Quando o assunto é Rock e Metal, sabemos que os melhores lugares para se estar são aqueles eventos cheios de bandas, onde há muita cerveja e bons amigos. A parte mais interessante dos festivais é que eles são pontos de encontro onde, muitas vezes, as pessoas se conhecem e se reencontram, construindo e mantendo amizades. Os fests também proporcionam contatos e oportunidades para as bandas, onde têm chance de mostrar seu trabalho ao público e aos produtores, trazendo maior visibilidade, além de possibilitar a comercialização de material. Ou seja, os festivais são espaços onde a cena acontece verdadeiramente.



Você frequenta festivais? Quando você reúne sua galera, monta uma excursão e arma acampamento é só alegria! Mas já parou para pensar em tudo que há por traz desses eventos? Há pessoas realmente empenhada, que não medem esforços para proporcionar tudo isso ao público, mesmo que não recebam nenhum centavo de retorno.

Sabemos que Santa Catarina é um polo de grandes bandas e grandes festivais. Os eventos produzidos em SC são referência no cenário nacional, principalmente por serem festivais de camping. 

O SubSolo conversou com organizadores de alguns dos maiores festivais catarinenses, para entender de onde veio tamanha motivação em lutar para fortalecer a cena. Nesse diálogo contamos com as ilustres participações de: 


– Nani Poluceno, organizadora do Otacílio Rock Festival e SC Metal Fest; 
– Adilson Frenzel, organizador do River Rock Festival;
– Marcos Valério, organizador do Iceberg Moto Rock Festival; 
– Bruna Búrigo, organizadora de duas edições do Frai’n Hell Rock Festival e agora de seu novo projeto The Covenant Metal Fest.

Vem com O SubSolo nesse bate-papo com a galera que faz tudo acontecer!



Certamente organizar um festival não é nada fácil! Mas de onde vem tanta vontade de botar a mão na massa e concretizar um grande evento? Para iniciar nossa conversa, indagamos aos organizadores: Qual foi sua motivação para começar a organizar um festival?

Nani Poluceno: No início a motivação era a
necessidade de ter eventos do gênero em nosso município, onde havia um grupo de
pessoas que curtiam Rock/Metal, mas não tínhamos eventos para prestigiar. H
oje
em dia a motivação maior vem da satisfação pessoal que temos depois de
proporcionar ao público e bandas um espaço onde todos podem se divertir com os
amigos, família e curtirmos a música que gostamos.



Adilson Frenzel: Primeiramente, eu tinha banda e sei como era foda tocar por aí e ter um espaço legal pra isso.
Outra motivação foi o fato de nos transformar em ponte entre essas bandas e o
público em geral. A nossa formação musical além de ser autodidata foi e é muito
eclética, não podia ter outro resultado, sendo a principal identidade do
festival, como o próprio slogan diz “a festa das tribos” e
principalmente, acho que essa é a maior das motivações: o prazer de visualizar
o público e sentir a emoção de mexer com a emoção das pessoas.


Bruna Búrigo: O que
mais me motivou a organizar festivais foi a minha paixão pelo Metal. Desde que
comecei a frequentar a cena sempre me senti muito acolhida por todos. Depois de
alguns anos decidi que queria poder unir as pessoas ainda mais em prol da cena.
Poder fazer algo a mais para manter a cena ativa. E é essa motivação que não
pode acabar. Não viso lucro nos festivais que realizo, só torço para não ter
prejuízo (o que ainda não aconteceu), mas faço por amor à camisa. Mesmo com os
prejuízos vale muito a pena contribuir para a cena.

Marcos Valério: A principal motivação foi e é gostar de Rock. De
todas as vertentes do Rock. Tem um Clube em Rio do Sul onde era comum ter show
de Rock. Um dia minha filha comentou que uma banda de amigos dela iria tocar.
Fui ver e gostei, então nos tornamos amigos da banda também. Passado um tempo,
deitado em minha sala, levantei e comentei que iria fazer um evento e que teria
o nome de “Iceberg Rock”. De onde veio este nome? Não foi uma opção de escolha
entre alguns nomes e nem pensado, simplesmente falei que este seria o nome.
Isso foi em janeiro de 2012 e em 07 de abril aconteceu a primeira edição nesse
mesmo clube. Foram 33 eventos que aconteceram em três anos, e a partir de 2015
partimos para o Open Air que está acontecendo sempre em janeiro. Já estamos
indo para a quarta edição do festival (12,13 e 14 de janeiro de 2018). Ou 37º Iceberg
Rock. Já se apresentaram nestes anos 96 bandas de 29 cidades, sendo 25 bandas
de Rio do Sul. 




Organizar eventos exige longas cargas horárias de trabalho e traz diversas preocupações, mas quais são as principais dificuldades em organizar um festival?

Nani Poluceno: A maior
dificuldade acredito que seja a questão financeira, para fazer um evento, por
mais simples que seja tem muitos custos básicos, como segurança, brigadista,
taxas e alvarás, sonorização, além de despesas com as bandas. O comparecimento
do público também é um ponto importante. Como 90% do público dos festivais de
camping vem de outras cidades e estados, a despesa para prestigiar um festival
acaba se tornando grande, então para organizar um evento tem que estar
preparado financeiramente.



Adilson Frenzel: As
dificuldades começam com a burocracia, é muita papelada, (são 12 alvarás de
licença e autorização para o evento acontecer) mas isso não é problema, o
problema é a morosidade em se obter estes trâmites. 
Além  disso, existe dois estágios: quando começamos
com o
  River Rock sofríamos muito
preconceito e descriminação mas
 
resistimos  e persistimos, hoje
estamos na segunda fase: que é quando efetivamente tivemos reconhecimento, aí
aparecem pessoas que não podem ver que alguém está crescendo aí começam a puxar
o tapete e querer sempre uma fatia pra si, a maldita inveja.

Bruna Búrigo: As
dificuldades são inúmeras, desde o contato com as bandas, parte burocrática e
estimativa do público. Não pretendo parar de organizar festival, porém me
entristece ver ótimos festivais aqui em Santa Catarina com um público pequeno.
Então pra mim hoje, a maior dificuldade é sim o público.

Marcos Valério: Sem dúvida é apoio financeiro.
Sempre valores pequenos e quando aparecem. Fora isso, eu não vejo muitas
dificuldades, pois busco apresentar o festival para a galera ir conhecendo e o
famoso “boca a boca” funciona muito bem. Outra dificuldade é fazer as bandas
que são chamadas para tocar se envolverem com o evento e irem na página para convidar seus amigos para o show e não deixar apenas na mão dos produtores. No
facebook algumas bandas curtem e não compartilham. As bandas precisam se envolver mais
com os produtores na divulgação.








As pessoas que têm banda, certamente adorariam tocar em festivais como Otacílio Rock Festival, SC Metal, River, Frai’n Hell ou Iceberg. Aqui vai uma “dica” sobre: quais são os critérios para escolha das bandas?


Nani Poluceno: Primeiramente
pedimos para que as bandas interessadas em participar do festival nos encaminhem material via email ou correio. Também recebemos muito material em mãos pelos
eventos que passamos. Nós separamos as bandas por estilos e tentamos
diversificar estilos e cidades para poder agradar o maior número de público
possível.



Adilson Frenzel: As
bandas são definidas primeiro pelo estilo. 
Depois
pela força de vontade e empenho da banda em crescimento junto com o festival.
Claro, também escutamos muito a opinião do nosso público sobre o que eles querem
ouvir.

Bruna Búrigo: O
critério principal utilizado para a contração das bandas é a divulgação. Se a
banda quer ter espaço no fest, o mínimo que esperamos é que ajudem a divulgar e
tragam público. Infelizmente no Frai’n Hell Rock Festival menos da metade das
bandas fizeram isso. Já nesse novo projeto que estou trabalhando (
The Covenant Metal Fest) resolvi optar por bandas com mais “estrada” na cena do Metal nacional, visto que, por experiência trabalhando com bandas locais, há falha na promoção dos eventos.

Marcos Valério: Não existe um critério definido.
Gosto de bandas que se comportam como banda, isso é muito importante, pois
bandas existem, mas umas levam o trabalho mais a sério que outras. Levamos
muito em conta quando tem material para divulgar. Não excluímos bandas cover
nem autorais, porque a galera gosta de ver de tudo. Muitas das bandas começam
tocando covers. Em nosso festival também rola muitas vertentes do Rock, Blues,
Reggae, e Metal. Sempre terão seu espaço.







Para construir a programação de um evento, os organizadores estão sempre ligados no que está rolando na cena. Mas e aí? Quais são as percepções dos organizadores sobre a cena atual?

Nani Poluceno: Vejo que
neste ano de 2017 tivemos um aumento de eventos do gênero em nosso estado, isso
é ótimo para as bandas que terão maior espaço para se apresentar, isso acaba
movimentando a cena e incentivando os headbangers, mas também com isso acaba
dividindo o público que por sua vez não consegue comparecer em todos os eventos
por questão financeira. Mesmo com tantos eventos ainda sentimos a falta
daqueles que se dizem headbangers mas não saem de suas casas para prestigiar e
apoiar bandas locais. Eventos bem organizados com bandas de excelente qualidade
ainda vem apresentando pouco público.



Adilson Frenzel: No nosso
caso são várias cenas, pois o River Rock Festival, é um dos poucos, se não o
único que faz uma verdadeira miscelânea musical. Mas de modo geral, apesar
da cena atual estar meio parada, sempre tem alguma coisa acontecendo. Poderia
ser mais ativa se não fosse essa divisão já clássica existente, de um lado
alguns reclamando que não tem opção de shows e quando tem reclamam do preço e
nem sequer comparecem. Porém existem aqueles, que são sempre a nossa
motivação, que comparecem, apoiam, ajudam e acima de tudo se divertem muito
junto com a gente.

Bruna
Búrigo:
 Minha percepção sobre a cena atual infelizmente não é como eu esperava que
fosse, como citei antes, os festivais estão cada vez mais carentes de público.
Temos muitos “fãs” do Metal de Facebook, que confirmam presença no
evento mas não fazem o mínimo esforço para prestigiar. Mas ainda assim, vejo
união na cena, tem surgido festivais novos e ressurgido festivais que haviam
parado também. Só precisamos nos unir e tomar cuidado com as datas, para que
todos possam curtir ao máximo os festivais do nosso estado.


Marcos Valério: “O Rock morreu?” Mas não mesmo!
Santa Catarina é um estado onde tem muitos festivais e acredito que os melhores
acontecem aqui. Recentemente compramos e estamos montando uma Kombi-Casa e estamos
nos programando para 2018, onde é certo que oito festivais irão acontecer em
Santa Catarina e iremos a todos para divulgar o Iceberg Rock.
  Mas a cena direciona festivais para apenas um
estilo, principalmente ao som “mais pesado”. Acredito que tem de haver mais
espaços para todas as tribos. Fazer a galera ir aos festivais e apreciar todas
as vertentes que o Rock nos proporciona. Recentemente em uma conversa com
Adriano da Khrophus, já estamos nos programando para um encontro e montar a
“Rota dos Festivais em Santa Catarina”. Isso acontecerá e vamos pôr o Rock
no seu devido lugar. Trabalhamos com paixão pelo Rock. As bandas precisam de bons
produtores e o mesmo com quem produz, queremos bandas que também se envolvam.







Pois é, galera. Com as falas dos nossos amigos Nani, Adilson, Bruna e Marcos, podemos perceber que tem sim muita gente dedicada a realizar grandes eventos e “fazer a roda girar”, mas para isso é necessário um elemento muito importante: seu apoio!


A cena não é feita só de produtores e bandas, mas sim de público. Precisamos de pessoas dispostas a frequentar eventos underground, adquirir material das bandas e ajudar na divulgação dos eventos. Que tal, por alguns momentos, deixar de lado as bandas que já estão consagradas e que já possuem seu nome marcado na história da música? Podemos olhar para elas com toda admiração e tê-las como inspiração, mas não podemos esquecer que no seu bairro, cidade e estado existem diversas bandas querendo mostrar seu próprio trabalho. Essas bandas ainda podem crescer muito e VOCÊ é o principal responsável por isso!


Outro fator importantíssimo é o apoio entre bandas, independente do estilo. União na cena também significa você tocar em um festival e saber prestigiar as outras bandas que estão se apresentando, assim como comparecer a eventos que você não vai tocar, porque, da mesma forma que a sua banda precisa de suporte, as outras também precisam. Dentro do underground não há espaço para preconceitos nem para “nariz empinado”. Vamos curtir juntos tudo que a cena tem a nos proporcionar, valorizando nosso produto nacional e regional.




Nós d’O SubSolo agradecemos imensamente nossos amigos que compartilharam conosco suas experiências. Desejamos muita força nessa luta! Estamos junto com vocês na empreitada do underground!