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Entrevista: Fernanda Mariutti (Mariutti Team)

Fernanda Mariutti. Embora seu nome seja familiar para muitos, queremos explorar além da figura pública e entender quem é Fernanda em sua essência. Nascida em São Paulo, Fernanda sempre teve uma forte ligação com a música, influenciada por uma ampla gama de estilos que iam de Elis Regina a Tchaikovsky. A paixão pelo metal surgiu aos 14 anos, quando descobriu o Angra e, a partir daí, mergulhou no universo de bandas como Iron Maiden e Black Sabbath. Aos 18 anos, sua vida mudou ao conhecer Luis Mariutti, com quem começou a compartilhar não só a vida, mas também os palcos e os bastidores do metal, aprendendo e se encantando cada vez mais com o mundo dos shows e turnês.

Fernanda também é conhecida por sua resiliência e capacidade de adaptação. Em 2010, quando Luis decidiu fazer uma pausa na carreira musical, eles enfrentaram uma fase difícil. Encontraram no Muay Thai uma nova paixão e uma maneira de se manterem unidos e ativos. Anos depois, com o retorno de Luis à música em 2016, Fernanda trouxe a mesma determinação do tatame para o palco, criando o Mariutti Team. Com uma abordagem inovadora e uma visão empreendedora, ela conseguiu transformar desafios em oportunidades, construindo uma comunidade engajada e solidária no cenário do metal brasileiro. Agora, vamos conhecer mais sobre essa trajetória inspiradora e as motivações que impulsionam Fernanda Mariutti.

Todo mundo que vive a cena do Metal Nacional já deve ter ao menos ouvido falar do seu nome. Mas gostaríamos de te apresentar um pouco mais profundamente. Quem é Fernanda Mariutti além da figura pública? Qual sua história e motivações pessoais?

Eu sou uma paulistana criada pelo Brasil. Sempre fui uma pessoa muito ligada a música, passava horas na vitrola de casa, ouvindo Elis Regina, Os 3 Tenores, Tchaikovsky, Djavan… Que eram as músicas que meus pais ouviam. Foi quando minha irmã mais velha ganhou um CD Player, que começamos a comprar nossos próprios discos, e eu gostava das coletâneas que tinham vários artistas, Whitesnake, Scorpions, Bon Jovi, Bryan Adams, Tina Turner, mas nessa época eu nem ligava para as bandas, gostava de ouvir as músicas, de descobrir novidades. Com 14 anos eu conheci o Power Metal do Angra com Angels Cry, aí foi amor à primeira vista. A partir deles eu comecei a me interessar pelas bandas tbm, e ouvir Iron Maiden, Black Sabbath, os pilares do Metal, nunca mais parei. Para minha surpresa com 18 anos eu conheceria o Luis e começaria a viver o sonho da princesa do Metal. Kkkk

Nessa época eu estudava Artes Visuais na faculdade, mas sinceramente nem imaginava como seria a minha carreira profissional. Conhecer o Luis, sair para turnê do RituAlive com ele, foi um verdadeiro sonho, que eu tinha que fingir costume para não parecer uma fã deslumbrada. kkkk Mas foi algo que mudou meu mundo, ver o que acontecia por trás do show, conhecer os equipamentos, os setores e os detalhes que faziam a diferença em um show bem produzido, foi um aprendizado que faculdade nenhuma me daria. Nesse momento eu pensei que poderia viver daquilo tbm, mas naquela época as mulheres não tinham espaço, era comum ouvir que mulher atrapalhava, mulher de músico então, qualquer sorriso a mais, já te taxavam de groupie destruidora de bandas. Então eu ficava na minha, observava muito, e claro, compartilhava muitas ideias com o Luis.

O Mariutti Team se tornou um verdadeiro bastião do metal brasileiro, catalisando uma comunidade bastante engajada. A que você atribui esse sucesso? Quais estratégias e filosofias guiaram você nessa jornada?

O Mariutti Team foi criado na luta, em 2010. Quando o Luis decidiu parar de tocar, ficamos sem perspectiva, a música era a nossa maior referência e o nosso ganha pão. Mas acabou muito rápido, os shows, o sucesso, o dinheiro… E juntos nós encontramos no Muay Thai a união que nos fez sobreviver a uma fase muito difícil de nossas vidas, verdadeiramente o nosso time foi feito de sangue, suor e lágrimas. E acredito que essa verdade transpareça.

Foi quando o Luis quis voltar pra música, em 2016, que eu notei, que muita coisa não tinha mudado. Eram as mesmas pessoas, fazendo os mesmos trabalhos, ou pelo menos era o que parecia.

Mas nós tínhamos mudado. Já não vivíamos de sonhos, realizávamos diariamente. Tínhamos um time consistente e mais de 100 alunos na zona sul de São Paulo, vendíamos merchandising do time, luvas, bandagens, criei uma marca de shorts de Muay Thai, que depois virou uma marca de roupas fitness. Começamos a fazer eventos de luta, workshops com Mestres tailandeses, isso tudo com os nossos filhos crescendo ao nosso lado no tatame.

Bom, eu falei pro Luis: “Você quer voltar a tocar, vamos, mas agora vai ser do nosso jeito!” E foi como recomeçar, eu levei o mesmo espírito da luta para dentro da música, mas foi difícil, ninguém sabia o que era o Mariutti Team, as portas não estavam tão abertas assim; e como fizemos no Muay Thai, criamos nossas próprias oportunidades.

O Luis, mais uma vez, foi o pilar dessa transição, cativando a todos com seu jeito, que muitos não conheciam até ver os vídeos do canal, mostrando aquilo que ele é. Nessa transição o Luis era o centro de tudo, mas como na luta, com o tempo graduamos os alunos, então sentimos a necessidade de usar essa influência do Luis para levantar outras pessoas, graduar alguns artistas kkkkkk. E isso só foi crescendo, com o zine, com os eventos, com as produções, com a comunidade…nós não temos limites, onde existir uma ideia inovadora para prosperar o Metal Nacional, nós estaremos lá.

Você e Luis Mariutti estão na cena há muitos anos. Como vocês conseguem se manter atualizados, relevantes e superar os desafios ao longo do tempo?

Tem que estudar, eu estou sempre aprendendo alguma coisa, não dá pra ficar confortável, tem que estar aberto sem crenças limitantes, e principalmente fazer as coisas com verdade e persistência. A maioria das coisas que você planejar não vão dar certo, e você não vai ter tempo para se frustrar, os caminhos mudam muito rápido, as formas de ganhar dinheiro, de investir na carreira, as produções. Então eu acredito no poder da realização, da constância, de criar possibilidades.

Falando em Luis Mariutti, no álbum solo de estreia do mestre, há uma música em sua homenagem, “Fema”. O que essa música representa para você?

É um marco na nossa história, e eu acredito na história da música. Espero que em algum momento a humanidade compreenda o poder que é a FeMa, onde dois solos de baixo acontecem ao mesmo tempo, com timbres diferentes que se complementam de uma forma tão poética, intercalados com momentos de frisson, o baixo fala mais do que palavras, é a voz do coração. É perfeita!

Você teve o privilégio de presenciar de perto algumas das formações mais icônicas da história do metal brasileiro. Como você enxerga a evolução da cena hoje? As mudanças têm sido positivas ou há desafios maiores que no passado?

Nós estamos vivendo um momento único no Metal, onde as pessoas estão realmente mudando a forma de pensar, percebendo a importância de se construir um movimento bom para todos, solidificando um circuito profissional, onde não vamos sofrer com tantos altos e baixos. Eu vejo com ótimos olhos o momento do Metal, os desafios sempre vão existir, temos que persistir nesse movimento, buscando suprir as necessidades que surgem, ou criando novas necessidades.

De onde surgiu a ideia do especial Shamangra e como é gerenciar um evento desse porte, com tantas pessoas envolvidas?

Desde sempre nós reunimos pessoas. No Mariutti Metal Fest I, nosso primeiro evento em 2019, reunimos pela primeira vez no palco Angra, Shaman e Viper, em um evento onde o Luis tocou 5 horas direto com Rafael Bittencourt, Hugo Mariutti, Thiago Bianchi, Bruno Sutter, Felipe Machado, Felipe Andreoli, Ricardo Confessori, Fabio Ribeiro, Alírio Netto, os amigos do Firebox, Henceforth, About 2 Crash, quase todos os músicos que fizeram parte da história dele, tem vídeo no canal. A gente gosta disso, unir as pessoas, fazer festa, aproximar fãs e ídolos, com o passar dos anos só fomos aprimorando até chegar no ShamAngra.

Em certo momento o ano passado, tivemos a chance de fazer um evento na Audio, casa para 3 mil pessoas, e pensando em como poderíamos fazer para lotar e pagar um evento desse porte, precisávamos de um nome para impactar, e ShamAngra me pareceu muito natural, afinal atualmente só o Luis carrega a tocha de ter estado na formação das duas bandas.

Já sabíamos que contaríamos com Hugo e o Thiago, colocar o Aquiles e fazer o show, seria mais do mesmo, e nós nunca fazemos isso. Então chamamos as talentosas “Shamanas” Hanna Paulino e Helena Nagagata, escolhemos um set list matador, convidamos vários artistas do Metal Nacional para estar lá com a gente, e para mim estava perfeito. Mas foi difícil a divulgação, muita gente criticou a gente, xingaram, ofenderam, porque enquanto a gente tá no Bixiga fazendo evento é o “Luis guerreiro”, quando vai pra Audio é o “Luis mercenário” kkkkk; Mas a gente acreditou, batalhamos e provamos que temos espaço para executar as músicas da carreira do Luis, sem passar por cima de ninguém, e ainda dar uma baita visibilidade para um monte de bandas, artistas, influenciadores…organizar as pessoas foi o de menos, difícil foi dormir imaginando uma dívida de 50 mil kkkkk, mas as adversidades existem para serem superadas e fizemos isso com muita classe e competência.

Especialmente em virtude do Mariutti Team, você acompanha as movimentações da cena muito de perto. Poderia compartilhar algumas bandas emergentes que, na sua opinião, estão fazendo um trabalho notável no underground nacional?

Auro Control lançou um disco incrível, cheio de hits, com muita competência técnica, além de ter traçado um objetivo com parcerias certeiras. John Wayne é uma banda foda, eu ouço sempre, gosto demais da proposta, do som e o show deles é energia pura. Emphuria também bebe da água do Metalcore em português, com refrões incríveis, e os meninos fazem um trabalho massa nas redes. Allen Key já está na boca do povo, a Karina é um fenômeno, a Kill for Nothing tem um Nu Metal cheio de propósito, e eu acredito muito na Facing Fear, em terra de Massacration, eles têm tudo para conquistar um belo espaço na cena, com essa proposta e visual oitentista, letras e comentários certeiros, muita irreverência, estão apresentando uma nova abordagem na luta pelo Metal.

Tem muita banda e artistas talentosos, eu poderia ficar citando um tempão um pessoal talentoso que eu conheço, mas quero reforçar que talento não é suficiente para o sucesso, tem que ter estratégia e trabalho duro.

Como você vê o papel da tecnologia e das redes sociais na promoção e sustentação do metal brasileiro hoje em dia? Quais são os benefícios e possíveis armadilhas dessa nova era digital?

É imprescindível, o artista precisa fazer esse trabalho, seja por ele mesmo, ou contratando uma equipe para isso. E quando não temos condições de optar pela segunda opção, ficamos esgotados porque é uma tarefa mental enorme, que inclui ser vários profissionais, criar músicas, gravar, editar, filmar, fotografar, definir lançamentos, estratégias de marketing, criar pautas, fazer release, postar com consistência, esse é o mal da era digital, excesso de trabalho mental. Porém, a meu ver, não é mais possível fazer Metal sem estar presente de forma relevante nas redes.  Minha dica para as bandas é: Invista em uma plataforma por vez, muitos saem abrindo conta em todas as plataformas, apps, sites, provedores e não conseguem dar conta, e acabam se frustrando, achando que não tem reconhecimento. Claro!  Gasta uma energia enorme. Então se aprofunde em uma plataforma, aprendam a lidar com ela de forma eficaz. É melhor você ter apenas uma rede forte do que várias com 10 seguidores.

Considerando a longevidade e a solidez da sua carreira, que conselhos você daria para músicos e gestores que estão começando agora na cena do metal?

Estudem e façam o melhor de vocês, não existe caminho mágico, nem tempo certo, existe trabalho e possibilidades, profissionalismo e resultado.

Fernanda, obrigado pela gentileza e disponibilidade em atender a’O Subsolo e também, muito obrigado por tudo que você faz e representa para a cena. O espaço é seu para deixar um recado para nossos leitores.

Eu agradeço o espaço e fico muito feliz pelo carinho de vocês. A todos que leram essa entrevista meu obrigada, continuem acompanhando o Luis e apoiando os projetos do Mariutti Team!

A Hell Yeah Music Company surgiu em 2020 a partir do sonho de dois amigos, Luis Fernando Ribeiro e Leandro Abrantes, que se conheceram há 15 anos por meio do Heavy Metal e tomaram-no como trilha sonora de suas vidas e matéria prima de sua arte. Respeito, valorização, criatividade e amor pelo que fazemos são nossos pilares. A #HYMC nasceu para quebrar padrões, ignorar estereótipos e dar suporte às bandas brasileiras que compartilham do mesmo sonho que nós. Baseada em Florianópolis, SC, a Hell Yeah atende bandas de todo o Brasil e de Portugal. Hell Yeah Music Company, música como experiência.