Torture Squad é uma velha conhecida do Metal nacional. Com mais de 20 anos de estrada, a banda paulista de Death/Thrash Metal é reconhecida internacionalmente, tendo lançado vários trabalhos de indiscutível qualidade. Em 2015, com a saída do ex-vocalista e ex-guitarrista André Evaristo, a banda optou em trazer duas figuras novas: o guitarrista Rene Simionato e a vocalista Mayara “Undead” Puertas. O SubSolo teve o prazer de entrevistar a Mayara, personalidade que conquistou os fãs de Metal com a força da sua voz.

Mayara, para nós do SubSolo é uma grande honra receber você aqui. Torture Squad é uma banda admirável, um grande nome do metal nacional, e você, uma integrante nova na banda, já chegou com força total. Sua voz é incrível e sua presença de palco é contagiante, por isso quisemos levar ao público mais conteúdo sobre você. Para iniciarmos nossa conversa, conte-nos de onde surgiu seu interesse pela música e pelo metal. Como você ingressou nesse meio?
Mayara: Olá, muito obrigada pelo convite, me sinto feliz em saber que admiram minha banda e nosso  trabalho. Bom, meu interesse pela música veio desde muito pequena, cresci em uma família que várias pessoas se interessavam por música, e comecei a demonstrar aptidão para canto e piano, mas não cheguei a frequentar escolas de música. Tive algumas aulas de piano em casa, mas não segui em frente, preferia praticar sozinha… e assim foi com todos os instrumentos que eu quis aprender (piano, violão e guitarra). Quando mais velha, por volta dos 12/13 anos, já me interessava pelo Rock, até que um amigo me apresentou o Heavy Metal: levou todos os CD’s que ele tinha para minha casa e eu fiz uma cópia deles. As bandas que me apaixonei de cara foram Iced Earth, Blind Guardian, Hammerfall… e Tuatha de Danann, que estava no meio dos CD’s. A partir daí fui buscando cada vez mais bandas e me encontrei no metal extremo. Sempre tentei montar ou entrar em uma banda.


Você é ex-vocalista do Necromesis. Após sua saída dessa banda surgiu o convite para cantar no Torture Squad. Como foi o convite? Como você se sentiu ao ser convidada?
Mayara: O convite rolou de forma inesperada. Em uma conversa com a Fernanda Lira (vocalista e baixista do Nervosa) ela havia me dito que tinha me indicado para ser vocal de uma banda, mas que não poderia me falar qual! (risos). Algumas semanas depois o Amilcar (baterista do Torture Squad) entrou em contato comigo e aí entendi tudo. Foi uma grande surpresa para mim, pois o Torture Squad sempre foi uma banda que acompanhei e frequentava os shows, sempre tive grande admiração por eles, recebi com muita honra e responsabilidade este convite, pois sabia da história da banda (eles tem de estrada o que tenho de idade!) e teria de dar o meu melhor para estar ao lado deles. E assim foi, a banda sempre me deixou muito tranquila para explorar meu potencial vocal, e estamos trabalhando muito bem juntos.


Torture Squad é uma banda bastante reconhecida, tanto no Brasil quanto no exterior, tem vários discos lançados e está há anos na ativa. Em algum momento você se sentiu insegura por conta disso? Teve algum receio quanto à aceitação do público? Conte-nos como foi sua entrada na banda.
Mayara: O Torture Squad sempre demonstrou e inspirou seriedade durante sua carreira, a estrutura que construíram e a paixão pelo que fazem com certeza influencia muita gente que quer seguir essa estrada do Metal. Esse conjunto de coisas só me trouxe ainda mais segurança para ingressar na banda, pois sabia que se eles haviam me convidado para tal posto era porque me consideravam apta para isso. Tive que me adaptar a rotina da banda (ensaiamos quase todos os dias), larguei o meu emprego, me mudei… tudo para poder me dedicar ao máximo pela banda. O resultado veio com o que recebo nos shows, a galera curtindo essa nova fase, curtindo minha interpretação dos sons antigos. Estou muito satisfeita e sei que é apenas o começo, e vou continuar me dedicando para isso.

Infelizmente nossa sociedade ainda é contaminada pelo machismo. Você é a única mulher da banda e ocupa um posto que normalmente é ocupado por homens. Em outras entrevistas você relatou que já sofreu preconceito pelo fato de ser mulher. Fale um pouco sobre como é ser mulher no metal extremo.
Mayara: Mesmo já tendo vivido alguns episódios de atitudes machistas, o Rock e Heavy Metal ainda são, na minha visão, os estilos que mais estimulam a liberdade do ser humano em ser e fazer o que ele quiser. E é isso que venho fazendo como vocalista, considero que para estar vivenciando essa rotina de estar com uma banda na estrada você primeiramente tem que estar munido de atitude e segurança para enfrentar os obstáculos, todos da banda passamos os perrengues juntos e meus companheiros se preocupam muito com minha segurança e bem-estar. Em geral o público apoia e recebo muitas mensagens de mulheres (e também homens) que se sentiram motivados com minha entrada no TS, ouço pais que me dizem ter vontade de levar suas filhas para um show do Torture Squad para que elas vejam que também podem fazer isso se quiserem. Isso é mágico para mim, pois estou indo atrás de um sonho que persigo desde a infância, e fico feliz que esteja inspirando outras pessoas a fazerem o mesmo.


Atualmente o Torture Squad fez turnê pelo Brasil e também pela Europa. Vocês ficaram muito tempo na estrada e fizeram uma série de shows. Como foi essa experiência? Quais foram as coisas boas e quais foram as dificuldades que você teve que lidar?
Mayara: Bom… na estrada você tem que se acostumar com a ideia que a sua casa será uma van. Não há espaço para luxos, tudo é compartilhado com meus companheiros de banda, então prezamos muito por uma boa convivência entre nós, tendo em mente que, apesar das dificuldades, estamos ali para fazer o que mais gostamos. Tudo é correria, você tem pouco tempo para dormir, comer, se cuidar… eu fico sempre atenta para acompanhar o ritmo. Minha maior preocupação é cuidar da minha voz e da minha saúde, pois são muitos shows para se fazer, então bebo muita água e me divirto com responsabilidade. Nem sempre sobra tempo, mas gosto de conhecer sobre os lugares que tocamos, a maioria deles eu nunca poderia visitar se não estivesse na estrada. Esta é uma parte bem legal, conhecer diferentes pessoas e costumes, e poder compartilhar com eles minha música.


Durante a turnê na Europa vocês conheceram o lendário Steve Harris, como foi esse encontro?
Mayara: No final da turnê tivemos que ficar alguns dias na Alemanha, em Hamburgo, na casa de amigos até chegar a data de nossa volta para o Brasil. O Steve Harris se apresentaria em Hamburgo naqueles dias, e em contato com a Wacken Records eles conseguiram cortesias para que pudéssemos assistir a apresentação. Foi um show no meio da semana, com pouquíssimas pessoas! Pude assistir o show todo na grade, vendo o mestre de perto, estávamos extasiados! No fim da apresentação fizemos amizade com um dos guitarristas que nos avisou que se aguardássemos um pouco poderíamos conhecer o Steve Harris. E assim foi, muitas pessoas já haviam ido embora do lugar, mas o Steve veio e recebeu todos os presentes, tirando fotos e dando autógrafos. Foi uma experiência muito bacana para o Torture Squad podermos viver este momento todos juntos!


Você é a mais jovem da banda. Quando o Torture Squad estava surgindo você ainda não tinha nascido, certo? Tendo em vista a diferença de idades, é possível perceber que você e o Rene pertencem a uma geração diferente do Castor e do Amilcar. Como é a relação entre vocês quatro? 
Mayara: Nós temos uma relação de amigos, irmãos na banda, como disse acima prezamos por uma boa convivência por passarmos mais tempo juntos do que com nossa família, por exemplo. Há sim uma diferença de idades, mas a paixão pelo metal é a mesma. Tento absorver o máximo da experiência que eles já viveram e aprender com isso.


A respeito do feedback do público sobre a fase atual da banda, que tipos de comentários você escuta ao final dos shows? As pessoas buscam conversar com você pessoalmente ou através das redes sociais? Fale-nos da sua relação com o público.
Mayara: No fim dos shows temos o hábito de nos encontrarmos com o público, é o momento de interagir e ouvir a galera. O que mais escuto são pessoas surpresas com o resultado do time, até hoje não ouvi ninguém que saiu insatisfeito. Um comentário que escuto muito também é que eu trouxe de volta a característica Death Metal na voz, que agradou muito quem curtia os CD’s mais antigos da banda. Eu sou péssima em gerenciar minhas redes sociais, quase nunca sobra tempo para ver minhas mensagens. Sempre que posso tento responder as mensagens e comentários de todos que me acompanham, recebo muitas mensagens de apoio, e sou muito grata por isso.


Como é a emoção de estar no palco? Você sentiu diferença entre o público brasileiro e o público europeu?
Mayara: A sensação de subir no palco para mim é de “Sim, aqui é onde quero estar”. A principal diferença que senti do público brasileiro e do europeu, é que lá você vê muitas tribos misturadas frequentando os mesmos shows, principalmente a cena Punk e Metal. No Brasil você não vê isso com tanta frequência, o que é uma pena, pois foi sensacional conhecer pessoas de tribos diferentes curtindo nosso som. No mais não senti tanta diferença em termos de receptividade, varia muito de lugar para lugar, mas no fim todos se divertem!


No EP Return of Evil, que é o primeiro trabalho lançado pela nova formação da banda, as letras foram compostas pelo Amilcar e pelo Castor (sendo que Dreadful Lies é uma regravação). Você também pretende trabalhar na composição das músicas daqui para frente?
Mayara: Com certeza, neste novo álbum pude contribuir não só com letras mas também com composições. Gosto muito de compor, e sempre que acho que fiz se encaixa com o Torture, apresento pros caras.


Além de cantora, você é proprietária da Bloodline – Custom Shop. Conte-nos como veio essa ideia e como é seu trabalho nessa área.
Mayara: A loja surgiu numa época de aperto, em que estava desempregada e buscava alternativas para renda. Inicialmente trabalhava apenas com vestuário, e foi evoluindo para acessórios. São peças feitas sob medida com opção de couro legítimo e também de materiais de origem não animal. Estou sempre em busca de coisas que possam tornar a loja ainda mais completa para pessoas que curtem o estilo, trabalho também como consultora de figurino na produtora Loud Factory.


Por curiosidade: de onde surgiu o “Undead” que você utiliza em seu nome?
Mayara: Nos primeiros ensaios o Amilcar fez uma brincadeira de que meus rasgados pareciam os gritos de uma “morta-viva” saindo da cova. Daí eles começaram a me chamar de Undead e isso acabou se tornando um “alter ego” que realmente incorporo quando estou no palco. O palco é onde deixo a Undead sair de dentro da cova dela com seus gritos assustadores (risos).


Mayara, foi um imenso prazer conversar com você. Agradecemos a atenção dedicada a nós. Para encerrarmos a entrevista, você gostaria de deixar um recadinho aos leitores do SubSolo e aos fãs de Torture Squad?
Mayara: Curti muito responder esta entrevista, agradeço muito o convite! A quem curtiu a entrevista convido a conhecer mais sobre minha banda e meu trabalho, procure por nós nas redes sociais! Muito obrigada!

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