Por: Sol Portella

Provavelmente um de seus melhores trabalhos, o décimo terceiro lançamento de Korn com certeza é a mais expressiva obra já feita pela banda. O disco inteiro é permeado pela genuína tristeza do vocalista Jonathan Davis, que parece completamente perdido após experiências traumáticas no passado próximo; sendo a mais marcante delas a perda de sua esposa. Muitas vezes é difícil discernir se as letras de Jonathan falam para o ouvinte, para alguma entidade ou mesmo para si próprio. Isso já é apresentado na própria abertura do álbum: uma curta faixa introduzida por gaita de fole (instrumento estimado por Davis) e finalizada por desalentados choros. Um total pedido de socorro, cativante pelo o quão verdadeiro que é.


RESENHA | KORN | THE NOTHING 2019

Korn são mestres do momentum musical. Além de groove e peso, com cada nota bem marcada e descendo como um martelo, a construção de tensão e expectativa que suas músicas carregam é inigualável. O ouvinte se sente carregado até o momento de explosão, e a catarse de quando esta finalmente chega consegue ser sentida fisicamente por todo seu corpo. Esses momentos, quando repetição serve não para encher espaço mas sim para cumprir uma função musical, podem ser descritos como de propriedade quase hipnotizante – Música-mesmerização é algo raro de se encontrar.

As obras vão de minimalismo, com tempos em que a total absência de todos se não um único elemento percussivo, à tempestades sonoras de várias camadas. Diversos timbres que tanto se complementam quanto aumentam a confusão expressa pelo momento. Tudo com uma produção  clara que permite cada detalhe ser percebido e absorvido pelo ouvinte; não deixando nenhuma parte da harmonia como apenas ruído. É o tão esperado som pesado sem ser apenas barulho.

Os momentos calmos da música lembram dias nublados – uma pesada serenidade sendo expressa pela atmosfera do momento. Apesar deste contraste com o resto da maior parte do disco, O ouvinte nunca se sente forçado em uma “viagem de humores” conflitantes. Esses altos e baixos acontecem fluidamente, mesmo quando bruscos. A posição e timing de cada sessão da faixa é respeitada e muito bem planejada.

Ao todo, o álbum sente como se fosse uma mistura de sua metade de carreira (Issues e Take a Look in the Mirror) com seus últimos trabalhos (The Serenity of Suffering e The Paradigm Shift). Os violentos riffs, com destaque no icônico baixo – executado por Reginald Arvizu – que faz tanto à percussão quanto a própria bateria, mesclam perfeitamente com as influências de música eletrônica que Jonathan vem introduzindo à banda. Contudo, não é como se esta obra fosse apenas uma remodelação do mesmo som sinistro de sempre. Tantas influências inundam o disco, mas este ainda assim grita originalidade.

De todos os pontos de destaque, o que se ressalta é com certeza a performance vocal; Jonathan Davis desempenhou um vocal expressivo e sincero como sempre, e como nunca antes.

TRACKLIST
01) The End Begins
02) Cold
03) You’ll Never Find Me
04) The Darkness is Revealing
05) Idiosyncrasy
06) The Seduction Of Indulgence
07) Finally Free
08) Can You Hear Me
09) The Ringmaster
10) Gravity Of Discomfort
11) H@rd3r
12) This Loss
13) Surrender To Failure
Gremista, catarinense, gamer, cervejeiro e admirador incessante do Rock/Metal. Tem como filosofia de vida, que o menos é mais. Visando sempre a qualidade invés da quantidade. Criou o site 'O SubSolo" em 2015 sem meras pretensões se tornando um grande incentivador da cena. Prestes a surtar com a crise da meia idade, tem a atelofobia como seu maior inimigo e faz com que escrever e respirar o Rock/Metal seja sua válvula de escape.