Uma sonoridade que, ao mesmo tempo, demonstra acalentar seu ânimo e aguçar sua criatividade, transpondo sua consciência para patamares mais elevados de equilíbrio. Não apenas uma pílula, mas todo um frasco de energização para os bons ouvintes de sons orientados ao rock progressivo, ao jazz e ao fusion. Assim descrevo inicialmente a sonoridade da Hiram, banda argentina formada em 2007 que recém lançou seu mais novo single, a agradável música Candil, nascida no final de Julho.

 

(Candil, single)

A seguir deixo uma conversa com a banda, representada por Juan Linares, vocalista, letrista e pianista da banda. Confiram!

Um prazer tê-los conosco. Bem-vindos. Considerações iniciais?
O prazer é nosso. Obrigado pelo tempo e espaço, é a primeira vez que fazem uma entrevista fora do país, por isso agradecemos. Nos parece importante e celebrável que a música atravesse as fronteiras e nos deixa muito felizes saber que no Brasil, em alguma radio, site, ouvidos, de repente nossa música está chegando.

Hiram, já com quase quinze anos de existência, chega em 2021 entregando algo que (penso eu) vem na medida certa para agradar o público que vocês devem ter formado até então: boas doses de melodia, elementos progressivos bastante criativos e uma dose relevante de peso em momentos específicos. O que representa para vocês Candil, seu novo single? Sobre o que trata a faixa?
Obrigado pela descrição da música que acabamos de lançar, Candil, já que resume bem o que buscamos soar com a banda: basicamente compomos canções, porém tanto as melodias como o que denominas “elementos progressivos” são a hierarquia dentro da nossa música. Candil é, pra gente, uma carta nova, uma mensagem, uma letra escrita à mão para voltarmos a nos comunicar com as pessoas, pois fazer música também é contar histórias e essas histórias logo são as histórias das pessoas que escutaram a canção em um momento particular da vida. A canção é uma canção de amor e de força, fala sobre como o encontro de dois é muito mais poderoso que a solidão. Fala sobre como o fogo como metáfora da magia só ocorre com o encontro de dois seres humanos.

Pelo que li, a faixa é o primeiro single de seu próximo disco, o quarto da carreira. Como poderiam nos apresentar a proposta musical que virá com ele?
O álbum que estamos apresentando e que se inicia com Candil constará de várias partes, a maioria sendo singles, e uma última edição final que irá conter as canções dentro dos singles e várias novas. Para esta edição final, temos a ideia de editá-la em formato físico em uma versão colecionável, porém ainda não definimos isso completamente. As canções foram compostas entre 2017 e 2020, aproximadamente para as quais há, como costuma haver em nossos álbuns, cores muito díspares, canções que lembram o jazz e outros ares do folclore argentino como o zamba por exemplo, há também alguma balada e também um pouco de rock pesado. Tudo isso atravessado pela música, eixo fundamental dessas composições. A arte de todo o álbum está a cargo de Ale Toral (@alito.cartoon) que trabalha com a premissa de um conceito que orientamos: cada uma das “capas” dos singles vale um trabalho à parte, mas a soma de todas as capas forma uma pintura maior que também vale como obra acabada.

Em qual fase da “vida” está esse novo material no momento e qual a previsão de lançamento?
Se encontra em uma etapa única, como toda etapa. Vindo mais claro, com mais experiência, pesando mais em base a nossa experiência e a maneira com qual nos ligamos com a música. Creio que vem quando precisa vir, como a própria vida, e nos agarra em nosso melhor momento. O próximo single, esperamos que esteja saindo em no máximo 45 dias, e o disco final esperamos que venha à vida no final de 2021.

O registro anterior da banda é “Los Reinos”, apresentado como uma trilogia de materiais lançados separadamente como EPs de cinco faixas cada. Respectivamente: “Animalia”, “Plantae” e “Lapides”, todos do ano de 2017 e formando um uníssono. Qual o conceito por trás do lançamento e de onde veio a decisão de lançar o material dessa forma?
Levamos em conta dois fatores: o primeiro, as características da atual era digital, da arte nessa era, da maneiras que as pessoas desfrutam a arte atualmente, etc. Nos pareceu adequado, assim como agora, que a música seja diária, que a apresentação dos temas esteja espaçada e as pessoas tenham tempo de escutar uma ou duas faixas e possam digeri-las enquanto se prepara o novo, uma boa maneira de estar presente nas redes com novidades importantes, insistindo e existindo nos diversos planos do atual momento do mundo. E o segundo, queríamos apenas isso, que seja um conceito, que seja um uníssono, então os misturamos desde a arte gráfica, algo parecido com o que estamos fazendo agora. As canções são paisagens de um universo e esse universo se visualiza como uma pintura sustentada por um conceito.

 

 

O cenário musical argentino, vasto e versátil, sempre demonstrou transitar fluido do Rock Progressivo ao Metal Extremo, atingindo todas as possíveis nuances. Temos desde ícones do Blues, a exemplo de Pappo, até grandes referências do Stoner e do Doom, como Los Natas e Dragonauta. De onde vêm as referências sonoras da Hiram?
É muito bom essas referências sonoras e também é bom o que tem tocado e toca aqui na Argentina, um Rock tão original e variado que nunca perdeu sua identidade e que, ao mesmo tempo, tem raízes profundas no folclore e no tango… algo parecido, ao meu ver, com o que se passa no Brasil, um Rock único, inconfundível. Impossível não termos essas referências, dos músicos que nos precederam mas também do mundo todo. Tocamos uma vez uma canção própria com ares de Bossa Nova, por exemplo. Chamava-se Mi Juego. Da mesma forma, assim como a música brasileira, também nos influencia a música uruguaia, a norte-americana, a europeia. Por que também não nomear como referência sonora certos filmes, certas pinturas? Seria uma contradição possível e muito boa.

A música é algo presente em sua vida desde que época? Quais são os momentos e experiências mais antigas que lhe evocam a “memória afetiva” e os primeiros contatos com ela?
Recordo muitos discos de minha infância, muitos estavam presentes na minha casa quando nasci. Outros, fui comprando e não tenho memória exata disso, porém sei que aos meus 6 anos estava com uma camiseta dos Beatles e depois comprei uma de Charly Garcia, e que em minha casa tocava Silvio Rodriguez, que é para mim um dos melhores compositores de canções da história. Também El Amor Después Del Amor de Fito Paez, e que quase toda a música que me acompanhou em minha infância segue me encantando hoje. Um dos primeiros momentos que evocam minha história afetiva é uma vez em que meu amigo Martín me mostrou a banda de Andrés Calamaro, Los Rodríguez, eu devia ter 6 ou 7 anos. Quando cheguei em casa não me lembrava do nome da banda que ele havia me mostrado, então telefonei para ele e perguntei “Martín, como se chamava a banda? Los Ramones?”Não sei de onde tirei isso mas foi uma confusão divina, muito infantil, inocente e oportuna.

Nesse momento, como estão lidando com a situação pandêmica em seu país? Até que ponto todo esse caos afetou vocês profissionalmente?
Nos afetou em todos sentidos e também profissionalmente. Tivemos que suspender os ensaios. O disco, gravamos em uma semana que haviam aflorado as medias de isolamento pelo vírus. Nesse momento estamos tomando muito cuidado, sabendo que a pandemia não terminou, apesar de que a circulação nesse momento seja praticamente normal. Sabemos que a aglomeração de pessoas tem um risco, por sorte já há uma grande quantidade das pessoas vacinadas e estamos muito esperançosos de que logo poderemos nos juntar sem preocupação. Enquanto isso, estamos tranquilos, com otimismo e paciência.

Após “Candil”, quais são os próximos passos rumo ao lançamento do novo disco? Já há algum tipo de novo material referente ao álbum sendo planejado, ou por ora a faixa é tudo de novidade referente a ele que pretendem apresentar?
Queremos ir lançando alguns temas em formato single, cada um com uma distância temporal de aproximadamente um mês/um mês e meio, de maneira que no mais tardar em começo de 2022 a obra esteja terminada. A soma dos singles e provavelmente um EP formarão uma obra única, assim como fizemos com Los Reinos. Os temas do disco final estão todos gravados, falta a masterização. Assim, a medida que formos masterizando vamos editando e difundindo.

Quero agradecer pela atenção, lhes desejar sucesso e sorte. Última mensagem?
Obrigado a vocês! Cuidem-se muito. Façam o bem. Apoiem a arte independente. Se beber, não dirija.

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Matheus, redator musical por paixão, crocheteiro por profissão e fã de Stoner Rock e Doom Metal por falta de rumo na vida. Fã de Black Sabbath, Motörhead, e igualmente de Michael Jackson e Abba. Criador do selo Bruxa Verde Produções e da Brasil Chapado. No gods no masters.