Formado por Renato Gimenez nos vocais e guitarra, Eric Nefus na guitarra e teclado, Nilson Slaughter no baixo e samples e Daniel Vecchi na bateria, o Vazio certamente é uma das expoentes atuais do Black Metal nacional. Com o lançamento do seu recente disco Eterno Aeon Obscuro, a banda também teve destaque em sua recente apresentação ao Canal Scena (https://www.youtube.com/c/CanalScena), um dos maiores canais se não o maior sobre o cenário underground, onde conta com o dedo de Caio Augusttus do Desalmado, Nata da Manger Cadavre? e entre outros membros muito importantes também, uma equipe extraordinária que O SubSolo tem o prazer de idolatrar.

Apesar de ser relativamente ‘novo’ no cenário, o Vazio carrega bagagens impressionantes de seus membros. Com o ocultismo e a decadência apocalíptica como temas centrais da suas letras, trazem o diferencial em suas letras em língua pátria em perfeita sintonia com seu instrumental obscuro e coeso. Novamente batemos na tecla que é uma das bandas mais impressionantes atualmente no Black Metal.

Conversamos com a banda a respeito do seu disco recém lançado, aliança com o Vulcano e sobre a carreira da banda, confira!

Primeiro, agradeço a disponibilidade de estarem tirando um tempo para falar conosco. Gostaria de iniciar nossa entrevista, falando da formação do Vazio, que para mim foi uma grande surpresa, sendo que conhecia o trabalho da Social Chaos e do Armagedom que vão para um viés ainda que extremo mas como uma proposta musical diferente. Como foi montar esse time e como ele se comporta nas composições e tudo relacionado a banda?
Vazio: Saudações equipe d’O SubSolo, quem vos fala é Renato Gimenez do Vazio. Quando montamos o Vazio, eu e o Daniel Vecchi ainda tocávamos no Social Chaos, que sempre foi uma banda extrema, mas sentia uma grande necessidade de expressar arte em outro caminho. O chamado do Vazio se deu em meio a grande força do vórtex dos mortos, que conduziram meu caminho nas letras, Os integrantes do Vazio são músicos experientes, então temos grande harmonia no fluxo das composições. O Black Metal é o caminho que encontramos para fazer esses conhecimentos fluírem por terra, mas vamos além de fronteiras musicais inserindo outros elementos na nossa temática.

Ainda abordando os primórdios da banda, gostaria de saber se a proposta mais voltada para o ocultismo? Já era uma premissa da banda e quais obras e escritores inspiraram a temática do excelente trabalho “Eterno Aeon Obscuro”?
Vazio: Obrigado por chamar de excelente o Eterno Aeon Obscuro. Sobre as letras, o caminho do Vazio é formado por diversos conhecimentos que se fundem para criação de nossa obra. Quimbanda, xamanismo, qaballah draconiana, e os reinos oníricos. Desde o nascimento do Vazio, a temática sempre foi essa e vai seguir assim. A literatura ocultista sempre me atraiu, mas a prática ritualística que me permitiu algumas chaves que reverbero na obra da banda.

Como vocês veem a representatividade de ser uma banda de Black Metal, que se define como antifascista em um estilo conhecido já por demonstrações de racismo, xenofobia entre outras mazelas abomináveis em tempos como este.
Vazio: Nós quanto brasileiros, temos nossa postura combativa bem clara no meio underground e nunca iremos retroceder. Nesse país comandado pelos ignorantes, os seres pensantes tendem a se unir em grupos de ação, visto que não somos maioria da população. A grande massa segue sendo guiada pelos interesse capitalista estrangeiro que pouco se importa em devastar todo nosso verde ou matar a todos nós para seus fins. Vivemos uma guerra civil de um país de terceiro/quarto mundo. Então é impossível não se posicionar quanto a barbárie atual. Mas essa luta é uma luta de vida, não só nos palcos, é algo mais diário e mundano…Somos um povo miscigenado, guerreiro e combativo na sua essência, mas muitos foram os dominados pela magia de estagnação do cristo vampírico e do poder alienativo. Quanto essas ideias retrógradas como racismo e xenofobia, me dão vontade de vomitar, não apenas no Black Metal. Já no Vazio nossas letras extrapolam o reino da materialidade, passando por uma névoa amorfa de rezas, maldições, ensinamentos e insights que tendem ao irracional.

Aeon Eterno Obscuro, foi eleito pela mídia como um dos melhores trabalhos do ano. Essa recepção positiva chegou a surpreender vocês? Vocês ouvindo esse trabalho hoje teria algo que mudariam no opus?
Vazio: Quando se trata de composição de uma música, letra ou mixagem o processo pode ser eterno. Ele só termina quando você lança ele para as demais pessoas ouvirem, quando você entrega ele ao mundo, ele morre ali, ele para de mudar e a ideia se torna fixa e estável e muitos terão suas próprias impressões sobre o material que você criou. Então é claro que um material como o Eterno Aeon Obscuro poderia ficar melhor, mas acho que representa bem o nosso caminho, é o melhor que podíamos fazer naquele momento quanto músicos e profissionais de áudio que somos (eu e o Eric Cavalcante, guitarra) e estamos trabalhando duro para lançar um sucessor a altura. Fazendo uma pré-produção com calma e prestando bastante atenção no fluxo energético dos temas.

Antes do full vocês lançaram alguns splits com nomes como: Death by starvation, Velho, Bad Luck Rides on Wheels… Como foi criada a aliança entre essas banda com vocês? E vamos ter a oportunidade de vermos um trabalho ao lado do Vulcano, já que é uma das verdadeiras lendas do underground mundial imagino que seja uma honra tremenda não?
Vazio: Vulcano é uma referência na música extrema mundial. Repartir aquela noite no Sesc Pompéia com eles foi demais, e o material que saiu a partir disso seguiu essa empolgação. Foram três anos trampando nisso, até finalmente sair. Já os demais splits citados, são frutos de outras parcerias, o Death by Starvation é uma banda foda de Black Metal de São Paulo lançamos em LP e CD nosso Split com músicas inéditas de estúdio e o Split com o Bad Luck Rides on Wheels é ao vivo em Dresden na Alemanha no último show da nossa tour europeia de 2017.

Fugindo um pouco do assunto das músicas, queria comentar um pouco a arte do Aeon Eterno Obscuro, ela tem muitos simbolismos que podem ser compreendidos ao longo das letras, quem é o artista responsável pela mesma e como as artes como encarte, capa, letra se enquadram com o videoclipe e com o conceito do Vazio?
Vazio: O artista visual se chama Rafael Frattini e somos amigos desde jovens, sempre me impressiona seu desenvolvimento dentro da espiritualidade na arte, e somos bem próximos. Certeza que ainda faremos mais trabalhos juntos. Sobre videoclipes, nosso último trabalho de estúdio foi da faixa título e foi gravada durante a pandemia em 2020 pelo Sam amigo americano que estava passando os primeiros dias da pandemia isolado junto comigo em um núcleo de artes. Pois tinha fechado meu estúdio naquele momento, estava tudo bem difícil, mas fomos pra cima dessa produção que trouxe elementos visuais a fim de se envolver com o xamanismo e a magia das entidades.

A faixa Koié Kokoiá fecha o trabalho, o que poderia nos dizer da composição desse som? Em especial e observando bandas como Hereticae, percebemos uma visão bem critica acerca da destruição do meio ambiente. principalmente no Brasil. Observando o cenário atual podemos dizer que chegamos o momento que a faixa ‘Chamado das Matas’ está se tornando uma marcha fúnebre.
Vazio: A faixa foi criada a partir de uma reza do Povo Onça que tive acesso em uma ritualística e a partir daí, criei o mantra e fui gravando uma sequência de vozes até chegar no clima e textura que vocês ouvem ao encerrar o disco. O nome significa “O veneno está chegando” e pode ser interpretado como um chamado à cura, ou maldição dependendo da intenção mágica.

O Vazio ganhou muita atenção com a apresentação no canal Scena, sendo uma banda que já é formada por músicos experientes no cenário. Como vocês veem o papel de mídias independentes para a divulgação de banda da cena do underground? A propósito, acredita que hoje podemos falar em underground nacional ou esse espírito de união de cena se desfez?
Vazio: A cena brasileira de rock underground deve muito a esses guerreiros e guerreiras que fazem programas como o Scena, como o Motim, como era o Pé de Macaco em São Carlos e outras iniciativas como a Associação Cultural Sinfonia de Cães que faço parte, que desde 2003 vem fazendo festivais independentes. A pandemia devastou os nossos espaços físicos mas creio que aumentou a produção de podcasts e fóruns de discussão. A cena underground nunca vai se desfazer sempre vai ter algum maldito(a) conspirando a emancipação da informação subversiva e em breve novos locais de shows vão surgir. A rebelião pode estar abatida com a ascensão política desses debilóides, mas a rebelião é eterna, sempre renasce.

Como um grande fã do Vazio, estou muito ansioso para um novo trabalho. O que pode nos adiantar desse segundo registro? Existe alguma pressão para superar um trabalho tão forte como o trabalho atual mencionado nessa entrevista?
Vazio: Atualmente estamos no meio das composições do novo disco ainda sem nome, mas as letras estão sendo escritas e estamos fazendo uma pré-produção desta vez com calma registrando tudo e assim permitindo um olhar mais maduro também da músicas, deixando elas falarem mais para onde querem ir. Como uma pequena egrégora, as músicas tem que se encaixar e as vezes você gravar uma música no calor do momento que você a compôs, tira a possibilidade dela de crescer e de desenvolver seu potencial máximo.

Pós pandemia já existe alguma previsão de turnês e shows do Vazio? Pois infelizmente ainda não tive a chance de assistir uma apresentação da banda. Como vocês descreveriam o Vazio em performance ao vivo? E já fica o convite para virem para Santa Catarina, onde seja lá qual for a cidade, estarei lá para prestigiar.
Vazio: Sem previsão de concertos.

Queria mais uma vez agradecer. Obrigado pela entrevista. Deixo esse espaço para deixarem uma mensagem para nossos leitores d’O SubSolo!
Vazio: Vida longa a imprensa underground, obrigado pelo espaço! Aos guerreiros e guerreiras, mantenham a rebeldia e que a destruição seja teu guia! Ouçam os mortos!

Paulista e um dos maiores amantes do Metal Extremo, principalmente se tratando do nacional. Professor de Geografia e História, é também formado em Matemática e Filosofia, Pai da Naylla e do Dhemyan. Foi colaborador de algumas mídias, antes de fundar o site Underground Extremo, o qual tem um laço de irmandade com O SubSolo. Acompanhava o trabalho d'O SubSolo a alguns anos e passou a contribuir e fazer parte da equipe, a qual é honrado em colaborar com o desenvolvimento desta grande mídia do Rock/Metal, sendo o responsável pela parte das escritas mais extremas do site.