O Youtuber e músico Raphael Mendes, ficou mundialmente conhecido pelo espantoso poderio vocal. O cara simplesmente consegue emular com precisão cirúrgica os vocais do lendário frontman da donzela de ferro, Bruce Dickinson. Posso afirmar com toda a certeza que é o melhor cover no Brasil, quiçá do mundo todo. Duvida?

Então coloque qualquer gravação que está no canal do cantor na plataforma ao lado da canção original, e faça uma audição às cegas. Caso consiga distinguir qual é o vocalista correto, parabéns, pois talvez você esteja naquele seleto grupo de pessoas que possuem o tal ouvido absoluto.

E depois de muitos views e vídeos ao lado de grandes figuras da nossa cena brasileira, como o baterista Aquiles Priester, por exemplo, Raphael tomou a coragem que poucos covers têm. Ele investiu o dom em um trabalho autoral (em terras brasilis esse feito era até então inédito), formando assim o Icon of Sin, que além do vocalista, ainda conta com Caio Vidal no contrabaixo, CJ Dubiella na bateria e a dupla de guitarristas Sol Perez e Mateus Cantaleãno.

Apesar da curta existência, o grupo foi abraçado pela gravadora italiana Frontiers Records, responsável por lançar discos recentes de lendas como Whitesnake, Toto entre outros.

A partir desta conquista, a banda ainda divulgou três singles (Shadow Dancer, Nightbreed e Icon of Sin) antes do lançamento do auto intitulado álbum de estreia, que chegou às plataformas digitais no dia 16 de abril.

E é este trabalho repleto de influências dos anos 80 e da cultura pop como um todo (tanto sonora como liricamente) que dissecarei no texto de hoje…

Vale ressaltar, que algumas dessas referências estão de fato nas temáticas das letras da banda e outras tratam de especulações ou interpretações livres da minha parte.

E por falar nas referências, podemos começar pelo próprio nome da banda. Se você, que assim como eu, ama videogames e jogos mais antigos e já jogou o clássico jogo de tiro Doom, vai entender do que eu estou falando. Mas pra quem ainda não jogou, calma que eu explico.

Precisamente na continuação do game, Doom II Hell on Earth, nós os jogadores, encarnados no lendário matador de demônios Marine (hoje conhecido vulgarmente como Doom Slayer) somos incumbidos de salvar a Terra das forças demoníacas do inferno. E como de praxe, ao final da jornada, enfrentamos o líder dessas hordas infernais, também conhecido como Icon of Sin, uma cabeça gigantesca com aparência de bode e outras características “capirotianas”.

E todo esse background do jogo se torna a temática da faixa de abertura do álbum. Em relação à sonoridade, pode-se dizer que a banda possuí influências não somente do Iron Maiden, mas também de outros grupos fortes da New Wave Of British Heavy Metal.

Essa afirmação se faz presente com a chegada de Road Rage com riffs rápidos e andamentos que poderiam facilmente estar no álbum The Last in Line do lendário Ronnie James Dio (aliás, um feat com o Nando Fernandes do Sinistra no futuro não seria uma má ideia).

Shadow Dancer traz mais referências a um clássico dos jogos de ninja. Aqui a pegada é mais soturna e o refrão em coro dá a música um toque especial. E meu amigo, não tem como não se surpreender com aqueles agudinhos birrentos de Dickinson que Raphael consegue reproduzir com encaixe perfeito entre as faixas. É algo que você sente que foi pensado, e se mostra necessário em estar ali naquele trecho, e não feito por mero exibicionismo.

Devo admitir que Unholy Battleground é a faixa mais chatinha do trabalho, mas que possuí boas harmonias tanto instrumentais como vocais.

Entretanto, engana-se que o disco se limita a trazer apenas nostalgia e referências sonoras. Um toque mais moderno arrebate o ouvinte com a chegada da quinta faixa, Nightbreed. E vai por mim amigo leitor, o refrão dessa música vai reverberar e muito na sua memória. Pode ser que esta seja apenas uma viagem de quem vos escreve, mas ao que me parece ao analisar a letra, é que se trata de uma referência ao filme Raça das Trevas (do inglês Nightbreed), uma adaptação do livro de mesmo nome escrito, dirigido e transposto para as telonas pelo fantástico Clive Barker.

Virtual Empire trás a aura do clássico Brave New World em uma temática que explora a distopia cibernética que a nossa atual sociedade vive, com as intrigas políticas e os prazeres e mazelas da convivência virtual.

A esta altura, o trabalho apresenta um teor mais progressivo nas composições, com longos trechos  instrumentais e solos monumentais.

Pandemic Euphoria traz rifes mordazes e rápidos. E se o âmbito da faixa anterior era o virtual, aqui temos uma letra que descreve com precisão cirúrgica, porém, de forma simples, o terror dessa terrível pandemia e os efeitos causados em nosso cotidiano.

A rapidez e o ritmo frenético são arrebatados por poucos segundos com a melancolia do lindíssimo início de Clouds over Gotham. E que refrão épico meus amigos!

Não é preciso ser um expert em quadrinhos para perceber que a temática se trata de uma homenagem ao morcegão mais querido da cultura pop e todo o universo que o abrange. Há um lick de guitarra que traz consigo um misto ente a trilha original de Danny Elfman e a abertura da clássica série animada das Aventuras de Batman e Robin.

Sem sombra de dúvidas uma das melhores, senão a melhor, faixa do trabalho.

Já a dançante Arcade Generation é um verdadeiro mar de referências “videogamisticas” fazendo menção a grandes clássicos que começaram nos fliperamas, como Mortal Kombat, Street Fighter, The King of Fighters, entre outros. Uma verdadeira ode as máquinas papas fichas mais queridas de nossas infâncias. Bons tempos, bons tempos…

Hagakure é uma rápida introdução para nos trazer o clima oriental que logo é destruído pela galopante The Last Samurai, uma clara referência ao icônico filme estrelado pelo galanteador Tom Cruise. Aqui temos mais um exemplo de como a banda consegue soar de forma épica, mesclando muito bem com a sonoridade característica do Heavy Metal tradicional. Outro grande destaque deste trabalho!

The Howling traz mais menções cinematográficas, dessa vez a uma joia do terror ainda desconhecida por muitos, o filme Grito de Horror, obra adaptada do romance do escritor Gary Brandner.

E chegamos à última faixa Survival Instinct. Aqui, ao que puder captar da temática da canção, é que a mesma parece ser uma grande homenagem aos brucutus dos filmes de ação, os famosos exércitos de um homem só, como Rambo, John Matrix, John McClane, etc. Ah e adorei a referência a Highlander: O Guerreiro Imortal, um dos meus filmes favoritos estrelado pelo grande Cristopher Lambert.

Em suma meus amigos, termino este texto com a sensação de divertimento e satisfação, coisa que creio ser rara. Eu gosto de muitos estilos dentro do Rock e do Metal, mas talvez por sempre ouvir música de forma séria e comprometida, este abobado que vos escreve, não consegue se divertir plenamente com um álbum, o que não significa que a obra seja ruim. Acho que é uma questão de se permitir, não sei…

Mas é muito bacana ver uma banda apresentando qualidade e altas referências de outros espectros artísticos para além da música.

É claro que as comparações com o Iron Maiden são inevitáveis, mas não considero isso como ponto negativo do trabalho, pelo contrário. Posso afirmar que o álbum Icon of Sin é o melhor disco do Maiden que não foi lançado pela banda, que há tempos não consegue mais me encantar plenamente como na época em que eu era apenas um pirralho aspirante a headbanger.

É muito bacana ouvir o nosso Bruce Dickinson tupiniquim, Raphael Mendes, cantando a respeito de seus jogos e filmes favoritos, contando com um time de músicos pra lá de coerentes e talentosos.

A mixagem do álbum também está impecável, dando a imersão necessária que estes temas exigem ao ouvinte. Obviamente que a maturidade musical e a estrutura que o grupo assimila nas composições fazem parte deste mérito.

Talvez o meu único puxão de orelha em relação ao álbum, seja o fato de o público brasileiro ainda não conseguir adquirir as versões físicas deste petardo (até o presente momento só disponível no site da Frontiers).

Para quem gosta de nostalgia, boa sonoridade e uma banda que consegue intercalar todas as fases de uma lenda do Heavy Metal como o Iron Maiden de forma competente e natural, o Icon of Sin é uma banda que tem um futuro promissor pela frente. Vida longa e Up the Icons!

 

TRACKLIST
1-Icon of Sin
2-Road Rage
3-Shadow Dancer
4- Unholy Battleground
5-Nightbreed
6- Virtual Empire
7- Pandemic Euphoria
8 – Clouds over Gotham
9- Arcade Generation
10- Hagakure
11- The Last Samurai
12- The Howling
13-Survival Instinct

 

FORMAÇÃO:
Raphael Mendes – vocal
Sol Perez – guitarra
Mateus Cantaleãno – guitarra
Caio Vidal – baixo
CJ Dubiella – bateria

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Assista o clipe de Nightbreed:

 

Nascido no interior de São Paulo, jornalista e antigo vocalista da Sacramentia. Autor do livro O Teatro Mágico - O Tudo É Uma Coisa Só. Fanático por biografias,colecionismo e Palmeiras.