Estou numa sequência de colunas mais voltadas para o comportamento dentro da banda, o interpessoal aplicado ao palco e estúdio, e normalmente os temas das colunas seguem um pouco do meu dia a dia.

Dessa vez quero abordar uma temática mais técnica e partir um pouco para o lado operacional da coisa.

O estudo de cenário técnico tem muito de comportamental individual quando o assunto vai para utilizar ou não determinados detalhes no palco.

O click é uma ferramenta que flerta muito com o individual dos músicos, mexe bastante com a relação entre os integrantes e pode ser um gerador de problemas (não que exista algo que nunca possa gerar problemas em banda…)

Vamos colocar um cenário bastante comum e listar prós e contras:

Cena – Banda busca entregar um evento mais profissional e a sugestão foi a utilização do click/VS

Detalhe 1 – O que é click/VS?

O click é o famoso metrônomo que todo músico briga um pouquinho para se adequar a ele, seja em gravação, seja em ambiente de estudo ou até mesmo em ensaios.

VS é a sigla para “Virtual Sound” e é um recurso usado constantemente por bandas no palco, principalmente quando a gravação original conta com instrumentos que a banda não tem como reproduzir ao vivo. O mais comum são backing vocals, instrumentos étnicos, dobras de instrumentos além daquelas possíveis de se executar com uma banda de tamanho padrão.

Vale ressaltar que o VS depende totalmente do click para funcionar.

Ok, sabemos do que se trata. Agora vamos analisar o caso.

De fato o uso do click reflete profissionalismo?

A resposta é bem delicada. Sim e não! Os músicos precisam estar afiados em bem coordenados para conseguir tocar com o click nos ouvidos. Sincronismo perfeito, execução perfeita, tudo menos orgânico do que num show sem click.

Prós:

– Show cronometrado;
– Ensaios pontuais;
– Chance de erro menor;
– Apoio de VS melhora o desempenho das vozes;
– Não há oscilação de velocidade;
– Ordem de setlist mantida;
– Introduções e interlúdios programados;
– Show padronizado.

Contras:

– Menor contato com o público;
– Zero chance de alteração de set;
– Show menos orgânico;
– Zero experimentação;
– Menos conversa entre músicas;
– No caso de um erro, o ajuste será complexo;
– Menos grupo e mais individual no palco;
– Show padronizado (ué? Aqui tb?).

Pois então analisando as duas listinhas eu percebo que o click deixa as coisas mais mecânicas, certo?

É mais ou menos isso. Com o click existe um processo muito positivo de execução, que melhora demais o nível da banda, porém, acontece da mesma intensidade um certo engessamento que, sem o devido cuidado, pode transformar demais o show em algo duro, robótico e sem vida.

Dicas de convívio mantendo a humanidade da coisa:

– Ter um técnico responsável pelo disparo do click e VS para cada música;
– Na mesma linha, evitar programar o show inteiro;
– Montar todos os clicks/VS para cada música dentro de um projeto e soltar de acordo com o evento;
– Automatização é legal, mas lembrar de humanizar;
– Ter um “killswitch”, se algo der errado, conseguir desligar o click sem matar o show.

Quem mais se afeta com o click é o baterista. Sendo isso afirmado, o processo de adaptação para o uso da ferramenta precisa ser contínuo e gradativo.

– Tocar com click em casa;
– Estudar;
– Estudar mais;
– Ter um bom sistema de retorno e se acostumar com isso;
– Acostumar com o uso do fone in ear para tocar;
– Se colocar em situação adversa em ensaios para lidar com resolução de problemas;
– Usar a tecnologia a seu favor.

Músicos que tem dificuldade de se acostumar com fones, podem utilizar metrônomos de vibração em formato de relógio ou até mesmo sincronizados com o celular.

O que vale no final é conseguir um resultado bacana e sempre elevar o patamar do seu som/evento/banda.

É isso, além de tentar ser sempre gente fina, também vale buscar novidades e deixar sua banda cada vez mais profissional.

Bora buscar mais e mais soluções.

Tecladista desde cedo, produtor musical, atua exclusivamente na área musical com bandas, aulas e estúdio.