Formada em 2018, a Laggus é uma banda carioca formada por Gustavo Ribeiro nos vocais e guitarra, Romildo Jr. na guitarra, Vitor Mansur no baixo e Alan Raiol na bateria. Misturando o Metal Alternativo e Grunge a banda se dedica desde sua criação em repassar mensagens importantes de saúde mental e fragilidade emocional, trazendo suas influências do Nu Metal e elementos sinfônicos ao seu já excelente Metal Moderno.

Em seu currículo, a banda conta com o seu EP debut intitulado Limiar lançado em 2020 de forma caseira durante a pandemia da COVID-19, seguido por Habitual lançado em 2021 e Perene Inércia em 2022. No entanto, desde 2023 a banda trabalha em um álbum conceitual que acaba de ser lançado e está disponível nas principais plataformas digitais. O intitulado Gris aborda temas importantes contra inimigos silenciosos que são atualmente uma quebra de paradigmas, mesmo nos dias atuais que não deveria haver mais essa barreira.

Conversamos com a banda sobre sua carreira e sobre o novo disco, confira a seguir:

Agradecemos o tempo que a banda disponibilizou a nossa equipe para essa entrevista. De início, gostaria de saber como a formação atual da Laggus foi estabelecida e de que maneira a química entre os membros impactou o som e a dinâmica da banda?

Laggus: Imagina, nós que agradecemos, é um privilégio! Sobre a formação atual, depois de algumas tentativas e mudanças de localidades na cidade do Rio, o projeto ia acabar. Porém, graças ao Alan Raiol (baterista), que convenceu Gustavo Ribeiro (vocalista/guitarrista), o projeto seguiu. Gustavo recorreu a um grupo no Facebook, com o intuito de encontrar um baixista e um guitarrista solo para a nova formação. Eis que ele conhece Vitor Mansur (baixista), que gostou da proposta e, de quebra, chamou seu amigo de infância, Romildo Jr., para assumir a guitarra solo. No final de 2019, estava estabelecida a formação atual da Laggus.

Sobre a química, cada integrante tem um gosto musical, com algumas interseções. Gustavo, por exemplo, gosta mais de metal alternativo e pop(!), Alan curte tanto heavy metal, como hip hop. Romildo tem influências mais psicodélicas e clássicas, além de ser um grande fã de Red Hot Chili Peppers. Já Vitor, gosta de coisas mais antigas e progressivas, como Pink Floyd e Rush. Juntando todos esses elementos, nasce o som da Laggus, algo que não conseguimos definir com exatidão. Mas você consegue perceber algumas influências variadas, ali.

O novo álbum “Gris” aborda temas profundos como saúde mental e fragilidade emocional. O que levou vocês a explorar esses temas e como isso aparece na música e na estética do álbum?

Laggus: Sim. Na verdade, é um álbum conceitual que aborda as diferentes fases de um colapso emocional. Após algumas experiências frustradas da banda, Romildo sugere que nos dediquemos a focarmos exclusivamente nas composições e “pintarmos os nossos quadros”, sem shows, apenas a arte na sua forma mais pura e genuína. De início, não foi intencional. Porém, a cada música que criávamos, percebíamos que tinha algo que as conectava. Daí, decidimos, de fato, fazer algo conceitual.
A escolha da temática também foi algo natural. Infelizmente, vivemos tempos difíceis, onde cada vez mais pessoas apresentam estados de fragilidade e desequilíbrio. Acreditamos que a pandemia tenha potencializado algo que já vinha se formando, algo embrionário. Achamos importante tocar no assunto de uma forma mais focada, explícita, pois estamos perdendo vidas. É algo muito sério.

Sobre a temática, o álbum leva o título de ‘Gris’. A intenção é fazer alusão a um dia cinzento, nublado, reflexivo e introspectivo. Um momento para olhar pra dentro. Também tomamos, como referência, o fenômeno conhecido como ‘Depressão de inverno’, que ocorre em países escandinavos, Canadá e outros mais, que têm o clima mais frio, sem sol, despertando tristeza em algumas pessoas. A partir disso, toda a estética gira em torno de tons de cinza, desde a nossa identidade, como clipes, capas do álbum, singles e redes sociais.

Pode contar um pouco sobre como foi o processo criativo para “Gris”? Como a colaboração entre vocês e o psicólogo ajudou a moldar o álbum?

Laggus: O processo foi, basicamente, um trabalho de revirar alguns traumas e se despir de vaidades. Nós quatro temos o costume de conversar bastante sobre a vida, de uma maneira geral e sobre o comportamento do ser humano. Há, também, um salto geracional dentro da banda, o que torna a coisa mais interessante. Tudo o que fizemos foi transportar as nossas dores e agonias para os instrumentos, uma sessão terapêutica musical, por assim dizer. O Vitor é psicólogo, o que contribuiu bastante para a construção da narrativa, com um olhar mais técnico e cuidadoso.

Como a pandemia influenciou a criação do EP “Limiar” e de que forma essa experiência impactou a produção de “Gris”?

Laggus: No final de 2019, estava estabelecida a formação atual da Laggus. Tínhamos começado a ensaiar e tínhamos alguns planos. Contudo, não contávamos com algo que mudaria a história da humanidade logo no início de 2020. Não teve jeito, todo mundo trancado. As músicas para o EP Limiar já haviam sido criadas e gravadas com outra formação. Uma forma que encontramos de divulgar o trabalho da banda naquele momento, foi lançar esse EP. Vitor e Romildo fizeram alguns ajustes e lançamos. Porém, como sabemos, a quarentena durou bem mais do que o previsto. Já que não podíamos nos encontrar presencialmente, uma forma de nos mantermos ativos foi compor. Nesse período, compomos 2 singles: ‘Habitual’ e ‘Perene Inércia’, que são histórias complementares e falam, justamente, sobre esse período difícil. Todo o processo, desde composição à gravação, foi feito cada um na sua casa. À medida que as coisas foram melhorando, passamos a nos encontrar e, consequentemente, ensaiar. Porém, todo aquele período havia deixado resquícios emocionais que serviriam de embrião para o Gris. As pessoas e as relações já não eram mais as mesmas.

Quais foram as principais influências musicais em “Gris”, especialmente no que diz respeito aos elementos sinfônicos e ao nu metal? Como vocês conseguiram integrar esses estilos ao som da banda?

Laggus: As influências foram as mais variadas possível, desde Pink Floyd, Deftones a Red Hot Chili Peppers e Dream Theater (na parte conceitual, não instrumental… rsrs). Os elementos sinfônicos foram totalmente de forma inesperada e despretensiosa. Depois de ouvir alguns trabalhos do Apocalyptica, Gustavo sugeriu a inserção de alguns elementos de cordas na música ‘Mais uma vez’, uma das mais pesadas do álbum, justamente para fazer esse contraponto. A partir daí, o monstro havia sido criado! Gostamos tanto do resultado que pensamos “E se explorássemos mais isso?”, como um diferencial. Mas também dosamos bastante, para não ficar exagerado e o peso das guitarras não ficar ofuscado. Deu no que deu! E estamos bastante ansiosos para saber como as pessoas irão reagir.

O que os fãs podem esperar dos videoclipes e lyric vídeos de “Gris”? Há alguma história ou conceito específico que vocês estão tentando transmitir com esses materiais visuais?

Laggus: Sim, com certeza há algo em tudo! Nada é aleatório, tudo está conectado e referenciado. Há coisas ali que as pessoas podem não perceber em um primeiro momento, como alguns easter eggs, mas irão perceber mais adiante. Já lançamos dois clipes, para as músicas ‘Fora do lugar’ e ‘Um pouco de paz’, que são complementares e compõem uma trilogia, é uma história contínua, literalmente. E, o mais interessante, foi que procuramos construir uma narrativa tangível, nada ficcional. Uma história que está acontecendo neste momento com uma ou várias pessoas comuns, infelizmente. A ideia central é fazer com que a pessoa se identifique e acho que conseguimos, pois tivemos relatos de pessoas, literalmente, se emocionando e até chorando. É algo que mexe até com o cara mais durão! rsrs…

Quais são as principais mensagens que vocês querem passar com as músicas de “Gris”? Tem alguma faixa que você acha que ressoa mais intensamente com os ouvintes?

Laggus: Existem algumas mensagens mas, a ideia principal, é de acolher. Pessoas que passam por momentos como esses, geralmente, se sentem sozinhas, como se mais ninguém as entendessem, não enxergando muita saída e aumentando o desespero. O Gris é uma espécie de “Eu entendo como você se sente.”. Não temos a pretensão de curar pessoas. Mas nós, artistas da Laggus, que temos o dom e formas para nos expressar, entendemos a responsabilidade de criar mensagens que façam sentido. Procuramos ter o máximo de cuidado e esmero com as nossas composições. Existem pessoas que querem apenas algum som para beber e curtir e não há nada de errado nisso. Mas, também, existem pessoas que querem algo para prestar atenção, algo para se identificar e, até mesmo, que sirva de alento para um momento específico e nós estamos aí para servir a esse público. A princípio, não conseguimos identificar uma faixa que se destaque, pois cada uma aborda uma fase mais intensamente. Existe desde o questionamento “Alguma vez você já se sentiu como uma peça fora do lugar?”, que te faz parar e refletir (possivelmente chegando à conclusão de que ‘sim’), como o desabafo raivoso “Não importa se o mês é amarelo, vermelho, verde ou azul anil quando a mente da pessoa já foi pra pqp”. Ou, até mesmo, a súplica “Por favor! Me tire esse temor! Eu perco o controle, eu não aguento mais”. A certeza que temos é de que, se você estiver passando por alguma fase específica, você será impactado!

Quais são os planos da banda para promover “Gris” depois do lançamento? Vocês estão pensando em fazer shows ou eventos especiais para divulgar o álbum?

Laggus: Estamos nos planejando e contatando alguns sites e portais, para a divulgação do álbum, bem como algumas parcerias, também. E, claro, o máximo de shows que conseguirmos! rsrs… Já temos algumas datas ao longo dos próximos meses. Mas estamos no início.

Durante a produção de “Gris”, quais foram os maiores desafios que vocês enfrentaram e como conseguiram superá-los?

Laggus: Enquanto compositores, o nosso maior desafio será saber a hora de dar um fim e entender que está bom. Nunca estamos satisfeitos e sempre achamos que dá pra fazer mais. Só que não queremos uma música de 10, 12 ou 15 minutos! rsrs… E, óbvio, sempre existe o fator custo. Vivemos em um país onde fazer música, sobretudo rock, custa caro, pois são instrumentos e insumos. Tudo é caro, desde uma guitarra, pedais e, até mesmo, um jogo de cordas. Equipamentos são caros, gravar em um estúdio, sem o aporte de uma gravadora, é caro. Por conta disso, todos os nossos trabalhos são feitos por nós mesmos. Nós gravamos em casa, com bastante suor e dedicação. Os clipes seguem a mesma linha, nós que fizemos tudo, não houve contratações de produtoras, roteirista, etc. Foi tudo artesanal. Quando vemos o resultado e feedbacks positivos, nos sentimos mais seguros e sabemos que estamos no caminho certo.

Depois de “Gris”, como vocês veem a evolução da banda? Há alguma nova direção musical ou experimentação planejada para o futuro?

Laggus: Gris foi o primeiro álbum com os quatro trabalhando. Em comparação com o Limiar, que também é um excelente trabalho, você percebe uma unidade, mas também percebe maturidade. Musicalmente, estamos cada vez mais entrosados, entendemos cada vez mais o outro. E, o mais importante, nos respeitamos muito. Sobre direção musical e novos trabalhos, podemos dizer que somos uma fonte inesgotável, um solo bastante fértil! Temos alguns projetos praticamente prontos e um planejamento dos próximos passos. Há muito mais por vir!

Mais uma vez, muito obrigado pela oportunidade. Para nós, é sempre um prazer dar espaço para as bandas do nosso cenário. Para finalizarmos, qual mensagem deixam para nossos leitores d’O SubSolo?

Laggus: Nós que agradecemos! Como banda independente e fazendo um som autoral, é vital que tenhamos espaço como O SubSolo para mostrarmos nosso trabalho. Muito obrigado, de verdade! Para os leitores, entendam que o rock é um ritmo gigante, senão o maior do planeta. Não existe essa coisa de “se não é pesado, não é rock”. Precisamos acabar com esse pensamento e unir cada vez mais. O rock está longe de estar morto. Muito pelo contrário, está aí e lutando. Temos uma cena efervescente, com muita banda fazendo trabalhos dignos. Pra isso, é extremamente importante o apoio. Apoiem a cena! Não esperem a banda furar a bolha, ajude a furar. Tem muita coisa boa, aí, que depende, sim, da ajuda de cada um que acompanha.

Gremista, catarinense, gamer, cervejeiro e admirador incessante do Rock/Metal. Tem como filosofia de vida, que o menos é mais. Visando sempre a qualidade invés da quantidade. Criou o site 'O SubSolo" em 2015 sem meras pretensões se tornando um grande incentivador da cena. Prestes a surtar com a crise da meia idade, tem a atelofobia como seu maior inimigo e faz com que escrever e respirar o Rock/Metal seja sua válvula de escape.