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Entrevista: Vocifer (Palmas/TO)

A Vocifer é uma banda tocantinense de Power Metal que se tornou uma das principais promessas do Metal nacional em 2020 ao levar para o Brasil e até para fora do país as lendas e mitos da Amazônia através de seu disco de estreia, Boiuna, e de sua musicalidade única e grandiosa, com composições que não ficam devendo em nada para grandes nomes do gênero, criando grandes expectativas pelo direcionamento que a banda dará para sua carreira no período pós-pandemia.

Emissários de uma mensagem urgentíssima acerca da preservação da cultura amazônica e da própria floresta – especialmente com as notícias dolorosas e alarmantes sobre a sua devastação que vem tomando proporções descontroladas – e cientes do tamanho da responsabilidade que carregam, a Vocifer vem trabalhando na divulgação seu disco de estreia, o conceitual “Boiuna”, enquanto cria novas composições e se prepara para uma possível retomada aos palcos. O SubSolo com apoio da Hell Yeah, Assessoria da banda, conversou com os músicos João Noleto (Vocal), Lucas Lago (Baixo), Pedro Scheid (Guitarra) e Gustavo Oliveira (Guitarra), que nos contaram sobre seu primeiro disco, o processo de composição do novo álbum e as expectativas para o futuro da banda. Além deles, completa o time da Vocifer o baterista Raphael Carvalho que não pode participar da entrevista.

Primeiramente, agradecemos por cederem um pouco do seu tempo para falar conosco. É uma alegria para nós d’O Subsolo abrirmos espaço para as bandas divulgarem sua música em um momento tão delicado para o meio artístico. Quão difícil para a Vocifer foi encarar esse período de quarentena quase imediatamente após o lançamento do seu tão aguardado disco de estreia?

Lucas: Obrigado pelo convite, ficamos muito honrados, tenho certeza que falo por todos da banda. A princípio a Vocifer estava planejando fazer uma turnê nesse período e foi impedida pela pandemia. Como já costumávamos compor à distância, aproveitamos para divulgar nosso CD e começamos a criar coisas novas.

Pedro: Tivemos que nos adequar a esse novo cenário e estudamos muito para continuar divulgando a Vocifer nessas novas condições. Aproveitamos os vídeos de shows para eventos online, já que não pudemos nos reunir com frequência.

João: Para nós foi um banho de água fria. Recém havíamos feito o show de lançamento do nosso disco, isso foi em um sábado, na segunda-feira iniciaram as movimentações do lockdown e não conseguimos fazer mais nenhum show.

Vocês gravaram o disco de vocês com Thiago Bianchi, um dos principais produtores do cenário nacional e o resultado ficou incrível. Como foi a experiência da banda em estúdio?

João: Nós já tínhamos alguma experiência em estúdio, mas no Fusão foi outro nível, o tamanho do estúdio, a estrutura, tudo foi novidade pra a gente. Houve um salto de desenvolvimento gigantesco. O Thiago espremeu até a última gota de suor da banda e faz sugestões de modificações nas músicas apontando melhores direções que deixam elas muito melhores, dada a experiência dele como músico e produtor. 

Pedro: Esse salto de desenvolvimento que o João comentou, foi uma transformação que sofremos saindo do amador para o profissional nas mãos do Thiago. Foi assim que nos sentimos, tivemos contatos com muitos profissionais, o que contribuiu muito para aprendermos sobre o que é ser uma banda e músicos profissionais. Foi uma verdadeira injeção de ânimo pra fazer a banda funcionar.

Logo após o lançamento do primeiro single, Hummingbird, a banda fez shows em Brasília e Goiânia ao lado de grandes nomes da música nacional e internacional como Noturnall, Edu Falaschi e Mike Portnoy. Como foi essa experiência e como é a Vocifer no palco?

Lucas: Foi uma experiência muito legal, nunca tínhamos tocado juntos, foi nosso primeiro show com essa formação. Conhecemos o Rafael no local do show. Mas recebemos muita energia, em Goiânia, especialmente, fomos muito bem recebidos.

Gustavo: Eu nunca tinha tocado junto com eles e foi minha primeira experiência no palco para um público grande. Foi um divisor de águas na minha carreira.

O disco completou um ano de lançamento há poucos dias. Como vem sendo a recepção dele pelo público nesse período?

Lucas: Eu vejo como muito boa. Até quem não é do metal, outros músicos de outros gêneros musicais nos elogiaram muito, interessados em como a gente compunha. João: Eu achei surpreendente. Teve muita coisa boa lançada em 2020, trabalhos grandiosos. Nós termos um mínimo de destaque no meio dessa imensidão de bandas boas foi muito legal. Como a gente não impulsionou praticamente nada do nosso conteúdo, esse retorno foi sempre muito orgânico.

Boiuna saiu em 2020, mas a Vocifer já está na estrada há muito tempo. Nos contem sobre a história da banda e como chegaram na formação atual.

João: Eu e o Lucas começamos a tocar em 2013 na banda Corvo. Ele queria tocar um Metal mais tradicional e me pediu se eu cantava. Eu respondi: “Ah, sei lá”. (Risos). Começamos a tocar juntos e resolvemos fazer algo mais sério, então surgiu a Vocifer. Gravamos duas demos em 2013 e 14 e no final de 2014 decidimos fazer uma música sobre a Boiuna, ideia do Lucas. Fui atrás de saber o que diabos era isso. Estudamos o assunto, dessa música virou um disco e aí que decidimos começar a falar da cultura da nossa região. A primeira letra eu escrevi em 2014 durante um intercâmbio no Canadá, mas a banda só aconteceu de fato em 2018.

Lucas: Nesse período que o João morou fora eu toquei em outras bandas. Conheci o Pedro tocando em um festival, trocamos uma ideia e acabei convidando ele pra entrar na Vocifer. Já o Gustavo era fã nosso, ficava nos mandando vídeos tocando nossas músicas e tocava muito melhor que nós. (Risos). Quando voltamos da gravação percebemos que precisaríamos de mais um guitarrista e chamamos o Gustavo que topou na hora. O Raphael foi indicação do Alex, que gravou a bateria pra nós. Ele não podia sair em turnê pois a agenda de outra banda dele conflitava então o Raphael acabou entrando e sendo efetivado na banda.

E de onde surgiu o nome Vocifer?

João: É a Vó do Lúcifer. (Risos). Mentira. Nós queríamos o nome de uma ave de rapina. Gostamos muito do que lemos sobre a Águia Africana Pescadora e criamos uma relação com pescar nossos sonhos e voar alto. O nome científico dessa ave é Haliaeetus Vocifer, foi daí que criamos o nome.

O disco tem uma temática muito interessante e bastante única. Nos contem um pouco sobre a mensagem que a música de vocês carrega.

Lucas: A princípio, apesar de falarmos das lendas, sempre tentamos fazer um paralelo com o cotidiano, trazendo alguma mensagem construtiva, uma mensagem até mesmo política de uma maneira subliminar.

João: No primeiro disco focamos bastante nas lendas mesmo, mas a ideia para o próximo disco é trazer uma mensagem mais forte e utilizar o folclore para traçar esse paralelo com essa mensagem. Eu quero que a nossa música mude a vida das pessoas, passe uma mensagem positiva, não quero fazer música só por fazer, eu sonho em um dia ouvir de alguém que minha música mudou sua vida.

Pedro: Esse apelo cultural reforça que o Brasil é um país muito rico e muitas vezes a ignorância das pessoas faz com que desconheçam a própria história. Queremos que as pessoas conheçam melhor sobre o quanto esse país é rico em cultura.

Vocês sentem que possuem uma espécie de responsabilidade em carregar essa bandeira da preservação da Amazônia e de sua cultura?

Gustavo: A gente já comprou essa bandeira, não tem mais volta, está enraizado na nossa imagem como banda. 

João: Dentro do Heavy Metal é muito comum ver bandas de outros países explorando a sua cultura, até mesmo bandas daqui fazem isso com a cultura de fora. Achamos fundamental dar voz para a nossa própria cultura. Não que só a Vocifer venha fazendo isso, mas vejo um pioneirismo nisso. A gente faz um som que compete com bandas de fora, assim, sentimos que podemos levar nossa cultura pra fora do país. Longe de querer se apropriar dessa cultura, a gente estuda muito e conta do nosso próprio jeito, com nossa própria mensagem, mas ainda assim é uma responsabilidade muito grande com a cultura do Brasil.

Mais recentemente a banda começou a ganhar maior visibilidade internacional recebendo críticas absolutamente positivas na Alemanha e em Portugal, por exemplo. A Vocifer se sente preparada para o mercado internacional?

Lucas: Mais do que preparada. Querendo ou não tivemos mais visibilidade fora do país do que aqui, segundo as plataformas de música. Nós amamos muito o palco e essa energia nos habilita a tocar em qualquer lugar.

Pedro: A gente estudou muito como funciona essa parte de excursionar e observamos o trabalho que fizeram bandas maiores como Angra e Sepultura, que são referências nesses assuntos para nós. Estudamos muito para viabilizar uma turnê internacional quando a hora chegar.

E a sonoridade de vocês, como vocês classificam o som que vocês fazem e quais são as principais influências de cada um dos integrantes?

Lucas: Cara, é bem difícil se rotular, quando começamos nós não tínhamos capacidade de fazer o que queríamos, mas com o amadurecimento vieram novas percepções de nossa música que não tínhamos antes. Eu sinceramente escuto bem mais coisa de fora do Metal, mas minhas principais influências estão em Motörhead, Nação Zumbi, no Glam Metal e até no Brega.

Pedro: Quando eu entrei na banda o conceito já existia, então comecei a estudar mais o Power e o Melódico, mas eu vim do Thrash. Comecei a escutar música brasileira para ver o que eu poderia agregar na mistura da banda. Estudei baião, maracatu, etc. Gosto muito de escutar música instrumental também.

Gustavo: Minhas principais são Iron Maiden e Angra, são meus dois pilares e foram a trilha sonora da minha vida até agora. Eu sempre curti a vibe do Holy Land, dessa musicalidade brasileira, então estudei muito isso para incorporar na música da Vocifer. Maracatu, Baião, Bumba Meu Boi, música do Norte em geral, mas também gosto muito de escutar Djent Metal.

João: Eu cresci ouvindo Beatles, Queen, tive minha fase Kiss, admiro muito o que o Paul e o Gene fizeram. O André Matos pela voz e pelo pioneirismo no metal nacional. Holy Land é meu disco favorito. Escuto muito os musicais da Broadway também, para incorporar elementos teatrais na nossa música. O Savatage e o Avantasia fazem isso muito bem e me inspiram muito em contar histórias e em fazer um espetáculo, não apenas um show.

A música Hummingbird foi a primeira música de trabalho da banda. Por que ela foi escolhida como single e representante do álbum?

João: Essa música fala do Cruzeiro do Sul representado por um beija-flor que serve como orientação ao viajante. Nós sentimos ela nos guiando também. O videoclipe dela saiu no solstício de primavera e nos tirou de um “grande inverno” que estávamos vivendo, onde a banda chegou quase a encerrar as atividades. Ela tem um simbolismo muito grande na nossa carreira, além de ter uma energia ótima.

Vocês ainda pretendem sair em turnê desse disco e continuar sua divulgação depois de passado esse período? 

João: Nós estamos reféns da vacina, mas queremos muito tocar ainda em 2021, nem que seja um único show, mas precisamos muito tocar essas músicas ao vivo.

A banda está aproveitando esse momento “parada” para compor mais algum material?

João: Nós começamos a pré-produção do próximo álbum. Já temos o conceito e quase todas as letras prontas, começamos a arranjar e compor as músicas agora e não podemos dar mais detalhes, mas a previsão é começar a gravar ainda em 2021 para lançar em 2022. E novamente queremos gravar com o Thiago Bianchi, acho que ele ainda tem muito a acrescentar ao nosso trabalho.

Eu sei que é uma maldade fazer isso com o músico, mas se vocês tivessem a oportunidade de apresentar a banda para alguém que não conhece e fazê-lo chegar no disco todo, qual música cada um de vocês escolheria?

João: Primal Clash, pois eu acho ela grandiosa, carrega todas as nossas características e, ah cara, ela é foda! (Risos).

Lucas: Eu diria Release the Night. Eu fico realmente emocionado com ela. Desde que começamos a compor é a música que ficou na minha cabeça.

Pedro: Depende da pessoa pra quem eu vou apresentar. Minha favorita é Primal Clash, mas para quem curte mais metal eu indicaria Hummingbird ou War of Vendetta.

Gustavo: A Primal Clash é minha favorita, mas para alguém com pouca familiaridade ao metal, por exemplo, eu mostraria Used to Be.

E como ficam os planos da banda para o futuro?

Lucas: É um mistério! (Risos).

João: A gente ainda vai divulgar bastante o Boiuna, mas já estamos focados no disco novo também. Nossa vontade é voltar para os palcos, mas vamos seguir criando enquanto praticamente só podemos fazer isso. Agora com o time completo nos sentimos muito mais preparados.

Pedro: Além disso, estamos trabalhando no fortalecimento da marca. Nós queremos ser vistos e reconhecidos pelo nosso trabalho, tanto aqui quanto fora. Estamos aproveitando muito as parcerias que estamos fazendo para tornar a Vocifer do tamanho que a gente enxerga a banda.

Obrigado pela entrevista. O espaço está aberto para deixarem uma mensagem para o leitor d’O SubSolo.

João: Muito obrigado pelo convite. Espero que curtam o bate papo e convido todos a conhecer o nosso som

Pedro: Obrigado pela oportunidade de conversar com vocês e poder chegar em novos públicos. Pedimos que conheçam nosso som e se gostarem nos sigam em todas as redes sociais e apoiem a banda.

Gustavo: Valeu pela oportunidade. Sigam nosso trabalho e aguardem que em breve teremos boas novidades.

Lucas: Obrigado pela entrevista. Curtam não só a gente, o Metal tá vivendo um momento de angústia e fazer música no Brasil é muito difícil. Tem espaço para todo mundo, não tem concorrência, temos que nos unir. Então escutem a Vocifer, escutem as outras bandas e valorizem o metal brasileiro.

 

A Hell Yeah Music Company surgiu em 2020 a partir do sonho de dois amigos, Luis Fernando Ribeiro e Leandro Abrantes, que se conheceram há 15 anos por meio do Heavy Metal e tomaram-no como trilha sonora de suas vidas e matéria prima de sua arte. Respeito, valorização, criatividade e amor pelo que fazemos são nossos pilares. A #HYMC nasceu para quebrar padrões, ignorar estereótipos e dar suporte às bandas brasileiras que compartilham do mesmo sonho que nós. Baseada em Florianópolis, SC, a Hell Yeah atende bandas de todo o Brasil e de Portugal. Hell Yeah Music Company, música como experiência.