Na noite do dia 10 de outubro, o Camaleão Cultural foi palco de uma apresentação sensacional da banda O Chico Balanceado, trio curitibano que vem se destacando pela proposta ousada e pelo som que eles próprios definem como “música esquisita”. Formada em 2024, a banda é composta por músicos talentosos, simpáticos e bem-humorados, que demonstraram uma conexão genuína tanto entre si quanto com o público.

A apresentação teve início por volta das 22h, com uma atmosfera leve e descontraída. Logo nas primeiras músicas, o grupo comentou sobre possíveis modificações no setlist, algo que teria sido sugerido por seu produtor, o que despertou risadas e curiosidade na plateia. Em seguida, veio um momento especial: uma homenagem ao músico brasileiro Antônio Adolfo, com uma canção que, nas palavras do guitarrista Pedro Koti, soava “estranha” um adjetivo que, nesse contexto, traduzia perfeitamente o estilo singular e criativo da banda.

O show seguiu com o público cada vez mais envolvido. A interação dos integrantes foi um dos pontos altos da noite: entre piadas, improvisos e comentários espontâneos, o trio demonstrou um domínio natural de palco e uma presença cativante. No encerramento, os músicos decidiram tocar uma música instrumental de piano porém, sem o piano, brincando com a plateia: “Se alguém souber cantar instrumental, pode nos acompanhar!”. O bom humor arrancou risadas e reforçou a leveza que marcou toda a apresentação.

Quando anunciaram o fim do show, o público, empolgado, pediu por mais. Rindo, a banda explicou que não havia mais músicas ensaiadas nem espaço no papel do setlist. Ainda assim, rapidamente se organizaram e surpreenderam a todos com uma versão marcante de The Wall, do Pink Floyd, encerrando a noite de forma memorável. O momento final foi selado com uma foto coletiva, registrada pelas mãos do monstruoso Chris, eternizando uma noite de pura sintonia entre banda e plateia.

Com uma proposta que foge dos padrões e um repertório cheio de personalidade, incluindo o tema do seu videoclipe Pedaço de Você, carro-chefe de divulgação, a Chico Balanceado provou ser uma banda que merece atenção. Mais do que um show, a apresentação no Camaleão Cultural foi um autentico e espontâneo prato cheio na música independente.

Uma banda que surpreende, encanta e transmite energia, deixando claro que o “esquisito” pode, sim, ser o mais interessante dos elogios.

Formação: Pedro Koti (voz e guitarra), Thiago Oliveira (bateria e voz) e Rafael Lanzarini (baixo)

Fotografia: Chris Alfredo

Logo após a enérgica abertura da noite no Camaleão Cultural, foi a vez da Tovex.wav assumir o palco e dar continuidade à atmosfera musical que tomava conta do espaço. Vindos de Curitiba e da região metropolitana, incluindo Araucária, os integrantes da banda trouxeram consigo uma sonoridade marcada pelo Indie Rock e pelo Rock Alternativo, estilos que dominaram o ambiente e conquistaram o público com sua energia sincera e presença envolvente.

A Tovex.wav foi a segunda banda a se apresentar, e desde os primeiros acordes mostrou uma proposta bem definida: melodias densas, guitarras etéreas e vocais que mesclam introspecção e intensidade. O público acompanhou atento, mergulhando na atmosfera emocional e moderna que a banda propõe, um som que lembra o frescor das novas gerações do indie, mas sem perder o toque autêntico das ruas curitibanas.

Um dos momentos mais memoráveis da apresentação surgiu de forma totalmente espontânea: no meio do show, o guitarrista perdeu a palheta e, com bom humor, pediu ao público “uma moedinha” para poder continuar tocando. A plateia reagiu com risadas e, em meio ao público, um verdadeiro bom samaritano surgiu com uma palheta sobrando, salvando o momento e garantindo a continuidade do show. A cena, leve e divertida, refletiu a conexão genuína entre banda e público, uma troca que só acontece quando há sintonia sincera.

A partir dali, a apresentação seguiu com ainda mais força. A energia dos músicos parecia amplificada, como se o pequeno contratempo tivesse servido para reforçar o espírito do improviso e da união. As músicas seguintes mantiveram o clima alto, com linhas de guitarra expressivas, batidas pulsantes e um vocal que transita entre a melancolia e a explosão emocional, características que definem bem o estilo do grupo.

Encerrando a performance, a Tovex.wav deixou uma impressão nítida de maturidade artística e presença de palco. Mesmo diante de imprevistos, o trio demonstrou talento, descontração e uma entrega honesta, qualidades que fazem diferença na cena independente.

Fotografia: Chris Alfredo

Mais tarde a noite ganhou um tom denso e enigmático quando o palco foi tomado pela presença hipnótica da Retromorcego, projeto suíço-brasileiro de Tropical Dead Grunge, criado em 2020 nos subterrâneos industriais da Basiléia. Formada por Koostella (voz e guitarra) e Noé Sébastien (bateria), a dupla é conhecida por seu estilo peculiar, autodefinido como “Grunge Satanisto-Comunista”, uma fusão provocadora de estética obscura, crítica social e experimentação sonora.

Na apresentação em Curitiba, apenas Koostella subiu ao palco, transformando a ausência física de seu parceiro em um elemento central do espetáculo. O show começou com uma introdução ritualística, envolta em misticismo e teatralidade. Em meio à penumbra, o músico distribuiu folhetos com as letras das músicas ao público, convidando todos a participar da cerimônia. Diante de um mini altar decorado com flores, velas artificiais e uma foto do baterista Noé, o artista anunciou com ironia e emoção:

“Tenham a porra dos seus panfletos em mãos para começar a cerimônia, que o baterista morreu.”

A partir desse momento, a atmosfera se transformou. O espetáculo se tornou uma espécie de rito fúnebre performático, onde cada acorde reverberava como um lamento, e cada distorção de guitarra parecia evocar a presença ausente de Noé. O palco cuidadosamente adornado, entre o sombrio e o kitsch, reforçava a estética singular da Retromorcego: uma mistura de sarcasmo, melancolia e intensidade espiritual.

Musicalmente, a performance transitou entre paredes de som Grunge, batidas industriais e nuances tropicais desconstruídas, criando um contraste entre peso e melodia. Koostella, sozinho, conduziu o show com uma presença magnética, sua entrega era quase ritualística, oscilando entre momentos de introspecção profunda e explosões de energia crua.

A proposta da Retromorcego vai além do conceito de show: é uma experiência imersiva, onde arte, ironia e devoção coexistem. Mesmo reduzido a um único integrante no palco, o projeto manteve sua essência: intensa, provocadora e profundamente simbólica.

Ao final, o público parecia ter presenciado uma espécie de rito ou celebração da ausência, do absurdo e da resistência artística. A Retromorcego reafirmou que o underground ainda é capaz de surpreender, desafiar e emocionar, mesmo quando o palco se transforma num altar, e o luto se torna performance.

Formação: Koostella (voz e guitarra) e Noé Sébastien (bateria)

Fotografia: Chris Alfredo

Encerrando a intensa sequência de apresentações no Camaleão Cultural, a banda She Is Dead tomou o palco com a mesma energia devastadora que a consagrou como uma das grandes representantes do Punk Rock curitibano. Formada nas ruas da capital paranaense em 2019, a banda é uma verdadeira força bruta do underground, que converge na sua essência pitadas de Punk, Hardcore e Garage Rock em uma mistura autêntica, um som que carrega o DNA das calçadas frias e dos porões fervilhantes de Curitiba.

A She Is Dead é, como se autodefine, uma banda especializada em pesadelos, e foi exatamente essa atmosfera de caos controlado e intensidade visceral que dominou o espaço. Desde os primeiros acordes, o público foi tomado por um impacto direto: guitarras afiadas, baixo pulsante e vocais cheios de raiva e emoção, que mais pareciam exorcizar o tédio e a mesmice do cotidiano. Cada música era um soco, cada refrão, um grito coletivo.

A performance foi intensa e sem concessões, como deve ser. a banda mostrou um entrosamento impecável. Não houve espaço para pausas longas ou discursos: a banda preferiu deixar a música falar por si, e o resultado foi uma descarga de energia que encerrou a noite de forma apoteótica. O público, já tomado pela atmosfera das apresentações anteriores, mergulhou de cabeça na fúria e no ritmo acelerado que a She Is Dead trouxe consigo.

E que encerramento, pois o show da She Is Dead veio para reafirmar: o Rock curitibano continua vivo, sujo e pulsante, fiel às suas origens e sempre pronto para reinventar o caos.

Formação: Mau Carlakoski (Guitarra e voz), Kim Tonieto (Baixo e voz), Maria Scroccaro (Guitarra e voz), Nicolas Rucenski (Bateria)

Fotografia: Chris Alfredo

Com essa última apresentação, o Camaleão Cultural se despediu em alta voltagem: entre riffs, suor e gritos libertadores, um show que transformou a casa em um verdadeiro culto e manifesto do underground curitibano.

E para coroar essa noite de música independente, energia e comunhão artística, um agradecimento especial ao Matheus, da Bruxa Verde, pela parceria e por confiar no trabalho, uma colaboração essencial, com sua dedicação e carinho ajuda a manter viva a cena, e tornar eventos como esse possível e memorável. TMJ

Das ilhas do Caribe. Una chica sin filtros e de opiniões impopulares. Licenciada em Design Gráfico com Pós-graduação em Docência no Ensino Superior. Atualmente Designer Gráfico Freelancer - Espanhol Nativo - English as a Second Language - Amante do café, literatura (História, biografias, romance literário) Rock/Metal e uma boa companhia. Ϟ Música é a minha terapia. "I love getting pretty & listening to violent music."︎ ✷ Stay Metal