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#37 De Músico para Músico – O que escrever num release de banda?

Em outras ocasiões foi mencionado aqui o que enviar para imprensa, como montar o seu press kit e chegar aos olhos das mídias. Também foi mencionado como se portar perante às mídias e como levar um papo com os caras, chegar junto e mostra seu material.

Mas ainda não foi especificado sobre o conteúdo do release, e eu andei recebendo uns releases bem esquisitos… Vamos começar o ano com o pé direito e montar a primeira coluna de Fevereiro com esse tema!

Cenário já explicado: Banda com material novo, recém gravado e cheia de boas intenções para chegar na mídia com os dois pés no peito e mostrar que são realmente uma banda monstra!

  • O que a mídia quer ver vs. O que a banda quer mostrar:

Seguem tópicos de interesse para a mídia:

  • Localidade da banda
  • Integrantes atuais
  • BREVE história da banda
  • Membros passados tem grau baixo de interesse mas é legal
  • Influências
  • Auto definição de estilo
  • Contatos
  • Arte de capa
  • Mencionar eventos que já tocaram é legal

Como qualquer produto que está sendo mostrado para um possível consumidor, a ideia do release é demonstrar para um possível consumidor o que ele pode esperar do produto.

Em outras palavras, o release é uma propaganda, uma tentativa de cativar o seu consumidor, e ao mesmo tempo, serve de triagem, pois se eu não curtir um determinado estilo e no release já ficou claro que temos aquele estilo, eu procurarei outro produto que esteja dentro das minhas especificações.

A arte não deixa de ser um produto, seja ela qual for. O escultor precisa explicar pro seu consumidor que sua próxima obra será uma figura de um asno mascando chiclete. Se o consumidor tiver aversão ao tema, ele deverá procurar um outro artista que o agrade, provavelmente com um peixe dançando frevo, ou algo que o valha.

Tendo isso em mente, a banda segue direitinho o tema e manda assim:

“Estamos na nossa casa, somos 3 amigos, tocamos há um tempão, já tiramos um monte de gente da banda, gostamos de bala 7 belo e temos celular. (rabisco) OS. A gente toca muito!”

Ou seja, me disseram tudo o que eu queria saber mas ao mesmo tempo não me disseram nada.

Esse é apenas um dos exemplos de como uma banda pode ficar mal vista com um release mal elaborado.

O ponto mais importante é q banda demonstrar o tipo de som que está fazendo sem dizer que eles são os melhores naquele estilo ou que eles são os próximos Beatles. A auto confiança é legal, mas deixe que o ouvinte escolha se você será a sua próxima banda favorita ou não.

Basicamente, respondendo ao título deste tópico, a mídia quer conhecer melhor a banda e por sua vez, a banda, quer mostrar que é melhor que o vizinho…

  • O que a mídia pensa?

Ninguém pega um material de banda e coloca em cheque ou avaliação, simplesmente não é esse o intuito de apreciar um álbum.

Quando eu recebo um material assim eu desejo muito, mas muito mesmo que aquela seja a melhor banda do mundo. Estou falando sério.

É legal sentir a crença da banda, o quanto eles colocaram de esforço naquele disco, o suor, a grana, a expertise, o gosto particular dos integrantes, tudo isso é muito legal de você analisar na arte final, mas é preciso ser analisado de uma forma limpa, sem prévio deboche ou afins.

O papel a ser cumprido pelo release é preparar a mídia para essa audição, puxar o ouvinte para o mundo em que aquele material se encontra.

Um exemplo muito clássico de release eficiente:

Banda Ézinflames, formada em cidade tal, no ano de 1814 pelos companheiros de gamão Fulano (guitarras) e Ciclano (voz). Começaram a trabalhar em ideias e logo convidaram Beltrano (bateria) para integrar o grupo. (Velocidade, praticidade e informações concisas. Falaram tudo sem rodeios)

  • As inflluências da banda são Zé Ramalho e Ovelha, com uma pitada de Padre do Balão. (Influências servem para mostrar o que os integrantes gostam de ouvir, consequentemente, mostrar um leve espelho disso no som a ser ouvido. Mesmo assim, não significa que essas influências serão seguidas ou ainda que a banda esteja concorrendo com as mesmas)

  • Nosso estilo pode ser definido como um White brutal corpse caldo de cana com limão metal, e esse álbum em especial tem uma pegada mais eletrônica. (Apesar de ser difícil, a inserção de um rótulo, seja ela preciso ou não, é muito importante para mostrar ao ouvinte que a banda sabe o que quer. Obviamente a definição de estilo pode ser bem genérica, como por exemplo: Power Metal. É uma definição com abrangência enorme e assim, permite que o ouvinte já faça a catalogação mental do que está prestes a apreciar).

  • Já participamos de festivais como o Qüçujo fest, o Fryêrra fest e o Dia-rrëa open air com uma ótima recepção do público. (Isso serve como uma espécia de carta de referência para possíveis contratantes, visto que em eventos ou casas de show, é preciso ter contato e muitas vezes até algum tipo de processo seletivo para tocar).

  • Nossos contatos e redes sociais são: xxxxxxxxxxxxxx. (Preciso mesmo comentar essa parte?)

  • A banda Ézinflames agradece por ter lido um pouco da nossa história e esperamos que nosso som seja do seu agrado! Forte abraço e aguardamos contato, mesmo que seja para bater um papo! (Cordialidade e amizade são fundamentais em qualquer área. Um contato que pode ser importante vai receber o material de muitas bandas e no caso de precisar contatar alguma, é natural que chame aquela que se identificar mais, certo?)

Existe uma coisa que eu sempre escrevo nas minhas colunas que é a questão de tentar ser gente boa, evitar ao máximo a arrogância e acima de tudo, tratar as pessoas com cordialidade.

Parece que o mundo chegou num ponto onde as pessoas podem escolher entre serem legais ou não e deliberadamente optam por serem imbecis.

Bora criar material que não seja de extrema presunção e arrogância, vamos mostrar nosso trabalho deixando que o apreciador da arte defina se somos bons ou não.

O medo de ser rejeitado faz com que alguns artistas ataquem de forma ofensiva aqueles que poderiam ser apreciadores da sua arte.

Nós, do metal, já temos a rejeição automática de uma parcela enorme da sociedade, então qual o motivo de atacarmos aqueles poucos que poderiam curtir o nosso som?

Em 2021, sejamos mais amigos, mas cordiais, mais musicais e acima de tudo, mais profissionais.

Gremista, catarinense, gamer, cervejeiro e admirador incessante do Rock/Metal. Tem como filosofia de vida, que o menos é mais. Visando sempre a qualidade invés da quantidade. Criou o site 'O SubSolo" em 2015 sem meras pretensões se tornando um grande incentivador da cena. Prestes a surtar com a crise da meia idade, tem a atelofobia como seu maior inimigo e faz com que escrever e respirar o Rock/Metal seja sua válvula de escape.