O Sepultura lançou recentemente seu décimo-quinto álbum de estúdio “Quadra“, sendo o sucessor para o aclamado “Machine Messiah” de 2017. Foi possível ouvir alguns singles como “Isolation” tocado pela primeira vez no Rock In Rio 2019 e “Last Time” lançado posteriormente como o segundo single do álbum. Então aumentem o volume, pois nós vamos falar sobre esse incrível lançamento.
A resenha foi realizada por Caio Botrel e os comentários foram feitos por Harley Caires, Vinicius Albini-Saints, Kito Vallim e Maykon Kjellin.
A faixa de abertura do álbum é a “Isolation” primeiro single e que foi apresentada pela primeira vez no Rock In Rio. A música começa com um efeito interessante, que chega a lembrar inclusive alguma trilha sonora de filmes sobre alienígenas e então a bateria começa a crescer, corais são adicionados e as guitarras lembram bastante o Slayer – o que foi algo totalmente positivo. Após a introdução da música, há um riff estupidamente agressivo e os vocais de Derrick chegam quebrando tudo. Destaque também para a bateria insana de Eloy e o pesado baixo de Paulo. Essa música já apresentou alguns elementos diferentes, como bastante utilização de corais e alguns licks diferentes por parte de Andreas. Não haveria melhor faixa para abrir o álbum.
“Means To And End” começa com um riff estupidamente rápido e uma bateria que vai dar trabalho para quem quiser tocar. Há também uma narração de vocais do Derrick que vai te preparar exatamente para a porrada que está a caminho. Os vocais estão absurdamente fodas e sinceramente, que bateria, meus amigos… que bateria! Para os guitarristas, vocês vão conseguir ouvir um lado mais técnico e bem trabalhado do Andreas. A estrutura da música é mais simples, porém as ambientações criadas na música é algo maravilhoso. Há uma parte mais calma antes do solo de guitarra, com a bateria fazendo linhas incríveis e as guitarras apenas alguns arranjos mais limpos e claros, até chegar em um riff dissonante e o Andreas mostrar que também é um shredder.
“Last Time” foi um dos singles do álbum e por tanto já é uma faixa conhecida, mas isso não tira a surpresa de escuta-la encaixando no álbum! A música inicia com um lick de guitarra incrível e em seguida começa uma tempestade que chegou a me lembrar inclusive Animals As Leaders, logo quando a bateria entra. Achei sensacional alguns elementos de Technical Death Metal e até Progressive Metal que adicionaram aqui. A ambientação é alterada de pura agressividade para um clima mais tenso, com uma bateria maravilhosa criada por Eloy e bons arranjos e licks de guitarra. O baixo de Paulo soa grave e pesado no fundo, enquanto os corais dão uma sensação apocalíptica à música. O solo é sensacional, bem estruturado e diferente do que se costuma ouvir do Andreas. Só escutem, não tem nem como falar disso aqui.
“Capital Enslavement” começa com uma percussão brasileira com alguns arranjos de orquestrações e vocais de nativos que poderá agradar os fãs do clássico “Roots” de 1996. A música te transporta automaticamente para algum lugar com os indígenas brasileiros. Essa música tem elementos interessantes, além da brasilidade da percussão e vocais indígenas, há também um groove de guitarra fodido e as linhas vocais do Derrick estão maravilhosas, principalmente no refrão que é algo que vai te fazer ficar insano ao ouvir. Cara, essa música tem elementos que vão agradar os fãs de todas as eras do Sepultura.
“Capital Enslavement tem elementos do Machine Messiah, porém Derrick apresentou sua melhor performance vocal, ao lados dos tambores que são marca do Sepultura. Durante a faixa há uma quebra de andamento, fazendo uma levada de puro Thrash Metal, que remete a era Arise”
Harley Caires
Harley Caires
“Ali” começa direta na cara, com um riff de guitarra estupidamente pesado e uma bateria que vai te deixar louco. O baixo do Paulo abre espaço para os vocais do Derrick que estão com alguns efeitos muito interessantes, até que todos os instrumentos mostram sua cara em unidade e você tem certeza de que é uma das músicas mais pesadas do álbum. Há um backing vocal na frase “Is a sweeter death to know” no refrão que ficou do caralho. Cara, essa música com certeza vai fazer o pessoal abrir rodas nos shows. Ela tem alguns vocais guturais no fundo que soam como se fossem algum monstro correndo atrás de alguém e tudo isso em meio a uma sessão de riffs Thrash/Death maravilhosos.
“Raging Void” começa com um riff de guitarra interessante que lembra algumas coisas do Progressive Metal, o baixo é absolutamente fantástico aqui devido seu peso e as orquestrações já conhecidas no disco criam uma ambientação interessante. Essa música é um pouco tensa, cria um clima de que algo está para acontecer e isso é sensacional. As linhas de bateria lembram algumas percussões brasileiras também. Os backing vocals na frase “Start right now” estão sensacionais, modernos e inovadores no som do Sepultura. Cara, por incrível que pareça, a parte pós primeiro refrão, me lembrou o Porcupine Tree com sua progressividade e trabalho de guitarras. Mano, que do caralho!
“Guardians Of Earth” começa com uma bela introdução de violão acústico utilizando cordas de nylon, criando um som mais clássico. Uma percussão mais brasileira é adicionada as linhas de violão e a música vai crescendo progressivamente, até chegarem os corais que vão te transportar para alguma outra dimensão, porque você provavelmente já está em outro lugar com essa música. Os riffs de guitarra e vocais agressivos do Derrick chegam sem avisar, te dando um soco na cara e te acordam da viagem que você estava. Essa música é absurdamente pesada e não dá trégua, as linhas vocais estão maravilhosas, os riffs estão lembrando um pouco Technical Death Metal e a bateria também. A faixa contém possivelmente um dos solos mais bonitos já criados por Andreas Kisser. O Derrick apresenta alguns vocais mais limpos, contendo apenas algumas drives também! Cara, essa é definitivamente uma das minhas faixas preferidas do álbum. Ela é épica, absolutamente inovadora e incrível.
“The Pentagram” é direta, pesada e com um groove de guitarra, de baixo e linhas de baterias que vão te fazer começar a bater cabeça assim que ouvir os primeiros acordes. Essa faixa é instrumental e possivelmente uma das mais pesadas de todo álbum, contém riffs de guitarras extremamente rápidos, agressivos, técnicos e todo o instrumental completa esse bonito caos sonoro, agregando mais peso e versatilidade. Após toda a agressividade, um parte mais calma, porém ainda insana, chegou a me lembrar jazz! Mas não se assuste, a porra volta com toda força na sua cara. Aparentemente Eloy, Paulo e Andreas quiseram mostrar como amadureceram como músicos e compositores, afinal de contas, é possível encontrar aqui algo nunca visto por esse time. Talvez o “Machine Messiah” tenha mostrado um pouco disso, mas nada como essa faixa.
“Autem” começa com um riff de guitarra interessante, mas o que chama mais atenção é o refrão ser cantado com voz limpa, sem guturais e/ou drives por parte de Derrick. A música é moderna, bem estruturada e possui algumas passagens de guitarra e bateria interessantíssimas. É notável as diferentes influências que foram utilizadas para escreverem essa música e novamente temos os violões acústicos com cordas de nylon fazendo alguns arranjos junto da percussão de Eloy, guitarra de Andreas e profundos vocais de Derrick. Cara, eu realmente pensei que nunca ouviria uma música desse estilo na banda.
“Quadra” é uma faixa instrumental e também a título de 46 segundos que inicia-se com o Andreas dizendo “um, dois, três e quatro” e em seguida toca uma peça de violão inspirada, inovadora e quebradora de barreiras sonoras dentro da banda.
“Agony Of Defeat” começa com belas orquestrações e um trabalho de guitarra magnífico e melódico, que criam espaço para os vocais graves e limpos de Derrick. É uma música estupidamente diferente de qualquer outra que você pode escutado em toda carreira da banda. As linhas vocais estão sensacionais, o trabalho de guitarra está fora do comum e a cozinha de baixo e bateria está impecável. Adorei a forma como utilizaram as orquestrações e coros vocais nas músicas. O refrão é absolutamente pesado e me deu arrepios! Caralho, sinceramente não sei o que dizer. A mistura dos vocais limpos e guturais, os pesados riffs de guitarra, solos super bem construídos e uma cozinha que chega a dar inveja, principalmente pelo Eloy que senta atrás da bateria… olha, isso é maravilhoso.
“Fear; Pain; Chaos; Suffering” é a faixa que fecha o álbum e inicia-se com um belo som de guitarra com timbre limpo e mais claro e de forma progressiva, a música vai crescendo, até termos uma excelente surpresa que é a participação mais que especial da vocalista Emmily Barreto do Far From Alaska. Os vocais femininos em meio ao peso do instrumental e duetos com os profundos e graves vocais de Derrick tornaram essa música uma obra prima, um soco na cara de todos que poderiam criticar a banda por qualquer motivo que seja. Não quero falar muito sobre a música, apenas escute e veja o potencial que a faixa tem.
O Sepultura lançou um novo álbum intitulado “Quadra” que não deve ser visto apenas como um novo lançamento da banda, mas sim como um marco histórico em toda sua carreira. O magnífico “Machine Messiah” de 2017 mostrou para o mundo todo que a banda é capaz de se inovar, de adicionar novos elementos e que ainda levantam a bandeira de uma grande banda, mas é com o álbum “Quadra” que a banda finca perpetuamente no chão, o título de que são uma das maiores bandas da história do Metal mundial. O trabalho de guitarras e violões de Andreas Kisser e os vocais de Derrick Green são estupidamente os melhores de toda história da banda e também devo citar que o trabalho da cozinha de Paulo Xisto no baixo e Eloy Casagrande é também o mais desenvolvido e estruturado de toda carreira. O Sepultura mostrou ser uma banda madura e que não tem medo de inovar em sua sonoridade. É definitivamente o melhor álbum do ano e talvez, o melhor da carreira da banda.
“Não imaginava que o Sepultura daria um passo ainda além, mas me surpreendi. A banda está ainda mais madura, explorando de forma mais coesa e sensata os recursos “extra-banda” (teclados, orquestrações, etc).
O que me chamou muita atenção foi o trabalho do Andreas Kisser e principalmente de Derrick Green. Os dois entregam o máximo de si em termos de criatividade e habilidade, alcançaram níveis que ainda não havíamos visto no currículo do Sepultura.
Tanto as guitarras quanto as passagens de violões são geniais e ousadas, com grandes momentos de velocidade, groove, peso e melodia. Certamente Kisser está em seu ápice técnico nesse momento e o reflexo disso são as composições de Quadra.
Já Derrick Green me deixou boquiaberto com seu desempenho. Monstruoso e versátil, explorando cada recurso que sua voz pode oferecer. Utiliza seu tom barítono e limpo em alguns momentos densos, enquanto alcança gritos rasgados e viscerais em frases tensas e nervosas. Sua interpretação lírica é perfeita e tenho tranquilidade em afirmar que em pouco tempo não precisará mais se preocupar em cantar músicas “compostas pelo marido de alguém”, pois está construindo um repertório devastador e bestial por conta própria.”
Vinicius Albini-Saints
Vinicius Albini-Saints
“Em Machine Messiah, o Sepultura abraço uma tendência que vinha forte com bandas já estabelecidas como Orphaned Land e outras que vinham em rápida ascensão, como Myrath, que era incluir elementos orientais em seu som. Mas se você parasse para ouvir por trás de todos esses arranjos e se atentasse ao metal “de fato” praticado pela banda no álbum anterior, é possível perceber que o Sepultura apresentava algo diferente, com a impressão digital do Sepultura, e muito bom! Em Machine Messiah, a banda enxergava um oceano de possibilidades e molhava apenas os dedos do pé.
Em Quadra, a banda vai além, mergulha de cabeça em uma sonoridade única, pronta para fazer o mundo inteiro ir atrás deles. Ao invés de abraçar uma tendência de mercado, o Sepultura decide se tornar a tendência. A banda evolui a sonoridade de Machine Messiah, criando um legítimo álbum do Sepultura, com todas as letras. Quadra é a grande apoteose da era Derrick Green, quando todo o experimentalismo apresentado em álbuns como Dante XXI, A-Lex, The Mediator (abreviando) e Machine Messiah – que apesar de interessantes, em sua maioria não caíram no gosto do público – se unem, aliando-se a um metal que somente a maior banda brasileira de metal é capaz de fazer, de uma forma extremamente única para criar um álbum pesado, coeso, forte, vibrante e agressivo de um jeito particular e único.”
Kito Vallim
Kito Vallim
“Acho que dos últimos discos do Sepultura, esse foi o mais certeiro. Pitadas do Thrash Metal old school em que nada deve a era dos Cavalera. Falando em técnica, é o melhor disco do Derrick Green, mostrou nesse trabalho o motivo de ter sido escolhido para compor a maior banda de Metal do Brasil. Esse é um trabalho que encerra definitivamente uma possível (nunca acreditei) volta de Max Cavalera, infelizmente um ou outro fã mais radical ainda tentará menosprezar o “Quadra”, mas a verdade é que não tem o que botar defeito aqui.”
Maykon Kjellin
Maykon Kjellin
TRACKLIST
01) Isolation
02) Means To An End
03) Last Time
04) Capital Enslavement
05) Ali
06) Raging Void
07) Guardians Of Earth
08) The Pentagram
09) Autem
10) Quadra
11) Agony Of Defeat
12) Fear; Pain; Chaos; Suffering
FORMAÇÃO
Derrick Green – vocais
Andreas Kisser – guitarras
Paulo Xisto – baixo
Eloy Casagrande – bateria
PARTICIPAÇÃO ESPECIAL
Emmily Barreto – vocais na faixa 12*