As vezes realmente me perguntava: estamos em um festival de Rock e Metal, ou estamos em um encontro de família? A vibe do Rock in Hell é de outro mundo, nunca tinha visto algo similar em outro evento.
Infelizmente por motivos de logística, perdemos o evento na sexta-feira e só conseguimos comparecer a partir do sábado e mesmo assim foi tudo maravilhoso e até certo ponto bem audacioso. Para não tornar essa cobertura massante, vamos fazer um resumo geral, apontando pequenos pontos e destaques do evento.
Ah, sem falar nas opções sem ser musicais, como exposições de carros antigos, vários stands de diversos nichos, exposições de cultura e muita coisa interessante. O que mais vale destacar é o leque de opções que o festival nos fornece, Punk Rock, Heavy Metal, New Metal, Doom Metal, Death Metal, Rock ‘n Roll, Folk e por ai vai. No fim, todas as tribos são reunidas, canecas de chopp transbordam e não importa qual banda suba ao palco a festa é a mesma e a galera agitou da primeira até a última banda.
Como em todo evento, sabemos que nem todas as bandas estão na mesma qualidade ou preparadas da mesma maneira, e todas estão sujeitas a imprevistos que possam impossibilitar uma boa apresentação, isso fica claro quando você vê uma banda achando que é só subir ao palco e tocar as músicas, o que de fato é errado. Algumas bandas do sábado faltou um pouco mais de contato com o público, que mesmo com o frio, permaneciam fieis em frente ao palco para ver música de qualidade.
Sou um grande admirador do som da The Undead Manz, mas confesso que desconheci a banda nesse festival. Algumas distorções da guitarra base se sobrepôs acima dos outros instrumentos, principalmente da guitarra solo que sumia a todo instante. Por sorte, a cozinha estava em perfeita sintonia, em contrapartida as segundas vozes estavam muito mais altas que o vocal principal, mas o carisma e a vontade da banda de tocar, deixou tudo isso de lado, fazendo o público inclusive tentar cantar com a banda e a procura pelo merchandising foi muito grande ao fim da apresentação. No fim, descobrimos que foi disponibilizado apenas um amplificador de guitarra, sendo a base prejudicada por ter ligado a mesma em linha.
Como um trio a feed the Freak oriundo de Blumenau/SC, apresentou composições fortes com ótimas coreografias. Destacando-se pelas máscaras e as roupas sociais, os músicos interpretavam todas suas músicas como um verdadeiro teatro. O peso que o trio consegue alcançar deixa banda com mais integrantes no bolso, infelizmente o show foi interrompido por algum motivo que desconhecemos.
Mas uma das bandas que mais nos chamou atenção foi o Carniça, que com 27 anos de carreira, essa foi a primeira vez em um festival no estado vizinho, afinal, os caras são do Rio Grande do Sul, tem trabalhos gravados e merchandising e após 27 anos tocaram pela primeira vez em Santa Catarina. Mas o destaque não fica por demorar tanto para “subir os morros” e sim pela apresentação que fez.
Ainda nesse dia tivemos o Tandra, que também nos chamou atenção pelos instrumentos compostos no grupo, como: flauta e acordeon. O grupo traz um Folk Metal que as vezes parece ter leves influências de Thrash, mas no fim, a energia despejada no público é de grande valor e no fim, tem todo o retorno. Gritos de mais um não paravam e a banda teve que tocar mais algumas músicas.
Foto: Leandra Sartor / Urussanga Rock Music.
Uma pausa para as bandas, é hora da fogueira, sim você leu certo, é hora da fogueira. Fomos convidados a subir um pequeno morro atrás do evento para acompanhar a queima da fogueira. Subindo o tal morro nos deparamos com uma penca de madeiras, o que desenhava um boi e descobrimos também que essa fogueira faz parte dos eventos, é como um ritual de todo festival e quem entrou em cena foram os organizadores, Tailana e Cleiton Falcãozinho, com ótimas coregrafias colocaram fogo e a fogueira foi gigante. Ao mesmo tempo, um orador lia um release sobre o festival, um momento bem familiar e emocionante.
CONHEÇA A ESTRUTURA DO EVENTO, VÍDEO REALIZADO NO EVENTO PASSADO
Já no domingo cedo, todos se deslocaram para a área do show, enquanto a Captain Cornelius se organizava para começar sua apresentação, um café colonial foi servido a TODOS presentes no evento. Mais um diferencial dentre outros. Com um pouco de atraso a Captain Cornelius subiu ao palco, iniciando os trabalhos musicais do domingo e o público ainda era grande, muita gente saiu das barracas para acompanhar um Folk animado e a cada passada de música muito carisma por parte dos músicos, porém, ta na hora da banda começar a compor e transparecer sua alma em suas composições próprias.
Logo após a Dark New Farm que viajou mais de 300 quilômetros, se apresentou no palco. Mesmo com vários problemas técnicos na bateria, mostraram o motivo da banda ter menos de um ano de formação e já ter conseguido tocar em eventos como Laguna Metal Fest e Rock in Hell. Suas músicas autorais sempre trazem maior resposta do público, acreditamos que é hora da banda investir pesado em suas composições.
AbomiNação de Lages subiu aos palcos após a Dark New Farm e a evolução da banda é gigante. Lembro que conheci a banda em pequenos vídeos caseiros em uma garagem de um dos integrantes e hoje os caras tem uma apresentação que é um verdadeiro prato cheio para amantes do som pesado. O trio é muito bem entrosado e a os integrantes fora do palco super carismáticos. A cada música tocada era uma reflexão sobre problemas sociais e também a cada música um soco na orelha. Gurizada compõe músicas leves como um pé de cabra dado na cabeça.
Vem o fim do festival. Muitos novos amigos, novos contatos e novas histórias. E por falar em histórias, foi emocionante conhecer as dos organizadores que já tiveram muitos problemas com outras edições do evento e mesmo assim, peitaram e nunca desistiram. Fica o exemplo de como se fazer um festival. Nem sempre precisamos ter grana exorbitante para organizar um festival, as vezes é mais trabalho, divulgação, ajuda de amigos e receber todos com muita humildade e disposição.
Fica o recado para algumas bandas também, sempre tentar respeitar o pessoal da sonorização que são gente como a gente e as vezes são pessoas simples e incríveis. Falando agora como Maykon Kjellin, baterista da Dark New Farm, é de cortar o coração receber o abraço de um técnico de som, agradecendo por termos sidos gentis com eles. Em que mundo nos vivemos que devemos ser agradecidos por alguém ser gentil conosco? Rio do Campo/SC acima de tudo, é uma cidade de pessoas simples e humildes, os técnicos de som são da cidade vizinha de Rio do Sul/SC e devemos tratar todos em igualdade, fica apenas esse adendo as bandas, pois acredito que todos foram bem recebidos assim como nós.
Aos que foram vencidos pela distância, só digo que lamento por vocês. Só tentem ser menos retardados em suas redes sociais dizendo que o Rock está morrendo, pois tivemos nesse final de semana uma excelente prova de que o Rock respira sem ajuda de aparelhos e está longe de morrer, infelizmente para alguns babacas que esperam um novo Black Sabbath, um novo Iron Maiden, perdem tempo de suas vidas não querendo abrir os ouvidos para novos músicos de nosso país, só lamento por vocês. Mais um festival com excelentes bandas e histórias.
Vida longa ao Rock in Hell do Campo!