Ex-vocalista do Torture Squad, membro fundador e também vocalista do Voodoopriest; lenda viva do metal nacional e um dos maiores vocalistas da cena underground no mundo. Confira essa entrevista que O SubSolo fez com esse grande nome do metal no Brasil, Vitor Rodrigues:




Vitor, para nós do O SubSolo é uma tremenda honra estar contigo hoje. Você é um dos maiores nomes do metal nacional e um dos maiores apoiadores e incentivadores da cena no Brasil. Obrigada por ter nos atendido com tamanha presteza e humildade. Satisfação e felicidade definem este momento. Ao longo dessas três décadas de carreira, como você avalia sua evolução como vocalista? Qual o segredo do sucesso?

Vitor: Gratidão imensa pelas palavras, e fico extremamente lisonjeado por isso. O sentimento é mútuo. Bom, acredito que a minha evolução como vocalista deve-se à observação e ao estudo dos grandes vocalistas, não somente pela técnica vocal, mas principalmente pela performance no palco. A partir dessas observações – e continuarei até o fim da vida – o campo que se abre é muito maior para que a cada show você otimize sua técnica. Não é chegar no palco e pronto. Os ensaios são vitais, mas acrescento a isso uma visualização da minha performance mentalmente, e por isso quando chego no palco já me sinto familiarizado com o ambiente. Sobre o segredo do sucesso é perseverança. Ser resiliente e acreditar e confiar no seu talento.
Em se tratando dessa mescla de Death e Thrash, você é tido por muitos como o melhor vocalista. Suas alternâncias entre o gutural grave e o rasgado demonstram uma grande técnica. Você estudou/estuda alguma técnica vocal ou criou a sua própria?

Vitor: Pra te falar a real nunca estudei técnica em escola ou com professores. Sempre busquei aprender como funcionava a respiração, as cordas vocais e tudo que cerca a voz. Veja bem, não dispunha de poder aquisitivo para fazer um curso, então só tinha os livros e os discos para treinar. Com o tempo fui assimilando o que funcionava na minha voz, e sempre atento a conselhos, observando e aprendendo, e dessa forma criei a minha própria técnica e continuo sempre assimilando novos ensinamentos.
Através das redes sociais, podemos ver que há grande convívio/interação de sua parte com os membros do Torture Squad. Como é o relacionamento de vocês hoje em dia?


Vitor: Meu relacionamento com os meus irmãos do Torture sempre foi de cordialidade e amizade sincera. Aliás conheço o Amilcar há mais de 35 anos e o Castor mais de 25 anos, e o carinho e o respeito é que torna essa amizade especial.
Após sua saída do Torture Squad, você formou o Voodoopriest. Como foi o início da banda, tendo em vista que esta foi começada do zero? Como chegou a atual formação?


Vitor: Na verdade, quando decidi sair do Torture Squad o meu plano era voltar aos palcos após 1 ano mais ou menos. Tinha perdido minha mãe e isso mexe com a cabeça da pessoa, e junte-se a isso temas pesados como os relatos sobre a ditadura e aí a coisa desanda mesmo (risos). Mas o que me motivou a retornar e fazer uma nova banda foi justamente a força dos headbangers, das pessoas que acompanham o meu trabalho e que eu não tinha a real dimensão disso. Foram tantas mensagens de apoio que aquilo me deu uma nova vida, um novo vigor. Daí fui fazendo uma lista dos possíveis músicos que integrariam o meu projeto. No final das contas cheguei aos nomes de Covero e Renato De Luccas para as guitarras, do Bruno Pompeo para o baixo e de Edu Nicolini para a bateria. E aqui estamos nós, voodoozando a tudo e a todos! (risos)
O primeiro álbum do Voodoopriest, o Mandu, é de 2014. Temos alguma previsão de quando vem coisa nova por aí?


Vitor: O próximo álbum virá no ano que vem com certeza. Estamos criando músicas novas nos nossos ensaios e elas estão muito boas. Pretendemos fazer de 2017 um ano muito promissor para o Voodoopriest.

Em um de seus depoimentos, você afirma que os três pilares do metal são: público, bandas e produtores de show. Na sua opinião, como esses pilares podem ser fortalecidos e qual é o quadro atual da cena no Brasil?


Vitor: Comprometimento de ambas as partes. Essa é a chave para fortalecer a cena. Não adianta nada se produtores fazem um evento e as bandas comparecem mas o público não, ou o público vai e apoia mas o produtor não paga as bandas, enfim… Todos trabalhando com o objetivo de engrandecer o metal no nosso país só terão a ganhar com essa atitude. O underground brasileiro é forte e possui talentos, é só ir atrás. Por isso aproveito para dizer que é necessário comparecer nos shows e comprar merchandise das bandas. Isso revitaliza e nos mantém vivos para as próximas batalhas.
Um projeto que tem dado o que falar ultimamente é o “Levante do Metal Nativo”, que está ligado a cultura indígena dentro do metal. Conta pra gente como tem sido essa experiência e se o retorno do público está sendo o esperado por vocês.


Vitor: O Levante do Metal Nativo como gosto de frisar, nasceu da espontaneidade, ou seja, surgiu naturalmente. Na verdade culminou de várias bandas, em um pequeno espaço de tempo, lançar álbuns, vídeo clipes ou até mesmo em vias de gravar um novo disco e abordando a temática indígena e a história do Brasil. Quando lançamos o Mandu, o Arandu Arakuaa estava lançando seu vídeo clipe e mostrando essa mescla de metal com o tupi-guarani; o Armahda já tinha lançado o seu debut e no meio disso tudo, o Tato da banda Aclla me mandou uma mensagem dizendo que estava em vias de lançar o disco deles batizado de Pindorama, e que contaria a chegada do portugueses aqui nessa terra, e ele mantinha contatos com o pessoal do Tamuya Thrash Tribe do Rio de Janeiro. Enfim, tudo isso fomentou uma vontade imensa de fazer uma espécie de grupo de bandas que versassem sobre a cultura e história do Brasil. Demos o nome de Levante do Metal Nativo porque as insurreições indígenas eram denominadas levante e nativo significa “da terra”, porque esse termo, “índio” foi erroneamente dado pelos portugueses porque estavam à procura das Índias, região de forte comércio. O retorno está satisfatório, e a resposta do público também, mas acredito que mais pra frente a coisa vai se fortalecendo.

Em seu facebook, podemos notar que, apesar de ser um grande nome do underground, você compartilha muito material das bandas clássicas que te influenciaram em todos esses anos dentro do metal. Quais são os 5 álbuns que mais te inspiraram e inspiram até hoje?


Vitor: Bom, é uma tarefa dificílima citar apenas 5 discos (risos), mas vamos colocar o grau de importância para a minha formação:


1. ELVIS PRESLEY (Disco de Ouro) – Esse disco é uma compilação e foi o primeiro registro de rock que ouvi na minha vida, e agradeço imensamente ao meu pai que toda semana, religiosamente, comprava um disco e vinha pra casa. No dia da morte do Elvis, ele foi no outro dia na loja e comprou a bolacha. Ouvimos a semana inteira e eu ainda tenho ele comigo.


2. SEPULTURA (Beneath The Remains) – Depois de ver o clipe do Kiss – “I Love It Loud” – no Fantástico, e ver o Rock In Rio um dia inteiro pela TV, decidi o que eu queria curtir a minha vida toda, mas foi uma galera que vinha de Minas Gerais tomar de assalto o mundo que a coisa se encaixou totalmente. Meu primeiro disco comprado com o salário do meu primeiro emprego. Furei e daí por diante queria cantar como Max Cavalera e ter uma banda também.


3. OVERKILL (Horrorscope) – Fascinado com as bases de guitarra e a bateria vertiginosa, esse disco ouvi muito e foi um dos meus manuais para cantar rasgado. Em 2011 tive a honra de fazer uma turnê com o Overkill e pude trocar uma ideia com um dos caras que admiro muito, Bobby Blitz.


4. TESTAMENT (Souls Of Black) – A segunda faixa desse disco – Falling Fast – mais precisamente o refrão, eu costumava imitar e pegar o grave do Chuck Billy. E a partir dele comecei a exercitar e dessa forma fortalecer o diafragma para poder desferir com mais potência.


5. KING DIAMOND (Abigail) – Me intrigava como o King Diamond conseguia fazer tantas vozes, e como ele conseguia mudar o timbre facilmente. Meu primeiro disco foi o The Eye, mas o que mais ouvi foi o Abigail e a partir dele é que comecei a sacar qual era o segredo.
Você, como veterano da cena, qual conselho daria às bandas que estão começando?


Vitor: A primeira pergunta que você tem que fazer é se isso é o que quero para a minha vida. Fazer metal no Brasil é difícil e se você pensa em remuneração a coisa beira o impossível. Mas se a escolha é montar uma banda, compor músicas, gravar CDs e fazer shows então vão em frente. Siga seus sonhos e procure melhorar sempre. Não só a habilidade de tocar ou cantar, mas pronúncia da língua estrangeira, marketing, divulgação. Antigamente eram as gravadoras que faziam isso, mas agora a coisa mudou. No fundo, a confiança no seu talento é a força motriz.
Vitor, valeu por essa entrevista e por dispor de seu tempo para O SubSolo. Algumas palavras para encerrarmos?


Vitor: Quero agradecer imensamente pela oportunidade Thabata e desejo vida longa ao SubSolo. E para todos os amigos e amigas que tenho o carinho de chamar de headbangers, a minha mais profunda e sincera gratidão! Eu cheguei aonde estou por causa de vocês… Sou muito grato por isso!

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