Raíza Silva é uma atriz, cantora, autora e produtora cultural de origem luso-brasileira. Nascida em uma família de músicos de Bossa Nova, seu primeiro contato com a música foi durante a infância ao aprender teclado de forma autodidata.
Sua carreira artística começou em grupos de teatro social, onde foi possível se profissionalizar como atriz e realizar trabalhos na área. Seu trabalho mais recente foi a protagonista do videoclipe Predator’s Lust da banda Black Priest, onde conseguiu unir suas maiores paixões: a música e a atuação. Durante um ano, esteve presente na banda Urantia e, através desse trabalho, passou a fazer parte da cena underground. Em seguida, recebeu indicação para cantar na Lynx the Revenge e fundou a produtora R33xistencia Produções. Conversamos com Raíza para falar um pouco dos seus planos e projetos:
Raíza, um prazer ter disponibilizado tempo para nossa equipe, muito obrigado. Você começou cedo na música por incentivo da sua família que são de músicos, porém, com influência da Bossa Nova. Como começou a seguir para o Rock/Metal?
Raíza Silva: Agradeço muito por esse espaço, creio que é o Subsolo é um lugar muito importante para os artistas independentes.
Cresci num ambiente em que ouvia muita música brasileira, meu pai sempre contou histórias da sua infância e adolescência em meio aos saraus de Bossa Nova. Na verdade, não tive muito incentivo, mas tive um cenário propício para aprender música sozinha através de instrumentos e livros (a internet ainda não era tão acessível). Meu primeiro contato com o rock surgiu através de uma coletânea dos Beatles, acho que eu tinha uns 6 anos. Beatles era algo bem diferente do que meus pais normalmente consumiam, então chamou minha atenção. A televisão também me fez ter contato com Aerosmith e Carlos Santana em um programa de videoclipes de canal aberto. Aqui no Rio, a lendária Rádio Cidade também me fez conhecer muitos novos artistas. Lá para os 10 anos, descobri a Pitty e queria ser como ela (risos).
Além de excelente cantora, também faz trabalhos como atriz e produção cultural. Recentemente participou do videoclipe da nova música da Black Priest, ‘Predator’s Lust’. Como é conseguir cantar, compor, produzir e atuar tão bem em todas as áreas e como foi participar do clipe?
Raíza Silva: Infelizmente não é sempre que consigo conciliar tudo, então às vezes preciso abrir mão de alguns projetos. Estudei teatro durante muitos anos, tentei voltar após a pandemia e não consegui entrar no ritmo. O clipe da Black Priest foi uma grande surpresa, foi muito divertido participar das gravações. Tive que desenferrujar um pouquinho! Atualmente estou focando em estudar música e produzir eventos underground. Gosto muito de aprender coisas novas e o meio da música independentes é uma escola de vida porque precisamos fazer um pouco de tudo.
Conhecemos seu trabalho à frente da Urantia e logo em seguida fosse para a Lynx the Revenge. Como originou essa mudança e como ela se encaixou na sua vida artística?
Raíza Silva: A Urantia foi o princípio de tudo, foi importante passar por essa banda para que eu pudesse conhecer de verdade o ambiente da música. Durante um curto período, estive nas duas bandas. A Lynx the Revenge entrou sem querer na minha história, mas acabou ocupando um espaço significativo e optei por me dedicar somente a ela. O convite foi feito pelo Wallace Oliveira, guitarrista virtuoso com quem trabalhei no outro projeto. Wallace é professor dos guitarristas da Lynx (Douglas e Rubem), então ele acertou que eu era a peça que faltava para a banda de seus alunos.
Suas influências são Zakk Wylde, Myles Kennedy e Anna Murphy. Lembrando da sua família que tem contato com Bossa Nova, o que você carrega de influência familiar em sua carreira?
Raíza Silva: O heavy metal e a bossa nova são estilos bem opostos no canto, aliás, o heavy metal possui um peso que não é muito comum na música popular brasileira. Acho que a influência da música brasileira na minha vida é mais voltada para a atmosfera da brasilidade. As maiores bandas de metal daqui são influenciadas por ritmos regionais e por nosso quadro sociopolítico tão complicado. Exemplos disso são o Sepultura, Angra, Claustrofobia e Black Pantera. O Brasil possui uma cultura muito rica e é lindo ver nossas raízes “sangrentas” deixando marcas no metal, aliás, o metal é um estilo musical presente nos quatro cantos do mundo.
A Lynx the Revenge carrega influência fortes do Heavy Metal tradicional e conta com dois vocais. Como fica a parte de composição para encaixar dois vocais sendo um masculino e o seu feminino? Como funciona a criação das músicas.
Raíza Silva: É desafiador trabalhar com duas vozes, tive bastante dificuldade no início. Leandro é um músico muito dedicado, brinco que ele é o “maestro” da banda pois sempre nos ajuda a melhorar nossos trabalhos. Os integrantes que mais compõem são o Rubem e o Douglas, mas eles são muito abertos às ideias dos demais membros da banda. Cada música tem um pouquinho da essência de cada um e nossa influências são diversas, o que faz a Lynx the Revenge ser uma banda fora da curva.
As temáticas da banda são bem interessante, trazem lembranças de cotidiano, mensagens de paixão pela música, união e até fantasia. Como é a criação das letras e as inspirações momentâneas a respeito da banda?
Raíza Silva: Nossa intenção não é limitar nossos temas, acho que qualquer assunto pode ser um bom tema de uma música de heavy metal. No geral, acho que a Lynx the Revenge gosta de trabalhar com temas abstratos e de contar histórias.
Nos últimos tempos tem crescido uma união fortíssima entre mulheres no underground e sei que você é uma das mulheres com voz ativa no cenário e tem muito respeito de todos. Como tem sido essa busca e afirmação do espaço da mulher no cenário e quais as dificuldades que ainda enfrentam?
Raíza Silva: As mulheres no metal brasileiro são muito unidas, isso me deixa muito feliz. Fui muito bem recebida quando iniciei essa jornada por muitas musicistas fantásticas. Acho que o jeito de buscar afirmação no espaço é fazendo o que precisa ser feito com muita dedicação e excelência. Acho que precisamos nos apoiar ao máximo, conversar, criar vínculos para crescer juntas nessa sociedade tão complicada.
Além da música você trabalha com a parte de produção. Iniciou o projeto da R33xistência Produções e como funciona todo o planejamento?
Raíza Silva: Posso dizer que o R33xistência foi uma ideia do meu amigo Marcelo Prudêncio, mas Rapha e eu demoramos um pouco para tirá-la do papel. Raphael (Lowd) e eu participamos da organização de alguns eventos como o Prudafest e o Halloween Metal. Ainda estamos no começo, mas acredito que já temos uma boa bagagem de experiência. A intenção da produtora é planejar shows que não sejam óbvios, mas sim trazer uma experiência única para o público e aquecer o cenário underground local. Estou animada para receber a banda Maw em abril, eles são muito queridos por aqui.
Entre as dificuldades de produção em eventos, quais são os maiores desafios em produzir e se renovar na produção artística?
Raíza Silva: O Rio de Janeiro é uma cidade complicada por ser turística, temos alto custo de vida e uma logística complicada. Trazer bandas de outros estados e alugar bons espaços para fazer seu evento é uma tarefa arriscada. Mesmo sabendo que é arriscado, pretendemos furar essa bolha. Também vejo o quanto é necessário trazer artistas que não são óbvios e fazer uma boa divulgação em cima desse universo, aliás, o underground é para todo mundo.
Raíza, muito obrigado viu? Para nós é muito importante essa entrevista e dar espaço para uma pessoa tão emblemática do nosso cenário. Deixamos este último espaço para você deixar uma mensagem aos nossos leitores.
Raíza Silva: Mais uma vez obrigada pelo espaço, Subsolo! Gostaria de deixar uma mensagem positiva, de que nossas produções independentes são de extrema importância. A arte serve para melhorar nossas vidas e nossa sociedade. Sempre digo que a arte salvou minha vida e acho que, através dela, podemos salvar muitas pessoas e melhorar o mundo.
Vamos juntos!