Nascida em meio a tacos de sinuca, cervejas geladas e amendoins, a The Upperground é a prova viva de que grandes ideias podem surgir nos lugares mais inesperados. Formada em 2009 na zona leste de São Paulo, a banda de Hardcore/Punk Rock se tornou uma referência dentro e fora dos palcos, carregando a essência rebelde do Punk com letras autorais em inglês esbanjando energia.
Além de compor e tocar, o grupo também é responsável pela organização da “FESTA HARDCORE”, um evento que celebra o espírito DIY (Do It Yourself) ao reunir bandas e artistas independentes. Com lançamento do seu novo single e toda essa carreira, conversamos com a banda sobre planos e sobre sua história, confira:
Um prazer conversar com vocês, saibam que adoro o trabalho da The Upperground. Para começar, vocês mencionam que a banda nasceu em um encontro descontraído em um bar, Como foi esse momento de criação? Qual foi o estalo que fez vocês decidirem formar a The Upperground?
The Upperground: Ivisen, guitarra e fundador da banda por aqui. Queria agradecer vocês, que sempre abrem espaço pra gente, e um salve para toda a galera que nos acompanha! Foram 3 membros fundadores da banda, Bruno (bateria), Pedro (voz) e eu. Crescemos juntos andando de skate e descobrindo a música. Ao longo do tempo fomos criando bandas com outras pessoas, mas sempre o Bruno e eu estávamos juntos nessas formações.
Quando descobrimos a vontade do Pedro em participar de uma banda foi algo natural. Este dia no bar, foi o gatilho, porque percebemos que tínhamos muita coisa pra falar e a música era um meio comum de expressarmos essas ideias.
Ao longo do tempo novos integrantes chegaram, novas influências e novas histórias, mas mantemos a ideia original, usar a música como forma de expressão e disseminação das nossas ideias.
A The Upperground tem forte presença na cena DIY, e acho isso importante. Como vocês enxergam o papel da “FESTA HARDCORE” na promoção da cultura independente em São Paulo e quais os desafios de manter esse tipo de evento?
The Upperground: a FESTA HARDCORE nasceu para ser um espaço de acesso de encontro e integração das bandas, e principalmente para as pessoas que curtem Hardcore/Punk de SP.
Os principais desafios são: financeiro e de engajamento. É importante ressaltar que a FESTA HARDCORE não é um evento que visa lucro para organização, mas sim lucro para as bandas. No nosso modelo, revertemos toda a receita para as bandas envolvidas, igualmente. Dito isso, a realidade é que todo mundo tem que pagar suas contas e isso envolve fornecedores, bandas, organizadores e etc. Apesar do cenário independente e underground ter bastante mutualismo e cooperação, todo mundo tem que pagar suas contas, e o fato é que dificilmente as contas batem e muitas vezes temos que investir mais do que o desejado para fazer com que estes eventos aconteçam.
Parte disso está na falta de engajamento de algumas partes, bandas e público. Mesmo com valores acessíveis, dificilmente você vê um evento deste porte com muitas pessoas. O que temos presenciado regularmente é a lotação de eventos de um grupo muito seleto de bandas, que se repetem periodicamente. E é isso.
O primeiro álbum de vocês, First Floor, completa agora em 2024, 9 anos de lançamento. Como foi o processo de criação desse disco e qual foi o impacto de seu lançamento no cenário internacional?
The Upperground: Sim, First Floor é o primeiro disco da banda. Após a criação da banda, muitas músicas foram desenvolvidas. De certa forma, foi até fácil ter uma quantidade de músicas para completar um álbum, difícil foi escolher quais ficavam de fora. Assim foi um processo natural seguir para gravação. Tivemos uma sinergia muito boa com o estúdio Aurora, que nos apoiaram nesta gravação.
O lançamento em agosto de 2015 aconteceu, e tivemos uma repercussão inicial bem positiva, considerando que tudo foi feito 100% independente. Tivemos reviews nacionais positivos, e até um review internacional, também positivo. Fomos convidados a participar de algumas coletâneas, que também ajudaram bastante na divulgação. Mas o crescimento mesmo foi orgânico e ao longo do tempo.
A 10 anos atrás, a divulgação via mídias sociais não tinham ainda tanto alcance como hoje. As 2 novas músicas lançadas este ano, por exemplo, tiveram muitos mais acessos do que várias músicas do primeiro disco, grande parte disso está na amplitude que as ferramentas digitais oferecem hoje.
04) O single Hell, lançado em 2023, reflete as angústias da pandemia. Como esse período influenciou vocês como artistas e moldou a identidade sonora do novo álbum?
The Upperground: Foi um período bastante traumático. De afastamento, ansiedade e medo, mas também um período de muita reflexão. Aliado ao pesadelo político que vivemos na época, podemos, com certeza, dizer que isto nos amadureceu como pessoas e músicos.
As novas músicas trazem letras mais fortes e diretas, ao mesmo tempo que desenvolvemos uma característica mais complexa nas melodias, combinando diversas referências musicais que imergimos no período da pandemia.
Vocês têm singles como Pepper and Smoke e Come to Fall que abordam temas políticos e sociais. Como vocês equilibram as questões pessoais com as sociais em suas composições?
The Upperground: Não há equilíbrio algum, tampouco preocupação com isto. As questões políticas/sociais fazem parte das nossas questões pessoais. O nosso amadurecimento trouxe maior clareza das complexidades do contexto que estamos inseridos; mais do que nunca entendemos que somos parte de um ecossistema multifatorial, e que tudo reflete na forma como somos. Este contexto que tem definido, se falamos mais sobre política, sobre sociedade, ou sobre questões pessoais, mas de fato, não temos a preocupação quanto a equilíbrio.
Com tantas influências no Hardcore e Punk Rock, que bandas vocês destacariam como inspirações centrais na sonoridade da The Upperground? E como vocês trabalham para manter uma identidade própria nesse cenário?
The Upperground: Não tenha dúvida que temos muitas influências no Hardcore e no Punk, mas temos muitas outras influências dentro do espectro do rock e fora dele; ouvimos desde Jazz, Blues e MPB, até sons muito mais pesados, como o Heavy Metal. Essas combinações que tem influenciado as novas músicas da banda, e nos ajudando a definir uma identidade única para nosso som.
Você estão em estúdio pelo que eu sei, e o segundo álbum está sendo muito aguardado. O que os fãs podem esperar de diferente em relação ao First Floor? Há novas direções sonoras ou temáticas que estão explorando?
The Upperground: Estamos em processo de gravação, e pouco a pouco vamos lançando músicas novas, a expectativa é ter uma quantidade de sons gravados que justifiquem um álbum completo. Os novos sons tem mais influências de bandas fora do Hardcore/Punk, mas sem perder em nada a essência da proposta original. Isso já é possível ver nas músicas mais recentes que lançamos, que irão compor o próximo álbum.
Antes de finalizar, acho excelente sempre citar sobre a cultura local; Sendo uma banda da zona leste de São Paulo, como o ambiente urbano influenciou o som e as letras da The Upperground ao longo dos anos? O que da vida local é refletido nas suas composições?
The Upperground: Reflexo total. São as histórias que passamos que refletem nosso estilo de criar melodias e letras. Cada experiência marcante é registrada de alguma forma nas nossas músicas. Por isso, temos falado muito sobre o cenário político e social nas últimas músicas da banda.
Quero agradecer a oportunidade de conversar com vocês, desejo muito sucesso e estaremos sempre a postos para ajudar. Deixo esse último espaço para uma mensagem de vocês para nossos leitores.
The Upperground: Nós que agradecemos a oportunidade de conversar com vocês! Gostaríamos de convidar a todos para curtirem os novos sons e participarem dos eventos da Festa Hardcore, é só nos seguirem nas redes sociais para saberem das novidades. Um abraço a todos e Muito obrigado!