Quais discos que marcaram sua vida? Muitos podem responder que foram os primeiros, aqueles que te introduziram no mundo do Rock. Provavelmente algum que o pai ou outro familiar mostrou, só pra te testar e ver onde ia parar, e aí acabou chegando até hoje, aglomerando álbuns e mais álbuns nas costas, alguns inesquecíveis e outros que apenas passaram por seus ouvidos sem grandes influências.

Para os músicos, isso se torna ainda mais importante, pois a cada bom álbum ouvido é um pedaço daquela banda que passa a influenciar ainda mais o lado musical do sujeito. Para quem escreve sobre música também é fundamental, já que os clássicos se tornam grandes referências para novas analises. Pensando em toda essa importância dos grandes discos de nossas vidas, nós do O SubSolo resolvemos começar um breve especial, que consiste em apresentarmos 5 discos que fizeram parte de nossa formação no mundo da música, que em breve contará com alguns convidados também. Com isso, terei a honra de abrir os trabalhos, confiram:

5- APPETITE FOR DESTRUCTION (GUNS N’ ROSES, 1987)


Falar de Guns n’ Roses é extremamente nostálgico para mim. O quase trintão Appetite For Destruction foi um dos meus primeiros contatos com riffs viscerais, letras que ardem no ouvido e um vocal único e destruidor. Confesso que fiquei na dúvida entre escolher o A4D ou os irmãos Use Your Illusion, mas o som cru e muito mais rock n’ roll do debut do Guns foi muito mais influente para mim do que as lindas canções e as também agressivas músicas dos discos de 1991.




O disco já começa com o hino “Welcome to the Jungle” e a partir daí é um passeio em um “Nightrain” desenfreado. Ouvi esse disco trocentas vezes pois é um trabalho viciante, contando com doze clássicos do hard rock. É até difícil escolher uma música preferida nele, mas provavelmente “Rocket Queen” é para mim a música mais fantástica do disco, encerrando-o com riffs grudentos e uma melodia sensacional, além do “toque a mais” ao fundo da música, que foi a pimenta que dá o sabor de rock ‘n roll perigoso na banda.

Todo esse trabalho encabeçado por Axl Rose foi de suma importância para minha criação como músico. Por muito tempo invejei a potencia vocal de Rose, e também almejava ter o feelling que Slash e Izzy Stradlin carregavam em suas guitarras. Hoje, também como baixista, vejo melhor o grave poderoso do baixo de Duff McKagan, que com certeza é um grande destaque nesse trabalho, complementando a forte cozinha da banda com Steven Adler. Um dream team do hard rock nascia ali, sem pontos fracos, apenas cinco monstros que formaram a banda mais perigosa do mundo na época, destilando veneno sonoro ao longo desses 54 minutos de play.

4- POWERSLAVE (IRON MAIDEN, 1984)

Um baixista não citar Iron Maiden é uma heresia. A banda liderada por Steve Harris, que é para mim o maior baixista do Metal, foi simplesmente excepcional em Powerslave. Aliás, foi o primeiro de uma trinca de lançamentos da Donzela que são todos merecedores de nota 10 na minha visão. Depois do disco de 1984, veio o Somewhere in Time (1986) e Seventh Son of a Seventh Son (1988). Poderia eleger qualquer um desses, mas o que veio primeiro merece o destaque.




O disco começa com a poderossísima “Aces High”, que faz sua cabeça decolar. Até hoje a canção é uma das mais usadas para começar os shows do Iron, pois é uma explosão de energia que te faz ouvir esse álbum inteiro sem o menor arrependimento. A banda estava inspiradíssima e entrosada. As guitarras de Adrian Smith e Dave Murray deram origens a riffs lindos e marcantes, enquanto o vocal de Bruce Dickinson estava em sua melhor forma. A bateria de Nicko McBrain continua perfeita, sendo a companhia perfeita para o baixo magistral de Harris, que é técnico e elegante em suas linhas, ou melhor dizendo, é perfeito, em poucas palavras.

Tudo isso deu origens a clássicos como a faixa de abertura e a seguinte, “2 Minutes to Midnight”, a faixa-título que é minha preferida no disco e uma de minha favoritas da banda, e faixa número 8, que encerra o disco: “Rime of the Ancient Mariner”, que são treze minutos de Heavy Metal muito bem produzido, elaborado e trabalhado. É uma faixa que te faz aplaudir de pé tudo o que você acabou de ouvir.

3- RIDE THE LIGHTNING (METALLICA, 1984)


1984, além de ser nome de um grande livro, é um ano realmente marcante para o Metal. O Metallica chegou com esse petardo que para mim é o maior disco da banda –Master of Puppets que me perdoe. A banda ainda respirava do puro Thrash que trouxe do Kill em All, e já começava a adentrar no auge da criatividade musical que viria no Master, mas foi no Ride onde conseguiram alcançar os melhores sons da banda.Ride the Lightning te leva num passeio por uma tempestade mental, onde o Metallica te massacra durante 47 minutos. São tantas faixas geniais aqui que fico impressionado de como uma banda conseguiu conter tanta visceralidade em um estúdio. “Fight Fire With Fire” abre o disco já pra destroçar seu pescoço, seguido da faixa que leva o nome do álbum, que é uma das últimas assinaturas de Dave Mustaine na banda, e é claro que vindo da fase mais nervosa de Dave não poderiamos esperar nada menos do que riffs sem igual.

No entanto, James Hetfield e Kirk Hammet encheram o álbum de riffs espetaculares. “Creeping Death” é a faixa mais pesada da banda, e também a melhor pra mim, me obrigando-o a colocar à frente do disco seguinte. O baixo de Cliff Burton é deslumbrante, e dá as caras de forma definitiva na abertura de “For Whom the Bell Tolls”, que se tornou aquela música que todo baixista de Metal toca. A bateria de Lars Ulrich enche os ouvidos em momentos de surpreendente velocidade, que faz os fãs da banda sentirem ainda mais saudades dos anos ’80.

2- RUST IN PEACE (MEGADETH, 1990)

Enfim saímos dos anos ’80 e chegamos aos temidos anos ’90, que foram os anos negros de muitas bandas. A banda de Dave Mustaine no entanto não tem do que reclamar. O Megadeth alcançou seu auge definitivo com Rust in Peace, dando um grande começo com uma formação espetacular que durou até o fim da década, rendendo outros três álbuns marcantes da banda e um decepcionante.




Confesso que cogitei colocar o recém-lançado Dystopia aqui, mas um segundo pensamento basta para ver que não existe trabalho da banda que se equipare ao Rust In Peace. Ele é perfeito em cada segundo. O Thrash Metal viu o maior trabalho do gênero nascer nos riffs ríspidos de Mustaine e nos solos mirabolantes de Marty Friedman. O baixo de Dave Ellefson criou as pesadas linhas que junto à bateria impecável de Nick Menza fazem os metalheads mais exigentes destroncarem seus pescoços ao som desse disco.

Não tem ponto fraco nesse arsenal musical que é Rust in Peace. Ele já abre com “Holy Wars… The Punishment Due”, que é a maior obra do Thrash Metal. Daí pra frente a banda surra seu ouvido, passando por mais sete faixas até chegar à oitava e última: “Rust in Peace… Polaris”, dona de um groove matador e uma finaleira que devasta a sua cabeça. Espanto é uma reação natural após ouvir esse disco pela primeira vez, e as consequências são ouvir ele de novo… e de novo… para sempre.

1- TEMPLE OF SHADOWS (ANGRA, 2004)

Confesso que demorei para gostar de Angra, e me arrependo muito disso. Quando escutei “Spread Your Fire” um dia, seguida de alguma outra música do mesmo álbum, pensei “hey, se essas duas saíram desse álbum tenho que conferir mais disso”. Daí foi um caminho sem volta. É uma audição que emociona, que toca, que faz você se apaixonar de vez pela banda, que alcançou o que é pra mim o maior trabalho já feito no Metal.





Claro que eu conheço pouquíssimas bandas, sério, concordarei plenamente se você me apresentar um disco que eu não conheço e falar “cara, ouve isso, esse sim é o maior do Metal!”, eu irei ouvir e colocar isso a prova, mas eu sinceramente acho difícil. O Angra colocou tanta coisa nesse álbum que eu fico surpreso de ter dado certo. Misturar tanta técnica sem tornar algo massante é difícil, mas isso prova a maturidade que os músicos alcançaram nesse disco.

A faixa instrumental que abre o Templo das Sombras dá uma imersão perfeita para a história que estamos prestes a adentrar. Em “Spread Your Fire” conhecemos a profecia do “The Shadow Hunter”, que tem sua trajetória narrada pela potente e impecável voz de Edu Falaschi, que canta as lindas letras de Rafael Bittencourt (único autor de todas as onze letras), que soma sua guitarra a de Kiko Loureiro, que dão um banho de habilidade e feelling nas canções, mesclando riffs rápidos com melodias estonteantes. O baixo do também virtuoso Felipe Andreoli dão um “charme a mais” nas músicas, enquanto o monstro Aquiles Priester destrói seu ouvido com a bateria avassaladora dele.

Faltam palavras para esse disco. Eu não sei citar uma música que não é ÓTIMA nele, o que me obriga a não ouvir apenas uma música dele hora ou outra, mas sim, ele TODO. É o único disco que eu faço questão de fazer sempre isso. Diferente dos anteriormente citados, Temple of Shadows se destaca por inteiro, como uma peça só. Uma música liga à outra, em diferentes ritmos e inspirações: temos Power, sinfônico, progressivo… até que começamos a ouvir pitadas de Jazz, influências mais hispânicas e principalmente influências brasileiras. Minha faixa preferida é “Temple of Hate”, que é agressiva, violenta, e de repente traz violinos lindos. Mas sou obrigado a destacar a faixa “Late Redemption”, que conta com um dueto com Milton Nascimento, sendo pra mim, uma música que realmente emociona e toca minha alma.

Cante uma canção desconhecida, plante mais lembranças em sua vida, nada além do amor é o que parece toda a minha dor na minha prece.
É um disco espetacular, não sendo apenas o magnus opus da banda, mas um trabalho que eu apresentaria para alguém que me perguntasse “quero começar a escutar Metal, o que você me recomenda?”. Ali o ouvinte vai encontrar a essência de música bem feita, elaborada e executada.



Como 5 é um número pequeno para tantos trabalhos fantásticos, gostaria de fazer algumas menções especiais, de discos que não me influenciaram tanto quanto esses, mas que possuem um espaço especial em minha memória:


– SOULSIDE JOURNEY (DARKTHRONE, 1990)
– COWBOYS FROM HELL (PANTERA, 1991)
– HEARTWORK (CARCASS, 1993)
– REINKAOS (DISSECTION, 2006)

Já que a maioria são discos mais extremos, quem sabe não rola uma nova lista dedicada a esse lado mais pesado do Metal? Fiquemos no aguardo.

Onde há espaço para escrever, tenha certeza que irei deixar minhas palavras. Foi assim que me tornei letrista, escritor e roteirista, ainda transformando minha paixão por música em uma atividade para a vida. Nos palcos, sou baixista da Dark New Farm, e fora deles, redator graduado em Publicidade e Propaganda para o que surgir pela frente.