Início Coberturas Cobertura: Hypocrisy, Torture Squad e Siegrid Ingrid (São Paulo/SP)

Cobertura: Hypocrisy, Torture Squad e Siegrid Ingrid (São Paulo/SP)

Como diria nosso querido Kiko, e não o Loureiro: “Já chegou o disco voador”! E não o de brinquedo, mas aquele vindo da Suécia, trazendo desde 1991 o mais puro Death Metal do Hypocrisy, banda que, entre diversos temas, sempre adorou abordar a temática dos contatos imediatos com extraterrestres. Anunciado no dia 18 de outubro pela Tumba Produções, o inesperado retorno dos suecos veio no susto, para uma terça-feira em apresentação única por São Paulo, no Fabrique, competindo com outros nomes pela cidade, como Ne Obliviscaris e Jerry Cantrell (quando dizem que em SP tem show todo dia, não é mentira).

Gerando inicialmente dúvidas por parte dos fãs, dado que Peter Tägtgren, frontman do Hypocrisy, acabara de passar por uma cirurgia no pescoço para o implante de discos (e não os voadores), aos poucos o que parecia algo de supetão foi tomando forma, em uma turnê latino-americana que, para nós, contou com as bandas Siegrid Ingrid e Torture Squad, dando aquele volume à noite.

Em uma já esperada tímida noite, a formação da fila começou a ganhar real volume próximo ao horário de abertura, marcado para as 19h, com as portas efetivamente abrindo poucos minutos após o horário programado. Logo na entrada da casa, era possível ver uma grande estande de merchandising que exibia diversos títulos entre as bandas presentes e outros acervos, mas o que realmente interessava estava um pouco mais à frente, no espaço do palco.

Luiz Berenguer e Punk

Até o início do Siegrid Ingrid, aproximadamente às 19h35, a casa já contava com um punhado de pessoas espalhadas e prontas para o bate-cabeça. Comandados pela presença de Mauro “Punk”, entre chacoalhadas de cabeça e pisões que quase obrigavam a turma da primeira fila se proteger, tamanha a força que ia de um lado para o outro. Com um set que destacou, em sua maioria, o álbum mais recente da banda, Back from Hell, contando com faixas como Drásticas Consequências e Templo dos Vermes, a apresentação elevou o espírito e começou a aquecer o público, que curtia tanto o ritmo quanto a presença carismática de Punk.

Gubber

Porém, é preciso dizer que a escolha de posição para o show acabou afetando um pouco a audição do vocal de Punk. Em registros de colegas, mais ao fundo, era possível distinguir com mais clareza as letras das músicas e como completavam o arranjo. Não sei dizer se por alguma falta de ajustes ou se, na disposição da casa, a acústica acaba por ficar ligeiramente comprometida mais à frente, mas a verdade é que as primeiras fileiras mal conseguiram ouvir Punk de fato. Uma pena, de fato, que inclusive começou a gerar receio por parte do público se isso seria uma situação a se manter ao longo da noite.

Com a saída da banda, tivemos um rápido intervalo até os minutos que antecederam a entrada do Torture Squad. Marcados para as 20h30, poucos minutos antes já era possível ouvir o rugir das baterias de Amílcar Christófaro, fazendo os últimos ajustes, enquanto a cada batida as cortinas que cercavam o palco tremulavam.

Amílcar Christófaro

Chegava a hora de conferir uma das mais relevantes bandas nacionais, com o poderio de seu Death Metal de qualidade. Já logo de cara, mostrando um som mais audível, abriram com a sequência Hell Is Coming, Flukeman e Buried Alive, faixas pertencentes ao último álbum do Torture, Devilish, que traz ainda momentos interessantes, como Mayara Puertas (vocal), assumindo também os sintetizadores e o violão, mostrando que, para além de seu gutural, muitos talentos estão debaixo de seu cinturão.

Mayara Puertas e Rene Simionato

Com René Simionato empunhando sua guitarra vermelha, ornando com a pegada diabólica da banda, e Castor (baixo) mostrando também a potência de seus vocais de apoio, a performance do Torture Squad mostrou toda uma agressividade e energia que claramente resvalava no público, que batia a cabeça fervorosamente na rítmica insana de Amílcar.

Mas foi a partir da quarta música que as coisas ficaram mais interessantes. Abraçando o peso e o significado dos suecos alienígenas, o Torture trouxe uma sequência em homenagem ao Hypocrisy, com títulos relacionados a extraterrestres: The Fallen Ones, Area 51 e Abduction Was the Case. Uma homenagem certeira, uma das mais pegadas que se pode fazer para uma banda que claramente tem seu peso não só na história do death metal, mas também para os integrantes. Em especial, Mayara que pontuou ao longo do show sobre o momento significativo que era estar abrindo para eles.

Fechando com The Unholy Spell, quem esteve presente neste dia certamente se viu enfeitiçado por uma sequência brutal e diferente da banda, que apenas momentos como estes — que trazem consigo o respeito e carinho entre músicos — podem proporcionar. Ao término do show, os músicos ainda interagiram rapidamente com os presentes, dando espaço para a reorganização do palco, com direito inclusive à desmontagem de bateria e equipamentos sendo repassados pela equipe a alguns fãs, do palco para a primeira fileira e para a lateral para ser levado embora, provando que a comunidade do metal fortalece demais o rolê, sempre se mostrando disponível a ajudar.

A euforia mal havia passado e, quando o relógio marcou 21h30, a noite escura e chuvosa deu espaço para as luzes coloridas vindas do espaço sideral, anunciando a chegada do Hypocrisy no palco. Formados por Peter Tägtgren (vocal/guitarra), Tomas Elofsson (guitarra), Henrik Axelsson (bateria) e Mikael Hedlund (baixo), a banda chegou com toda a força e imponência, com pouco tempo para palavras e muito bate-cabeça, ainda que de uma forma mais conservadora, dada a recente cirurgia de Peter (mas que não o impediu de jogar seus cabelos cinzas de um lado para o outro do palco).

Mikael Hedlund (esq), Peter Tägtgren (centro) e Tomas Elofsson (dir.)

Sofrendo inicialmente com algumas falhas técnicas, mais visíveis logo em Fractured Millennium, através de falhas na saída de som da guitarra e outros pequenos problemas, após Adjusting the Sun, o próprio microfone de Peter foi silenciado, gerando um visível incômodo no músico, que sempre se mostrou bem perfeccionista quando o assunto é a harmonia de seu som no palco.

Mas, depois de uma “fratura” no som e o “ajuste” realizado, as coisas começaram a desenrolar melhor em Eraser, a favorita dos fãs, que já fazia sua aparição com um som melhor, providência talvez de nossos amigos cinzentos. Aqui, o bate-cabeça já era forte, com algumas pessoas se debruçando e agarrando a beira do palco para projetar suas cabeças com ainda mais ânimo.

Peter Tägtgren

Na sequência, tivemos um medley composto por Pleasure of Molestation / Osculum Obscenum / Penetralia, sem pausa para respiro, reforçando um setlist mais curto e contundente da banda, abrangendo músicas de dez dos treze álbuns de estúdio. Os fãs cantavam juntos, hipnotizados pela figura central de Peter com sua longa barbixa bifurcada, que, apesar da grande potência e agressividade vocal, mantinha um semblante de serenidade.

Trazendo outras grandes músicas como Children of the Gray, Fire in the Sky e Roswell 47, ligadas ao sobrenatural, a banda também explorou outras temáticas, com pancadaria em faixas como Impotent God, Chemical Whore e War Path, mostrando que nem tudo se trata de ETs.

Tomas Elofsson e Peter Tägtgren

Com um setlist que raramente altera, a quarta vinda do Hypocrisy ao Brasil continua sendo uma que impressiona tanto os músicos, pela dedicação e paixão dos fãs, quanto o público pelo show potente e energético sempre trazido pela banda. Finalizando com os bons e velhos sorrisos, acenos e palhetas jogadas, a promessa de um retorno (quem sabe com o Pain, outro projeto de Tägtgren) ficou no ar.

Contatados, abduzidos, levados e retornados, o chip implantado em nosso cérebro pelos amigos cinzentos garantiu uma ótima experiência, que estará populando nossas memórias à medida que retornamos ao cotidiano, até a próxima vez em que seremos pegos de surpresa e levados novamente.

Setlist Siegrid Ingrid

Back from Hell (do sistema de PA)
1. Murder
2. Nojo
3. Forces
4. Never Again
5. When You Die
6. Templo dos Vermes
7. Drásticas Consequências
8. Demência

Setlist Torture Squad

1. Hell Is Coming
2. Flukeman
3. Buried Alive
4. The Fallen Ones
5. Area 51
6. Abduction Was the Case
7. The Unholy Spell

Setlist Hypocrisy

1. Fractured Millennium
2. Adjusting the Sun
2. Eraser
4. Pleasure of Molestation / Osculum Obscenum / Penetralia (Medley)
5. Don’t Judge Me
6. Children of the Gray
7. Inferior Devoties
8. Until the End
9. Fire in the Sky
10. Impotent God
11. Chemical Whore
12. War-Path