Thiago Bonazza e o AlkanzA sempre estiveram presentes aqui n’O SubSolo, talvez essa entrevista não é na situação que eu gostaria. Mas já para começar botando fogo na entrevista, quais foram os motivos que fizeram a Alkanza decidir encerrar as atividades?
Thiago Bonazza (Alkanza): Foram vários, dizer apenas 1 seria injusto. Vou citar os principais de uma forma rasa. A banda sempre teve um ideal, uma postura e um foco. Nós sempre tivemos claro isso, mas, chegou um momento aonde esbarramos em vários detalhes, como o material humano sobre a forma que as coisas são feitas na “cena” em vários aspectos, o lado financeiro e outras coisas pequenas que fazem diferença e confrontamos com nosso planejamento (que por sinal estava avassalador), ideais e se gostaríamos de participar de várias coisas que não concordamos. São várias coisas.
De todas as dificuldades apontadas e os motivos. Qual foi o ponto crucial que te desanimou em seguir?
Thiago Bonazza (Alkanza): foi a junção de coisas, internas e externas. Eu particularmente cansei de jogar grana fora, de aturar mimimi de gente incompetente. Papo furado gente sem palavra e de toda essa porra de hipocrisia que rola. SIM tem muita gente boa, mas tem MUITA gente que está ali só pra muvuca. O que mais me cansa é muito papo e pouca atitude verdadeira e não tenho a língua para ficar lambendo saco de ninguém, nem sou simpático para ganhar as coisas. É muita hiena para pouca graça. Tem bastante gente lutando de verdade. A galera tem que deixar esse romantismo barato e medíocre e começar a agir como um movimento, não uma cena que corre atrás do próprio rabo. Antes quando pensava em encerrar, eu ficava com um sentimento que poderia fazer mais, e realmente podemos fazer muito mais, mas hoje o sacrifício que seria feito para isso não vale a pena em nossa realidade atual, então se for para dar menos que 110% do que podemos, preferimos encerrar com dignidade e dando ao público que nos apoiou e compareceu em nossos shows um encerramento digno a eles e a nossa história.
O ‘cenário nacional’ (público), valoriza as bandas gringas que sempre fazem besteira quando vem aqui. O que você pensa sobre isso?
Thiago Bonazza (Alkanza): Sempre teve os gringos que vem cagar aqui e por onde passam, só que com a mídia e tudo transmitido ao vivo a milhões de pessoas aliado as redes sociais e o ato de todos termos uma câmera na mão a galera está vendo amplamente. A questão do público são várias, mas vamos lá, hahaha. Hoje existem várias bandas no cenário nacional, umas boas, outras nem tanto. Mas se você pegar um grupo de 5 músicos e isola-los eles fazem 15 bandas (não estou criticando), e com uma demanda que a tecnologia avança se torna mais fácil divulgar e gravar. Temos uma enxurrada de sons e bandas, isso aliado a preguiça de procurar ouvindo, falta de gerenciamento de carreira, de empresários e com isso somado ao poder econômico baixo do país e a síndrome de vira lata. As bandas daqui não tem o suporte que as gringas tem, principalmente em verba de mídia e com isso a massa acaba sempre indo no que é mais exposto e trabalhado midiaticamente. Isso eles tem bem mais, até na questão de produção e mixagem aqui no Brasil o metal exalta o underground e continuamos tocando em equipamentos estourado com um lâmpada em cima da cabeça e isso não atrai ninguém. A galera tem que começar a pensar como show e não como uma banda no palco simplesmente. Sempre falei que se for para ver uma banda parada executando o som perfeito, eu colo um pôster na parede e fico em casa ouvindo o som. Mas eu entendo as bandas e casas de eventos e seus produtores, ainda mais que o retorno financeiro é amador. Hoje sem dinheiro são raros os talentos que são expostos, temos jumentos na mídia e gênios na miséria. Acho esse um grande fato, aliado a falta de profissionalismo e cargos essenciais que hoje são poucas pessoas nessas funções para que o metal volte com força.
Vocês deixam alguns importantes registros/colaboração para o cenário nacional da música extrema. Foi muito difícil gravar os CDs, EPs e Clipes que vocês gravaram pela questão do alto custo? E o que cada um representa para você a o Alkanza em geral?
Thiago Bonazza (Alkanza): Para mim cada um é um troféu de superação, uma mostra para mim mesmo que sim, eu estava certo, e junto com os caras que estiveram e que estão ao meu lado fizemos algo muito foda, principalmente com o que tínhamos, cara, tiramos leite de pedra no deserto. Cara sempre foi foda, sempre foi independente de tudo, então sempre foi um ponto foda para nos essa questão de grana, mas também nunca nos abatemos perante a isso. O colonizado pelo sistema foi pago boa parte com uma rifa, é isso mesmo, ganhamos coisas em doação e rifamos. Kkkkk, olhando hoje para trás, cara éramos loucos, as vezes nem tínhamos o que comer, mas estávamos lá, com nossa força e convicção, com nossa alma , um propósito e sabendo que teríamos que evoluir muito, e isso sou muito grato ao André Guterro, o cara foi, é, e sempre será parte disso. Cada álbum foi uma luta, cada um em seu momento. O “O Céu da Boca do Inferno” foi um momento aonde o André estava tendo seus perrengues e meio que ali já estava incapaz de seguir conosco e isso sempre pesa, principalmente um cara que sempre pegou junto como ele sempre foi. No “Caos Codificado” já contava com o Pedro que deu uma força e o Renato que entrou somando muito e assim juntamente com o Ramon que já havia gravado o “O Céu da Boca do Inferno” fechou o time, que ficou a paulada que se ouve no álbum.
Mas não foi só flores, fora problemas com a batera (Ramon saiu e voltou) O Renato estava enfrentando uma batalha árdua ao lado de sua mãe( que infelizmente acabou falecendo) e eu estava com meu filho(na época com 8 meses) sendo operado de urgência e indo para U.T.I com 20% de chance de ficar vivo( Mas felizmente se recuperou e continua se recuperando bem), e isso tudo no meio da gravação. To externando isso porque as vezes as pessoas não sabem que músicos tem vida e família e precisamos que seja profissionalizada a “cena” urgente.
A Alkanza alcançou o status de headliner de grandes eventos. Quando você criou a banda sabia que chegaria a esse nível? Como foi a batalha?
Thiago Bonazza (Alkanza): Cara, sem parecer um cara escroto, eu sabia era possível sim, sabia que era possível chegar aqui, e tenho certeza que iríamos muito mais longe, mas isso não nus faz melhor que ninguém, isso nos da a responsabilidade de subir e agir como tal. Se aguentaríamos até aqui? Isso sempre foi incerteza por inúmeras vezes, mas o foco sempre foi claro, muitas trocas de formações foram em questão disso, por conta de muitos serem mais papo que ação. A luta sempre existe, mas isso faz parte, tem que ser encarado com naturalidade, e é assim para todos, nunca aceitamos vitimismo na banda, o caminho não é fácil pra ninguém, mas se entra no jogo é para jogar, não querer fotinhos e status, é pra fazer a coisa crescer e trabalhar sério ( o que a grande maioria não quer hoje em dia).
Direto e no ponto. Como você está vendo o cenário atualmente?
Thiago Bonazza (Alkanza): Muito cacique para pouco índio. O lance está meio prostituido, estão julgando a arte pela simpatia do artista e nível de puxa-saquismo que ele impera sobre os outros, quantas vezes ele cola no role, se ele faz evento pra meter a sua banda, e não podemos confundir simpatia com carisma. A arte em muitas vezes é o ponto menos importante sendo que deveria ser o principal, ou estamos aqui por status e não pela música, pela arte?
Sempre fui a shows do Alkanza e, sempre com minha camiseta (tenho caneca de vocês também). Como é para vocês, estarem no palco e verem no público pessoas usando camiseta (ou outro material) de vocês?
Thiago Bonazza (Alkanza): Ver a galera cantando as músicas, vestindo nossa peita, tomando a breja em nossas canecas, isso é que fez tudo valer a pena quando olho para trás, porque está ali pela arte, ideologia, e não porque lambemos saco de alguém, é verdadeiro, é conectividade que só a arte nos proporciona. Cara, é por isso que chegamos até aqui, por vocês, a galera que veste a camiseta e cola no mosh, que mesmo muitas vezes não indo no evento está nos apoiando, ouvindo, compartilha, comentando , etc. Vocês são o nosso combustível! É o principal motivo de estarmos aqui. Só tenho a agradecer, isso me toca de verdade, apesar de bruto (kkk) a arte ainda preenche minha alma, faz parte dela, da sentido a minha existência nesse plano terreno tão mesquinho e barulhento. Isso é que nos faz ver e sentir que tudo valeu apena.
Logo acima, falamos sobre os registros da banda. Antes de se despedirem, terá algum material inédito a ser lançado?
Thiago Bonazza (Alkanza): Sim, gravamos um som que não é nosso, e ficou muito legal, até quero agradecer ao Orland (Orland Estudios) pela abertura na agenda lotada para esse nosso registro. A princípio é nosso último material gravado que será lançado em breve, fiquem ligados em nossa página no Facebook e no Instagram que mandaremos a novidade por lá. Também temos a camiseta de despedida da banda que já foi quase esgotada na pré venda. OBRIGADO GALERA QUE JÁ PEDIU, tamo junto e aqui não é só tapinha nas costas. Se você não pediu, peça agora mesmo (rs).
Para curiosidade, acredito que possa ser dos leitores. Os músicos do Alkanza podem aparecer com outros projetos na cena?
Thiago Bonazza (Alkanza): Com certeza, aliás o único que só ficou na AlkanzA sem projetos até agora fui eu kkkkk, os outros sempre tocaram em projetos paralelos e acredito que agora vão seguir seus objetivos. Eu particularmente não tenho nada concreto, tenho alguns convites, ideias e possibilidades engavetadas, mas vou com calma, talvez entre em alguma banda, ou não, kkkk. Vamos ver o que o destino me reserva.
Cara, fica aqui registrado minha tristeza pelo fim de uma banda que gosto muito. Mas, desejo sucesso a ti e a todos os membros. Gostaria de deixar alguma mensagem para os apoiadores do Alkanza e para os leitores?
Thiago Bonazza (Alkanza): Só tenho a agradecer, de coração, OBRIGADO, obrigado pelo apoio de sempre, pelos moshs, palavras de apoio e principalmente por terem comparecido e feito a diferença em nossa história, a AlkanzA nunca deixará de existir através de vocês, porque sempre disse que nós fazemos o som, mas o show, isso é vocês que sempre fizeram. Conectar e se conectar através da música é a forma mais verdadeira de sentir sem ver. Quero também agradecer a todos os produtores que confiaram em nosso trabalho, a imprensa que abriu as portas para nós e aos nossos apoiadores e patrocinadores, principalmente a R.Nandi que sempre esteve a nosso lado.
Existe muita banda boa no metal nacional, não deixe de prestigiar.
VIDA LONGA AO O SUBSOLO! Obrigado galera!
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* Colaboração de Caio Botrel