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#38 – De músico para músico – A importância de a arte de capa condizer com o estilo

Quantas vezes você se viu interessado por um disco por causa do trabalho de capa? Não só disco, assim como livros e filmes também?  Já desistiu de assistir um filme por ter uma capa medonha de tão feia? Ruim mesmo? Pois é, a arte de capa é com certeza o cartão de visita de uma banda, livro, filme ou seja lá o que for.

Sendo assim, eu analiso muito a arte em todos os materiais que recebo para resenha e em todas as bandas que eu vou ouvir e claro, já comprei muito disco pela capa quando adolescente. Naquele tempo distante onde o fã precisava visitar lojas físicas e escolher o disco por catálogo!

Conseguiria dissertar longamente sobre discos que hesitei de comprar por achar as capas péssimas e de outros que comprei por achar a capa fantástica. Porém, o que vale é mostrar o material e chamar a atenção, certo? Na verdade…. não! Vale demonstrar o seu trabalho, seu estilo e dar uma ideia do que o ouvinte vai encontrar ali.



Caso simples: A banda está decidindo o que pedir para o artista de capa deverá retratar para o seu próximo disco. Somos uma banda de Metal Folclórico e queremos na capa uma moto com um esqueleto pilotando. O ouvinte com certeza comprará o disco achando se tratar de Metal Tradicional. Parece um exemplo ridiculamente forçado, mas…. não é!

Quando o artista recebe a solicitação, dificilmente ele levantará questionamentos sobre o conteúdo da arte, visto que a banda já chega com ideias muito prontas e com a arte já montada na cabeça. Muitas vezes a própria banda se esquece do próprio estilo e mergulha na ideia da arte.

Vamos combinar que é muito legal idealizar o rosto da sua banda, não é mesmo?

Para exemplificar, vamos lembrar de três artes muito conhecidas:

01) British Steel

02) Black Álbum

03) The Number of the Beast



São discos icônicos e consagrados, mas imagine encontrar os três discos na mesma prateleira de uma loja e não conhecer nenhuma das bandas? A atenção com certeza ficaria bem dividida e o estilo ficaria um pouco bagunçado… Seria o Black Álbum uma banda de Black Metal? Ou o The Number of the Beast seria Black Metal? Judas Priest trabalha com depilação?

É claro e natural que a arte tem motivo e trabalha com a imaginação do ouvinte. Mas como fazer isso transparecer seu som sem ser clichê e ao mesmo tempo trazendo os detalhes necessários para cativar seu ouvinte?

Algumas técnicas utilizadas ao longo dos anos foram o uso de mascotes (Motorhead, Maiden, etc), ou o uso de cores, como Children of Bodom, por exemplo. A parte mais interessante é que o ouvinte precisa ter vontade de te ouvir e ao mesmo tempo ter ideia do estilo. Em ambos as situações, tanto mascote quanto cores não dão ideia de estilo, apenas de continuidade.

O mais interessante em termos de mercado, é que hoje em dia a arte se tornou algo mais vivo e com mais variedade de formatos. Antigamente só se via a arte nos discos de vinil, fitas K7 e livretos de cd, hoje temos a arte em programas de streaming que se movimentam, que tomam a tela do seu celular enquanto a música toca e que se movimentam num lyric vídeo enquanto a letra dança para o ouvinte acompanhar.

Será que estamos acompanhando tudo isso ou só fazendo mais do mesmo? Mais crânios com fogo e céus tempestuosos? Raios, motos, demônios e bandeiras rasgadas?

É algo que foge totalmente da alçada do músico e parte para o mundo dos desenhistas e artistas de modo geral, mas se o músico não mudar a cabeça e evoluir, o artista não pode enfiar na garganta de todos da banda uma nova identidade visual…

O que fazer então:

– Mostrar para o artista o seu som;
– Desenhar mesmo que de forma infantil a sua ideia;
– Caso o artista seja de outro estilo, mostrar exemplos de artes de outras bandas;
– Se esforçar para a arte conversar com a sua música;

Padrões:

– Muito fogo, chamas, labaredas;
– Raios, chuva, tempestades;
– Crânios, ossos, esqueletos, caveiras;
– Árvores, Yggdrasil, raízes, galhos;
– Mar, oceano, lago, barcos;
– Ceifador, morte, capuz, mago;

Conseguiu imaginar 35 capas, né? Contanto que seja algo que remeta ao seu som, tá certinho!

Bora colocar a criatividade pra funcionar e trabalhar com artistas bacanas, que nosso BR está cheio deles. Valorize o profissional, não hesite na hora de investir numa arte bem feita, facilite a vida do artista com algo concreto!

Resumindo: Saiba o que você quer!

Tecladista desde cedo, produtor musical, atua exclusivamente na área musical com bandas, aulas e estúdio.