Quase três anos de banda, dois discos e um terceiro à vésperas de lançar, turnê continental. Essa é a história da Legacy of Kain, banda curitibana que simplesmente não conhece a palavra “parar” e pensa apenas em seguir em frente, custe o que custar. Para contar mais sobre o atual momento dessa banda em constante ascensão tivemos a oportunidade de conversar com o guitarrista Karim Serri, que abre conosco e com você o livro de Cain e conta o desenvolver desse legado até os tempos atuais:
Prazer em ter a oportunidade de conversar com você, Karim, primeiro queria elogiar o material de divulgação da banda. Para nós da mídia, principalmente, é bem bacana receber tudo completo, com todas as informações e conteúdos necessários para poder conhecer a banda. Aproveito pra começar com algo que confesso que sempre me deixou curioso: quanto ao nome do grupo, qual a história por trás do “legado de Cain”?
Karim Serri: Valeu Vinicius. Mano, na verdade o mínimo que a gente pode fazer é entregar um material de divulgação organizado, eu acho isso meio básico. Imagino que vocês, assim como nós, tem mais o que fazer do que ficar caçando informações das bandas. Cara, já o lance do nome é que nós acreditamos que o que estamos vivendo nos dias de hoje nada mais é do que a herança que Cain nos deixou quando cometeu o assassinato contra seu irmão Abel, é uma herança de inveja, ganancia, egoísmo e ódio. Claro que em níveis diferentes dependendo da situação, mas hoje em dia ninguém mais respeita ninguém, “seja feita a minha vontade …”.
E como a banda encontrou o som que deveria forjar esse legado? Essa mistura de doses descarregadas de peso e essas presenças melódicas fortes que casam inesperadamente bem no resultado final, qual foi a receita pra chegar nisso?
Karim: Bom, se você curtiu o INVERSO, tenho absoluta certeza que vai gostar ainda mais do Paralelo XI, pois esses elementos de peso e melodia estão muito presentes nesse novo disco. Na verdade não foi e não é nada pensado, quando eu componho eu deixo fluir, os riffs aparecem naturalmente e vão se interligando por inercia.
A Legacy apresenta também letras bem enfincadas nas causas sócio-políticas de nosso país. Acredito, inclusive, que o Brasil é um prato cheio pra esse tema. Já que mencionou o novo álbum, vão manter esse direcionamento temático para o Paralelo XI?
Karim: Com certeza, temos isso muito forte em nosso posicionamento. Acreditamos que temos a obrigação de criticar o que achamos que não funciona ou o que não é socialmente justo. Mas buscamos em todas ou quase todas as letras deixar um fio de esperança, apesar das criticas temos uma visão otimista da humanidade, acreditamos que podemos deixar uma mensagem positiva no final de cada uma dessas histórias. Não teria sentido nenhum viver se não tivéssemos a perspectiva de viver dias melhores.
A primeira música anunciada de Paralelo XI dá nome ao novo disco, e é com letras em inglês, e mostrava influências de um Hard Core extremamente pesado em alguns momentos. De fato, criou um nó na cabeça, ainda mais sabendo que teremos a presença da ilustre Fernanda Lira (vocalista da Nervosa) em algumas faixas. Como estão as expectativas da Legacy pro disco e o que mais pode revelar pra nós sobre ele?
Karim: Cara, eu estou extremamente feliz e com uma enorme expectativa em relação ao Paralelo XI. Eu amo essas músicas, pode ser que ninguém mais goste mais eu gosto demais de quase todas elas, tem uma ou outra que são um pouco mais diferentes mas mesmo assim achamos que elas se encaixariam na proposta do disco e elas estarão presentes. Eu ja gravei quatro discos cheios de som autoral, esse é o de número 5 e acho que nunca fiz nada tão legal quanto o Paralelo XI. A Fernanda participou de uma faixa chamada “Split In Half”, que conta uma história horrorosa ocorrida na Tribo dos Cinta Larga de RO/MS e ela cantou a parte que representa a tribo. Ficou lindo demais. Baita profissional.
Quais principais mudanças que a banda identifica em si daquela Legacy que começou em 2016 e a que está agora, prestes a lançar seu segundo álbum e com mais uma turnê continental na agenda?
Karim: É outra banda, as coisas andaram muito rápido para nós, e o amadurecimento esta apenas começando. O EP GRETA foi uma primeira experiência que fizemos para começar a moldar nosso som, dali veio o INVERSO, ainda uma mescla do que era o LOK no GRETA e como estava soando naquele momento. São 3 anos de banda e estamos lançando o segundo disco. Acho que Paralelo XI representa o que será o Legacy of Kain daqui em diante. Quem escutar esse disco vai perceber que achamos uma identidade, talvez nada que vá mudar os rumos do Heavy Metal hahaha mas tem identidade e personalidade, e tem a cara do Legacy of Kain.
Bom, queria aproveitar para recapitular um pedaço muito importante na história de vocês. Vejo que a Legacy já tem datas marcadas para turnê em promoção do vindouro álbum de vocês, mas me chama atenção é que vocês criaram um vínculo forte com a América Latina, como que foi que a tour de 2017, que passou por Bolívia, Chile, Paraguai e Peru, ocorreu?
Karim: Bom, eu ja estou indo para minha quarta tour sul-americana. Fiz uma em 2004 com o Seven Angels, uma em 2015 com o Doomsday e essa de 2017 com o Legacy e agora em junho vamos de novo para promover o Paralelo XI. Na verdade é um lance que dá muito trabalho, a logística pela América do Sul é tenebrosa, complicada e exaustiva. Mas, a galera comparece, retribui e prestigia demais a gente e isso nos motiva a voltar, e como por aqui as coisas também andam muito complicadas em outros aspectos, como os custos altos, péssimos organizadores (claro que há exceções), temos um mercado com perspectiva quase 0 e um circuito inexistente. A gente tenta separar um tempo do nosso ano pra viajar e divulgar o disco fora do Brasil. Nossa esperança é que no ano que vem consigamos fazer uma tour na Europa.
Imagino que a repercussão por lá tenha sido realmente muito positiva, já que, como disse, vocês estão com mais datas confirmadas pela frente, por Peru e Bolívia. Como que vocês enxergam a cena Metal pelos países em que passaram? Quais as diferenças que vocês mais sentiram?
Karim: Repercussão ótima, tanto que essa segunda tour com o Legacy foi bem mais tranquila de organizar e os shows parece que serão melhores. A cena é igual em toda a America do Sul, você tem que ralar muito pra achar o contato certo e o cara certo pra fazer o rolê. Sempre dá pra fazer, só tem que ter paciência e garimpar certinho que você acaba chegando lá.
Teve algum momento em especial nessas turnês que foram uma motivação a mais pra desejar esse retorno à estes países?
Karim: Mano, pra mim particularmente cada show exitoso que a gente faz me motiva a querer voltar, mas acho que o legado disso tudo que estamos fazendo é uma das coisas mais importantes, não foi um nem dpos organizadores que ja me falaram que até o dia da nossa passagem estava “se aposentando” da cena e com a ida do LOK ganhou uma força extra, um motivo a mais para continuar. Em Santa Cruz de la Sierra, quando fui com o Doomsday em 2015 foi o primeiro show daquela produtora, casa lotada, mais de 300 pessoas, de lá pra cá eles ja levaram o Torture, Vader, Scepticflesh, Brujeria, Fleshgod entre outros. E sempre que falo com esse produtor ele faz questão de me deixar bem claro que foi a partir da nossa ida que ele tomou gosto pelo lance. Isso não tem nada que pague.
E para essa sequência de 2019, vocês comunicaram que estavam ainda tentando uma solução para o cargo de baixista da banda e como alternativa a Legacy optou por contar com baixista provisório que poderia, futuramente, se tornar membro integral da banda. Atualmente, a Legacy já está com um músico para essa vaga? E qual foi a principal dificuldade que acarretou nessas mudanças quanto ao responsável pelos graves da Legacy?
Karim: Infelizmente ainda não temos um cara fixo para o posto. Seguimos procurando. O mais difícil de conseguir um cara fixo é que temos muitos compromissos com a banda, muitos deles fora do país, são muitos finais de semana viajando e nem todo mundo pode fazer isso, ou é afim de fazer isso. Pra dificultar, a gente não ganha dinheiro com a banda, continuamos investindo, então pensa, o cara tem que ter um emprego flexível, tem que ter tempo, disposição, vontade de trampar e viajar e um mínimo de grana pra investir… eu sei que é bem difícil.
Por fim, vocês acabaram de publicar um inusitado e surpreendente cover de “Get Lucky”, do Daft Punk, com participação da Fernanda Lira. Afinal, de onde veio a ideia de pegar um hit pop e transformar numa demonstração de Metal Extremo Contemporâneo? Essa faixa vai estar no Paralelo XI?
Karim: Sim, essa faixa faz parte do Paralelo XI, mas somente nas plataformas digitais, ela não estará no disco físico. Cara, um dia tava dirigindo, e quando não estou trampando no estúdio ou com a banda, escuto muito outros tipos de música e nesse dia tava escutando radio, aí tocou essa música e eu falei pra minha mulher “essa música dava um metalzão”… e fiz hahaha.
Karim, grande honra ter lhe entrevistado. Uma banda em constante evolução e que em pouco tempo como Legacy já conquistaram muita coisa e tem uma tendência a continuar conquistando sempre. Peço que deixem uma última palavra pro portal e pros leitores que nos acompanham e admiram o trabalho de vocês tanto quanto nós.
Karim: Só posso pedir pra galera continuar nos apoiando, comparecendo aos shows, mas principalmente que consumam nosso produto, que comprem merch, ouçam-nos no Spotify, Youtube, iTunes e etc, e estejam sempre em contato, cada mensagem que nos chega é um sopro a mais, cada real que vocês consomem do nosso merch, nos possibilita pensar e criar coisas novas, nunca se esqueçam que nós que somos pequenos fazemos tudo do nosso bolso, portanto a ajuda de vocês é fundamental para que possamos continuar.