos e curtem essa vida. Porque é um estilo de vida,
não é só uma música que você curte, por isso que tem essa semelhança. E a gente
vê a mesma coisa na Alemanha, na Rússia, no Canadá, nos Estados Unidos. O
headbanger é muito parecido, ele gosta das mesmas coisas, o tipo de relação que
eles têm… A gente sente que sempre tem a cena local e o pessoal se conhece
muito bem, são amigos e gostam muito de “festear” juntos, beber juntos, escutar
som juntos, que é a coisa que o headbanger gosta de fazer, né? Boas amizades,
tomar uma cerveja, curtir um show, receber bem as bandas e apoiar a cena. O
pensamento é muito parecido. Lógico que, as primeiras vezes que a gente foi pra
Europa, tomamos um susto pela diferença do profissionalismo. Até então, o
Krisiun no Brasil só tinha tocado em lugares bem underground, a gente não tinha
as exigências que tem hoje em dia. A primeira turnê lá também, a gente tocou em
lugares bem underground, lugares pequenos, mas já notei aquela diferença da
estrutura, todos os equipamentos dos caras lá muito melhores. Só que hoje o Brasil já melhorou bastante nesse sentido, isso foram nos anos 90. Hoje
em dia, já tá bem melhor aqui. A estrutura que as bandas que tão começando
pegam já é coisa boa, porque é mais fácil o acesso a esse tipo de equipamento.




Você tem
dicas para bandas autorais que estão começando agora? E para as bandas que
almejam contato com o exterior?
Max:
São tantas coisas que fica até difícil explicar. Lógico que a gente sempre
batalhou muito. No começo, acho que uma coisa que nos manteve unidos e fortes
foi a convicção que a gente sempre teve na banda. Nunca nenhum membro do
Krisiun ficou em cima do muro, sabe? Na dúvida se ia seguir a carreira dentro
da banda ou se talvez fosse partir pra outra coisa, mesmo quando ninguém
conhecia a banda. Muitos falavam mal, que o Krisiun era uma banda muito
barulhenta, quando a gente chegou em São Paulo. Mas a gente sempre teve muita
convicção, 110% os três focados na banda. Por isso mesmo aqueles que tentaram entrar
no Krisiun não se encaixaram, porque a gente era muito focado na parada. Era
uma coisa que não tinha nem explicação, porque, se for parar pra ver, isso é
até errado, né? Tipo assim, a gente deixou tudo pra trás, parou de estudar… Eu
larguei o emprego, comecei a me dedicar obviamente a tocar cada vez melhor e aí
fazer uns bicos dando aula de bateria, aula de guitarra. Aquela coisa, né? Se
virava como dava, a grana sempre muito curta, porque a gente deixou tudo pra
trás, deixou a vida que tinha no Sul e foi pra São Paulo com a cara e com a
coragem. Mas nunca teve um momento de fraquejar, a gente nunca pensou “puta,
será que vai?” Não, a gente sempre foi muito focado, acho que essa determinação,
essa loucura foram determinantes pra que a banda conseguisse chegar aonde chegou.
Não que tenha chegado ao topo, porque pra mim todo mundo é igual. Tem banda que
faz bem menos shows, que de repente não tem um reconhecimento maior, mas tão se
divertindo, tão curtindo a vida de músicos. Às vezes o cara tem uma banda e tem
um emprego paralelo e tá feliz tocando. Acho que o importante é isso, o
importante é tá feliz, tá fazendo o que gosta. E também a gente sempre foi
muito atrás de contatos com gravadoras e outras bandas. Sempre teve essa visão
de que no exterior a chance era boa e realmente foi isso que aconteceu: quando
a gente lançou o Black Force Domain, ele foi muito bem recebido na Europa, principalmente.
Acho que foi uma época que o Grunge tava em alta, o Death Metal tava se
fortalecendo e muitas bandas de Thrash dos anos 80 meio que deixaram pra trás
porque tava complicado, a moda era outra e o público tava reduzido… Então,
acho que quando a gente lançou o Black Force Domain, conseguimos conquistar um
público old school, mas com aquela forma do Death Metal Brutal, porque é um
disco que tem muita influência dessas bandas, como o Possessed, aquele lado cru
e selvagem que essas bandas tinham nos anos 80, mas a gente tocando numa forma
um pouco mais moderna e mais Death Metal, mais brutal, mais rápido. Acho que
caiu bem no gosto dessa galera que tava um pouco órfã na época (risos). Foi
meio que sorte: a gente lançou o disco certo na época certa.

Há alguns
anos, vocês lançaram a faixa “Extinção em Massa” com participação do João do
Ratos de Porão e o feedback foi dos melhores. Este ano, em junho, o Krisiun e o Ratos
tocarão no Tropical Rock Fest II. Existe algum projeto sendo pensado entre
vocês?
Max: A gente toca esse som com o Gordo, né. A gente já fez isso
inclusive no Obscene Extreme, aquele festival na República Tcheca. A gente tocou
com o Ratos alguns anos atrás e esse ano a gente vai tocar de novo com eles,
então provavelmente vai rolar de novo de a gente tocar “Extinção em Massa” com
ele. A gente é muito amigo, volta e
meia a gente faz uns churrascos lá no estúdio e ele aparece com a esposa dele e
os filhos. É uma parceria não só musical, mas a amizade é verdadeira.

Você está de olho no underground brasileiro? Acha que as bandas atuais têm potencial? 
Max: Tenho muito
contato com bandas underground. Tem o Exterminate, Claustrofobia…
Putz, são várias, cara. Tô sempre acompanhando essa galera aí, acho que eles
tão fazendo um ótimo trabalho, tão fazendo um som legal, um som brutal e tão se
dedicando. O underground tem que ‘tá’ sempre vivo e forte, sempre vai ter bandas
novas aí pra manter a chama viva. Hoje em dia, surgiram muitas ramificações
dentro do que seria o Death Metal Brutal, o Death Metal seja lá o que for, umas
coisas que eu não curto, umas bandas que misturam muita coisa. Às vezes os
caras querem ser muito técnicos e os caras acabam ficando perdidos com tanta
informação: muito bons, muito técnicos, mas às vezes não tem aquele feeling. E
o espírito do Death Metal é talvez buscar um pouco aquela simplicidade, aquela
autenticidade do passado e não só tentar tocar igual outras bandas que tem por
aí, né?

Ainda sobre a
cena brasileira: aqui no Sul é muito claro o aumento de bandas de tributo à
grandes nomes do metal. Os eventos com tributos enchem, em geral, mais que os
eventos do underground. Os festivais são uma resistência que temos à essa
lógica. Qual a tua opinião sobre isso?
Max:
Sempre teve uns festivais legais aqui em Santa Catarina, né? É, é isso aí, a galera
tem que se unir, eu acho que principalmente nesse momento… As bandas
underground tem que ir nos shows das outras bandas, um tem que ir no show do
outro, tem que se unir. A união faz a força, sozinho ninguém chega a lugar
nenhum. Não adianta o cara ter uma banda, achar que vai chegar em algum
lugar e não ir nos shows. Às vezes o cara na maior preguiça de
ir num show que é do lado de casa, sabe? Tem que ir, tem que apoiar, tem que
fazer volume nesses shows, trazer gente e acabar com essa palhaçada aí, porque
banda cover ficar levando mais público do que banda autoral é complicado. O
underground tem que se unir, as bandas principalmente, porque assim um ajuda o
outro, a banda vai no show da outra banda, aí é bom pro produtor, o produtor
vai querer fazer mais shows, vai querer manter a coisa viva.

Mais uma
vez, agradeço em nome de toda a equipe d’O SubSolo por toda essa atenção.
Gostaria de deixar algum recado para os leitores do blog e para seus fãs?
Max:
Bom, é isso aí galera! Obrigado pelo apoio de sempre! Vocês sabem que o Krisiun
é uma banda fiel às raízes do verdadeiro Death Metal e assim seremos até o
último dia que estivermos vivos nesta Terra maldita. Valeu por tudo, amigos!
Estamos juntos. Família do Metal até a morte! Grande abraço! 




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