Dando continuidade à cobertura do Maniacs Metal Meeting, o SubSolo foi além e conversou com o vocalista de uma das bandas mais esperadas do evento. Minutos antes do show, trocamos uma ideia com Pedro Poney, vocalista e baixista do Violator.
Poney, para nós do blog, estar falando contigo hoje é uma baita honra, porque somos muito fãs do trabalho do Violator. Conversar com um ídolo assim, de perto, é muito massa. Obrigada pelo tempo dispensado. Cara, vocês fazem muitos shows na América Latina, existe diferença do “calor e tesão” do público brasileiro para os outros?
Poney: Pô, muito obrigado! Cara, é bastante parecido, na verdade. Têm alguns lugares no Brasil onde as coisas são mais loucas, como têm também alguns lugares da América Latina onde as coisas também são loucas; tipo, no norte e nordeste brasileiro, assim como no Chile, Colômbia e Peru, as pessoas têm aquela coisa “paixonal” pelo Violator; os shows são reflexos desse encontro entre a banda e as pessoas; geralmente, os shows são mais intensos nesses lugares. Mas em geral, cara, seja no Japão ou no interior do Brasil, sempre há uma coisa/sentimento que é muito parecido, mais universal assim dizendo.
Qual tua opinião sobre essa onda direita conservadora que vem dominando o metal? O que você acha sobre isso?
Poney: Cara, eu questionaria se chega a estar dominando o metal mesmo. Na verdade, eu tenho visto um público do Violator cada vez mais jovem; o público do Violator que é mais novo, são pessoas bem “cabeça aberta”, bem progressistas, pessoas que não têm “encanação” com a opção sexual dos outros, sabe? É isso que eu tenho visto do público do Violator, então, eu não sei se o metal tem virado mesmo uma coisa conservadora. O que eu acho mesmo é que a sociedade brasileira é muito conservadora; o metal num passado geral, sempre foi uma coisa muito conservadora, e isso sempre me incomodou muito, tanto é que eu fui buscar fontes no punk, no hardcore, como “espaços de formação” política mesmo. Eu acho que de uns tempos pra cá, não há um avanço conservador não, muito pelo contrário; nunca foi um espaço tão aberto pra mulheres, por exemplo. Isso melhorou bastante com o passar dos anos.
Vocês fazem muitas declarações com relação à política no Brasil que são bem explícitas. Em algum momento vocês tiveram medo de acabar “perdendo público” por isso?
Poney: Não, cara. Eu já tive receio de apanhar na verdade (risos) mas com relação a “perder público”, não. Pra gente, a coisa não funciona por essa lógica. Se tem alguém que é fã do Bolsonaro, é entusiasta de tudo o que ele partilha e não gostar do Violator, tudo bem, não temos nenhum problema com isso, sabe. Se a pessoa que apoia ele também gostar do Violator, tudo bem também, podemos conversar e chegar a um ponto que possamos nos encontrar. A gente não se incomoda em as pessoas não gostarem da banda. A coisa não tem que funcionar assim. O que a gente precisa entender no underground é que nós não podemos fazer as coisas pela lógica comercial; não devemos estar preocupados com “número de seguidores” e “curtidas em postagens”. Não funciona por ai, sinceramente. Se iremos perder público por isso, não chega a ser uma perda. A questão aí é que se posicionar em assuntos que consideramos fundamentais na sociedade, é muito mais importante do que ter mais ou menos pessoas gostando do Violator.
Poney, vocês sempre deixaram claro que têm outros trampos além da banda e que tocam por diversão. Vocês já cogitaram a hipótese de viver da música algum dia?
Poney: Cara, sinceramente? Hoje eu acho impossível. Eu estou com 31 anos, tenho uma filha e tenho família. Todos nós temos nossas formações fora da banda. Eu acho que a coisa teria que funcionar de um jeito que tivesse que haver uma dedicação tal que, talvez, a banda morresse. Nos momentos em que nós tentamos transformar a coisa em “trabalho”, não deu certo. Por exemplo, a gente passa em turnê na Europa fazendo, vai lá, 27 shows, quando chega na segunda semana da turnê, a gente já tá naquela coisa de “Pô galera, vamos pra casa já…” A gente gosta muito de tocar, somos apaixonados em subir no palco e fazer nosso som, mas, ao mesmo tempo, gostamos de voltar pra casa. Quando essa paixão vira algo rotineiro (obrigação), quando eu tenho que tirar o meu sustento daquilo – eu tenho a impressão de que o trabalho tem a capacidade devastadora de acabar com a paixão – o encanto morre.
Num mundo ideal, que certamente não é o que a gente vive hoje, poderíamos viver do Violator, viver tranquilo, termos um ritmo e tal; mas a realidade não é essa. Nós poderíamos tentar fazer 200 shows em um ano, vivendo a base de sanduíche no backstage, talvez assim, conseguíssemos viver um ano dessa forma, mas só o suficiente pra ter as contas pagas e o sustento do dia a dia; ou temos a opção de levar nossas vidas, nossos trabalhos e o Violator, e é essa segunda opção que nós temos feito e têm dado certo.
E qual a expectativa pro show de hoje? Não sei se você sabe, mas o público de Santa Catarina é louco por vocês, esperava demais por este dia, inclusive, até ouvimos de algumas pessoas que estão aqui na fazenda que iriam dar uma descansada pra poder fechar mosh durante todo o show.
Poney: Sério?! Que bom saber disso, cara! Eu tenho bastante expectativa pro show de hoje; o último show que a gente fez aqui na Fazenda Evaristo não foi um show legal, porque logo quando começou o show, o Cambito tropeçou, caiu e quebrou o braço da guitarra, NA PRIMEIRA MÚSICA, e cara, sempre que dá uma “zica” dessas no começo do show, baixa a energia de um jeito que, porra, não tem jeito de retomar; então, hoje eu quero que seja um dia de redenção, apesar do nosso horário ser meio tarde, né? (risos)
Quais os próximos projetos do Violator após o Scenarios of Brutality? Podemos contar com coisa nova do Violator pro ano que vem?
Poney: A gente vai começar a gravar agora, cara. Começamos semana que vem, vamos gravar duas músicas, no caso um EP; eu tô bem animado, a gente vai gravar de um jeito totalmente diferente, iremos gravar em Brasília num estúdio onde a gente ensaia, depois vamos mandar pra um gringo mixar e masterizar. Nós vamos lançar no começo do ano que vem, pela Kill Again – temos um laço eterno com a Kill Again. Ano que vem nós também já temos alguns shows marcados, nós vamos tocar no Obscene Extreme que, porra, pra gente é um sonho tocar lá de muitos anos já, então essa parada vai ser legal demais. Nós seguimos nesse ritmo, é algo constante mas também não é a loucura que já fizemos alguns anos atrás.
Quais as influências de vocês? Quais são as bases pro Violator existir?
Poney: Boa! Cara, o Violator possui uma especificidade proposital, sacou? A gente têm um pacto entre nós (que acaba se estendendo à quem curte a banda) que é de respeitar a proposta específica em fazer Thrash Metal dos anos 80, até porque nós fomos criados ouvindo as bandas sempre pegando um outro caminho que não dava certo. Quando a gente montou o Violator foi assim: “Olha, nós vamos fazer uma banda de thrash e vai ser isso!”, todos nós gostamos de muitas outras coisas de músicas além do thrash. Nós gostamos das bandas mais extremas do Thrash, tipo Dark Angel, Sepultura (Beneath the Remains/ Schizophrenia), Slayer (Raining Blood); uma outra banda que a gente curte e é também formadora do nosso som é o Sacrifice, do Canadá. Mas assim, a gente sempre gostou de tudo de thrash e o Violator é justamente isso, a junção de tudo o que a gente mais gosta e ouve no thrash. Tem gente que até reclama, dizendo que o Violator é muito rápido, mas é disso que a gente gosta.
Poney, pra gente encerrar, poderias deixar algumas palavras pro público do O SubSolo?
Poney: Claro, inclusive, deixa eu falar um parada: eu acho, que a nova geração que são vocês, com 20 e poucos anos, são quem não deixa tudo isso morrer, sacou? Porque assim, hoje em dia, neste ímpeto, tudo é uma experiência imediata; então, não precisa-se mais escrever como foi o show, por que tudo é fotografado e postado no instagram com algumas hashtags, ou seja, muitos perderam a capacidade de resenhar shows, perderam a capacidade de fazer entrevistas, ou seja, existe pouca criação de discursos sobre a cena underground atualmente. Discursos são fundamentais para a formação de ideias. O espaço underground, especialmente pra quem é mais jovem, é um espaço de formação muito legal, de você ter contato com bandas novas, conhecer pessoas novas com novos discursos, e é bem legal quem ainda preza por este tipo de trabalho, é muito interessante essa proposta de manter viva a ideia de resenha de shows, entrevistas com as bandas, pô, muito bacana mesmo. Parabéns e sucesso ao SubSolo!
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