A canção Salve, da banda de Hard Rock/Metal carioca Supersonido é a minha preferida, dentre o setlist, mas nunca tinha pensado em escrever a respeito. Porém, assistindo a uma transmissão ao vivo, no instagram da produtora Kupula Rock Metal que discorreu sobre ela, junto com o vocalista Daniel, resolvi abordá-la.
Obviamente, que hoje em dia já há muitas músicas no mundo do rock que trazem em suas letras, e na parte instrumental, aspectos da cultura e religiosidade da Umbanda, Candomblé e religiões indígenas em geral. Matakabra de Pernambuco, ou Arandu Arakuaa de Brasília. Basta procurar na internet e você conhecerá dezenas de exemplos e de ótimas qualidades. Mas, me permita apontar algumas observações importantes quanto a música em questão.
Primeiramente, Supersonido não é uma banda com temática afro indígena. Isso torna o motivo, o sentido, a escolha e a relação com a canção Salve em algo natural, espontâneo e afasta qualquer tipo de análise no campo proselitista. Assim sendo, há um tratamento natural e respeitoso quanto ao tema dos orixás, inserindo-a no repertório, no meio das outras músicas de assuntos diversos, fazendo com que, consequentemente, o público a receba e agregue em seu ser, uma letra que retrata atributos do universo afro religioso, levando em consideração a perseguição e adversidade sofrida pela mesma, na sociedade, promovendo, dessa forma, aceitação por meio da naturalização. Em outras palavras, quem vai nos shows da Matakabra, já sabe que irá assistir uma banda de rock umbandista. Quem vai nos shows da Supersonido não. No entanto, a presença de Salve causa um impacto específico nos espectadores, uma surpresa, algo inesperado, mas agradável, artística, de contribuição politico social e de difusão da cultura nacional.
Mais um destaque: em seu site oficial, o release de lançamento que ocorreu em 2023, há o seguinte parágrafo, contando a respeito: “Assim como nos demais singles anteriores (TREVAS e MUNDO HOSTIL), a arte da capa de SALVE foi criada por Douglas Alves, e segue o conceito das demais artes, finalizando a trilogia dos singles. A personagem, que na arte de MUNDO HOSTIL aparecia como uma adolescente zumbi, ainda sob o domínio das trevas, em SALVE ela se liberta do mal, amparada por entes espirituais. A grande figura maléfica que espreitava tudo do alto, nos singles anteriores, em SALVE aparece se desfazendo em agonia. É a vitória do bem contra o mal, da luz sobre as trevas! Essa será, inclusive, a tônica do próximo álbum da banda.”
É muito comum a utilização de palavras como: trevas, escuridão, mal, fazendo referências a tudo aquilo que não condiz com a cultura e religiosidade mainstream e eurocêntrica estadunidense. Contudo, aqui dá-se o contrário. Os orixás, na figura de Oxalá é o personagem principal na luta em favor do bem, da luz, e da libertação da prisão daquele que, na história da trilogia, estava cativo pelo vilão.
Além disso, seu apelo comercial, graças ao refrão chiclete, que induz a plateia a cantar junto (salve, salve, salve, salve…), completa o conjunto de normas para a construção da música perfeita. É rock, é sobre a cultura brasileira, tem um refrão que gruda da mente, é animada. E temos que acrescentar a sublime presença de palco do carismático Daniel Marques, que aliás, ganhou um apelido carinhoso dos fãs: Jason Momoa Carioca.
Pra quem curte rock e tem um pezinho no terreiro como eu, Salve é trilha sonora recorrente.
Aproveite e ouça agora a canção Salve, da banda Supersonido aqui: