Por: David Torres
O álbum de estreia do Cannibal Corpse é aquele debut simples, sujo, brutal e direto ao ponto. Trazendo composições como “Shredded Humans”, “Edible Autopsy”, “Scattered Remains, Splattered Brains”, “Born in a Casket”, “Buried in the Backyard” e o hino “A Skull Full of Maggots”, “Eaten Back to Life” introduziu os mestres do Gore ao cenário Death Metal emergente no início dos anos 90. O resto, como dizem, é história!
Nesse sábado (15), os veteranos estadunidenses do Death Metal do Cannibal Corpse e os pioneiros ingleses do Grindcore do Napalm Death retornarão a São Paulo para uma noite regada a mais pura pancadaria e som extremo. Para entrar no clima desse evento imperdível, selecionamos 7 álbuns matadores e indispensáveis de ambas as bandas. Ressaltamos que os trabalhos escolhidos foram listados por ano de lançamento e não são necessariamente os melhores de cada banda, porém são discos que representam muito bem as carreiras dessas duas lendas da música extrema. Esperamos que apreciem!
– Cannibal Corpse:
“Eaten Back to Life” (1990)
Metal Blade Records
O álbum de estreia do Cannibal Corpse é aquele debut simples, sujo, brutal e direto ao ponto. Trazendo composições como “Shredded Humans”, “Edible Autopsy”, “Scattered Remains, Splattered Brains”, “Born in a Casket”, “Buried in the Backyard” e o hino “A Skull Full of Maggots”, “Eaten Back to Life” introduziu os mestres do Gore ao cenário Death Metal emergente no início dos anos 90. O resto, como dizem, é história!
Também é importante dizer que Francis M. Howard (Opprobium) e Glen Benton (Deicide, ex-Vital Remains) emprestam suas vozes cavernosas em duas faixas. Ambos urram em “Mangled” e Benton ainda colabora na clássica “A Skull Full of Maggots”. Por fim, não podemos deixar de mencionar a arte de capa desenvolvida por Vincent Locke, artista responsável por conceber trabalhos para quadrinhos do Batman e The Sandman. Locke se tornaria uma peça fundamental para o CC, ilustrando todas as artes de capas dos registros da banda. Pra finalizar, essa grandiosa obra malevolente ainda possui o aclamado Scott Burns (Sepultura, Terrorizer, Obituary) na produção, cargo na qual ocuparia nos cinco primeiros álbuns do grupo.
“Butchered at Birth” (1991)
Metal Blade Records
Ainda mais agressivo e visceral que o disco anterior, “Butchered at Birth” dilacera por completo os tímpanos do ouvinte com rolos compressores como “Meat Hook Sodomy”, “Gutted”, “Under the Rotted Flesh”, “Covered with Sores” e “Vomit the Soul”, outra faixa que possui Glen Benton como convidado especial nos backing vocals. Nunca há tempo para descansar, cada composição soa como lâminas afiadíssimas e que jamais deixam qualquer resto mortal intacto. Impossível também deixar de falar a respeito da icônica e bizarra ilustração de capa, arte que foi censurada na época de lançamento, assim como outras da banda, conforme falarei a seguir.
“Tomb of the Mutilated” (1992)
Metal Blade Records
Muito conhecido devido a sua infame e marcante arte de capa que ilustra cadávares praticando sexo oral, “Tomb of the Mutilated” é outro trabalho da banda que prova que os caras realmente não tinham limites para a sua temática hedionda e sangrenta. Não é a toa que uma capa alternativa foi lançada na ocasião de seu lançamento. “Hammer Smashed Face” e “I Cum Blood” são legítimos hinos do CC, enquanto “Addicted to Vaginal Skin”, “Necropedophile” e “Entrails Ripped from a Virgin’s Cunt” são outros grande exemplos de composições completamente vis.
“The Bleeding” (1994)
Metal Blade Records
Esse é o último trabalho da banda com seu vocalista original, Chris Barnes (Six Feet Under, ex-Torture Killer). “The Bleeding” reúne composições ainda mais diversificadas entre si, alternando entre momentos frenéticos com outros mais cadenciados. A trinca “Staring Through the Eyes of the Dead”, “Fucked with a Knife” e “Stripped, Raped and Strangled” se tornou obrigatória nas apresentações ao vivo, enquanto outras faixas, como “The Pick-Axe Murders”, “She Was Asking for It”, “Force Fed Broken Glass” e “An Experiment in Homicide” também são outros grandes destaques da obra. Ah e claro, a arte de capa, embora não seja tão brutal e muito menos obscena como a anterior, foi novamente censurada.
“Vile” (1996)
Metal Blade Records
Eis aqui o primeiro álbum do grupo com George “Corpsegrinder” Fisher (ex-Monstrosity, Paths of Possession, Serpentine Dominion) assumindo os vocais! “Vile” não apenas faz juz a seu título (“Vil”, em português), como também agrada em cheio os ouvintes graças a desgraceiras arrebatadoras como “Mummified in Barbed Wire”, “Perverse Suffering”, “Disfigured”, “Bloodlands”, “Monolith” e principalmente “Devoured by Vermin”, composição que já estava sendo desenvolvida ainda com Chris Barnes na banda e inevitavelmente se tornou o primeiro grande clássico da era “Corpsegrinder”. Esse também é o segundo material do grupo com o guitarrista Pat O’Brien (ex-Nevermore).
“Bloodthirst” (1998)
Metal Blade Records
Produzido por Colin Richardson (Bolt Thrower, Carcass), esse terceiro álbum com “Corpsegrinder” nos vocais é um esquartejamento sonoro muito bem construído. A arrasa-quarteirão “Pounded into Dust” dá início ao trabalho com toda a insanidade que o disco necessita. Por outro lado, “Dead Human Collection”, “Unleashing the Bloodthirsty”, “The Spine Splitter” e “Blowtorch Slaughter” também são outras facadas nos tímpanos desavisados. Uma pedrada daquelas, sem mais!
“Torture” (2012)
Metal Blade Records
“Torture” é o décimo segundo álbum de estúdio desses mestres do Death Metal e dessa vez, tem sua produção assinada por Erik Rutan (Hate Eternal, ex-Morbid Angel, ex-Ripping Corpse). Rutan já havia produzido os dois discos anteriores a esse, bem como também produziu o último álbum de estúdio da banda, “Red Before Black” (2017) e mais uma vez, realizou um trabalho primoroso, deixando o som das composições na medida certa, equilibrando a sujeira e a qualidade da gravação com sabedoria. Tente sobreviver ao massacre proporcionado por “Demented Aggression”, “Scourge of Iron”, “Encased in Concrete”, “As Deep as the Knife Will Go”, “Intestinal Crank”, bem como “The Strangulation Chair”, som devastador que possui um solo de baixo de Alex Webster capaz de deixar muitos de queixos caídos.
– Napalm Death:
“Scum” (1987)
Earache Records
Lançado há 31 anos, o debut do Napalm Death é aquele tipo de disco cuja fama o precede. Contando com uma arte de capa ilustrada por Jeff Walker (Carcass, ex-Brujeria), essa desgraceira de pouco mais de meia hora de duração virou o mundo de cabeça pra baixo ao disseminar o Grindcore, sonoridade totalmente nova naquele período, fruto da fusão de Hardcore Punk, Metal Extremo e outros elementos. A bolacha é dividida em dois lados e duas formações. Falando de forma resumida, a primeira parte do disco tem uma pegada mais Punk e a segunda já é mais extrema e caótica. Ao todo, são 28 hinos da anti-música, dentre os quais podemos citar “Instinct of Survival”, “The Kill”, “Scum”, “Caught… in a Dream”, “Siege of Power”, “Control”, “Human Garbage”, “Life?”, “Success?”, “Deceiver”, “Divine Death”,”M.A.D.” e claro, a infame “You Suffer”. “Scum” é simplesmente um clássico atemporal e uma das muitas bíblias do gênero.
“From Enslavement to Obliteration” (1988)
Earache Records
Apresentando uma arte de capa tão impactante e memorável quanto a de seu antecessor, cortesia do alemão Mark Sikora, “From Enslavement to Obliteration” é, assim como o debut, outra bíblia do Grindcore. Também é importante dizer que esse é o primeiro trabalho do ND com sua primeira formação clássica, encabeçada por Lee Dorrian (vocal), Bill Steer (guitarra), Shane Embury (baixo) e Mick Harris (bateria). Esse line up possui um entrosamento bárbaro e isso é mais que perceptível ao ouvirmos faixas como “Evolved as One”, “It’s a M.A.N.S. World!”, cujo título é um tributo ao Crass, “Lucid Fairytale”, “Retreat to Nowhere”, “Social Sterility”, “Practice What You Preach”, “Inconceivable?”, “Mentally Murdered” e claro, as obrigatórias “Unchallenged Hate” e “From Enslavement to Obliteration”. Outra obra prima indispensável!
“Harmony Corruption” (1990)
Earache Records
Muitos fãs de Death Metal tem esse disco – ou o seu sucessor, “Utopia Banished” (1992) – como seu álbum favorito da banda. Falando sobre o álbum em si, há muitas coisas a serem ditas, porém tentarei ser breve em meus argumentos. Primeiramente, o baixista Shane Emburry e o baterista Mick Harris retornam e, trazendo sangue novo a banda, temos três monstros igualmente formidáveis: os guitarristas Jesse Pintado (1969 – 2006), ex-Terrorizer, ex-Lock Up, ex-Brujeria e Mitch Harris, do Righteous Pigs e ex-Meathook Seed e claro, o eterno “dinossauro do Grind”, Mark “Barney” Greenway, ex-Benediction, ex-Extreme Noise Terror, assumindo os guturais.
O resultado desse line up foi um novo direcionamento musical, algo que já estava sendo construído no EP “Mentally Murdered” (1989) e aqui foi consolidado com perfeição: um Deathgrind nervoso e pungente. Outra figura responsável pela pegada mais Death Metal do que Grind nessa obra foi o já mencionado produtor Scott Burns Não tem jeito, a produção desse sujeito é uma marca indelével e isso pode ser comprovado ao ouvirmos pedradas como “Vision Conquest”, “If the Truth Be Known”, “Malicious Intent”, “Unfit Earth”, que conta com dois convidados especiais, John Tardy (Obituary) e Glen Benton (Deicide) fazendo backing vocals e claro, “Suffer the Children”, um dos maiores hinos da história do Deathgrind.
“Utopia Banished” (1992)
Earache Records
“Utopia Banished” é o último disco da fase clássica da banda e também o primeiro trabalho dos mestres do Grindcore com o criativo Danny Herrera (Venomous Concept) assumindo as baquetas no lugar do amalucado Mick Harris, que abandonou o barco por não aprovar o direcionamento musical que a banda estava tomando. Trazendo uma produção suja e ao mesmo muito orgânica de Colin Richardson (Fear Factory, Brutal Truth), esse disco possui uma pegada mais intensa e brusca, unindo a velocidade e a histeria visceral do Grindcore com o peso volumoso, a cadência e a precisão do Death Metal. Chequem faixas como “I Abstain”, “Dementia Access”, “Christening of the Blind”, “Cause and Effect (Part II)”, “Distorting the Medium”, “Got Time to Kill”, “Awake (To a Life of Misery)”, além da clássica “The World Keeps Turning” e a experimental e ambiente “Contemptuous” e comprovem o que estou dizendo.
“Inside the Torn Apart” (1997)
Earache Records
Esse é certamente um dos pontos altos da chamada fase “experimental” da banda e sem dúvida alguma é um disco que merecia uma atenção maior. “Inside the Torn Apart” foi produzido e mixado por Colin Richardson (S.O.B., Machine Head, Overkill) em parceria de Andy Sneap (Accept, Lock Up, Exodus). Ao longo das doze faixas que compõem o trabalho, temos uma compilação bastante eficiente e coesa de músicas, que combinam muito peso, agressividade, groove intenso e envolvente, experimentalismos bem feitos e claro, velocidade nos momentos precisos. Destaque para a grudenta “Breed to Breathe”, o grande clássico do álbum, bem como as cadenciadas “Birth in Regress”, “Section” e “Indispose”, a moderadamente rápida “Reflect on Conflict”, além da excepcional e Old School “Lowpoint”, um Deathgrind pra fazer qualquer um se matar no moshpit.
“The Code Is Red… Long Live the Code” (2005)
Century Media
Esse álbum poderia ser descrito como uma legítima hecatombe de Grindcore que novamente compila sabiamente o que a banda fez em seu passado monstruoso com o presente igualmente bem-sucedido. Nesse décimo primeiro álbum de estúdio, temos uma monstruosa arte de capa concebida por Mick Kenney (Anaal Nathrakh, Born to Murder the World) e a produção é assinada por Russ Russell (Claustrofobia, Brujeria, Evile, Venomous Concept), produtor inglês que se tornou um verdadeiro braço direito da banda desde “Enemy of the Music Business” (2000). Preparem suas mentes e ouvidos para desgraceiras como “Silence Is Deafening”, “Right You Are”, “Climate Controllers”, além da épica faixa título. Destaque também para “Instruments of Persuasion” e “Sold Short”, ambas com participação especial do vocalista Jamey Jasta (Hatebreed, Jasta) e “The Great and the Good”, que possui o ilustre vocalista convidado Jello Biafra (ex-Dead Kennedys, Jello Biafra and the Guantanamo School of Medicine).
“Utilitarian” (2012)
Century Media
“Utilitarian” é outro baita álbum realizado pelos mestres da música feia e suja. Essa maravilha possui uma belíssima arte de capa desenvolvida pelo sueco Frode Sylthe (At the Gates, Heaven Shall Burn) e conta mais uma vez com Russ Russell no comando da produção. A respeito do conteúdo musical e desgovernado aqui presente, podemos destacar “Circumspect”, a faixa que dá início ao trabalho e o faz da forma mais épica possível, bem como “Errors in the Signals”, “Everyday Pox” e seu inusitado – e insano – solo de sax do músico especialmente convidado John Zorn, além de outros destaques, como “Protection Racket”, “Quarantined”, “Analysis Paralysis”, “Fall on Their Swords”, “Leper Colony” e claro, “The Wolf I Feed”. Como podem ver, “Utilitarian” é outra coleção de pérolas esmagadoras da banda e cuja audição é monstruosamente impecável desde sua épica abertura até seu colérico encerramento.
E é isso, pessoal! Em breve rolará também um review das apresentações aqui em São Paulo dessas duas instituições da música extrema mundial, portanto fiquem ligados!