Tem discos que são de difícil compreensão, que custam a te ganhar e te convencer mas que acabam fazendo sua cabeça depois de algumas chances. Outros, vão direto ao ponto e te tomam os ouvidos por completo na primeira sequência de notas. Esse é o caso do EP A New Unknown, da banda potiguar Swards. Este novo desconhecido se tornou o tipo de banda que eu queria conhecer a muito tempo e ter muito material para poder escutar, mas por hora temos apenas o disco com cinco faixas lançado em janeiro deste ano, que encontrei por um mero acaso na internet.
Formada em 2016, a banda é composta pelo vocalista Steferson Albuquerque, Wanderson Bruno e Rivelito Junior nas guitarras, Darlan Anderson no baixo e o baterista Samir Pegado. Notou algo com os nomes? Admito que eles conseguiram algo que já tentei nas bandas que tive e nunca ficou bom, mas aqui temos um caso em que isso funcionou. De toda forma, Swards vem desde sua fundação andando em passos largos, tendo participação inclusive na TV aberta local, algo raro para uma banda de Heavy Metal.
Como todo EP, ele é aquele tiro curto e certeiro que injeta um veneno que te deixa com plena sensação de “quero mais”. Além da bonita faixa instrumental que abre o disco, temos quatro belíssimas faixas inspiradas em musicalidade e ricas em letrística. Swards trata de carregar em suas músicas suas origens, e retrata em algumas delas a vida nordestina, principalmente suas dificuldades. A banda soube usar bem suas influências externas para transformar em características próprias e criar sua própria identidade. Obviamente você irá lembrar das bandas mais clássicas de Metal Melódico em alguns momentos, mas também irá sentir que existe um algo à mais, um cuidado em ter qualidade e personalidade bem definidos e valorizados.
ÁLBUM NA ÍNTEGRA:
“Venit Pluvia”, que designa do latim para chuva, é um prelúdio atmosférico que puxa perfeitamente a faixa seguinte, “Broken Dimension”. Aqui surgem guitarras afiadas e que cantam de maneira linda ao decorrer dos riffs bem focados numa pegada Power/Speed. O vocal entra e impressiona ainda mais, sendo agudo e melódico como o estilo pede. Baixo e bateria mantém firme as passagens que a música apresenta, desde o início acelerado até um interlúdio mais focado na percussão, que vem após um refrão épico, alto e marcante.
“Dry Horizon” foi a primeira que ouvi e o motivo é até um pouco engraçado. Estava num grupo onde o tema é Angra, e eis que um membro posta essa música e pergunta “Que tipo de Angra é esse?”. Ao dar play você vai sentir que parece que está escutando algo que a própria banda poderia ter feito na sua fase de Holy Land, inclusive a faixa-título do álbum de 1996 é claramente referenciada na introdução da faixa #3 do EP aqui em questão. Não é plágio, e sim uma nítida homenagem à forma que o Angra influenciou esta banda, e posso dizer que isso é ótimo. Boa parte dos membros deste grupo que comentaram na postagem deste vídeo elogiaram a canção e tenho certeza que a banda ganhou uma boa quantidade de admiradores por conta deste trabalho bem executado, pois não fica preso apenas a uma introdução que lembra Angra: toda a composição que vem à seguir é impressionante e cativante, quebrando o paradigma de muitos que acham que no Brasil só existe Angra ou Sepultura. Não, meu caro, Brasil tem muito mais que essas duas -que são inegavelmente as maiores referências mundiais de nosso Metal, e Swards está aí pra provar que pode-se ter essas bandas como inspiração para fazer um trabalho autoral contemporâneo e surpreendente.
Seguida dela vem “Hands Tied”, que começa super acelerada e ainda assim com bom uso de elementos adicionais ao fundo. A banda mostra ter ido bem nas aulas de Metal melódico e não poupa esforços para por em prática o uso de todo e qualquer instrumento que vá somar na construção sonora das composições. Uso de vocais duplos, guitarras dobradas, baixo forte e groovado e bateria martelante na medida certa, tudo isso em doses precisas e girando em torno de linhas de instrumentos mais clássicos que complementam muito a musicalidade total da faixa.
Se você quer riffs mais pesados e ainda assim lindamente acompanhados por melodias épicas, tome a saideira com “Black Bird”. Como essa banda sabe equilibrar bem seus elementos. Nada se sobressai em excesso, tudo fica alinhado e desliza de maneira graciosa pelos ouvidos, sem confundir e sem deixar nada passar despercebido. Uma audição basta pra vocês entender as pretensões da banda em cada momento, e aqui não é diferente. Mais uma faixa onde tudo é meticulosamente trabalhado e alcança resultados impressionantes.
No disco todo você se impressiona com os riffs das guitarras, com a potencia do vocal, com a condução impecável do baixo e da bateria, com os teclados e demais elementos de fundo preenchendo perfeitamente qualquer lacuna e até criando espaços que talvez não existissem em outras mãos. É tudo muito bem pensado e bem explorado. Swards é uma banda que eu quero ouvir muito mais, e já sei que estão com trabalhos bem encaminhados para um álbum e tenho certeza que será um grande disco se seguir as tendências apresentadas em A New Unknown.
Banda
- Steferson Albuquerque – Voz
- Rivelito Junior – Guitarra
- Wanderson Bruno – Guitarra
- Darlan Anderson – Baixo
- Samir Pegado – Bateria
Faixas