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História & Metal – Conjura (Tuatha de Danann) #05

Salve, Headbangers! Na semana passada tivemos o feriado de Tiradentes e, mesmo com uma semana de atraso, resolvi trazer um importante capítulo da historiografia brasileira e a construção da figura carismática de Joaquim José da Silva Xavier, ainda desconhecida por muitos. Por isso, aproveito a passagem dessa data para falar de uma grande banda mineira, estado no qual possui outros grandes nomes como Sepultura, Sarcófago, Drowned e, claro, o Tuatha de Danann. Então, sem mais delongas, vamos falar de Conjura e a Inconfidência Mineira.

O movimento se iniciou na região de Minas durante a década de 1780. É importante definir que o termo inconfidente remete àqueles que, na visão de Portugal, estavam faltando com lealdade à Coroa e eram iludidos pelos ideais iluministas e pela independência do EUA, um exemplo a ser seguido na visão da elite mineira.

Aqui precisamos voltar um pouco no tempo, pois desde 1770 a sociedade mineira estava em declínio. Bem como diria o Sepultura em Inner Self alguns séculos depois, o ciclo do ouro estava quase esgotado, trazendo grande dificuldade para Minas Gerais dar conta dos tributos, o que gerou anseios por liberdade tanto da elite como da classe mais pobre. É nesse segundo grupo que temos nosso representante Tiradentes.

Claro que tudo que é ruim pode e vai piorar muito (2021 tá ai provando isso). Nessa época, o governo de Minas passou para as mãos do Visconde de Barbacena, que, não contente com as coletas da colônia, aplicou a derrama – uma forma de aumentar a coleta de capital, muitas vezes através de tributos. Pensa da seguinte forma: Portugal não ajudava o Brasil e ainda por cima intensificava os impostos de uma população já carente. Estava na hora de dar um basta.

Os inconfidentes, com a organização de Tiradentes como um dos mentores, bolaram todo um estratagema para que no dia da derrama fosse iniciada uma ação que iria levar a independência do povo mineiro: o assassinato do Visconde. Pela distância geográfica, a Coroa teria custos elevados para manter o conflito e, por isso, a vitória da capitania mineira seria mais fácil. Depois disso, seria criada uma república nos moldes do Estados Unidos e de seu processo de emancipação. Só que só tínhamos um detalhe: o Coronel Silvério dos Reis, que, visando ter suas dívidas perdoadas, entregou os conspiradores e aplicou o auto da Devassa, uma lei que permitia ao governador julgar e condenar aqueles que conspiravam contra a coroa. Ele seria então o juiz, o júri e o condenador. Tiradentes assumiu a culpa da conspiração e foi preso, mas prender só não ia ser punitivo o suficiente, por isso ele foi esquartejado e teve seus restos mortais espalhados por Minas em 21 de abril de 1792.

Vale lembrar que muito dessa construção da figura de Tiradentes tem uma carga emocional muito forte. A figura imagética dele cabeludo e barbudo (um headbanger) foi criada para remeter à uma construção messiânica, e não é errado afirmar que a inconfidência tem um papel de suma importância nos pensamentos que levaram a proclamação da república: mesmo não obtendo êxito, o sonho de liberdade foi implantado e um povo heroico não se abate frente à um governo autoritário.

Tuatha e Conjura

Conjura
Conjuração
Nesta vila gera conspiração
Existem movimentos estranhos nas ruas
Na igreja, nos bordéis, nas pontes
Eles estão amaldiçoando a rainha ultramarina
Boca a boca e orelha a orelha se espalha
Revolta, sedição
O sonho de derrubar esse reino
E quebrar as correntes, quebrar as algemas – nossa liberdade
Eles são fazendeiros , sacerdotes e militares
Alguns são poetas, todos homens de orgulho
Eles estão cientes dos riscos e das punições
Eles devem pagar com a vida, por seus crimes
Opulência não mais, as minas estavam secas
Não mais ouro, nem diamantes ou riqueza
O que foi deixado para trás foi para o apetite da rainha
Era insaciável, rude e egoísta
Ruptura de ossos foi uma penalidade para alguns
A forca, o destino dos outros
Mas apesar disso tudo cresceu o movimento
O projeto da liberdade está aumentando!
Defina esta terra livre de Portugal
Espalhe os rumores, haverá luta!
Revoltas, rebelião
Queda do império
O sonho de um mais bravo entre todos
O cavaleiro ousado que seduziu a multidão
Liberdade embora tarde! Para todos nós!
Visita inesperada no palácio
Um traidor relata todo o esquema
Um governador suspeito e seus truques
Finge ficar chocado, mas aliviado
Perseguição, tortura e exílio
Perdão para todos, mas um
Quem está determinado a ser enforcado
Então desmembrado
Mesmo assim, enfrentou seu destino com orgulho
Defina esta terra livre de Portugal
Espalhe os rumores, haverá luta!
Revoltas, rebelião
Queda do império


Esse som se encontra no trabalho Tribes of Witching Souls, um registro com cinco músicas inéditas lançado em 2019 que marca o retorno da banda. um clima bem épico envolve o som. Além de ter um clipe belíssimo, a letra é auto explicativa e mantém em si o espirito de liberdade e justiça, temas esse sempre presentes na sonoridade dos mineiros.

Paulista e um dos maiores amantes do Metal Extremo, principalmente se tratando do nacional. Professor de Geografia e História, é também formado em Matemática e Filosofia, Pai da Naylla e do Dhemyan. Foi colaborador de algumas mídias, antes de fundar o site Underground Extremo, o qual tem um laço de irmandade com O SubSolo. Acompanhava o trabalho d'O SubSolo a alguns anos e passou a contribuir e fazer parte da equipe, a qual é honrado em colaborar com o desenvolvimento desta grande mídia do Rock/Metal, sendo o responsável pela parte das escritas mais extremas do site.