Com uma abordagem inovadora, um nome que desponta neste cenário é o grupo paulista Operador, que lançou em abril o primeiro álbum da carreira, chamado Conexão Call Center. O trabalho, como o título sugere, é temático, com inspiração em experiências vividas pelo guitarrista Emerson Oliveira quando trabalhou com atendimento telefônico aos clientes. Anos no ambiente de Call Center renderam ao músico e compositor diversas histórias.

Confira a entrevista com Emerson:

A premissa das letras da banda é completamente única e inovadora. Foi muito difícil passar essas ideias para o papel e transformar as histórias em músicas? Ou tudo fluiu naturalmente?

Sou músico desde a adolescência, sempre gostei de compor e cantarolar os problemas da vida. Quando entrei no call center aos 18 anos encontrei um bando de malucos também músicos, de vários estilos, fizemos um grupo que tinha desde pagodeiros até a galera do reggae, foi nessa turma que conheci o atual vocalista do Tramoia, banda que dá Origem ao Operador. Pode parecer loucura, mas nós cantávamos todos os dias na PA, fazíamos literalmente uma roda na central, a galera se reunia e cantávamos juntos.  Muitas letras nasceram aí. Esse disco foi um trabalho feito por uma Legião de operadores.

Por ser algo tão diferente, os músicos aceitaram bem a proposta?

O grupo operador é fruto de outro projeto mais antigo, chamado Tramoia, os músicos são quase os mesmos. O Tramoia tem o mesmo DNA, metal cantado em português, com uma proposta conceitual e em vários aspectos cômica, cogitamos até em fazer desse o terceiro disco do Tramoia, mas os caras acharam a ideia maluca demais.

E a aceitação do público, como está sendo?

Antes de lançar o disco, mostrei pra um amigo supervisor de call center e ele quase se mijou de tanto rir, então senti que estava no caminho certo, algumas pessoas tinham preocupação do disco poder soar desrespeitoso para a classe, mas todos que ouviram, 100% mandam mensagens positivas. Creio que se sintam representadas. Quando cantamos algo como “Guerreiros da Central” ou “Sente-se agora na PA”, junte-se a nós, outros relatos de pessoas que não trabalham na área e disseram que ficaram sensibilizadas com a classe e que seriam mais pacientes.

E em relação ao instrumental, quais são suas principais influências? O que você houve quando se sente sem inspiração?

De metal ouço de tudo um pouco, desde Thrash Metal, Stoner, Metalcore… mas também ouço muita música brasileira,  rap, choro, samba rock… alguns dizem que a língua portuguesa  é “ruim pro metal”, mas acho que quem diz isso tem pouca intimidade com a caneta e com a rima, sou admirador de grandes compositores que compõem em português e são inspirações pros meus projetos, como Arrigo Barnabé, Rogerio Skylab, Zeu Brito, Luiz Tatit e tantos outros.

 

O álbum “Conexão Call Center”, lançado neste ano, é bem variado em relação a gêneros, estilos, etc. Como foi o processo de composição gravação?

Eu, Emerson, não me considero um grande arranjador, mas estou sempre me desafiando, minha primeira banda chamada HOLD foi do gênero metalcore, os discos tinham muito break down, era a moda da época rsrs, tocamos até 2013, aproximadamente, o Tramoia, que veio na sequência ja era mais crossover e thrash metal, sem break e mais acelerado, cada disco vai ganhando mais técnica, no Operador, me propus a fazer algo quase na linha do heavy metal, afinação tradicional e música com tons mais altos, riffs lembrando até discos do King Diamond, mas na base estão os breack downs e a velocidade do Thash Metal, é uma mistura danada.

Pelo que vi baseado em alguns comentários do videoclipe, no YouTube, o lado cômico das letras tem atingido bem o público. Essa parte engraçada é intencional, ou apenas um acaso? Como vocês se sentem em relação a isso?

Parte da banda é da zoeira pesada, somos meio “Joselito sem noção”, isso desde crianças, então as letras cômicas não são atoa, fazem parte de como enxergamos a vida, eu tenho a ideia que não é algo só nosso, mas sim um DNA da musica brasileira, bandas como Raimundos e Mamonas assassinas não fizeram sucesso a toa, no metal, essa ideia de que o headbanguer precisa ter a pose de malvadão e que as músicas não podem fazer piada é algo muito presente ainda, nao sei quem é poser, eu ou alguns desses “troozoes” que reclamam das letras rsrs

 

Por falar no clipe, por que a música “Falsos Clientes” foi escolhida? E, havendo mais videoclipes, qual será a próxima?

A música “Falsos Clientes” é uma das mais completas, tem solos ótimos e bons riffs, eu e o guitarrista Miojo havíamos conversado bastante a respeito do videoclipe, queríamos fazer algo roteirizado, mas decidimos fazer “Falsos Clientes” do modo mais clássico nesse início, mas nos próximos meses, outros clipes virar, já estamos pagando os boletos, aguardem novidades rsrs.

 

Além do lado cômico, é fácil perceber que as letras contém várias críticas. Esse caráter “tragicômico” é uma parte da O Operador?

Como havia comentado, rir da própria sorte é algo muito típico do brasileiro, noto isso em muitos gêneros musicais nordestinos, por exemplo, o repente e o forró têm isso muito forte, você não sabe se ri ou se chora.

As críticas vão se tornar mais intensas nos próximos álbuns, ou vocês preferem seguir por um caminho mais “leve”? Ou nem pensam nisso ainda?

Por enquanto estamos focados em mostrar esse trabalho pro máximo de pessoas possíveis, a nossa outra banda, Tramoia, por também fazer discos conceituais, recebe letras até hoje de fãs, então convidamos todos que chegaram até essa entrevista e trabalham em call center a nos mandar letras, refrões ou rimas, as letras foram e sempre serão escritas por uma legião de operadores.

O jornalista Clovis Roman trabalha há mais de duas décadas na área cultural, na cobertura de shows, entrevistas e resenhas de discos, e atua como assessor de imprensa. Clovis é colecionador de CDs e em sua mesa na redação do Acesso Music sempre há uma caneca de café morno. ;)